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30 setembro 2021

Intolerância e Radicalismo - Divaldo Pereira Franco

 
INTOLERÂNCIA E RADICALISMO

Houve, na Roma antiga, um templo dedicado a Jano, que durante um milênio somente fechou as suas portas nove vezes, correspondentes aos períodos em que a República esteve em paz. O deus singular era representado com duas faces, o que o tornou conhecido como bifronte, atributo conseguido de Saturno, a quem favorecera, e que o dotara com a capacidade de perpetrar o passado e o futuro, conforme narra a mitologia, ao se referir ao mais antigo rei do Lácio conhecido. - Joanna de Ângelis – Florações evangélicas

Há, no ser humano, a predominância dos instintos básicos, particularmente, a ira, que se transforma em cólera, desde quando estimulada pelos desejos não realizados.

Desde muito cedo, revela-se essa particularidade, nos indivíduos ególatras, que transpiram intolerância, sempre se acreditando certos e corretos em detrimento dos demais, mesmo quando portadores de melhores conceitos e mais coerentes conhecimentos.

Graças a eles, a intolerância sempre marchou com vitalidade entre as pessoas, mesmo algumas bem equipadas de conhecimentos. São os rebeldes de todos os tempos, inspiradores de lutas e revoltas, produzindo inquietação no grupo social em que se encontram.

Dessa intolerância doentia ao radicalismo é um passo audacioso, que envolve a mente dominada pelas paixões sórdidas e perversas.

Manifestam-se esses lamentáveis episódios no ódio de raças e etnias, de costumes e tradições, especialmente, nas comunidades religiosas em que se refugiam esses fracos morais, porque destituídos de valores éticos.

Neste momento, há uma onda de horror pela intolerância e decorrência do radicalismo religioso dos talibãs, que enfrentam a sociedade e as nações com as suas retrógradas condutas, tornando leis indiscutíveis os textos da Sharia.

Sharia, segundo o Google, é a lei muçulmana ou islâmica, tanto em relação à justiça civil e criminal, quando regulando a conduta individual, pessoal e moralmente. O corpo das leis baseado nos costumes fundamenta-se no Alcorão e na religião do Islã.

A leitura, distorcida pelas mentes que odeiam, permite a prática dos crimes mais hediondos, conforme os que vêm sendo praticados no Afeganistão, após a reconquista de Cabul, na semana passada.

Cenas indescritíveis são apresentadas pelos fanáticos assassinos, ante as suas vítimas indefensas, que entregam os seus filhos aos soldados americanos e à massa humana no aeroporto em tentativa de fuga...

Cristãos passam a ser mártires, de forma odienta, pelos infrenes conquistadores, que reduzem a mulher à insignificância e a mutilações descabidas, terminando na morte cruel.

A Humanidade necessita despertar como um todo, neste período de crise, de modo a merecer a denominação de civilizada, preservando os direitos humanos.


Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, 26/08/21


29 setembro 2021

Apenas os Romances Mediúnicos Merecem Credibilidade? - Grabriela Dias


APENAS OS ROMANCES MEDIÚNICOS MERECEM CREDIBILIDADE?

O romance é um gênero literário que traz uma narrativa em prosa, ficção, conto ou novela.

Os romances espíritas têm por objetivo trazer ensinamentos, lições e respostas de uma forma mais leve e prática, através de narrativas e personagens, baseadas em histórias verídicas ou não (no caso de uma ficção, por exemplo), nos auxiliando na compreensão dos ensinamentos da Doutrina Espírita.

Comumente, entre os apreciadores da literatura espírita, observamos o seguinte questionamento: essa obra é psicografada?, ou seja, ela foi ditada por um espírito através da psicografia ou foi o próprio autor que a escreveu? E muitos, diante da negativa à essa pergunta, perdem o interesse pelo livro sem nem ao menos examinar seu conteúdo.

Enquanto adeptos da Doutrina Espírita, não estaríamos caindo em contradição ao dar mais atenção a obras psicografadas em detrimento de obras que não o são? Não estaríamos nos interessando mais pelo misticismo do que pelo espiritismo, de fato?

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XXI, no item 10, Kardec nos aconselha em nota:

Em geral, "desconfiai das comunicações que trazem um caráter de misticismo e de estranheza ou que prescrevem cerimônias e atos bizarros; então, há sempre um motivo legítimo de suspeição."

Não devemos nos apegar tanto aos misticismos e aos fenômenos mediúnicos, mas ao ensinamento que aquele conteúdo nos traz. A Doutrina Espírita não deve ser palco e seus adeptos não devem ser protagonistas de manifestações de misticismo que pouco agregam e sempre devem ser questionadas.

Se hoje lemos, estudamos e temos capacidade intelectual para escrever sobre assuntos ligados à Doutrina Espírita, devemos esperar o desencarne para ditar o que sabemos a um médium (algumas vezes com menos instrução) para que nossas palavras tenham credibilidade?

Vejam, não se trata de dizer que uns são melhores que os outros por terem mais instrução em nível de conhecimento terreno, material, mas de questionarmos e avaliarmos um trabalho por seu conteúdo doutrinário e não descredibilizá-lo por não ter diretamente um espírito por trás pois, assim, ignoramos o fato presente em O Livro dos Espíritos, na questão 459, onde os espíritos ao serem questionados por Kardec se os Espíritos influem nossos pensamentos e ações, respondem: "Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem."

Assim sendo, todos somos médiuns e, ainda que o trabalho não tenha sido concebido através da psicografia, todo conteúdo que busca instruir e disseminar as leis de amor e caridade pode e, provavelmente foi, também inspirado, mesmo que de uma forma inconsciente.

No livro O Que é o Espiritismo, durante diálogo com o visitante Kardec elucida que:

"(...) Fazer a crítica de um livro não é necessariamente condená-lo.Aquele que empreende essa tarefa, deve fazê-la sem ideias preconcebidas. Mas, se antes de abrir o livro já o condenou em seu pensamento, seu exame não pode ser imparcial."

A crítica se aplica tanto ao lado "negativo", quando ao "positivo" quando julgamos que um romance é melhor por ter sido concebido através da psicografia.

Analisando ainda mais, se considerarmos bom um romance simplesmente por ter sido psicografado e não nos atentarmos a seu alinhamento doutrinário, como identificaremos possíveis contradições com o espiritismo e até mesmo processos obsessivos? (Sim, mesmo os médiuns psicógrafos que já exercem sua mediunidade de forma ostensiva e trabalham há anos podem ser obsidiados.)

Em Armadilhas da Obsessão, a autora Rafaela Paes de Campos nos explica que:

"(...) a obsessão não é fruto apenas da inferioridade de certos espíritos, mas também, fruto de um descuido do obsidiado, que se deixa levar pela negatividade de pensamentos e sentimentos, abrindo portas imensas para que esses espíritos menos esclarecidos exerçam seu poderio."

Dessa forma, devemos sempre analisar o conteúdo dos livros sem nos apegar aos misticismos e à possível fama do médium que, independente do tempo que já atua, não detém o conhecimento absoluto da verdade. E, se acha que detém, precisamos desconfiar ainda mais pois, em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXIII, intitulado Da Obsessão, Kardec nos explica como os diversos tipos de obsessão podem se manifestar e nos esclarece sobre a fascinação: A" fascinação tem consequências muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium, e que paralisa de alguma forma seu julgamento com respeito às comunicações. O médium fascinado não crê ser enganado. (...) "


Portanto, torna-se imprescindível o cuidado e o critério imparcial daqueles que avaliam uma obra durante seu processo de publicação, impedindo que venha a público conteúdos duvidosos que visam apenas o retorno material. E a nós, leitores e amantes dos romances espíritas, cabe o dever de não julgar o livro apenas pela capa ou pela psicografia, mas passar os livros pelo crivo da razão e não desconsiderar o conhecimento e os ensinamentos que nos são oferecidos.

Gabriela Dias
Fonte: Blog Letra Espírita

Referências:

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 365° edição, 2009, p. 202.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillion Ribeiro. Rio de Janeiro, RJ, FEB, 84° edição, 2003, p. 246.

KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. Araras, SP, IDE, 74° edição, 2009, p. 13.

CAMPOS, Rafaela Paes de. Armadilhas da Obsessão. Campos dos Goytacazes, RJ, Editora Letra Espírita, 1° edição, 2020, p. 24.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 85° edição, 2008, p. 209.

28 setembro 2021

O Desencarne Após Consumo de Álcool e Drogas - Priscila Gonçalves

 
DESENCARNE APÓS CONSUMO DE ÁLCOOL E DROGAS

Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito. - Efésios 5:18

Vivemos em um mundo de energias densas e nosso corpo físico é, por si só, feito de matéria densa. Reencarnamos na Terra com diversos propósitos e, dentre eles, experimentar e experenciar as mais diversas “criações” humanas e também as criações de Deus.

