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31 janeiro 2020

Feminicídio - Melissa Santos



FEMINICÍDIO


É preciso falar sobre o assunto nas casas e mocidades espíritas.

O Brasil tem acompanhado a divulgação de inúmeros casos de feminicídio. No mês de agosto, pelo menos quatro deles ganharam repercussão nacional. Mas nem todos chegam à grande mídia. Os números de atos de violência e mortes de mulheres são muito altos.

Feminicídio é o termo usado para denominar assassinatos de mulheres cometidos em razão de gênero. Estima-se que no Brasil doze mulheres sejam assassinadas por dia. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), nosso país é responsável por 40% deste tipo de crime em toda a América Latina. Nós ocupamos o sétimo lugar nessa triste estatística.

Só esses números já seriam suficientes para que diálogos acontecessem. Mas a verdade é que o feminicídio ainda pode ser considerado um tabu. Isso porque, muitas vezes, ele esconde um comportamento social machista e uma visão errada de inferioridade feminina.

Mas o que a Doutrina Espírita fala sobre isso?

Vou citar aqui alguns trechos de “O Livro dos Espíritos”. No capítulo sobre a Lei de Igualdade, Igualdade dos Direitos do Homem e da Mulher, na pergunta 817, Kardec questiona: “São iguais perante Deus o homem e a mulher e têm os mesmos direitos?” E os Espíritos respondem: “Não outorgou Deus a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?”.

Para deixar ainda mais claro, Kardec mais uma vez interroga na 818: “Donde provém a inferioridade moral da mulher em certos países?” E a resposta: “Do predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem. É resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito.”

Seguindo o raciocínio, vou para a 822: “Sendo iguais perante a Lei de Deus, devem os homens ser iguais também perante as leis humanas? O primeiro princípio de justiça é este: Não façais aos outros o que não quereríeis que vos fizessem.”

Crimes de feminicídio também estão relacionados ao sentimento de posse. Ainda confundimos ciúmes como forma de amor. E isso é um engano que não podemos alimentar!

No capítulo “das penas e gozos terrestres”, pergunta 933, os Espíritos advertem: “A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. A sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito”.

No Brasil, desde 2015, feminicídio é crime. A Lei nº 13.104 transformou esse tipo de ato em hediondo, e consequentemente, com penas mais altas. Em um homicídio simples, a pena varia de 6 a 20 anos. Já para feminicídio pode variar de 12 a 30 anos de prisão.

O combate ao feminicídio muitas vezes conta também com a nossa ação. Os casos recentemente divulgados trouxeram à tona a inércia de muitas pessoas, diante de uma discussão de casal ou até mesmo ao presenciar uma agressão. A frase popular “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” ainda ecoa na nossa sociedade de forma errada. É preciso sim denunciar! Existe a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que recebe e apura denúncias em todo o Brasil. Basta ligar gratuitamente para o 180. O serviço funciona 24 horas, todos os dias. Em casos mais extremos, pode-se também ligar para a polícia, no 190.

E se ainda estiver na dúvida sobre denunciar ou não um caso de violência, lembre-se da pergunta 642: “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal? Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

Nós, espíritas, não podemos ser omissos. Devemos sempre agir para ajudar ao outro ou para nos melhorar.

Se você é homem e pratica violência contra a mulher, seja física ou psicológica, já está mais do que na hora de parar e mudar a maneira de agir. Se tiver dificuldades, procure ajuda de um especialista. Se você, mulher, que lê esse artigo, passa por qualquer tipo de violência, é hora de se afastar do companheiro e denunciar as agressões, para o seu bem e também dele. Quanto aos que não passam diretamente por esse tipo de situação, também podem ajudar a diminuir os assustadores números de feminicídio. Eduquem desde cedo as crianças sobre a igualdade de direitos de homens e mulheres, não fomentem qualquer tipo de violência, e lembrem-se de denunciar quando estiverem diante de uma agressão. Só com a união, a educação e o entendimento é que iremos conseguir diminuir os casos de feminicídio no Brasil.

Melissa Santos
Fonte bibliográfica: O Livro dos Espíritos, Kardec Allan questões 642,817,818,822 e 933

30 janeiro 2020

Quando Falta a Alegria – Sidney Fernandes




QUANDO FALTA A ALEGRIA


É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração. - Fernando Pessoa


Quem gosta de ficar ao lado ou conviver com uma pessoa que cultiva a tristeza? Ou mesmo está permanentemente se queixando, insatisfeita com tudo e com todos? Essas pessoas são infelizes, arrastam as correntes da vida, geralmente são solitárias e consideram a vida um inferno permanente.

Olhar para o espelho da vida e começar a desconfiar de que, muitas vezes, esse ser destituído de alegria e bom ânimo somos nós mesmos é porque está na hora de fazermos uma reflexão e buscar mudanças imediatas, antes que tais comportamentos de cristalizem e provoquem males irreversíveis.

O cardiologista Michael Miller, da Universidade de Maryland, Estados Unidos, liderou uma pesquisa sobre os benefícios do riso para a saúde do coração. Comparando as atitudes diante da vida de 150 pessoas com histórico de enfarto com o mesmo número de pessoas sadias, descobriu que aquelas que nunca tinham sofrido com problemas no coração eram as que demonstravam bom humor constante. Para evitar problemas cardíacos, Miller recomenda combinar a velha receita de saúde - exercícios físicos regulares e dieta balanceada - com algumas gargalhadas durante o dia.

- Rir do quê? - poderá alguém objetar. - O que mais falta acontecer? Uma noite dessas sonhei que estava falando com um tenebroso espírito, que deve estar me acompanhando em maré de azar, e pedi que me levasse desta vida. Melhor mesmo seria morrer - pensava. Sabe o que o ingrato me respondeu? - Sua hora ainda não chegou. Você tem muito o que fazer na Terra.

A permanência em mundo, como o nosso, no entanto, em que predominam o egoísmo, a vaidade e orgulho sujeita-nos a grandes variações ciclotímicas, que podem nos elevar às alturas ou nos derrubar para zonas de inquietação, quando não nos protegemos adequadamente.

Cada ato, cada palavra, cada pensamento, são sinais claros das zonas mentais de que procedemos e permanecemos. Desencarnados aproximam-se do meio que se lhes assemelham. A faixa vibratória de cada ser atrai espíritos, de acordo com mútuas tendências.

Daí a necessidade de nos prevenirmos contra situações complicadoras de relacionamento e de economia espiritual como tristeza, queixas, linguagem inconveniente, leviandades e outras mais.

Emmanuel [1] lembra que, durante o repouso noturno, cada um deve interrogar a si próprio e procurar saber o quanto está colaborando nas relações profissionais, afetivas, filantrópicas, sociais e outras da vida comum.

