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31 março 2022

Vida Espírita - Martins Peralva

 
VIDA ESPÍRITA

LE Questão 153: Em que sentido se deve entender a vida eterna?
R. - A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma a vida eterna.

Dessa forma, se os atos louváveis são recursos de abençoada renovação e profunda alegria nos recessos da alma, as ações infelizes se erguem, além do túmulo, por fantasmas de remorso e aflição no mundo da consciência. (Emmanuel)

* * *

O sono é uma espécie de morte parcial, temporária. Assim o diz a Doutrina dos Espíritos, assim o confirmam elevados Instrutores Espirituais.

Durante o sono acontece o desprendimento do Espírito que, assim, readquirindo, de modo relativo, a liberdade assegurada pela desencarnação, pode entrar em contato com Espíritos desencarnados ou com pessoas que estejam também adormecidas.

A posição da alma, durante essas horas de provisória libertação, não é uniforme, padronizada, para todos, pois que há variações que decorrem do estado evolutivo, das condições mentais do indivíduo.

Quanto mais equilibrada a mente humana, dado o processo de assimilação e prática dos preceitos evangélico-doutrinários, mais livre estará a alma nesses momentos em que o corpo repousa do natural desgaste celular imposto pelo trabalho diuturno.

Há criaturas que, durante o sono, reingressam no mundo espiritual em situação de tal desajuste que seus Espíritos se confundem com os de entidades sofredoras ou endurecidas que, freqüentemente, se comunicam nas equipes mediúnicas de desobsessão.

As condições, portanto, de maior ou menor felicidade, de maior ou menor equilíbrio no Mundo Espiritual, durante o sono, resulta de sua melhor ou pior situação mento-psíquica.

No que diz respeito à morte ou desencarnação, o fenômeno, em suas linhas gerais, é o mesmo: processos desencarnatórios e de liberação diferem de pessoa a pessoa, segundo, ainda, o mesmo princípio vigente para o "estado de sono".

Sendo a Terra um mundo de provas e expiações, onde a grande maioria dos seus residentes é formada de almas ainda bem atrasadas, apesar do avanço tecnológico e das conquistas intelectuais da humanidade, justo será admitir-se por normal o desajuste e comum a perturbação dos que desencarnam, dado que "as ações infelizes se erguem, além do túmulo, por fantasmas de remorso e aflição no mundo da consciência".

Ressalvam-se, obviamente, os casos de pessoas de ponderável gabarito evolutivo, uma vez que, ainda com Emmanuel, "os atos louváveis são recursos de abençoada renovação e profunda alegria nos recessos da alma".

A grande missão da Doutrina Espírita, altamente educativa e esclarecedora, é a de preparar-nos para essa vivência feliz no Plano Espiritual, para o qual inevitavelmente iremos, pelo sono ou pela morte, criando, assim, os gloriosos pródromos de nossa futura vinda ao mundo, não somente para desfrutar-lhe os benefícios, mas para viver-lhe os ideais engrandecidos, colaborando em sua consolidação.

Se os preceitos evangélicos, que funcionam no mundo sob os luminosos estímulos da Doutrina Espírita, não se fixarem em nosso coração, de forma definitiva, renovando-nos interiormente a alma e criando, em nós, o amor ao trabalho nobre, possível será que reencarnemos nas mesmas condições em que daqui partirmos, embalando, muita vez, tolas esperanças.

Geralmente, as imperfeições demasiado arraigadas em nossa individualidade eterna não se diluem no estado doutrinariamente denominado "Espírito errante" - permanência do Espírito no Espaço durante o tempo que vai do instante do desenlace ao do início de uma nova ligação a outro corpo que a reencarnação lhe proporciona, por bênção de Deus - daí, nossa opinião de que podemos voltar nas mesmas condições em que fôramos, apenas envergando outro traje.

Inúmeras comunicações mediúnicas, embora olhos corporais não o percebam, são dadas por desencarnados que se encontram amparados, sustentados, magneticamente, por abnegados Mentores Espirituais, embora tenham já abandonado o corpo há muito tempo. Quantos casos, desta natureza, ocorrem ?!...

A Doutrina Espírita não tem, todos o sabemos, como básico, o objetivo de melhorar-nos externamente.