Somos convidados a todo instante a nos reunir e compartilhar de comida, bebida, algumas vezes drogas lícitas e ilícitas, a fim de fugir da realidade que por vezes nos assola os campos mental e emocional de forma violenta. Alguns não conseguem desvencilhar-se facilmente destes caminhos tortuosos que são os vícios, e todos nós carregamos conosco em nossa bagagem de outras existências alguns traços peculiares e sequelas de vícios previamente adquiridos. Todos estes fatores resultam em um grande potencial de tragédias individuais e coletivas, de indivíduos que não conseguem resistir aos seus mais profundos vícios e aos convites às substâncias nocivas à nossa saúde, que vêm maquiados de reuniões amigáveis e confraternizações.

Todos conhecem de cor e salteado talvez uma das mais famosas passagens do Evangelho:

“Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém. “Tudo me é permitido”, mas eu não deixarei que nada me domine. (BÍBLIA, 2021).

Tudo nos é permitido uma vez que somos dotados do livre arbítrio, e por ele podemos fazer nossas escolhas; porém, nem tudo nos convém, e temos também que utilizar do nosso discernimento e sabedoria para resultar nas nossas ações. Para tudo temos o nosso livre arbítrio, mas temos que refrear nossos impulsos, não deixando que os instintos primitivos nos dominem.

Na teoria são palavras belas, e pensar sobre este contexto nos parece algo simples, mas, quando temos que lidar verdadeiramente com nosso Eu, quem nós somos em essência, o trabalho torna-se complexo.

O consumo excessivo de álcool e uso de drogas lícitas e ilícitas para afugentar dores, sofrimentos e traumas gera uma cadeia de acontecimentos trágicos ao longo do tempo.

A começar pela presença constante de obsessores e outros Espíritos desencarnados que ainda não se desligaram completamente da matéria, e utilizam das afinidades energéticas encontradas em nós para continuarem alimentando seus vícios. Isso torna-se frequente, e, sem um devido cuidado e tratamento adequados por parte do encarnado já imerso no vício, acarreta, dentre outras causas, a morte por suicídio também.

Segundo a ideia, muito falsa, de que não se pode reformar sua própria natureza, o homem julga-se dispensado de fazer esforços para corrigir os defeitos em que se compraz voluntariamente. Isso lhe exigiria muita perseverança; é assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera quase sempre se desculpa por seu temperamento. Em vez de se considerar culpado, atribui a falta a seu organismo, acusando assim a Deus dos defeitos que são dele. É ainda uma consequência do orgulho que se encontra misturado a todas as suas imperfeições.

Certamente, há temperamentos que se prestam, mais que outros, a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor a esforços violentos. Mas não acrediteis que esteja nisso a causa primeira da cólera; persuadi-vos de que um Espírito pacífico, mesmo em corpo bilioso, sempre será pacífico, e um Espírito violento, em um corpo linfático, não seria por isso mais dócil. Apenas a violência tomaria um outro caráter: não tendo um organismo apropriado a apoiar sua violência, a cólera seria concentrada, e, no outro caso, seria expansiva. O corpo não dá mais cólera àquele que não a tem, assim como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito.

Sem isso, onde estaria o mérito e a responsabilidade? O homem, que é disforme, não pode se tornar reto, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que é do Espírito quando tem vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, através das transformações verdadeiramente miraculosas que vedes operarem-se? Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque quer permanecer vicioso. Mas aquele que quer se corrigir sempre o pode, pois de outra forma a lei do progresso não existiria para o homem. (Hahnemann. Paris, 1863). Kardec (2019).

O desencarne após consumo de álcool e drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, gera danos seríssimos ao Espírito, uma vez que existe ainda um apego ao material, ao vício que se tornou parte de seu ego.

Assim, o desligamento do Espírito do corpo carnal é cada vez mais difícil, ficando o Espírito na erraticidade por muito e muito tempo, até que tome consciência de seu estado e procure ajuda da Espiritualidade Superior. Mesmo depois, em encarnações futuras, o Espírito pode levar consigo traços dessas vivências, acumulando débitos mais complexos para vencer, e seu processo evolutivo torna-se então mais doloroso.

São estas e várias outras consequências para os exageros que cometemos.

Lembremos que tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém, pois, nem tudo que existe na Terra nos é benéfico. A chave está em cuidar não só da nossa depuração moral, que é uma responsabilidade e compromisso constantes, mas também da melhora do nosso corpo físico, que é o veículo do Espírito neste mundo.

Priscila Gonçalves
Fonte
: Blog Letra Espírita

Referências:

BÍBLIA Sagrada Online. 1 Coríntios 6:12. Disponível em: https://www.bibliaon.com/versiculo/1_corintios_6_12/. Acesso em 20 jun. 2021.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capivari: EME, 2019.

27 setembro 2021

Personalidade, Caráter e Obsessão - Marta Antunes de Moura

 
PERSONALIDADE, CARÁTER E OBSESSÃO

As duas primeiras palavras podem estar relacionadas ao processo obsessivo, sobretudo na manifestação de casos mais graves (fascinação e subjugação), assim como adoção de medidas de prevenção e cura da obsessão. Ainda que o conhecimento da obsessão provocada por Espíritos desencarnados seja amplamente assinalado na literatura espírita, há escassos estudos científicos a respeito o assunto, condição favorece a disseminação dessa enfermidade de natureza espiritual. Entretanto, é válido conhecermos alguns conceitos não espíritas, a fim de que possamos refletir melhor a respeito do assunto:

Personalidade. Segundo a Medicina, é a “organização exclusiva de traços, características e modos de comportamento de um indivíduo que o posiciona diferentemente de outros indivíduos. […] Personalidade refere-se aos aspectos mentais de um indivíduo, em contraste com o físico.” (1) A Psicologia amplia o conceito quando afirma que um indivíduo é sempre distinto do outro porque apresenta diferentes aspectos físicos, psíquicos, sociais e culturais que lhe caracterizam os próprios pensamentos e comportamentos. (2)

Espírita ensina que a nossa personalidade atual resulta do somatório das experiências reencarnatórias passadas — de onde herdamos tendências instintivas, boas ou más; da educação recebida na atual existência e do grau de influência exercido pelo meio sociocultural, no qual estamos inserido. Esclarece também que, pelo livre arbítrio e pelo esforço da vontade, podemos nos transformar em pessoas melhores, em conhecimento e em moralidade. Neste sentido, a psicologia transpessoal, à luz do entendimento espírita, que é a difundida pelo Espírito Joanna de Ângelis, genericamente conhecida como psicologia espiritual, tem como proposta básica resgatar não só a ideia de que o Espírito é um ser imortal, pré-existente e sobrevivente à morte do corpo físico, mas criado por Deus para ser feliz. Sendo assim, esclarece a veneranda benfeitora, o Espírito precisa aprender a fazer cessar o sofrimento que impôs a si mesmo, em razão das más escolhas realizadas ao longo da jornada evolutiva. Esse entendimento é o primeiro passo, na sequência de outros: “[…] torna-se imprescindível a aquisição de uma consciência responsável […]. A educação do pensamento, a disciplina dos hábitos e a segurança de metas são recursos hábeis para o logro, sem as quais todas as terapias e técnicas se tornam paliativas, sem resultarem solucionadoras.” (3)

Caráter. Refere-se a aspectos ou habilidades presentes na personalidade, passiveis de serem transmitidos pela linguagem (falada e/ou escrita) e pelas ações de uma pessoa. (4) Tais aspectos e características nem sempre se revelam edificantes, pois resultam de longo e dedicado esforço humano. Equivocadamente utilizado como sinônimo de personalidade, o caráter fornece, na verdade, as pistas de como, efetivamente, é a natureza do indivíduo e o que ele precisa fazer vir a adquirir um bom caráter. Os especialistas e estudiosos consideram como pistas ou sinais reveladores da natureza do caráter humano: “[…] impulsos, afetos, ideias, defesas, aptidões e talentos, comportamento social e reações […].” (5)

Importa considerar, porém, que nem sempre é fácil identificar o verdadeiro caráter de uma pessoa. Por exemplo, os indivíduos interesseiros, egocêntricos e vaidosos, que pensam mais em si do que no próximo, ou os que têm sede por posições de destaque, de poder ou prestígio, conseguem habilmente disfarçar pontos negativos do próprio caráter, mesmo que, cedo ou tarde, venham a ser desmascarados. Como ilustração, inserimos em seguida uma história que foi transmitida pelo filósofo iluminista francês François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694-1778), após ele ter analisado aspectos, positivos e negativos, do caráter humano de um papa inquisidor:

Sixto V [papa e inquisidor, que viveu entre 1521-1590] nascera petulante, obstinado, soberbo, impetuoso, vingativo, arrogante. As provas do noviciado parecem ter-lhe adoçado o caráter. Mal começa a desfrutar de certo crédito em sua Ordem, lança-se contra um guardião e o cobre de socos; inquisidor em Veneza, exerce o cargo com insolência; uma vez cardeal, é possuído della rabbia papale (da ira papal); essa raiva domina seu temperamento; sepulta na obscuridade sua pessoa e seu caráter; ele se mascara de humilde e moribundo; é eleito papa: esse momento restitui à mola, que a política havia comprimido, toda a sua elasticidade por longo tempo retesada, é o mais arrogante e despótico dos soberanos. (6)

Ao final, Voltaire conclui: “A religião, a moral põem um freio à força do temperamento, mas não podem destruí-lo. O beberrão, enclausurado num convento, reduzido a beber meio copo de sidra em cada refeição não vai mais se embriagar, mas sempre vai gostar de vinho.” (6)

O Espiritismo nos mostra, ao contrário do que pensava o ilustre filósofo, que o beberrão pode, sim, “deixar de gostar de vinho”, desde que tenha se empenhado na sua reeducação, moral e intelectual. O impulso educativo é a fórmula indicada para que Espíritos imperfeitos se transformem em pessoas de bem, fazendo jus a esta sábia orientação espírita: “O verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade na sua maior pureza. Se interroga a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não violou essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para se queixar dele, enfim, se fez aos outros tudo quanto queria que os outros lhe fizessem.” (7)

Obsessão. É definida pelas ciências de saúde como “estado mental neurótico de ter um desejo incontrolável de insistir numa ideia ou emoção. Habitualmente, o paciente está ciente da anormalidade e tenta opor resistência a esses pensamentos.”(8) O estado mental neurótico indica distúrbio ou transtorno mental capaz de provocar tensão nervosa/emocional de graduações distintas, que podem, ou não, interferir na elaboração e na expressão do pensamento racional. De acordo com a visão psicanalítica, as neuroses são fruto de tentativas ineficazes de lidar com conflitos e traumas inconscientes. (9)

Por outro lado, quando Allan Kardec explica o que é obsessão ─ “[…] o domínio que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas. É praticada unicamente pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar, pois os Espíritos bons não impõem nenhum constrangimento. […]” (10) ─, constata-se, então, que a mera imposição de uma ideia pode provocar tensões nervosas e emocionais na pessoa, objeto da imposição. Quem se encontra sob persistente tensão nervosa/emocional, em razão do jugo obsessivo, passa a apresentar distúrbios mentais que se refletem, no devido tempo, nas atitudes e nos comportamentos. Deduz-se, portanto, que a prevenção e a cura da obsessão envolvem, necessariamente, o fortalecimento da personalidade e do caráter. Para tanto, é necessário que o obsidiado adquira esclarecimentos a respeito de como acontece a obsessão e o que fazer para neutralizar as más influências espirituais.

O conhecimento, porém, não basta por si só. A pessoa, independentemente esteja sob jugo obsessivo, precisa aprender a praticar o bem em toda a sua extensão: no pensar, no falar e no agir, que, em última análise, representam os fundamentos da verdadeira transformação moral. A questão moral revela-se, pois, como o fator de extrema relevância no aprimoramento da personalidade e do caráter, sob quaisquer circunstâncias. Ainda mais quando a obsessão se faz presente.

Neste sentido, o espírita consciente prioriza a sua renovação moral, disponibilizando aos que batem às portas da instituição espírita o socorro espiritual do Evangelho de Jesus, revivido no Espiritismo. A renovação moral foi uma contínua preocupação de Kardec, desde os seus contatos iniciais com a mensagem espírita, como lembra Emmanuel:

O apóstolo da Codificação não desconhecia o elevado mandato relativamente aos princípios que compilava, e, por isso mesmo, desde a primeira hora, preocupou-se com os impositivos morais de que a Nova Revelação se reveste, tendo salientado que as consequências do Espiritismo se resumem em melhorar o homem e, por conseguinte, torná-lo menos infeliz, pela prática da mais pura moral evangélica.

Sabemos que a retorta não sublima o caráter e que a discussão filosófica nada tem que ver com caridade e justiça […]. Espíritos desencarnados aos milhões e em todos os graus de inteligência enxameiam o mundo, requisitando, tanto quanto os encarnados, o concurso da educação. (11)

Marta Antunes Moura
Fonte:Agenda Espírita Brasil


Referências:

(1) THOMAS, L. Clayton. (Coordenador). Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. de Fernando Gomes do Nascimento. 17 ed. São Paulo: Manole, 2000, p. 1351.
(2) CABRAL, Álvaro e NICK, Eva. Dicionário técnico de Psicologia. 11 ed. São Paulo: Cultrix, 2001, p. 224.
(3) FRANCO, Divaldo P. Plenitude. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 12 ed. Salvador: LEAL, 1994. Cap. 4, p.41-42.
(4) THOMAS, L. Clayton. (Coordenador). Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. de Fernando Gomes do Nascimento. 17 ed. São Paulo: Manole, 2000, p. 263.
(5) CABRAL, Álvaro e NICK, Eva. Dicionário técnico de Psicologia. 11 ed. São Paulo: Cultrix, 2001, p.51.
(6) VOLTAIRE. Dicionário filosófco. Trad. de Ciro Mioranza e Antonio Geraldo da Silva. São Paulo: Editora Escala, 2008, p.127.
(7) KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 4 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013, q. 918, p. 394.
(8) THOMAS, L. Clayton. (Coordenador). Dicionário médico enciclopédico taber. Trad. de Fernando Gomes do Nascimento. 17 ed. São Paulo: Manole, 2000, p.1320.
(9)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Neurose. Acesso em 22 de fevereiro de 2014.
(10) KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 23, it. 237, p. 259.
(11) XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 1 ed. 5 imp. Brasília: FEB, 2013. Introdução (Com Jesus e por Jesus), p.14


26 setembro 2021

Evidências da Continuidade da Vida - Sidney Fernandes

 
EVIDÊNCIAS DA CONTINUIDADE DA VIDA

Os propósitos da vida dependem do seu significado em sua amplitude maior. Os sofrimentos por que passamos, com os quais precisamos lidar com resiliência, são justificados pela sobrevivência à morte, pois a vida física é um estágio de aprendizado no nosso mundo de relações.

As pesquisas do Professor Ian Stevenson, da Universidade da Virgínia, envolviam crianças que tinham lembranças detalhadas de vida passada, que depois eram confirmadas através de registros públicos.

Nas comunicações em estados de transe do médium um espírito assume a identidade e respectivas particularidades de uma pessoa que já morreu.

No Código Internacional de Doenças e no Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria, a medicina passou a aceitar que transtornos dissociativos de identidade podem ser atribuídos a estados de transe e possessão, situações em que o paciente assume a identidade de um morto.

Em seus momentos de lazer, o crítico de arte sueco Friedrich Jürgenson (1903-1987) tinha o hábito de gravar cantos de pássaros. Ao escutar uma dessas gravações, deparou-se com vozes humanas entre os trinados das aves. Depois de várias pesquisas e aperfeiçoamento de seus métodos de captação, descobriu que as vozes se originavam de criaturas mortas.

Colocou os resultados de seus estudos num livro que, no Brasil, foi publicado com o título Telefone para o além.

Fernando Pessoa valorizava muito as visões de Dante, porque ele mesmo viveu estados de transe. O grande escritor português entendia que os seus heterônimos — Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos — na verdade eram entidades espirituais.

Sob o ponto de vista literário eram chamados de heterônimos — personalidades assumidas pelo autor como se fossem pessoas reais —, mas sob o ponto de vista fenomenológico Pessoa entendia que eram entidades espirituais, oriundas de, vamos dizer assim, suas psicografias.v Existem pesquisas de comunicações com os mortos dentro do Vaticano, através de aparelhos, realizadas pelo Padre François Charles Antonio Brune, teólogo e especialista em misticismo oriental e ocidental, sacerdote ordenado em 1960.

Desde 1987 ele é considerado um observador atento da investigação psíquica e da chamada Transcomunicação Instrumental (TCI). Autor do livro Os mortos nos falam, assim se expressou, em entrevista concedida ao Jornal de Espiritismo da ADEP, de Portugal:

— Penso que na maior parte das vezes nos comunicamos com os mortos, que vivem agora numa outra dimensão.

Dentro da Igreja Evangélica Anglicana tivemos uma extraordinária médium chamada Rosemary Brown, que se tornou conhecida pelas comunicações de compositores célebres de música eruditas, tendo recebido deles, em processo similar à psicografia, mais de quatrocentas partituras.

Entre esses espíritos estariam Liszt, Chopin, Schubert, Beethoven, Bach, Brahms, Schumann, Debussy, Grieg, Rachmaninoff, Mozart, dentre outros. Em abril de 1969 psicografou diante das câmeras da BBC uma partitura inédita de Liszt com a peça chamada Grübelei, de tão elevada dificuldade técnica que se confessou incapaz de ela própria tocá-la.