Se, por um lado, cientistas da atualidade nos recomendam a prática regular de atividades físicas, que nos premiarão com inúmeros neurotransmissores produzidos pelo cérebro, dentre eles a endorfina, que libera ações anti-inflamatórias e analgésicas, a ginástica do bem, que pressupõe o perdão, a tolerância, a boa palavra, a paciência, o trabalho e a alegria, representam verdadeiras vacinas contra a tristeza e a sombra esterilizadoras.

Retirar os óculos escuros do pessimismo, orar constantemente - inclusive no Evangelho do Lar -, levar uma religião a sério, ser bom familiar e bom profissional, fazer o bem ao semelhante e confiar em Deus são medidas que compõem fórmula profilática infalível capaz de prevenir todos os males. Azar, chagas da alma, espíritos doentes, tristeza, insatisfação, ranzinzice, palavrões, leviandades, inveja e ciúme perecem, diante da invencível força do amor.

[1] Página Contribui, livro Pão Nosso, de Emmanuel



Sidney Fernandes

29 janeiro 2020

Ascender! - Leonardo Arruda



ASCENDER!


O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de abril de 1857 por Allan Kardec, apresenta os princípios da Doutrina Espírita e, através do seu aspecto científico, filosófico e religioso, marca o inicial da Codificação Espírita. A obra nos traz que Deus cria todos os seres simples e ignorantes e fornece a cada um a capacidade para alcançar a perfeição através do conhecimento da verdade e apresenta Jesus como sendo o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para servir de modelo e guia.

A verdade é que só entendemos a necessidade de crescer, quando somos submetidos ao plano mais alto e as obrigações se apresentam mais claras diante dos nossos objetivos reais. Portanto, devemos nos inspirar em Jesus, que nos concede o Consolador Prometido, a codificação espírita, com o a finalidade de retirar o véu dos símbolos, dando acesso aos ensinamentos mais profundos que antes nos eram inacessíveis.

Deus projetou essa maravilha que conhecemos como natureza afim de que espelhássemos o nosso crescimento através das etapas e dos ciclos, mas infelizmente só contemplamos a sua beleza no processo final, ignorando o despertar da semente e suas transformações.

O processo de crescimento do reino de Deus, em nós, leva tempo… Emmanuel, no livro “Caminho, Verdade e Vida”, no texto intitulado “A Semeadura”, apresenta-nos que “É necessário compreender os atos que praticamos todos os dias, examinando a qualidade de sua contribuição, porquanto é da lei de Deus que toda semeadura se desenvolva. O bem semeia a vida, o mal semeia a morte”, destacando que somente a prática do bem permite alcançar a chave capaz de abrir as portas do Infinito, uma vez que o bem ou o mal, tendo sido semeados, crescerão junto de nós, de conformidade com as leis que regem a vida.

Mas tudo responde ao tempo e é submetido às condições dos ventos, o esforço e a boa vontade nos levam às mais esplêndidas realizações no campo do Bem. Dia virá em que, de expansão em expansão, nos igualaremos ao Divino modelo, desenvolvendo a capacidade de semear, iniciando uma nova jornada como semeadores do bem. Mas tenhamos certeza que o verdadeiro progresso não se dá apenas por admirar os ensinamentos do mestre e sim por praticar, abraçar e vivenciar dia após dia. “Basta plantes o bem para que o bem te responda. Para isso, no entanto, é imperioso agir e perseverar no trabalho. A ferrugem do ócio consome o arado muito mais que a movimentação no serviço” (Emmanuel).

Portanto, é necessário compreender que o maior benefício é entregar-se ao amor de Deus através do amar ao próximo; pois será a partir do amar ao próximo que atingiremos a plenitude de Deus. A vinda do Cristo ao mundo trouxe a mensagem insuperável do evangelho, mas aguarda bondosamente, séculos e séculos a boa vontade e o trabalho íntimo de cada um, afim de que o evangelho possa produzir frutos, visto que nenhuma semente sai da sua condição pequena e se transforma em árvore do dia para a noite.

O fato é que tendo semeado, o verdadeiro amor cresce, pois todos possuem a capacidade de fazer crescer o reino de Deus, basta compreender que para tudo demanda um tempo, um espírito de progresso para revelar-se através das etapas do SEMEAR, do CRESCER e do COLHER. A própria Codificação nos ensina que todos os obstáculos e dificuldades são superados se aplicado esforço insignificante, o que verdadeiramente nos falta é a vontade de ter Jesus como nossa constante inspiração; através da vontade firme para ascender!


Leonardo Arruda


28 janeiro 2020

Flexibilidade - Joanna de Ângelis



FLEXIBILIDADE


Todo comportamento extremista responde por danos imprevisíveis e de lamentáveis consequências, por sustentar-se na intolerância e no desrespeito à inteligência e ao discernimento dos demais.


A consciência equilibrada busca sempre o comportamento mais saudável, expressando-se de maneira gentil, mesmo nas circunstâncias mais severas e afligentes.


A flexibilidade é medida de cometimento edificante pela faculdade de compreender a postura do outro, aquele que nem sempre sabe expressar-se ou agir como seria de desejar, mas, nada obstante, pensa e tem ideias credoras de respeito e de consideração, que devem ser levadas a sério.


Quando se assume uma atitude de dureza, destrói-se a futura floração do bem, porque nenhuma ideia é irretocável de tal maneira que não mereça reparo ou complementação, e diversas mentes elaborando programas são mais eficazes do que apenas uma.


Ademais, essa imposição representa alta presunção decorrente da vaidade de se deter o conhecimento total ou mesmo a verdade plena.


Quando se age dessa maneira, gera-se temor e animosidade por se bloquear as possibilidades dos demais, igualmente portadores da faculdade de pensar, de discernir.


Uma atitude flexível contribui para o somatório das realizações dignificantes que são confiadas a todos.


Não obstante reconhecer o equívoco da mulher surpreendida em adultério, o Mestre foi-lhe flexível, dando-lhe nova oportunidade, embora não concordando com a sua conduta desrespeitosa aos estatutos morais e legais.


Entre dois ladrões no momento extremo, solicitado por um deles, que se arrependera de existência de erros, concedeu-lhe a bênção da esperança de que também alcançaria o paraíso.


Obras expressivas e honoráveis de serviço social e de edificações do bem no mundo soçobram e desaparecem em ruínas, quando alguns dos seus membros apresentam-se detentores de inflexibilidade em suas proposituras e comportamentos diários.


A harmonia do conjunto exige que todos contribuam com a sua parte em favor do equilíbrio geral, mesmo que ceda agora, a fim de regularizar no futuro.