O trabalho do Espiritismo é junto à alma eterna, junto ao coração, a fim de que, por seu influxo divino, removamos as impurezas que nos acompanham e possamos, assim, acender, no Templo da Consciência e no Santuário do Coração, as candeias da iluminação - divinos focos de redenção que a ventania, por mais forte, não apaga; a incompreensão, por mais sórdida, não perturba; o julgamento, por mais contraditório, não reduz sua intensidade.

Acentuando, desta maneira, os conceitos deste capítulo, devemos proclamar, em nome da Doutrina Espírita e sob o consenso dos elevados amigos de Mais Alto, que:
a) - Durante o sono, a alma desprende-se do corpo transitório, entrando em temporária relação com inteligências encarnadas ou desencarnadas, amigas ou adversárias.

b) - A morte do corpo não destrói, não aniquila o Espírito: libera-o por um período variável, segundo as necessidades evolutivas, até que possa desfrutar, de novo, das bênçãos da reencarnação.

c) - Os processos desencarnatórios e os recursos de liberação diferem de pessoa a pessoa, segundo o estado espiritual de cada um.

d) - É normal, é compreensível o desajuste e comum, em face do reconhecido atraso de nosso orbe, a perturbação dos que desencarnam, ressalvados, naturalmente, os casos de pessoas detentoras de seguras aquisições evolutivas.

A alma, enquanto encarnada, condiciona-se a fatores orgânicos que, por sua vez, estão sob o império de leis biológicas específicas. Fora do corpo, outras são as leis e, por conseguinte, outros os elementos de equilíbrio e funcionamento.

Daí as naturais dificuldades com que, em novo mundo vibratório, bem diverso do nosso, aqui no plano físico, lutamos todos nós ao trocarmos a densidade da matéria (envoltório físico) pela fluidicidade dos planos espirituais.

Martins Peralva
Livro: Pensamento de Emmanuel - 5


30 março 2022

Felicidade - Divaldo Pereira Franco

 
FELICIDADE

A busca da felicidade tem sido a aspiração maior do ser humano desde os primórdios do seu desenvolvimento intelecto-moral.

Não conseguindo ainda discernir, buscava superar as sensações dolorosas e desagradáveis, recolhendo-se na furna ou na floresta onde pudesse viver sem assaltos.

À medida que as sensações se tornavam mais delicadas, passou a buscar aquelas que melhor prazer proporcionavam, iniciando-se o desenvolvimento ético do pensamento.

Desde aquele de natureza primitiva ao racional, e desse ao cósmico, surgiram necessidades éticas e emocionais que deveriam ser trabalhadas, a fim de que predominassem aquelas que plenificam os sentimentos.

Foi o período em que o pensamento mitológico deu lugar à percepção mental dos valores que proporcionam renovação interior.

Surgiram as escolas da lógica e da razão, bem como as diretrizes para alcançar-se determinadas experiências agradáveis e compensadoras, tais como Licurgo, que estabelecia ser a felicidade como resultado do poder e do ter. Logo depois, em contraposição, apareceu Diógenes de Sinope, com a proposta cínica, tentando demonstrar que a posse é impedimento à felicidade pelo medo que se tem de a perder. Quase que concomitantemente surgiu o estoicismo de Zenão de Citio, renascendo com vigor as ideias de Sócrates, mediante a visão de si mesmo, o olhar para dentro, o autoconhecimento...

A partir de então, multiplicaram-se as escolas de pensamento, e nos tempos atuais, graças às ideias perturbadoras que ganharam a sociedade, com as suas demandas políticas, religiosas e ateístas, o pensamento desvairou e a felicidade recebeu chacota dos cínicos e nadaístas.

No século passado, o poeta brasileiro Vicente de Carvalho, entre outros conceitos sobre o tema informou: A felicidade é como um pomo, que nunca o pomos onde nós estamos, e nunca estamos onde nós o pomos.

O Espiritismo, confirmando a excelência do pensamento de Jesus, esclarece que a felicidade consiste em fazer o próximo feliz, isto é, amar a todos com o mesmo vigor com que se ama a si mesmo.

Esse desafio constitui a nobre conquista da plenitude, que se é feliz pelo que a todos se proporciona em bem-estar e alegria de viver.