Posteriormente, a peça foi analisada por Humphrey Searle, compositor britânico e grande estudioso de Liszt, que ressaltou, em seu artigo, que as harmonias avançadas e a tonalidade eram típicas das últimas composições de Liszt.

Mesmo com todos esses conhecimentos, a perda de um ente querido é a expressão mais marcante na vida de cada um de nós. No entanto, as evidências da continuidade da vida nos dão forças para esperar pelo aguardado reencontro, na espiritualidade.

Essa esperança nos vacina contra o desespero. É saudável ter saudade, mas não a revolta, porque se perde qualquer possibilidade de uma linha de comunicação que se possa ter com o ente querido que está, do outro lado da vida, na expectativa de uma ligação construtiva.

A ideia de acabar com a existência deve ser eliminada, pois a vida não nos pertence. Ela tem um grande propósito, advindo de uma inteligência suprema que coordena a natureza e delega para a história de cada pessoa ampla possibilidade de aprendizado, para fazer surgir, de dentro de cada um de nós, o que temos de melhor.

A vida vale a pena e ela continua para lá da morte, além do corpo biológico, e transita pelos mundos espirituais, com a consciência plena do que realizamos aqui na Terra. Ainda que tenhamos sido atropelados por nossos erros e desenganos, conseguimos aprender alguma coisa. Sempre é tempo de recomeçar. A vida se expande muito mais do que os nossos olhos podem enxergar.

Extrato resumido e adaptado de reflexões do Dr. Sérgio Felipe de Oliveira contidas no vídeo Vida após a vida – uma reflexão da vida após a morte.

Sidney Fernandes
Fonte: Kardec Rio Preto

25 setembro 2021

Humildade e Jesus - Joanna de Ângelis

The Worth of a Soul ( by Liz Lemon Swindle)
 
HUMILDADE E JESUS

Vivendo o dia a dia dos homens, participando do álacre vai-e-vem, Jesus a todos envolvia em ondas de ternura.

Aclamado pela gratidão que explodia espontânea dos beneficiários de sua afabilidade e misericórdia, nunca se deixou arrastar pelo júbilo fácil, desaparecendo quase sempre do vozerio para buscar o silêncio e meditar...

Surrado pela desconsideração dos algozes improvisados pela turbamulta, não se permitiu assimilar o tóxico do desespero que se espalhava, contaminando a todos os partícipes do hediondo drama da Crucificação.

De coração acessível e espírito franco, todo o seu ministério foi um cântico de exaltação às coisas simples, conhecidas do povo e de respeito à Humanidade e ao Amor.

Combativo por excelência, não se deixou amesquinhar nas querelas farisaicas, nem tomou o partido dos mandatários que esmagavam o povo.

O povo, a grande massa de sofredores - rebanho onde se guarda a dor e se refugia a aflição - foi o seu grande amor, a sua paixão...

O mesmo povo que, acicatado por famanazes indignos, Lhe ignoraria o sofrimento e O levaria à Cruz, mas para quem ele veio, descendo dos Remotos Cimos para amá-lo e sofre-lo...

E esteve sempre no meio do povo, falando a linguagem do povo, vivendo a vida do povo.

Mestre, fêz-se amigo de gárrulas criancinhas da aldeia, reexperimentando as alegrias infantis.

Guia, caminhou pelas ásperas estradas, discreto como um aroma de lavanda campesina, orientando sempre.

Senhor, cercou-se de famulentos portageiros e rudes cameleiros nos albergues de estrada, parecendo igual a eles.

Sábio, considerou as lições do verbalismo popular, e com estas imagens dos velhos refrões teceu a grinalda imperecível do Seu Apostolado Doutrinário.

Excelente, não aceitou a nomeação de bom, louvando o Pai como digno, somente Ele, de tal qualificativo.

Sadio, sustentou enfermos e os curou, mitigou a sede de muitos e atendeu ao tormento da fome dos que o cercavam, repetidas vezes.

Trabalhador, metodizou as tarefas para não cansar àqueles que convidara para o exercício divino da Fraternidade.

Nunca se exaltou, porém, entre os que O cercavam.

Perdia-se na multidão, embora o halo de transcendente beleza que o destacava...

E nas breves horas reservadas ao repouso, após as fadigas, refugiava-se na noite para submeter-se ao Pai.

* * *

Jesus e humildade!

Nem rebelião nem engrandecimento

Embora injusto o tributo, contribuiu para o seu pagamento - respeito à lei.

Inócuas as abluções como de valor espiritual, aceitou-as, a elas se referindo - lição do exemplo sem palavras.

Mas não se submeteu às mesquinhas exigências da fé religiosa nem da sociedade.

Invectivou, com autoridade indiscutível, contra a infame lapidação das pecadoras, surpreendidas na ilusão da carne, lecionando reparação do crime com amor; investiu contra as aparências exteriores do jejum e da oração em altas vozes, reportando-se ao interior dos homens donde procedem, realmente, todas as ações; e ante o representante imperial que sugava a seiva de vida do povo, manteve dignidade e respeito em momento grave, portando-se como Rei, glorificando, porém, o Pai…

Não te esqueças d'Ele.

Recorda sempre da humildade.

Evita, quando possível, o destaque, o coroamento honroso, o aplauso vazio, a consideração transitória…

Nem entusiasmo excessivo no êxito, nem desencanto exagerado no insucesso.

Os que O vaiaram a caminho do Gólgota, homenagearam-no às vésperas.

Em triunfo ou queda aparentes, busca a Jesus e fala sem palavras ao seu coração de Condutor Vigilante.

Elegendo a humildade para seguir contigo não terás olhos para consagrações nem apedrejamentos, porque ela te falará somente do trabalho a fazer, do caminho a percorrer, das dificuldades a transpor, das lutas e íntimas a vencer, ensinando a desculpar e amar sem cansaço, porque a humildade em teu espírito é sinal positivo da presença de Jesus contigo na Via Redentora.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 59


24 setembro 2021

Ter medo é bom ou ruim? - Eduardo Battel


TER MEDO É BOM OU RUIM?

Todos nós sentimos medo em algum grau e isso é bom ou ruim? Sentir medo é normal pois ele está relacionado ao nosso instinto de conservação, sobrevivência e perpetuação da espécie. Conforme nos mostra Allan Kardec na questão 702 de O Livro dos Espíritos: “O instinto de conservação é uma Lei da Natureza? Resposta: Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, seja qual for o grau de sua inteligência. Nuns, é puramente mecânico; noutros, é racional”.

Se fôssemos totalmente destemidos, estaríamos fadados à extinção. Emmanuel nos orienta: “Embora devas caminhar sem medo, não te cases à imprudência, a pretexto de cultivar o desassombro”. Caso não tenhamos temor de nada, crendo que tudo está premeditado, estaremos sujeitos a passar por situações ruins e até a abreviar a nossa encarnação e tudo o que fazemos, consciente ou inconscientemente, que antecipa o nosso retorno à Pátria Espiritual, é considerado um suicídio. Nós temos a obrigação de preservar a nossa existência na matéria e de cuidar do nosso corpo, pois eles são uma dádiva oferecida pelo Criador para que possamos evoluir.

Por outro lado, o medo em excesso também é prejudicial. Quando temos muito temor, com aquela sensação de angústia, geramos uma energia de baixo padrão vibratório. Nós ficamos imersos nessa energia que provém de nossos sentimentos e pensamentos e se ela for deletéria, irá prejudicar todo o nosso ser. Ela age em todos os trilhões de células do nosso corpo físico, alterando o seu funcionamento, nos causando malefícios e doenças. Poderemos ficar, dessa forma, mais suscetíveis a termos vários problemas de ordem física e espiritual.

O que temos que fazer então? A resposta é o equilíbrio. Não devemos ter falta nem tampouco excesso de medo. Para termos esse equilíbrio, devemos ficar atentos a fatores internos e externos que possam causar a desarmonia em nossas vidas. Conforme nos ensina Chico Xavier: “Nossa vida é um dom precioso que Deus nos deu e funciona como um jardim, onde podemos semear as flores da alegria ou as pragas do medo, da raiva e da depressão. O que você anda plantando no seu jardim?”

Sentimos medo de muitas coisas, alguns em especial sentem muito medo da morte. A Doutrina Espírita nos orienta muito bem em relação a isso, nos ensinando que a vida continua após o desencarne e que retornamos ao Mundo Espiritual, que é onde estávamos antes de encarnar, sendo lá a nossa verdadeira vida. Allan Kardec nos orienta na questão 941 de O Livro dos Espíritos: “Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de perplexidade. De onde lhes vêm esse temor, já que têm diante de si o futuro? Resposta: Não há fundamento para semelhante temor… A morte não inspira ao justo nenhum temor, porque, com fé, ele tem a certeza do futuro; a esperança o faz esperar por uma vida melhor; e a caridade, a cuja lei obedece, lhe dá a segurança de que não encontrará, no mundo para onde terá de ir, nenhum ser cujo olhar lhe deva temer”.

