O psiquiatra atende ao telefone. A paciente, jovem senhora sob tratamento, reclama:
– Doutor, estou muito preocupada.
– O que houve?
– Venho notando que meu cocô está leve, boiando, ao invés de depositar-se no fundo do vaso. É grave?
– É normal. Não se preocupe. Acontece, às vezes.
Momentos depois, nova ligação.
– Desculpe, doutor, pela insistência… O senhor acha mesmo que não tem problema?
– Com certeza! Fique tranquila.
Mais alguns minutos e…
– Doutor, estive pensando… O normal não seria um cocô mais pesado?
– Doutor, estou muito preocupada.
– O que houve?
– Venho notando que meu cocô está leve, boiando, ao invés de depositar-se no fundo do vaso. É grave?
– É normal. Não se preocupe. Acontece, às vezes.
Momentos depois, nova ligação.
– Desculpe, doutor, pela insistência… O senhor acha mesmo que não tem problema?
– Com certeza! Fique tranquila.
Mais alguns minutos e…
– Doutor, estive pensando… O normal não seria um cocô mais pesado?
– Olhe, menina, vou lhe dizer o que realmente acontece. O problema é da cabeça. O cocô leve vem de seu cérebro.
Podemos enfatizar nesse episódio a impaciência do médico. Não deveria estar presente num profissional de psiquiatria, treinado e muito bem pago para ouvir, ainda que, eventualmente, importunado, pela clientela. Psiquiatra sem paciência deve reciclar-se, revendo os fundamentos de sua especialidade.
Mais interessante, no caso, considerar a paciente. Ela é o exemplo típico das fantasias geradas pela neurose, esse problema que costuma envolver pessoas demasiadamente preocupadas consigo mesmas. A ansiedade é sua principal característica, levando-as a superestimar seus problemas e dificuldades, como quem usa óculos de grau mal ajustados.
Mais interessante, no caso, considerar a paciente. Ela é o exemplo típico das fantasias geradas pela neurose, esse problema que costuma envolver pessoas demasiadamente preocupadas consigo mesmas. A ansiedade é sua principal característica, levando-as a superestimar seus problemas e dificuldades, como quem usa óculos de grau mal ajustados.
O neurótico enxerga de forma “desfocada” as situações e as pessoas. Alguns exemplos:
Riem para ele.
Julga que riem dele.
Não o cumprimentam, por distração.
Imagina desconsideração.
Recebe elogio sincero.
Enxerga bajulação.
Não se comunica.
Reclama que o ignoram.
Com semelhante visão, tem muita facilidade para sentir-se discriminado, isolado, injustiçado, perseguido, humilhado… É dado a teorias conspiratórias, supondo que as pessoas tramam algo contra si. Resvala com facilidade para a hipocondria, preocupando-se até com a consistência de seus dejetos.
Há duas realidades: O que vemos e o que é.
A estabilidade íntima depende de nossa capacidade em aproximar uma da outra. Quando menino, eu era míope, sem saber. Na escola, sentava próximo ao quadro negro; no cinema, nos primeiros lugares, em face de minha limitação.
Como a miopia é progressiva, vamos nos adaptando à redução da acuidade visual, sem perceber a própria deficiência. A paisagem, para mim, já com três graus, era um borrão, aparentemente natural.
Quando, finalmente, consultei o oftalmologista e usei o primeiro par de óculos, foi um deslumbramento. Encantei-me com a luminosidade dos objetos, a visão dos pássaros ao longe, os contornos da paisagem… Enxergava, sem problemas o letreiro nos filmes, os registros na lousa…
Nossas neuroses situam-se como uma miopia da alma, impedindo-nos de enxergar as realidades existenciais, detendo-nos em perturbadoras fantasias, a partir de meros borrões.
A maneira como enxergamos o mundo é decisiva em relação à própria saúde, física e psíquica. A visão desfocada, que caracteriza o comportamento neurótico, é extremamente desajustante.
Por isso Jesus proclama, em O Sermão da Montanha (Mateus, 6:22-23): “São teus olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão”.
Como a miopia é progressiva, vamos nos adaptando à redução da acuidade visual, sem perceber a própria deficiência. A paisagem, para mim, já com três graus, era um borrão, aparentemente natural.
Quando, finalmente, consultei o oftalmologista e usei o primeiro par de óculos, foi um deslumbramento. Encantei-me com a luminosidade dos objetos, a visão dos pássaros ao longe, os contornos da paisagem… Enxergava, sem problemas o letreiro nos filmes, os registros na lousa…
Nossas neuroses situam-se como uma miopia da alma, impedindo-nos de enxergar as realidades existenciais, detendo-nos em perturbadoras fantasias, a partir de meros borrões.
A maneira como enxergamos o mundo é decisiva em relação à própria saúde, física e psíquica. A visão desfocada, que caracteriza o comportamento neurótico, é extremamente desajustante.
Por isso Jesus proclama, em O Sermão da Montanha (Mateus, 6:22-23): “São teus olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão”.
Richard Simonetti
Fonte: Correio Espírita
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