Se alguém discorda e mantém-se inflexível na sua óptica ocorre o desastre no grupo, que se divide, dando lugar a ressentimentos e queixas, amarguras e dissabores.


Assevera milenária sabedoria oriental que a floresta exuberante cresce em silêncio e discrição, mas quando tomba alguma árvore é com estrondo que o faz, como a significar que o bem, o lado edificante de tudo, acontece com equilíbrio, enquanto a queda, a destruição, sempre se dá de maneira ruidosa e chocante.


Todo grupamento humano necessita do contributo valioso da tolerância, da paciência, da compreensão.


A prepotência é geradora de desmandos e tormentos incalculáveis, que poderiam ser evitados com um pouco de fraternidade.


Sê flexível, mesmo que penses diferente, que tenhas ideias próprias, felizes, facultando aos outros também serem ouvidos e seguidos.


*


No vendaval, a árvore que não deseja ser arrancada verga-se, para depois retomar a postura. Se pretender manter-se ereta, sofrerá a violência que a derrubará na sucessão das horas.


O bambu é um dos mais belos exemplos de flexibilidade, pois que se recurva, submete-se com facilidade às imposições que lhe são dirigidas, sem arrebentar-se, mantendo-se vigoroso.


Consciente das responsabilidades que te dizem respeito, não te imponhas pela rigidez. Os teus valores morais serão a tua identificação e o cartão de crédito da tua existência.


Estás convidado a servir, não a estabelecer diretrizes estritas para os outros, especialmente se te encontras servindo na Seara de Jesus, que sempre te proporciona chances novas, mesmo quando malbarataste aquelas que te foram anteriormente concedidas.


Fácil é ser inflexível para com o próximo e difícil é submeter-se a situação equivalente, quando se altera a circunstância e mudam-se os padrões apresentados.


Dialogando, ouvindo e abrindo-se a novos conceitos e proposituras, adquire-se a faculdade da gentileza, indispensável ao êxito de todo e qualquer empreendimento humano.


No dia a dia da existência sempre ocorrem fenômenos inesperados, que alteram a programação mais bem estabelecida, exigindo mudanças de rumo, formulações novas e necessárias.


O imprevisto é uma forma de intervenção das leis soberanas, ensejando diferente opção para o comportamento saudável.


Não sejas, desse modo, aquele que cria embaraços, embora as abençoadas intenções de que te encontras revestido.

Todos são úteis numa equipe e importantes no conjunto de qualquer realização.


Sê, portanto, dócil e acessível, porque sempre há alguém mais adiante, portador de aspereza que, com certeza, suplantará a tua.


Nunca sentirás prejuízo por ceder em favor do bem comum, da ordem geral, abrindo espaço para outras experiências e atitudes.


*

A flexibilidade é dileta filha do amor, que se expande e enriquece a vida com esperança e paz.


Todos aqueles que se fizeram temerários e se impuseram não fugiram de si mesmos, do envelhecimento, das enfermidades, da desencarnação.

Pacientemente e com flexibilidade, Jesus espera por ti e te inspira sem descanso.

Medita e age conforme gostarias que assim procedessem em relação a ti.


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 26 de setembro de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

27 janeiro 2020

Reconciliação com os adversários - José Damasceno Sobral



RECONCILIAÇÃO COM OS ADVERSÁRIOS


Mateus 5:25-26; -João Ferreira de Almeida – RC; Evangelho Segundo o Espiritismo- capitulo 10 – item 5 pág. 177;

"Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário de entregues ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. 26 Em verdade te digo que, de maneira nenhuma sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil." (Mt 5:25-26).

"CONCILIA-TE" – Conciliar – harmonizar, fazer as pazes, reatar a amizade. Ainda que se trate de uma simples antipatia, cujas raízes se encontram no pretérito, em outras reencarnações, tudo devemos fazer para cancelar sentimentos contrários a legitima fraternidade. O verbo está no imperativo e constitui uma ordem de Jesus, que tem poder e autoridade para tanto e, acima de tudo, deseja o nosso bem.

"DEPRESSA" – Urgente obedecer. Quanto mais tempo passa sobre a discórdia mais se arraigam, mais resistentes se tornam. Por outro lado, o bem não deve ser adiado.

"COM O TEU" – Questão de pessoa para pessoa, individual. É meu, seu, dele o problema que criamos com o nosso semelhante.

"ADVERSÁRIO" – Inimigo. Desta ou de outras vidas. Inúmeros fatores podem nos conduzir a desentendimentos. Compete-nos evitá-los. Uma vez acontecidos, cabe-nos providenciar a conciliação, na hora oportuna e de modo psicológico. Num caso e com certa pessoa, pode ser procurando-a e retratando-nos. Noutro, colaborando com seu familiar. Noutro ainda, fazendo com que uma ajuda chegue até ele de modo indireto.

Graças a Deus, qualquer pessoa sempre precisa de algo (Jo 12:8), nosso auxilio (Lc 16:9), em vista disso, pode transformar-se em fator de conciliação ou abrir caminho para isso.

"ENQUANTO" – Durante o tempo em que se verifica alguma coisa.

"ESTÁS A CAMINHO" – Na lição, o fato de sermos colocados lado a lado na estrada da vida. A Doutrina Espírita nos ensina que Deus, através da lei de causa e efeito, aproxima os inimigos, na família, como parentes, falando alto os laços consangüíneos, na vida funcional, como patrões, subalternos ou colegas, na vida social, por força de certas convenções.

"NO CAMINHO COM ELE" – Na presente reencarnação. Muitas vezes, quando ainda no plano espiritual, solicitamos a bênção do reencontro para a indispensável reconciliação. Ela deve se processar no período em que os elementos se encontram reencarnados, a fim de que gravem e aproveitem a lição. Deus nos concede o livre-arbítrio (chave), mas, para espíritos em nosso estágio evolutivo, é a Terra a melhor escola. Tudo quanto aqui realizamos repercute no plano espiritual (causa e efeito). – Ver Mateus 16:19.

"PARA QUE NÃO ACONTEÇA QUE" – Ainda lei de causa e efeito. Se nos reconciliarmos, tudo bem. Se não, desprezando a oportunidade, temos a decorrência natural.

"O ADVERSÁRIO" – Se nós fomos situados junto dele para consertarmos uma situação e deixamos de fazê-lo, sua simples presença, na qualidade de credor, complica a nossa condição íntima. Podemos passar por justos aos olhos de terceiros, o nosso estado de espírito, entretanto, deixa muito a desejar.

"TE ENTREGUE AO JUIZ" – O conjunto de fatos, em vista de nossa displicência, nos entrega ao juiz (da consciência comprometida), pois, "a lei de Deus está inscrita na consciência", de cada um. Vide o "Livro dos Espíritos", a pergunta 621.