Não devemos temer a morte, tendo em mente que ninguém desencarna antes da hora, a não ser que, consciente ou inconscientemente, se esforce para isso. Temos que nos preocupar sim em sermos corretos, fazermos o bem, praticando o amor tão ensinado por Jesus. André Luiz nos fala através de Chico Xavier: “As virtudes são o passaporte para uma entrada tranquila no Mundo Espiritual: a compreensão, a humildade, a paciência, a ternura e a caridade”.

Em tempos de pandemia, façamos a nossa parte, seguindo as recomendações das agências de saúde, por enquanto ainda necessárias, como usar máscaras, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel e praticar o distanciamento social. Mas não devemos ficar demasiadamente temerosos e angustiados com toda essa situação do Covid, pois o medo em excesso pode nos deixar mais suscetíveis a desenvolver uma forma mais grave da doença. Devemos manter o equilíbrio emocional, ficando atentos com a nossa saúde mental além da do corpo material, fazer o que nos cabe e ter fé em Deus, sabendo que tudo o que acontece é para o nosso aprendizado e evolução.

Eduardo Battel
Fonte:Agenda Espírita Brasil

23 setembro 2021

Voz de Deus? - Divaldo Pereira Franco


VOZ DE DEUS?

Onde se ouvirá a voz de Deus, neste Universo majestoso em contínua expansão?

Nos infinitos aglomerados de galáxias, que bailam magicamente no Cosmo imensurável, ou nas micropartículas que formam os ciclópicos mundos adornados de fogo e matéria em ebulição, que as mentes mais audaciosas apenas podem conceber, por mais avançadas sejam as suas percepções?

Examinando-se a Terra, esse ponto quase insignificante da gentil e bela Via Láctea, os mais complexos e extenuantes cálculos matemáticos registram-na, no conjunto em que se encontra, como pequenino sinal perdido na imensidão.

Estará a voz de Deus no delicado aroma das violetas que, pisadas, continuam recendendo perfume nas patas selvagens dos animais que as esmagaram? Ou talvez na tempestade que devasta a Natureza e a satura de raios destruidores, deixando tudo revolto e destroçado?

Será ouvida em cada amanhecer e entardecer, através dos pássaros em gorjeios celestiais, que desatam melodias refinadas que flautas de prata e violinos dulçorosos somente as copiam?

Provavelmente, essa voz ressoa nos filhos dos animais tombados nos locais em que se escondem na furna e estão ameaçados de morte? É bem provável que, nas guerras entre as nações, o clamor das multidões sendo dizimadas sensibilizou-O, e Sua voz veio em seu socorro?...

A voz de Deus parece silenciosa neste momento em que a Terra, havendo atingido o seu mais alto grau de tecnologia, estertora nas multidões enlouquecidas que perderam a ética existencial, o sentido nobre de viver, atirando-se nos calabouços do prazer.

Houve tempos, em Israel, que a boca dos Céus silenciou por mais de quatrocentos anos e não se ouviu o som de qualquer profecia falando da realidade divina, que o povo menoscabou na correria desesperadora das orgias e bacanais.

A atualidade faz lembrar os dias de Sodoma e Gomorra, quando o fogo dos Céus as destruiu.

Neste momento, é a peste traiçoeira que ataca sem compaixão e aplica os acúleos férreos da sua maldade nas pessoas avisadas como nas descuidadas.

A soberba e o ódio, a insensatez, que caracterizam as populações quase sempre afortunadas em tecnologia e empobrecidas em sentimentos de amor à vida, facultam o caldo de cultura para que a peste e suas sequelas dizimem as vítimas desestruturadas para os sofrimentos libertadores.

A voz de Deus ecoa hoje nas vozes dos imortais que nos convidam à reflexão e à ordem, ao respeito às Leis do Universo e aos objetivos do renascimento na carne.

Adotando o comportamento materialista e matando Deus, caminha-se na orfandade da Causa existencial, atropelando os desafios auxiliares para o renascimento espiritual e a convivência com a vida plena.

Faze silêncio e ouve a voz de Deus.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 12/08/21


22 setembro 2021

Patrimônio Inútil - Richard Simonetti

 
PATRIMÔNIO INÚTIL

Conta Esopo (século VI a.C.), que um homem extremamente zeloso de seus haveres, decidido a resguardar-se de qualquer prejuízo, tomou radical providência: vendeu todos os seus haveres e comprou vários quilos de ouro que fundiu numa única barra. Em seguida, enterrou-a em mata cerrada.

À noite, solitário e esquivo, contemplava, em êxtase, seu tesouro. Algo de tio Patinhas, o milionário sovina das histórias em quadrinhos, que se deleita mergulhando num tanque cheio de moedas.

Um dia foi seguido por amigo do alheio. Quando se afastou, após a adoração rotineira, o gatuno desenterrou o ouro e escafedeu-se. O avarento quase enlouqueceu, tamanho o seu desespero. Um vizinho, ao saber do fato, ponderou:

– Não sei por que está tão transtornado! Afinal, se no lugar do ouro estivesse uma pedra seria a mesma coisa. Aquela riqueza não tinha nenhuma serventia para você…

Difícil encontrar na atualidade pessoas dispostas a enterrar seus haveres. Raras os têm sobrando. Além disso, seria correr risco inútil. As instituições financeiras guardam com segurança nosso dinheiro. Até produzem rendimentos, sem surpresas desagradáveis, salvo quando têm o mau gosto de quebrar, por incompetência ou corrupção.

Não obstante, muita gente costuma enterrar um bem muito mais precioso, uma riqueza inestimável – a existência. Se nos dermos ao trabalho de analisar a jornada terrestre, com suas abençoadas possibilidades de edificação, perceberemos como é valiosa. Traz-nos inúmeros benefícios:

O esquecimento do passado ajuda-nos a superar paixões e fixações que precipitaram nossos fracassos.

A convivência com desafetos transmutados em familiares favorece retificações e reconciliações indispensáveis.

O contato com companheiros do pretérito, nas experiências do lar e na atividade social, estreita os laços de afetividade.

A armadura de carne inibe as percepções espirituais, minimizando a influência de adversários desencarnados.

As necessidades do corpo induzem à bênção do trabalho.

O esforço pela subsistência desenvolve a inteligência.

As limitações físicas refreiam os impulsos inferiores.

As enfermidades depuram a alma.

As lutas fortalecem a vontade.

A morte impõe oportuno balanço existencial, sinalizando onde estamos, na jornada evolutiva.

No entanto, à semelhança do unha-de-fome de Esopo, muita gente troca o tesouro das oportunidades de edificação por uma barra luzente de efêmeras realizações, cuidando apenas de seus interesses, de seus negócios, de suas ambições…

Quando tudo corre bem, há os que se deslumbram com essa “riqueza”, como aquele lavrador da passagem evangélica: construiu grandes celeiros, guardou neles toda a sua produção e proclamou para si mesmo (Lucas, 12:18-20):

– Tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te…

Mas Deus lhe disse:

– Insensato, esta noite pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?

Exatamente assim acontece com aquele que se apega às ilusões humanas, buscando realizações de brilho efêmero. Um dia vem o indefectível ladrão – a morte –, e lhe rouba o corpo. Indigente na vida espiritual, desespera-se. Chora, inconformado. Recusa-se a aceitar a nova situação.

Esopo lhe diria: – Por que o lamento? Houvesse você estagiado nas entranhas de uma pedra e o resultado seria quase o mesmo. A experiência humana pouco lhe serviu!

Richard Simonetti
Fonte:
Kardec Rio Preto

21 setembro 2021

Como explicar o suicídio? - Donizete Pinheiro

 
COMO EXPLICAR O SUICÍDIO?

A pergunta é de relevância para a Humanidade. Anualmente, milhares de pessoas deixam este mundo pelas portas falsas do suicídio. Os motivos variam: desgosto sentimental, falência financeira, miséria, solidão ou doenças incuráveis, que levam ao desespero e à perturbação.

No fundo, porém, a causa verdadeira do suicídio é a falta de uma fé forte em Deus e o desconhecimento da realidade espiritual. O materialista acha que sua existência é um acaso da natureza. Ele existe e daqui a pouco vai deixar de existir. Se a vida não lhe parece boa, se não teve sorte, não há razão para continuar vivendo. Já o incrédulo acredita em Deus, mas duvida de sua misericórdia e de sua justiça, achando que alguns foram privilegiados e outros relegados ao sofrimento. Não vê justificativa para tanta dor e miséria, considera-se uma vítima e, sem perspectivas de mudanças, resolve abandonar a vida e matar-se.