Quando a criatura humana dê-se conta de que o próximo é o caminho que a leva à paz, em razão das bênçãos que se lhe podem proporcionar, o equilíbrio emocional estabelecerá na Terra o primado do amor, portanto, da felicidade.

Se desejas realmente ser feliz, utiliza-te deste momento de desconforto geral e evita a crítica, passando à ação do bem, e verás surgir uma nova primavera rica de bênçãos.

Sê, pois, tu, aquele que constrói a felicidade onde te encontras, facultando-a a todos. Assim, a felicidade de outrem será tua também.

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 24/03/22

29 março 2022

Alegra-te sempre - Joanna de Ângelis


ALEGRA-TE SEMPRE

Quando estejas diante dos triunfadores terrestres, aqueles que são laureados pela glória momentânea e galardoados pelos recursos financeiros, da mídia, do aplauso, da inteligência, mantém-te feliz com os seus sorrisos, auxiliando-os na alegria que os invade.

Em muitos casos estão chegando à etapa anelada de uma existência assinalada por sofrimentos que ignoras e conseguiram disfarçar.

Quem os veja no júbilo atual não pode atinar com o preço que lhes foi exigido nos dias passados e tiveram que suportar sem desistir de viver.

Grande número desses ases foi carregado de infâncias ao abandono, no desprezo, na miséria de toda ordem.

Eles, porém, não se entregaram ao desalento, submeteram-se a situações deploráveis e humilhantes para chamarem a atenção.

Tiveram os sentimentos do amor e da dignidade amesquinhados e considerados desprezíveis, mas resolveram não desistir.

Não ganharam um lugar ao sol em razão dos débitos doutrora, mas trouxeram sonhos que passavam como pesadelos infaustos, cruéis.

Não poucas vezes permitiram-se situações e comportamentos degradantes para poderem adentrar-se no grupo dos poderosos e serem vistos.

O êxito chegou-lhes como um grito ainda amargo, a fim de que se pudessem recuperar para servir.

A beleza, a galhardia, o destaque, que se encontram no tapete vermelho da glória foram os mesmos requisitos que os tornaram indignos sob as circunstâncias vigentes entre os poderosos sem escrúpulos.

Agora que alcançam o podium estão marcados por males psicológicos e dramas emocionais que os tornam indiferentes aos padecimentos dos outros, ou que são obrigados a criar uma dupla existência, ocultando a sua sombra perversa e dorida...

Eles conhecem esses caminhos, e se por acaso não possuem estrutura moral, deixam-se consumir pelos prazeres absurdos, caminhando no escuro do passado e perdem-se.

Desse modo, não os invejes, nunca invejes a ninguém.

A tua admiração pelas suas conquistas transforma-se em estímulo para cresceres e chegares à meta da tua existência digna.

Todos os indivíduos, por mais brilhantes, têm a sua sombra, o seu lado escuro que tudo fazem por ocultar.

Não escarafunches as veredas por onde transitaram, respeitando-os nas suas dificuldades e imposições.

*

Assim sendo, não invejes nunca a gloriosa situação em que outrem se encontra.

A inveja é veneno interior e onda magnética carregada de vibrações destruidoras.

Expressa mesquinhez de quem a cultiva e infelicidade interior por ainda se encontrar em fase secundária de evolução.

Ademais, é recurso mental e emocional manipulado por Espíritos inferiores que atormentam aquele que a experiência como o outro a quem dirige a energia deletéria.

Ante a conquista de alguém que te fascina e estimula-te a crescer e superar desafios, sem mancomunações com os esquemas da desonra e do crime, fica alegre ante a demonstração de que também poderás conseguir o melhor se perseverares com entusiasmo e ação correta.

Provavelmente, não serás aceito a princípio, no entanto, se insistires no crescimento intelecto-moral serás distinguido pelas qualidades inegáveis de que serás portador. Por mais se procure impedir a luz solar a alcançar a Terra, ela continuará insistindo.

Cada qual vale o que é e não o que se supõe.

A História narra extraordinárias existências de mulheres e de homens que foram achincalhados, perseguidos e, sem nenhuma possibilidade de vencerem os abismos que defrontaram, tornaram-se heróis e verdadeiros herdeiros de Deus em todos os seus empreendimentos.