"E O JUIZ TE ENTREGUE AO OFICIAL" – (ou meirinho) – Antigo funcionário judicial correspondendo ao oficial de justiça do hoje. A consciência comprometida vai nos fazer experimentar o sentimento de culpa, que atua, inclusive, sobre nosso perispírito, comprometendo o seu bom funcionamento.

"E TE ENCERREM NA PRISÃO" – Todos os fatores já enumerados passam a constituir a causa de novos efeitos. Encerrar na prisão é tirar a liberdade, a possibilidade de agir à vontade. Prisão do pecado, do erro. Quando temos inimigos, o nosso mundo vai ficando reduzido: não vamos aqui, ali, acolá, com receio de encontrá-los, como filhos de Deus, somos irmãos e devemos viver fraternalmente.

"EM VERDADE" – O Mestre fala sempre a verdade. Usa expressão assim para mais despertar a nossa atenção para o valor da lição.

"TE DIGO" – Ele fala ao individuo. A quem o ouve. Isso ocorre de acordo com a evolução de cada um.

"QUE DE MANEIRA NENHUMA" – Sem exceção. Não existe outro meio. Não se pode derrogar a lei.

"SAIRÁS" – Futuro. Porque a saída de tal condição só se verificará após efetuado o pagamento.

"DALI" – Se não agimos como irmãos, transgredimos a lei e somos punidos pela própria lei, a ponto de sermos lançados "no inferno, no fogo que nunca se apaga" (Mc 9:45), isto é, enquanto existir o combustível representado pela falta que cometemos.

"ENQUANTO" – Pelo tempo que durar tal estado e situação.

"NÃO PAGARES" – Se a virtude é intransferível, o erro também o é. Se erramos, a solução é consertar, custe o que custar.

"O ÚLTIMO" – Pagamento integral.

"CEITIL" – Centavo. Até o final. A propósito, transcrevemos o que se encontra em Marcos, capítulo 9 versículos 44, 46,48: "onde o seu bicho (consciencial) não morre, e o fogo (que queima enquanto há algo a purificar - combustível) nunca se apaga".

Finalizando, lembramos que "Deus é soberanamente justo e bom", Justo, estabelece leis iguais para todos. Variando apenas a sua atuação, de acordo com o entendimento de cada um; bom. Ele nos proporciona meios para repararmos os próprios erros.

José Damasceno Sobral

Redação do Blog Espiritismo Na Rede estudo realizado na cidade de Belo Horizonte em 02-11-1980.


26 janeiro 2020

Mediunidade com lágrimas - Joanna de Ângelis



MEDIUNIDADE COM LÁGRIMAS


No turbilhão da cultura moderna com as suas incontáveis conquistas e as infelizes paixões em desbordamento irrefreado, a existência humana vê-se assaltada pelas mais variadas manifestações do sentimento e da razão.

Quase genericamente as criaturas estertoram sem o equilíbrio necessário a um comportamento saudável, manipuladas pelo noticiário faccioso decorrente dos interesses vulgares dos multiplicadores de opinião.

As múltiplas necessidades imediatas de desenvolvimento do intelecto, assim como dos sentimentos, impõem lutas pessoais desafiadoras para a conquista dos recursos em favor da sobrevivência.

Além desse impositivo a propaganda, muito bem urdida em torno do êxito e da felicidade, em padrões que não correspondem à realidade, faculta voos da imaginação ambiciosa, e os falsos conceitos em torno da beleza e do prazer arrastam as multidões desassisadas, atirando-as em competições tormentosas e anseios injustificáveis.

São promovidos os gozos imediatos a qualquer preço como se o objetivo exclusivo da vida física fosse a conquista das glórias mentirosas da ilusão e do destaque social. De um lado, as ofertas de facilidades para a conquista das variadas propostas da moda desenfreadas e dos hábitos de ocasião atraem os incautos para o desfrutar do momento, e do outro, ante a ausência de recursos para consegui-lo, os mecanismos do suborno e da indignidade passam a servir de meios hábeis ao alcance dos mais audaciosos.

Cada pessoa, no entanto, tem o seu futuro estabelecido pelos atos que foram praticados nos dias do passado, que lhes constituem a base para o programa da evolução.

Nada se perde no curso das existências, acumulando-se em formas de experiências vividas assim como de necessidades retificadoras. A reencarnação propicia os abençoados tesouros para o refazimento das consequências das atitudes equivocadas, traçando as linhas de recuperação moral naqueles que se encontram incursos nas leis do Progresso.

Desse modo, as situações facilitadoras ou problemáticas para a evolução do Espírito são os programas nos quais todos se encontram escritos.

Na área do comportamento espiritual, a mediunidade se apresenta como instrumento valioso de recuperação moral e de ascensão iluminada.

As condutas ignóbeis de ontem, que geram obsessões indescritíveis, também surgem no desabrochar das faculdades de intercâmbio mediúnico, muitas vezes, afligentes e perturbadoras.

Acreditava-se e ainda muitos pensam que se trata de castigo divino, como se a Justiça de Deus se constituísse de penalidades cruéis conforme a visão humana.

Ocorre que a necessidade de evoluir é imperiosa, e cada qual, infrator ou benemérito, não dispõe de outros meios senão aqueles que lhe são impostos pela própria conduta. É graças, portanto, ao passado espiritual, que se colhe no presente os frutos para a manutenção da existência.

Como consequência, todo desenvolvimento e educação da mediunidade dá-se com o auxílio das lágrimas purificadoras.

*

Se és portador de sensibilidade mediúnica, cuida de educar os próprios sentimentos, armazenando paciência e compaixão, a fim de que o amor se te insculpa nos refolhos da alma.

A mediunidade é concessão divina para o crescimento espiritual da Humanidade.

Veículo de comunicação com os irmãos desencarnados, sempre oferece lições de aprendizagem das leis de Justiça e de Amor da Divindade.

Por seu intermédio adquire-se a certeza inabalável da sobrevivência do ser ao fenômeno da morte, facultando-lhe a entrega às Leis Morais que regem o Universo.

Tendo como base a ação da caridade, tem a função hospitalar de deter alguns pacientes, desencarnados ou não, no seu raio de ação, gerando, muitas vezes, mal-estar, tristeza ou dor, conforme se encontre o hóspede que necessita de socorro.

De outras vezes, Espíritos inferiores, que não se conformam com o estado em que se encontram, investem contra os médiuns, por inveja, mágoa ou revolta, proporcionando-lhes sofrimentos, que lhes são úteis no aprimoramento de si mesmos e na conquista de títulos de nobreza fraternal, ajudando-os.