Como a fé não é sentimento que se consiga transferir de uma criatura para outra, as religiões não têm oferecido argumentos suficientes para baixar a taxa de suicídios, o que poderá acontecer quando as pessoas tiverem o conhecimento de como a vida continua depois da morte. Até pouco tempo, havia para a Humanidade três alternativas: o céu, o purgatório ou o inferno. Acredita-se ainda no céu beatífico, porque satisfaz o nosso ego. Mas muita gente já não pensa num inferno onde o pecador – a grande maioria – vai arder para sempre. O ser humano moderno, que avançou na inteligência, precisa de informações mais lógicas quanto à Espiritualidade, pois senão descamba mesmo para a incredulidade ou até para o materialismo. É preciso que a nossa fé seja robustecida pela razão.

E a mediunidade é instrumento eficaz na luta contra o suicídio. Por mais que se combata, ninguém vai conseguir evitar a manifestação dos Espíritos, porque eles estão por todos os lados. Nossos decretos não os atingem. Dê-se aos Espíritos o nome que se quiser – anjo, demônio, espírito imundo, espírito-santo –, não deixarão de ser o que são: as próprias pessoas, mas sem o corpo morto.

E são as almas dos chamados “mortos” que nos relatam o que acontece com o suicida na Espiritualidade. A primeira grande decepção é saber que não morreu, que não deixou de existir ou que não dormirá para sempre. A segunda é que não conseguiu pôr fim à dor que o atormentava, mas, pelo contrário, a centuplicou. Além do mal que atingia o físico, e que com a morte é transferido para o corpo espiritual, é atormentado por outras dores e perturbações em decorrência do tipo de morte que escolheu: por exemplo, se foi enforcamento ou afogamento, carregará por onde for a asfixia, a falta de ar, a dor no pescoço ou no peito. A terceira decepção, causa de grande dor, é a solidão, a separação das pessoas que amava e que poderiam lhe ajudar; e a convivência com estranhos, almas no mesmo sofrimento ou Espíritos inferiores que dele se aproveitam.

Embora inevitável o sofrimento, a forma como o Espírito suicida chega no mundo espiritual é sempre muito variada, porque Deus leva em conta a intenção e a maturidade da criatura. Por isso, uma jovem desesperada e depressiva poderá ser socorrida pelos mentores espirituais e conduzida a hospitais, ao passo que um criminoso egoísta e descrente será deixado à própria sorte, até que se arrependa e suplique por socorro.

O princípio da salvação para esses irmãos infelizes é sempre aceitar Deus e suas leis; após, terão ainda que retornar à Terra em outros corpos, possivelmente, em condições de sofrimento, para o reequilíbrio, e só depois recomeçarão as provas que interromperam com o ato insano.

Por esses motivos, valorizemos a nossa vida, confiemos que Deus nos ampara nos momentos difíceis, suportemos as nossas dores com resignação ativa e aguardemos os bons frutos que nos estão reservados. Suicídio jamais!


Donizete Pinheiro*
Fonte: Agenda Espírita Brasil
 
*Escritor, editor do periódico Ação Espírita, diretor de doutrina do Grupo Espírita Jesus de Nazaré, em Marília, SP.

Nota do Autor:  Texto do capítulo 22 de livro do autor.


20 setembro 2021

O Fluido Vital e o Suicídio - Andresa Küster e Rodrigo Oliveira


O FLUIDO VITAL E O SUICÍDIO

A maior certeza da vida do corpo físico durante a encarnação terrena é o seu caráter finito. Muitos aspectos da existência humana dão margem a dúvidas e opiniões diferentes, mas não há como negar que o corpo físico possui fragilidades que lhe impõem um determinado prazo de validade. O Espiritismo considera o corpo físico como uma morada do espírito, um instrumento destinado a permitir a evolução do indivíduo encarnado. Nos casos de morte natural, considera-se que o princípio ou fluido vital que anima o corpo se extingue por completo. Na obra “A Gênese”, Kardec explica o conceito de princípio vital utilizando analogias com o calor e a eletricidade: “Mas seja qual for a opinião que se tenha sobre a natureza do princípio vital, o certo é que ele existe, pois que se apreciam os seus efeitos. Pode-se, portanto, logicamente, admitir que, ao se formarem, os seres orgânicos assimilaram o princípio vital, por ser necessário à destinação deles; ou, se o preferirem, que esse princípio se desenvolveu, por efeito mesmo da combinação dos elementos, tal como se desenvolvem, em certas circunstâncias, o calor, a luz e a eletricidade.” (KARDEC, 2013, p. 168).

Nas últimas décadas, com a evolução da tecnologia e da medicina, houve aumento na expectativa de vida. Tais mudanças levaram a uma maior discussão sobre as maneiras pelas quais o estilo de vida pode influenciar a saúde do corpo físico na velhice. Entende-se que a adoção de hábitos adequados de alimentação e prevenção de doenças físicas e psicológicas podem contribuir para que seja possível usufruir de maneira mais satisfatória desse período. Os ensinamentos das obras espíritas incentivam tais cuidados, pois a preservação da saúde física pode favorecer a evolução espiritual, conforme ensina a Lei de Conservação detalhada em “O Livro dos Espíritos”. No capítulo V, do Livro III da referida obra, há incentivo para que as pessoas busquem o bem-estar durante a vida terrestre, desde que isso não seja obtido à custa de outrem ou causa de enfraquecimento de suas forças morais e físicas (Kardec, 2018, p. 238). No capítulo XI da obra “A Gênese” o codificador discorre sobre a necessidade de que o corpo físico seja adequadamente preservado para que ocorra o necessário progresso individual: “A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, força-o naturalmente a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Desse modo, sua união com a matéria é útil ao seu adiantamento, e é por isso que a encarnação é uma necessidade. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente. (KARDEC, 2013, p. 184).

Nos casos em que a morte do corpo físico decorre de causas naturais, atribuídas ao esgotamento do fluido vital, a separação do corpo físico pode ocorrer de maneira tranquila segundo a explicação dada pela espiritualidade no Livro II, Capítulo III de “O Livro dos Espíritos” em resposta a um questionamento sobre o momento da separação entre alma e corpo:

“Frequentemente o corpo sofre mais durante a vida do que no momento da morte: neste a alma nada sente. Os sofrimentos que se experimentam algumas vezes no momento da morte são um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim de seu exílio. Na morte natural, a que ocorre pelo esgotamento dos órgãos em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber, é uma lâmpada que se apaga por falta de energia” (KARDEC, 2018, p. 152).

Essas considerações levam ao entendimento de que o fluido vital está diretamente relacionado com o funcionamento dos órgãos do corpo físico. Disso decorre a compreensão de que a morte por causas naturais ocorre quando essa reserva de energia se esgota: “Os corpos orgânicos seriam então verdadeiras pilhas elétricas, que funcionariam enquanto os elementos dessas pilhas se acham em condições de produzir eletricidade: é a vida; que deixam de funcionar quando tais condições desaparecem: é a morte. Segundo essa maneira de ver, o princípio vital não seria mais que uma espécie particular de eletricidade, denominada eletricidade animal, que durante a vida se desprende pela ação dos órgãos, sua produção cessa por ocasião da morte, por se extinguir tal ação.” (KARDEC, 2013, p. 169).

O medo do desconhecido e do sofrimento é o principal motivo pelo qual os seres humanos temem o momento do encerramento da existência terrena. Esse temor poderia ser menor, caso a todos fosse garantida a possibilidade de uma passagem tranquila para o plano espiritual, conforme descrito acima. É de se considerar que a morte por causas naturais, em tais condições, possa constituir um objetivo a ser alcançado, pois certamente resultaria em uma sensação de “dever cumprido”. Essa tranquilidade poderia ser alcançada após uma vida de longevidade, possibilitada por escolhas corretas que garantiriam a saúde dos órgãos do corpo físico. A necessidade de preservação dos órgãos também é destacada pela sua relação com a atividade do fluido vital, na obra “A Gênese”: “A atividade do princípio vital é alimentada durante toda a vida pela ação do funcionamento dos órgãos, do mesmo modo que o calor, pelo movimento de rotação de uma roda. Cessada aquela ação, por motivo da morte, o princípio vital se extingue, como o calor, quando a roda deixa de girar. Mas o efeito produzido sobre o estado molecular do corpo pelo princípio vital subsiste após a extinção desse princípio, como a carbonização da madeira persiste após a extinção do calor” (KARDEC, 2013, p. 168).

