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16 abril 2020

Ânsia de saber - Joanna de Ângelis



ÂNSIA DE SABER


Ante a volumosa massa de informação que chega ao teu conhecimento a cada instante, afliges-te porque gostarias de poder absorvê-las ao máximo, tornando-te bem mais esclarecido e conhecedor das ocorrências que têm lugar no planeta.

Em realidade, grande número dessas notícias é constituído de tragédias e de vulgaridades, de notícias insensatas e mexericos entre pessoas que brilham sob os holofotes da fama, nas mais variadas colocações.

É verdade que labores de engrandecimento cultural e moral, científico e filosófico, novas conquistas da tecnologia e maravilhosos conhecimentos a respeito da vida, do planeta, do cosmo são trazidos a lume, fascinando as mentes e os corações.

Nada obstante, como afirma velho brocardo popular: não se pode abarcar o mundo com os braços, e os limites naturais, em razão das circunstâncias, não o permitem.

Há prioridades na existência humana que não podem ser postergadas, e aquelas que dizem respeito à autoílumínação destacam-se tomando o tempo e preenchendo os espaços emocionais.

O saber é muito importante no processo de desenvolvimento do Espírito, facultando-lhe a aquisição da cultura que proporciona entendimento das incógnitas existenciais, dos fenômenos psícológícos, atendendo a ânsia natural para conhecer sempre mais ...

No entanto, não menos importante é a aplicação desse conhecimento, a fim de que não se transforme o indivíduo em uma fonte de sabedoria que permanece adormecida, sem alcançar a finalidade para a qual existe.

Aplicar o conhecimento adquirido na vivência diária é o objetivo essencial das informações que se acumulam, a fim de que possam tornar a existência mais dinâmica e, ao mesmo tempo, rica de valores emocionais.

Nesse mister, todo o esforço para a conquista dos tesouros íntimos deve ser empreendido, descobrindo-se quem se é, de onde se veio e para onde se ruma, de maneira que a renovação ética e emocional sempre para melhor se faça incessantemente.

O conhecimento liberta, mas a ação correta dignifica.

O conhecimento dá confiança, no entanto a experiência resulta da prática daquilo que se sabe.

Quando não se vivenciam as lições da sabedoria, de maneira alguma ocorre o desenvolvimento do Espírito, que permanece lúcido e inútil...

Desse modo, não te aflijas pelo que desconheces, mas rejubila-te pelo que sabes e aplicas na vivência de cada momento, tornando-te alguém capaz de modificar as estruturas arcaicas do mundo através da tua própria transformação moral edificante e abençoada.

De alguma forma, a sociedade está referta de pessoas-bibliotecas, refugiadas nos gabinetes de estudos e pesquisas, distantes das necessidades humanas que as solicitam.

Escondem-se para mais intelectualizar-se, evitando a convivência com os sofredores que as necessitam.

Cultivam, dessa maneira, o narcisismo asfixiante, transformando-se em expoentes do saber, indiferentes, no entanto, com os problemas que assolam a sociedade.

Velho conto oriental narra que um generoso rei e o seu grão-vizir, ao desencarnarem, foram substituídos respectivamente pelos filhos que se encontravam, mais ou menos, na mesma idade e que muito se estimavam.

Ao subir ao trono, o jovem rei solicitou ao seu amigo, agora na função relevante que lhe pertencera ao pai, que o ajudasse a governar com justiça e equidade.

Para consegui-lo, ele necessitaria que fossem convocados todos os sábios do reino e debatessem todos os conhecimentos existentes, escrevendo uma obra onde estivessem todas as necessidades humanas e os meios hábeis para resolvê-las.

O jovem convocou as mulheres e os homens ilustres e pôs-se em ação, trabalhando com essa variada equipe de profundos conhecedores de tudo, de modo que pudesse escrever uma obra que solucionasse as dificuldades e as aflições dos súditos.

Vinte anos transcorreram quando o grão-vizir acercou-se do rei com uma comissão de sábios, para apresentar o resultado desse esforço gigantesco.

Tudo estava exposto em trinta volumes expressivos que alguns servidores conduziram até a sala do trono.

Comovido, o rei elucidou:

- Posso imaginar o esforço que empreendestes todos vós na elaboração desse monumental conjunto de informações, que muito agradeço. Entretanto, ante os deveres que me cumpre atender e o pouco tempo de que disponho, nunca poderia ler todas as obras e inteirar-me das vossas informações. Assim sendo, eu vos solicito que sintetizeis todo esse conhecimento que me será de grande valia.

Novamente reuniram-se aqueles dedicados servidores e, vinte anos depois, uma vez mais levaram ao rei o resultado do empreendimento exaustivo, em apenas dez volumes.

Naquele período, porém, o rei encontrava-se no campo de batalha, defendendo o país de invasores impenitentes.

Ao ser comunicado que ali estavam os sábios com o resultado do seu esforço, recebeu-os na sua barraca de campanha à luz de lampiões e ouviu-os falar da excelência das obras, sentindo o entusiasmo do seu grão-vizir que exultava.

Terminada a exposição, ele disse, algo amargurado:

- Dez livros! Quando os poderei ler, especialmente no fragor destas lutas? Perdoai-me, porém tentai sintetizar ainda mais as vossas nobres informações.

Pediu licença para um breve descanso, a fim de continuar a luta.

Passaram-se mais dez anos, e um dia em que se encontrava no trono, envelhecido e tristonho, acercou-se-Ihe o querido amigo, que vinha em nome de todos os sábios apresentar-lhe o resultado do esforço sobre-humano.

O nobre rei, algo surpreso, interrogou o amigo com gentileza:

- A que conclusão chegastes após tantos anos de estudos e investigações, que me possa auxiliar a ajudar o povo?

Com a voz trêmula e emocionado, o grão-vizir respondeu:

- Majestade, tudo quanto constatamos é que o povo sofre, e o remédio mais eficaz para o seu sofrimento é o amor que ilumina os sentimentos e pode ajudar a libertá-los das aflições.

Sem dúvida, o conhecimento é muito importante no processo de expansão do intelecto, no entanto, no que diz respeito à expansão da consciência e dos sentimentos, somente o amor é possuidor do meio mais eficaz para facultar o êxito.

Com profunda sabedoria, o Espírito de Verdade, conforme se encontra em O evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, no capítulo sexto, propõe:

Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este, o segundo.

No cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: "Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade." (Paris, 1860).


Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo P. Franco
Livro: Entrega-te a Deus - 14

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