As suas provas e expiações igualmente fazem-se em simultâneo, dando a ideia de que é muito pesado o fardo das responsabilidades e dos desejos pessoais, e produzem distonias nervosas, ansiedades, receios...

Nada, porém, que se não possa suportar com tranquilidade e confiança em Deus, como mecanismo de purificação.

Bem utilizada, torna-se uma simbólica escada de Jacó que alça ao infinito. No entanto, quando mal-entendida ou aplicada à futilidade, ao egoísmo e ao orgulho ou fins indignos, faz-se campo para disputas terríveis por mentes perversas e dedicadas ao mal, que se comprazem em afligir e malsinar.

Por essa e outras razões, a sua pedagogia educacional tem no Evangelho de Jesus as disciplinas próprias para utilização em qualquer situação, transformando-se em bênção de incomparável significado que propicia a plenitude.

Allan Kardec, referindo-se à mediunidade, assevera que ela deve ser exercida cristãmente, conforme Jesus a viveu na condição de Médium de Deus.

Reflexiona em torno das tuas faculdades mediúnicas e cuida de preservá-las do controle dos Espíritos maus, sintonizando, sempre que possível, no Bem e nas ações correspondentes à caridade.

Transforma as lágrimas de dores que decorrem da mediunidade no seu exercício natural em estrelas luminosas a clarear a noite das almas em desespero, a ti também iluminando.

...E serve, sem cessar, recordando-te de que és médium em todo instante e não apenas no horário reservado às sessões especializadas.

*

Onde estejas, com quem te encontres, o que faças, seja sempre na condição de intermediário do Mundo Maior, diluindo as barreiras que dificultam melhor assimilação das vibrações do Amor Divino ao alcance de todos.


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na Mansão do Caminho, Salvador, Bahia, em 28.8.2019

25 janeiro 2020

Arrependimento - Silvia Helena Visnadi Pessenda




ARREPENDIMENTO


No que consiste o arrependimento? Tem ele a finalidade de nos levar ao sofrimento ou, justamente o contrário, nos libertar desse padecimento? Quem se arrepende deve entregar-se a infindáveis lamentações e pesares? De que maneira os erros podem ser corrigidos?

O tempo em que permanecemos no corpo físico é preciosa oportunidade de crescer, aprender e ser feliz. Nem sempre valorizamos a vida, aproveitando adequadamente as oportunidades que nos são oferecidas. Por vezes, cedemos aos convites que nos afastam de caminhos que, mais tarde, sentimos falta e que gostaríamos de ter trilhado. Desejos inadequados, antigos vícios, amizades inconsequentes, dentre outros fatores, nos afastam do futuro que almejamos. Chega um momento que, revendo o passado, nos arrependemos e nos culpamos pelos desvios. Porém, nunca é tarde para recomeçar e não existe nada que não possa ser recuperado ou que esteja irremediavelmente perdido. O momento é sempre um novo tempo, pois a Vida nos presenteia com ciclos de renovação. Dê a você mesmo outras chances e quantas mais sejam necessárias. Faça um novo programa de recomeço, desta vez com a ajuda de alguém, para que não haja novas quedas, porém, se ocorrerem, inicie de novo a jornada. Não há idade para que se veja um novo tempo, para viver uma nova vida. Não se arrependa mais pelo tempo perdido nem se culpe por isso. Aproveite o arrependimento que surgir e o tome como marco para o recomeço. Livre-se da culpa, saia da inércia e continue na busca de sua felicidade.[1]

A realidade de cada um de nós ainda é caracterizada pelos seguintes aspectos:

· nosso grau evolutivo é limitado;

· infelizmente, nem sempre encontramos respostas para tudo o que nos acontece;

· somos passíveis de falhas e enganos, por mais que, tantas vezes, nos esforcemos por acertar;

· em inúmeras situações, tendemos a agir por impulso, porque no calor das emoções, deixamos de considerar a importância do discernimento, imprudência essa que nos leva a tomar atitudes das quais nos arrependemos mais tarde. Conseguintemente, tais atitudes podem nos trazer atrasos evolutivos; e, com isso, prejudicar o atingimento do principal objetivo da presente existência: nossa evolução integral, que abrange o intelecto, os sentimentos, a moral e a espiritualidade.

Todo o nosso passado, vivido nesta ou em outras encarnações, é parte integrante de nossa individualidade, e, por sua vez, influi no momento presente. Assim, cada um de nós interpreta o mundo, as circunstâncias e as outras criaturas de acordo com o nível de consciência que já alcançou. E quão maior for essa percepção, mais facilmente deixaremos de negar ou mesmo justificar ilusoriamente nossos erros e fracassos, reconhecendo que admiti-los torna-se fundamental para o processo de amadurecimento íntimo. De acordo com o espírito Hammed:

Os erros são quase que inevitáveis para quem avançar e crescer. São acidentes de percurso, contingências do processo evolutivo que todos estamos destinados a vivenciar. [2]

Quando não visualizamos nossos erros, não admitimos que somos nós que produzimos as nossas dores. Quando não percebemos que nossos inimigos residem em nossa casa mental, apontamos os outros como a causa de nossos dissabores; quando não permitimos mudança em nosso mundo interior, exigimos mudança no mundo exterior. [3]

No entanto, criaturas imaturas nem sempre avaliam adequadamente o próprio comportamento e, com isso, não se responsabilizam pelas consequências negativas que suas atitudes provocam nelas e nas demais pessoas. Enquanto os indivíduos que já alcançaram uma relativa consciência das coisas procuram empenhar-se no próprio crescimento e na prática do bem, os imaturos não revelam qualquer incômodo íntimo perante o seu conturbado jeito de ser. Quando sua vida lhes causa perturbações, até procuram uma religião para conseguirem se libertar do medo e da insegurança. Mas quantos são os que, ao se livrarem da dor e do mal, voltam a praticar os mesmos atos como se nada antes tivesse acontecido.