Em um outro extremo, em oposição à possibilidade de uma transição tranquila do plano físico para o plano espiritual, encontram-se as vítimas do suicídio. O sofrimento experimentado pelo indivíduo que atenta contra a própria vida pode ser considerado como uma consequência do desrespeito à ordem natural dos acontecimentos, já que a morte natural está relacionada com o caráter finito do princípio ou fluido vital que anima o corpo. Entende-se que a abreviação prematura da existência, tanto no caso do suicídio quanto no caso de acidentes fatais, implica na separação traumática do corpo físico, por ocorrer em um momento no qual ainda existe uma reserva considerável do fluido vital. No caso do suicídio, ao tratar de suas consequências no Livro IV, Capítulo I de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec apresenta as seguintes observações: “A observação mostra, de fato, que os efeitos do suicídio nem sempre são os mesmos. Alguns há, porém, que são comuns a todos os casos de morte violenta e à consequente interrupção brusca da vida. Primeiramente, é a persistência mais prolongada e tenaz do laço que une o Espírito ao corpo, laço que se encontra quase sempre em todo o seu vigor no momento em que é rompido, ao passo que, em caso de morte natural, se enfraquece gradualmente, e muitas vezes se desfaz antes que a vida seja completamente extinta. As consequências desse estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, além da ilusão que, durante um período de tempo mais ou menos longo, faz o Espírito acreditar que ainda está entre os vivos. A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo sobre o Espírito, que sente, independente de sua vontade, os efeitos da decomposição, experimentando uma sensação cheia de angústia e de horror, e esse estado pode persistir pelo tempo que devia durar a vida interrompida” (KARDEC, 2018, p. 307-308).

Assim sendo, percebe-se que a manutenção do vínculo potencializa o sofrimento experimentado pelo suicida, pois além de carregar a culpa pelo gesto extremo, sente as dores que o processo de decomposição impõe ao corpo inanimado, já que nesses casos se mantém uma parcela de fluido vital não consumido. Diversas obras espíritas esclarecem quanto à variabilidade da duração desse sofrimento causado a si mesmo pelo suicida. Na obra “Suicídio – A Falência da Razão”, por exemplo, o autor Luiz Gonzaga Pinheiro esclarece que não se pode adotar uma regra geral para todos os casos, pois inúmeros fatores podem levar a diferentes conclusões para cada situação específica (Pinheiro, 2018, p.77): “Ao se suicidar, o espírito que pôs termo ao seu corpo físico, abaixa seu campo vibracional automaticamente, sendo a causa o crime cometido contra a si mesmo. Isso leva a inúmeras sensações de baixos níveis, podendo causar no espírito incríveis sentimentos de culpa, já que no mundo espiritual a consciência do ser tem voz muito mais ativa que no mundo corporal. Passa então o suicida a sofrer por muitos anos de uma culpa que corrói o seu psiquismo, de uma necessidade de autopunição que o leva à beira da loucura espiritual. Existem casos nos quais o espírito fica de tal forma alucinado, que acaba sendo presa fácil de vampiros energéticos, espíritos sombrios que se aproveitam de desgraçados errantes em sofrimento para sugar-lhes as energias residuais pós-desencarnação” (Pinheiro, 2018, p.77).

As obras estudadas ensinam que a reserva de fluido vital é consumida naturalmente com o passar dos anos, em relação direta com a energia dispendida durante as atividades cotidianas, que por sua vez demandam um bom funcionamento dos órgãos do corpo físico. A abreviação repentina da encarnação, sobretudo no caso dos indivíduos que atentam contra a própria vida gera sofrimento ao espírito, pois em situações assim não ocorre o desligamento gradual do corpo físico que ocorreria naturalmente. Não é possível afirmar qual será a duração deste período de sofrimento ao qual um suicida estará sujeito. Porém, tal período tende a ser maior do que o tempo restante para a conclusão do período de vida na terra devido ao impacto da culpa e pela possibilidade de que tais espíritos sofredores passem a estar sob domínio de outros espíritos de baixa vibração. Essa possibilidade leva mais uma vez à conclusão de que o suicídio não deve ser visto como uma solução para fugir das dificuldades, mas sim como um potencial causador de sofrimentos cuja intensidade não somos capazes de imaginar.


Andresa Küster e Rodrigo Oliveira
Fonte:
Blog Letra Espírita
 

Referências:

KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra da 5ª edição francesa, de 1869) 2ª ed. 1ª imp. – Brasília: FEB, 2013.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Camargo, 1ª ed. 22ª reimpressão. Capivari-SP: Editora EME, 2018.

PINHEIRO, Luiz Gonzaga. Suicídio: a falência da razão. 2ª reimpressão. Capivari/SP: Editora EME, 2018.


19 setembro 2021

São as vítimas da Inquisição, hoje reencarnadas, as responsáveis pelos conflitos atuais no Mundo? - Fernando Rossit


SÃO AS VÍTIMAS DA INQUISIÇÃO, HOJE REENCARNADAS, AS RESPONSÁVEIS PELOS CONFLITOS ATUAIS NO MUNDO?

Vem da Idade Média o ódio de povos de várias nacionalidades, seitas e crenças religiosas contra os cristãos. E quem são os responsáveis por tudo isso? De acordo com Manoel Philomeno de Miranda, no livro “Transição Planetária”, somos nós mesmos, quando, no passado, nos autoproclamando “cristãos”, seguidores da Doutrina de Jesus, cometemos inumeráveis atrocidades contra o próximo, sob a acusação de hereges.

Vejamos alguns trechos do Capítulo 17 do livro citado:

“Em nome de Jesus, vinculamo-nos ao poder imperial, deixamos de ser perseguidos para nos tornarmos perseguidores, abandonamos a humildade, sob os mantos do orgulho e da soberba… Encontramos meios de afastar os inimigos aos quais deveríamos amar, os antipatizantes que pensávamos conquistar, os equivocados que nos cabia esclarecer, e demos início às aventuras da loucura, criando as Cruzadas, os Tribunais do Santo Ofício, as perseguições inclementes aos mouros e judeus, a todos aqueles que não compartilhavam das nossas idéias, afundando-nos no abismo das aberrações mais desastrosas. “(gg.nn)

“E martirizamos milhares de trabalhadores de Jesus nos mais diversos setores do pensamento e dos ideais, somente porque não se submetiam ao talante das nossas equivocadas determinações.”

“Na península ibérica, por exemplo, seguindo os exemplos terríveis de outros países, em nome da hegemonia católica e da fidelidade ao papa, utilizamo-nos de recursos ignóbeis para permanecermos em domínio político, religioso e cultural da sociedade, expulsando das formosas terras aqueles que chamávamos de hereges, somente porque não aceitavam o nosso Jesus. Naturalmente não O aceitavam em razão dos nossos exemplos de anticristianismo, de perversidade e de presunção com que nos vestimos para representá-lO, quando Ele se deixou dominar pelo amor, pela compaixão, pela misericórdia, pelo perdão…”

“E atualmente, o que ocorre? Não nos fazem recordar os comportamentos cavilosos a que nos entregamos no passado? É compreensível, portanto, que sejamos alvos que desejam atingir, em razão do mal que lhes fizemos, quando tivemos ensejo de ajudá-los a sair das deploráveis situações em que se demoravam. Os seus sentimentos inamistosos defluem dos ressentimentos que mantêm desde aqueles já recuados tempos, embora ainda vivos nas carnes das suas almas, que anelam por desforço e paz, que não têm ideia sequer, pensando que ela virá após atenderem a sede de vingança a que se entregam.”

“Lares e vidas foram destroçados, santuários de fé e educandários religiosos foram praticamente destruídos e a fúria da malta ensandecida, após incendiar as cidades e perseguir os sobreviventes, hasteou a bandeira da vitória onde antes tremulava a muçulmana…”

“Expulsos também os judeus, as suas sinagogas, seus lares foram destruídos, suas vidas tornadas banais e vendidas a peso de ouro, a fim de poderem permanecer depois da apostasia das doutrinas a que se vinculavam anteriormente, mudando os antigos nomes para aqueles que seriam denominados como cristãos. “

A fim de arrancar-se a confissão do infiel, eram usados todos os meios bárbaros concebíveis, incluindo-se o empalamento, a roda, a tortura da polé, e tudo quanto de hediondo a mente humana pode conceber quando enlouquecida. As mulheres eram violadas, as crianças assassinadas ou vendidas como escravas, separadas para sempre dos seus pais, os homens válidos eram igualmente vendidos, os idosos e doentes vilmente mortos após suplícios extenuantes… E dizíamos que assim nos comportávamos em nome de Jesus e de Sua doutrina…”

Significado de:

1) empalamento: é um método de tortura e execução que consistia na inserção de uma estaca pelo ânus, vagina, ou umbigo até a morte do torturado. A vítima, atravessada pela estaca, era deixada para morrer sentido dores terríveis, agravadas pela sensação de sede.

2) roda: tipicamente, a roda era nada mais do que uma grande roda de carroça com diversos raios. O condenado era amarrado a ela e seus membros, expostos entre os raios, eram quebrados com massas e martelos. O corpo despedaçado do condenado podia ficar exposto para o público.

3) polé: antigo instrumento de tortura no qual se pendurava o punido pelas mãos com uma corda e se prendia pesos de ferro nos pés, deixando-o cair com violência.