Desse modo, o arrependimento pode ser compreendido como a tomada de consciência de certos aspectos de nossa personalidade que negávamos, consciente ou inconscientemente, e que, agora, nos permite refletir sobre o quê e como estamos fazendo as coisas em nossa vida. Tanto é assim, que a definição da palavra arrependimento é: “Mudança de opinião ou de atitude em relação a fatos passados. Contrição sincera pela incorrência em pecados, a serem redimidos pela prática do bem.” [4]

Em outras palavras, o arrependimento trata-se de um sentimento verdadeiro de remorso pelas faltas cometidas, que serve para renovação de conceitos e atitudes, a se manifestar quando tomamos ciência de que poderíamos ter feito algo melhor e não o fizemos. Ninguém, porém, de forma deliberada, tem o desejo de ser infeliz. Por que, então, deixamos de agir de modo adequado? Segundo Novaes:

Toda atitude negativa do passado e que gerou arrependimento deve ser entendida como pertencente à ignorância de seu autor. Ocorreu daquela forma por causa da ausência de lucidez para realizá-la de outra maneira melhor. Mesmo que tenha sido feita consciente de que causaria prejuízo a si próprio e a terceiros, ainda assim é parte da ignorância humana. [5]

Podemos afirmar que todas as experiências que vivemos, negativas e positivas, têm sempre algo de muito importante a nos ensinar, desde que devidamente analisadas. Compreendidos dessa maneira, os erros se transformam em significativas formas de aprendizagem que nos permitem evitar futuros comprometimentos. O problema surge quando não os queremos perceber ou nos recusamos a examiná-los, o que nos predispõe a repeti-los – muitas vezes até.

Todavia, o arrependimento não deve nos induzir à autocondenação, e, sim, à autoanálise e transformação íntima, sobretudo porque a autopunição não auxilia em nada no processo de libertação da consciência culpada.“Quem se arrependeu é porque aprendeu que é simplesmente humano, falível e nem melhor nem pior do que os outros.” [6]

A maior parte das pessoas concentra-se exclusivamente em seus erros e tropeços. Mas esse enfoque negativo gera vibrações de igual teor que, por sua vez, estimulam ainda mais um estado de espírito negativo. Daí Emmanuel explicar que a autocondenação prejudica consideravelmente o processo de reabilitação perante os enganos:

Não vale a chuva de lágrimas despropositadas, ante a falta cometida.

Arrependermo-nos de qualquer gesto maligno é dever, mas pranteá-lo indefinidamente é roubar tempo ao serviço de retificação. [7]

Sendo assim, quem se arrepende não deve envolver-se em lamentações e pesares, causando a própria ruína física e emocional. Ademais, podemos aprender na literatura espírita que, apesar de o plano espiritual superior procurar auxiliar o encarnado, se este não se dispuser a assumir a responsabilidade de redimir (resgatar, ressarcir, reparar) suas negativas atitudes pela “prática do bem”, continuará envolto na revolta e no sofrimento.

Em alguns casos, entretanto, a reparação exige do indivíduo uma conduta mais firme e de maior renúncia do que aquela mesma que não conseguira ter anteriormente. Por esse motivo, muitos são os que, trazendo o peso do arrependimento e da culpa em seu íntimo, mas vendo o tamanho do esforço que precisariam fazer para repararem os equívocos, preferem optar pela fuga, pelo afastamento – mudando de cidade, de bairro – ou mesmo produzindo para si mesmos um estado interior de alheamento, com o qual pretendem passar da condição de responsáveis à de vítimas.

O autoperdão, desse modo, torna-se imprescindível para a retomada do equilíbrio interior. Ao abrandar o autojulgamento – ou seja, deixar de ser tão crítica em relação aos próprios deslizes –, mais facilmente a pessoa conquista força moral e espiritual para seguir adiante, tentando corrigir, interna e externamente, tudo aquilo que esteja causando sua intranquilidade pessoal. Nessa direção, Novaes afirma:

Todo evento passado deve ser analisado à luz da ignorância. As reações que se teve diante dos eventos do passado se deram da forma possível àquele momento. Ninguém deve se culpar pelo que fez, mas assumir as responsabilidades pertinentes. Deve-se entender que o evento traumático tem a dimensão da ignorância que se tem a respeito de si mesmo e do funcionamento da vida.

Perpetuar o trauma é conservar o sofrimento causado, reduzindo a possibilidade de sua dissolução. Para que esta venha a ocorrer, a pessoa deve primeiramente aceitar seus próprios limites, entendendo que ninguém é perfeito nem tem a capacidade de tudo absorver tranquilamente. Aceitar os próprios limites também é não querer mais do que é possível alcançar. Em segundo lugar, entender que o erro é parte do aprendizado humano, não devendo lamentar-se por ele, nem se martirizar ou envergonhar-se por qualquer insucesso. Muitas vezes, precisa-se perder para aprender a ganhar, portanto, uma derrota não deve ser tomada como prejuízo à personalidade. Nunca mais empreender algo, porque passou por uma perda, é equívoco grave. Traumatizar-se pelo prejuízo de uma ação pode levar a pessoa ao fundo do poço. O medo é uma emoção instintiva humana. Todos têm medo diante de certos obstáculos. Esse automatismo vem desde o período animal, no qual os instintos permitiam o preparo do organismo para uma reação: fugir ou atacar. O medo gera uma energia que deve ser utilizada para uma ação. Temer e fugir é não aprender. Todo evento aversivo gerador de medo deve ser tomado como catalisador de uma atitude progressiva. Não se intimidar nem se acomodar com as crises e derrotas permitirá o fortalecimento do ego, evitando a consolidação de um trauma. [8]

É preciso coragem até mesmo para assumir nossos erros e fracassos, prelúdio da coragem para corrigi-los. [9]

No Evangelho de Lucas (19:1-10), temos que Jesus, ao passar por Jericó, se defronta com Zaqueu, rico publicano, sobre uma árvore. É que ele desejava conhecer Jesus, mas, por ter pequena estatura, não o enxergava do meio da multidão. Ao encontrá-lo, o Mestre lhe disse: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em sua casa.” Ele desceu a toda a pressa, recebendo Jesus com muita alegria. No entanto, muitos daqueles que presenciaram a situação, criticaram Jesus pelo fato de ele se hospedar na casa de um pecador. Porém, Zaqueu, provavelmente bastante tocado pela consideração dispensada por Jesus, se levantou e disse: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais.” Então, Jesus lhe respondeu: “Hoje, houve salvação nesta casa.” [10]

Muitos acreditam que arrepender-se significa sentir-se mal consigo mesmos, quando procedem erroneamente. Assim, o arrependimento e o sentimento de culpa, para esses indivíduos, representam uma merecida autopunição por terem feito o que não deveriam. Mas, com essa passagem, podemos afirmar que Jesus não compreendia o arrependimento dessa maneira. Diante da atitude do publicano, o Cristo alegrou-se por um único fato: Zaqueu mudou de ideia, isto é, decidiu inverter o rumo de sua vida, seguindo por um caminho totalmente diferente.

Podemos interpretar que Jesus falava sobre o arrependimento nesse sentido. Ele queria ajudar as pessoas a abandonarem hábitos antigos, a renovarem conceitos, a melhorarem a maneira de pensar, de sentir e de agir, e não fazer com que os “pecadores” se sentissem mal a respeito de si mesmos.

Assim sendo, o arrependimento não consiste em fechar-se nas consequências negativas dos atos e das palavras, mas em permanecer aberto a mudanças, porque a pessoa consciente e inteligente aprende com os próprios erros e modifica a trajetória de sua vida para voltar a sentir-se digna perante a própria consciência.

Allan Kardec, na questão 999 de O Livro dos Espíritos, pergunta:

“O arrependimento sincero durante a vida basta para apagar as faltas e fazer encontrar graça diante de Deus?” [11]

Resposta:

“O arrependimento ajuda o progresso do Espírito, mas o passado deve ser expiado (reparado, purificado).”

Complementando as considerações dos Espíritos Superiores, o espírito André Luiz ensina: “O arrependimento é, porém, caminho para a regeneração e nunca passaporte direto para o céu”. [12]

Na questão 1000, de O Livro dos Espíritos:

“Podemos nós, desde esta vida, resgatar nossas faltas?”

Resposta:

“Sim, reparando-as. Mas não creiais resgatá-las por algumas privações pueris ou doando depois de vossa morte, quando não tereis mais necessidade de nada. Deus não tem em nenhuma conta um arrependimento estéril, sempre fácil, e que não custa senão a pena de se bater no peito.

(...) O mal não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem nenhum mérito, se não atinge o homem no seu orgulho ou nos seus interesses materiais.

De que lhe serve, para sua justificação, restituir depois da morte o bem mal adquirido, agora que se lhe torna inútil e que deles já se aproveitDe que lhe serve a privação de alguns prazeres fúteis e de algumas superfluidades, se o mal que ele fez a outro continue o mesmo?

De que lhe serve, enfim, se humilhar diante de Deus, se conserva seu orgulho diante dos homens?

Voltemos, mais uma vez, à definição da palavra arrependimento: “Mudança de opinião ou de atitude em relação a fatos passados. Contrição sincera pela incorrência em pecados, a serem redimidos pela prática do bem.” Não foi a isso que Zaqueu se propôs?

“Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mt 4:17)

Ele (Jesus) nos convidava a essa percepção diferente do mundo, quando declarava “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” Arrepender-se é convidar a não fazer mais o que se fazia; é não entender a vida com os mesmos valores que se tinha; é, ainda, não se culpar pelo que fez no passado, mas encarar uma nova realidade que se avizinha.

Arrepender-se é autoconhecer-se. É fazer um mergulho no próprio mundo consciente e no inconsciente, a fim de modificar suas disposições internas e passar a vibrar numa faixa psíquica mais elevada. Este estágio mais adiantado é aquele que nos permite viver com a disposição de enfrentar com equilíbrio e humildade os revezes que a Vida nos apresenta.

A proximidade do reino dos céus é a certeza de que ele se encontra no nosso interior. Não é um estado externo, mas interno. É possível alcançá-lo pela sua íntima condição. Não é necessário viajar, nem buscá-lo muito longe. Não está em nenhum lugar mágico ou nas alturas dos montes, nem nas florestas virgens, nem em caminhadas intermináveis. Não se encontra no espaço infinito, mas tão somente no infinito de nossas moradas interiores.

(...) Quando percebermos que estamos num estado que pode chegar ao desequilíbrio, é conveniente que façamos uma parada para meditar, orar, e desfocar o problema, a fim de melhor captar a influência espiritual salutar, para o encontro de soluções dos conflitos e para a harmonia das idéias.

O Cristo nos convida à esperança em nós mesmos a partir do estado de espírito que nos predispõe a viver confiantes na certeza de que um mundo interior em paz produz uma sociedade em harmonia. [13]

Silvia Helena Visnadi Pessenda
Fonte: Espiritismo na Rede


Referência:

[1] NOVAES, Adenáuer M. F. de. Felicidade sem culpa. 2. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2002. Cap. “Culpas que interferem na felicidade”. p. 64.

[2] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Espelho d’água. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2001. p. 106.

[3] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Um modo de entender: uma nova forma de viver. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2004. Cap. 6. p. 31.

[4] iDicionário Aulete. Disponível em: . Acesso em: 27.10.2012.

[5] NOVAES, Adenáuer M. F. de. Alquimia do amor – Depressão, cura e espiritualidade. 1. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2004. Cap. “Curando a depressão”. p. 220.

[6] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Espelho d’água. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2001. p. 26.

[7] EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Fonte viva. 12. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. Cap. 90.

[8] NOVAES, Adenáuer M. F. de. Alquimia do amor – Depressão, cura e espiritualidade. 1. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2004. Cap. “Causas do ponto de vista psicológico e espiritual”. p. 207.

[9] MIRANDA, Hermínio Corrêa; ANJOS, Luciano dos. Eu sou Camille Desmoulins: a Revolução Francesa revelada por um dos seus líderes. 3. ed. Publicações Lachâtre, 1993. Leitura complementar 41. p. 149.


[10] BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. [11] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.


[12] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco C[ândido (psicografado por). No mundo maior. 20. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. Cap. 3. p. 40.


[13] NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Psicologia do Evangelho. 2. ed. Salvador, BA: Fundação Lar Harmonia, 2001. Cap. 5.

24 janeiro 2020

Primeira Atitude - Orson Peter Carrara





PRIMEIRA ATITUDE


A primeira atitude daquele homem foi descer do animal, um cavalo ou um camelo. Em sua caminhada encontrou aquele homem ferido, que havia sido desprezado por dois outros que ali passaram, conforme narra a conhecida Parábola do Bom Samaritano.

Todo mundo conhece a parábola, nem é preciso narrar novamente. Seus personagens e desdobramentos são muito conhecidos e as lições morais daí decorrentes igualmente tocam o coração humano com lições incomparáveis.

Deixemos, todavia, aquelas lições já conhecidas, divulgadas e disponíveis para quem deseja ampliar o assunto e conhecer mais. Fixemo-nos na ocorrência da decisão daquele personagem, o bom samaritano, que encontrou o homem caído e ferido.

Sua primeira atitude foi descer do animal que o transportava. Isso não se deve apenas ao fato da comodidade de estar mais próximo, mas mostra a postura de decisão, de humildade principalmente, ao aproximar-se do enfermo caído. Antes de qualquer outra iniciativa de apoio que se sucedeu, como conhecida, ele antes desce do animal, aproxima-se, verifica a necessidade, para depois, então, agir como exigia o momento.

A ocorrência é repleta de ensinos. Ele sentiu a dor alheia, preocupou-se com a dificuldade, não se manteve no pedestal da facilidade de locomoção que se encontrava–o que naturalmente pode ser comparado com as facilidades do nome, do cargo, da posição social, entre outras circunstâncias –, que todos normalmente desfrutamos.