Fernando Rossit
Fonte: Kardec Rio Preto

18 setembro 2021

Tarô e Espiritismo - Fernanda Oliveira

 

TARÔ E ESPIRITISMO


O tarô é uma linguagem universal que através de 78 cartas expressa uma variedade de símbolos arquetípicos, um instrumento para conhecer a si mesmo, já que as cartas refletem nossos próprios pensamentos, vontades, ações e objetivos, ajudando a desenvolver a nossa consciência interior, auxiliando em sua nossa jornada pessoal, levando a refletir e buscar entender as situações que por nossas escolhas acontecem em nossa vida.

Quando utilizamos o tarô como auxiliar do nosso futuro, procuramos melhorar de maneira positiva as nossas escolhas, procurando nos conhecer cada vez mais.

O tarô não é sombrio, bom ou mal; na verdade reflete a energia da pessoa que está consultando as cartas, não é contra nenhuma religião ou credo. Funciona como um espelho interior e um ponto de apoio para a autodescoberta. Observar e conhecer nossos sentimentos ajuda a organizar as nossas prioridades e focar realmente no que é importante na nossa vida. Muitas coisas acontecem independentemente das nossas escolhas, mas podemos e devemos escolher como vamos enfrenta-las, resolver e reagir.

O psicólogo Carl Jung acreditava que a carta de tarô escolhida é inspirada pelo interior da pessoa e existe sincronização total entre as cartas escolhidas e consciência pessoal. O tarô é atemporal.

O espiritismo respeita todas as crenças, religiões e doutrinas, valoriza a pratica do bem e do autoconhecimento. Nenhum espírito superior faz previsões ou adivinhações ou se preocupa com acontecimentos corriqueiros da vida de cada um. Em razão do livre arbítrio o futuro não está previamente determinado, visto que podemos alterar um fato programado através de nossas escolhas.

É na ciência, na razão, na paciência, na perseverança, na tolerância, na empatia, na solidariedade, na plena igualdade e na fraternidade que estão os nossos horizontes. Tudo é mutável e passível de renovação e evolução. A transformação do eu interior se faz necessário, a partir de nossas reformas morais e intelectuais.

Kardec aborda esse tema em O Livro dos Médiuns, no cap. XXVI, item 289 descreve: “Podem os espíritos dar-nos a conhecer o futuro? Se o homem conhecesse o futuro descuidaria do presente (...) Se quiseres questão absoluta da resposta, recebê-la-eis de espíritos doidivanas..”

O futuro sempre resultará da combinação de uma infinidade de fatores. Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação. O livre arbítrio se desenvolve á medida que o espírito adquire a consciência de si mesmo. Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição. As relações dos Espíritos com os homens são constantes e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação.

O tarô deve ser utilizado como uma ferramenta de autoconhecimento, ajudando pensar, racionalizar e refletir as questões de nossa vida de maneira consciente , sem ser uma receita pronta e definitiva. É uma oportunidade de revisão interna para entender seu modo de ser e agir, ajudando cada indivíduo entender a sua jornada.

O autoconhecimento pode ser obtido de diversas formas: meditação, terapias, psicanálise, psicoterapia, leituras edificantes e também através das cartas de tarô.

O filósofo Platão vê o autoconhecimento como uma conquista e uma realização pessoal que traz saúde e liberdade para o ser humano. Esse projeto ético tem suas raízes no dito do “Oráculo de Delfos” que tanto influenciou Sócrates: “Conheça a ti mesmo”. Para conhecer-se a si mesmo, é necessário refletir, e aprender a interpretar a si mesmo. O conhecimento de si mesmo, a busca pelo que somos e do caminho que queremos trilhar auxilia nas escolhas conscientes e no ser feliz pelo que se é e pelo o que se faz. Saber o que pensamos e sentimos afeta diretamente atmosfera ao nosso redor.

É necessário realizar o autoconhecimento para termos uma jornada equilibrada baseada na paz e no amor.

A evolução pessoal é um aprendizado constante e devemos procurar as melhores e sadias formas de aprimoramento do nosso eu com gestos éticos e autoeducação.

Vamos caminhando vigiando as nossas escolhas e buscando sempre o caminho do amor.


Fernanda Oliveira
Fonte:
Blog Letra Espiríta


17 setembro 2021

Convite a Interdependência - Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 
CONVITE A INTERDEPENDÊNCIA

Muita gente boa não percebeu que essa crise sanitária foi um convite a interdependência, em um mundo que anda tão permeado de individualismo, um nome gourmetizado do velho egoísmo.

Na década de 1980 (1986, mais precisamente) relançaram nos EUA e também no Brasil, o seriado “Além da imaginação” (Twilight Zone), original de 1959, uma criação de Rod Serling e, nessa nova roupagem (já teve outras reedições, inclusive uma dos tempos atuais na Amazon Prime), havia um episódio assustador, com o nome original “Button, Button”, e que veio a ser convertido em um filme chamado “A caixa”, datado de 2009, estrelado por Cameron Diaz.

Nesse episódio, um estranho presenteia um casal com uma caixa com um botão na parte superior, prometendo que, se eles o apertarem, irão receber uma grande quantia em dinheiro. Mas, ao apertar o botão, alguém que eles não conhecem irá morrer. Um mote de gelar a espinha que, para ilustrar o tema do presente artigo, vamos desenvolver com um pouco de spoilers, dado o tempo distante de exibição do mesmo.

O dilema moral consome todo o episódio. Os protagonistas jogam a caixa fora, mas no outro dia ela aparece na porta da frente de novo. E por fim, após grande conflito, eles apertam o botão, e no dia seguinte, surge novamente o misterioso homem de outrora, pegando a caixa de volta e entregando a eles uma vultosa soma em dinheiro. Ao indagarem o homem sobre o destino da caixa, este responde que ela será entregue a alguém que eles não conhecem.

"Fora a noite mal dormida depois de ter assistido esse episódio na minha juventude, ele trouxe uma profunda reflexão, que foi resgatada agora, nesse período da crise sanitária derivada do Novo Coronavírus. O sagaz episódio trata da interdependência que nos vincula, enquanto espíritos encarnados, e que emerge com força agora com a pandemia da Covid-19. Trata, enfim, da solidariedade."

Sim, pois essa pandemia (como outras da história), apesar de ser evitada pelo isolamento social, exige que saiamos de nossa individualidade para adotar pactos coletivos entre as pessoas e que impeçam a proliferação do vírus. Assim, ao nos comprometermos a reduzir a nossa circulação, a usar máscaras e álcool em gel, percebemos que esses ritos só têm efetividade na adoção destes por uma grande maioria.

Da mesma forma, a solução para essa pandemia, como em outras – a vacinação – não é uma questão individual e sim coletiva, pois a proteção efetiva só ocorre quando uma parte significativa da população está imunizada. Uma realidade na qual importa a vacinação geral e não a vacinação de uma pessoa apenas com a vacina A ou B, como têm defendido os pesquisadores.

Para além de esvaziar argumentos dos chamados “sommeliers de vacina”, essa discussão da crise sanitária se assemelha a lógica da Caixa do Twilight Zone. O homem misterioso oferece um benefício que depende de uma escolha, mas essa escolha pode afetar alguém que você não conhece. Mas, esse alguém amanhã pode ser você!

Da mesma forma, o contexto de prevenção da Covid-19 nos convidou a escolhas, que poderiam nos trazer o benefício imediato, como desprezar protocolos sanitários, mas que poderiam prejudicar alguém que não conhecemos. E esse mal nos atingiria, em algum momento, seja pela doença ou por outras consequências advindas desta, em um verdadeiro circuito fechado.

"Muita gente boa não percebeu que essa crise sanitária foi um convite a interdependência, em um mundo que anda tão permeado de individualismo, um nome gourmetizado do velho egoísmo. Tão ocupados com as nossas questões, nos vimos obrigados a pensar no coletivo, como foi com a varíola, que causou a revolta da vacina no Rio de Janeiro, em 1904. Aliás, a varíola, chaga mortal, só foi erradicada do planeta em 1980, quando houve uma articulação dos países para o seu combate, inclusive nos bolsões de pobreza em muitos países."

A Covid-19 é uma doença terrível, mortal, e no Brasil e no mundo acumula mazelas na grande quantidade de óbitos, sem contar os problemas derivados das sequelas e dos reflexos sociais, em um universo de grande desconhecimento da extensão dos males derivados dessa enfermidade. Cabe a nós se solidarizar pelas vítimas e trabalhar para a sua efetiva erradicação.

Mas, é inconteste que a solução das mazelas desse vírus passam pelo resgate da interdependência, da percepção de que cada espírito encarnado é um irmão de jornada, de que cada país é parte do mesmo planeta, e que o nosso agir será efetivo não somente para nos resguardar, mas também para proteger uma pessoa que não conhecemos. Uma pessoa que amanhã pode ser a gente.

Fernanda Oliveira
Fonte:
Portal Casa Espírita Nova Era