Ao aproximar-se, providenciou o que era necessário, como conhecido. Antes, a indiferença dos outros dois personagens. Sua aproximação, contudo, mudou todo o quadro da história. Desceu do animal com a disposição de ajudar, de fazer-se presente no que era necessário, de levar adiante as providências que o momento exigia.

As lições preciosas da citada parábola estão em todo o trecho. Desde o orgulho e a indiferença dos outros dois personagens e ganha destaque já a partir da decisão de socorrer o infeliz, quando, então, desce do animal.

v Sim! Precisamos observar atentamente este dado inicial da parábola. Também precisamos descer dos pedestais do orgulho, do egoísmo, da prepotência, da vaidade, da indiferença. Na verdade, trazemos conosco o dever de atenuar as agruras alheias. Fácil?

Nem sempre! Muitos desafios se apresentam nessa decisão de auxiliar a quem precisa, mas é importante que não permaneçamos indiferentes, que façamos o que esteja ao nosso alcance.

E esta decisão não se resume apenas no socorro à dificuldade alheia. Ela pode ser ampliada por meio da boa vontade e da disposição em ser útil. Também se encaixa perfeitamente em facilitarmos o andamento das providências e ocorrências do cotidiano.

Seja no trato com um animal doméstico, com uma criança, com idosos, com outros adultos de nosso relacionamento, perante as providências diárias, na vida social, familiar ou profissional.

Desçamos, pois, de nossas pretensões. Aproveitemos a bela lição para revermos nossos próprios comportamentos perante perspectivas da própria vida e principalmente perante as dificuldades alheias…


Por Orson Peter Carrara

23 janeiro 2020

Critério de Julgamento - Joanna de Ângelis



CRITÉRIO DE JULGAMENTO


Há uma tendência muito grande para o indivíduo supervalorizar ou desconsiderar as tarefas que executa.

Por processo de auto-afirmação, um grande número de criaturas se crê a razão pela qual o Sol se movimenta nos espaços, superestimando-se, em prosaico processo de engrandecimento pessoal.

Não se dão conta de que todos possuem critérios de avaliação e de julgamento, derrapando no ridículo que poderiam evitar.

Tornam-se, assim, desagradáveis no trato e na convivência, evitados por uns e antipatizados por outros.

Da mesma forma, encontramos larga faixa de pessoas que se subestimam e não concedem o valor que merecem às suas realizações.

Crêem-se incapazes para qualquer atividade e supõem-se dispensáveis em toda parte.

Pessimistas, por índole, fazem-se desestimulantes e arredios, caindo em frustrações desnecessárias.

Dá o valor real aos teus atos.

Se poderias fazer melhor o que te parece imperfeito, logra-o da próxima vez.

Se consideras insignificante o teu feito, menor seria sem ele.

Se outros realizam com mais eficiência qualquer coisa, exercita-te e chegarás à mesma posição dele.

Todas as ações positivas são importantes no contexto geral da vida.

Até mesmo o erro tem o sentido de ensinar como se não deve fazer o que ora resulta prejudicial.

Esforça-te um pouco mais, quando estiveres produzindo algo, e, mediante o teu critério de julgamento, valoriza sem excesso nem depreciando o que faças, pensando na finalidade para que se destina.

Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo P. Franco
Livro: Episódios Diários


22 janeiro 2020

O espírita diante do debate político e ideológico - "esquerdista" ou "conservador"? - Jorge Hessen



O ESPÍRITA DIANTE DO DEBATE POLÍTICO E IDEOLÓGICO - "ESQUERDISTA" OU "CONSERVADOR"?


Assistimos com estupefação à promoção de “seminários” entre os tais espíritas “progressistas”, aqueles que se declaram espíritas “socialistas”, mas que, de praxe, não abrem mão de um requintado “caviar”. Tais “espíritas” “socialistas” / “progressistas” / “salvadores dos pobres”, via de regra, estão pouco se lixando com os deserdados e não movem uma palha para conhecerem de perto e ou improvisarem uma visitinha às instituições doutrinárias especializadas em prestação de serviços à comunidade de indigentes econômicos.

Tais “espíritas progressistas” apontam Kardec como um ingênuo por ter explanado em O Evangelho segundo o Espiritismo sobre a desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais “espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando apenas uma parte da riqueza gerada.

Doutrinariamente falando, seria o espírita de esquerda ou de direita? Nem uma, nem outra. Ou melhor, no mínimo, um estudioso de Kardec deve ser de “centro” espírita (é lógico!). Humor à parte, nas hostes do Espiritismo não deveria haver espaços para militâncias ideológicas de “esquerda” ou de “direita”. Lembrando que longe (bem longe mesmo!) das instituições doutrinárias não é vedado ao espírita a participação do movimento político-partidário. Isso é uma questão pessoal.

Nas hostes espíritas, porém, não se deveria adotar qualquer confraria política. Atrair militância política partidária de “esquerda” ou “direita” para o ambiente espírita seria tão esdrúxulo quanto uma roda quadrada. Em face disso, não se deveria tratar duelos eleitorais (no sentido de desinteligências) nos recintos espíritas. A Doutrina Espírita encontra-se acima de nuances políticas transitórias.

Os "espíritas" esquerdistas creem no lema “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades", por isso os “espíritas progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.

Kardec assegurou também que se houvesse a repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade kardeciana é insuportável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas, a fim de que os proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta (à base de caviar), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a boa performance das estruturas sociais.

Quando Kardec afirmou que se a repartição da riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” alardearam que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores – portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para o consumo do supérfluo.

Regurgitam os tais “espíritas progressistas”, questionando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas? Protestam, então, que a riqueza se concentra pelo simples fato de que quem já possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como se observa, uma dedução horizontalizada, leviana, mecanicista e nada razoável dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.

Acreditam os “progressistas” que a riqueza pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando exclusivamente ao benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade de riqueza, pois, assim, toda a sociedade acaba “refém” da decisão do endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do que, a sua apropriação fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente por toda a riqueza por eles produzida.

Expõem ainda os “progressistas” que no Brasil as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que, porém, deve preocupar e é racional, é estabelecer a solidariedade entre elas, a conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência social, únicas alavancas mantenedoras da ordem''.[1]

É bem verdade que a desigualdade social ou econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres), decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes, tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um, pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!

Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com violência que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, a cupidez, as animosidades, os desrespeitos acumulam-se dia a dia.

Politicamente sabemos que as leis elaboradas pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.

Para confirmar as magníficas teses de Kardec sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada Espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.[2]


Jorge Hessen
Fonte: 

Referências:

[1] Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936.

[2] Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978.