A Humanidade, porém, necessitou deles e no seu momento ei-los presentes para mudarem o rumo do progresso. Subestimados, fizeram-se conquistadores e heróis, apóstolos e sábios despreocupados com a aceitação ou não do seu valor, mas conscientes do ministério que vieram exercer.

Gigantes com aparência minúscula, promoveram a sociedade e vêm eliminando a desonra e os loucos objetivos dos inimigos do progresso e do Bem.

Assim, diante dos triunfantes, ora por eles e admira-os pela coragem e valor moral que tiveram para vencer as prisões sem grades dos lugares onde suportaram as marcas do fogo e prosseguiram até o momento final...

Eles estão a serviço da Lei Divina, construindo o mundo sempre melhor para si mesmos e a Humanidade na qual se encontram.

Por outro lado, não denigras os que tombaram, por não terem tido forças para suportar a carga pesada da fama e as exigências da nova situação complexa que devem vivenciar.

Não se permitiram contaminar pelo horror da peste do suborno, do mercantilismo, da indiferença moral dos seus cargos e encargos, sendo atropelados pelos voluptuosos que os esmagaram.

Não venderam a alma a Satanás, a fim de permanecerem no falso brilho do fausto enganador.

Nunca te esqueças de que tudo é muito rápido no tempo terrestre, e a gangorra das mudanças está sempre em movimento, elevando e rebaixando os que nela se acolhem.

Quando estiveres por cima, preserva o equilíbrio, porque há outros puxando-te, a fim de tomarem o teu lugar.

Cumpre, portanto, com o teu dever onde estejas e como te encontres.

Transitória é a glória terrestre, assim como o é a desventura no mundo.

Avança com a consciência íntegra e sempre alegre.

*

Em qualquer circunstância na qual estejas, lembra-te de Jesus que as experimentou diversas e jamais perdeu o roteiro para o Reino dos Céus.

Mantém-te vinculado a Ele e sê feliz sempre.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 8 de dezembro de 2021, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador Bahia.

28 março 2022

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça - Nilton Moreira

 
QUEM TEM OUVIDOS PARA OUVIR, OUÇA

Religião, time, partido, cada um tem a sua preferência e dificilmente conseguimos modificar o idealismo de cada um, salvo raras exceções.

Relativo a religião, cada um tem a sua preferência e ninguém tem o direito de impedir o devotamento. Tem quem diz que faz prece, outros rezam e outros oram. Uns ajoelham, outros gritam, outros dançam, outros fazem profundo silêncio. Mas apesar de todas estas particularidades, o mundo segue seu rumo idealizado pelo Arquiteto do Universo.

Há pouco tempo tivemos um embate duro e ainda estamos travando luta contra um vírus avassalador que levou do convívio nosso, muitas pessoas queridas, e ficamos nos perguntado o motivo pelo qual surgiu esse vírus. Certamente os momentos ruins chegam até nós para dar uma sacudida na nossa vida. Assim acontece com as doenças, sejam as moderadas ou graves. São os resgates individuais que tem a ver com o proceder de cada um.

Mas a pandemia teve por objetivo dar um recado não individual, mas sim a todo Planeta, nos chamando a atenção para exteriorizar mais amor, aproximando as pessoas, já que tivemos que cumprir período de isolamento. A pandemia em razão da quantidade de pessoas vacinadas diminuiu e as famílias voltaram a se encontrar, se abraçar e muitas agradeceram ao Criador por ter possibilitado o início da normalidade que aos poucos está acontecendo.

As dificuldades que passamos estão atreladas ao momento de transição planetária que a Terra está vivenciando. É a evolução do Planeta. É a sacudida geral. “Quem tem ouvidos de ouvir ouça” Ele disse!

Mas parece que a humanidade não entendeu o recado e agora enfrentamos uma guerra armada, que embora esteja longe de nossa morada, somos atingidos não por balas, granadas e explosões, mas sim na elevação de preços, e falta de alguns ingredientes, que atinge principalmente os menos favorecidos, que passam a ter dificuldades para alimentar-se, além de vermos irmãos nossos sendo mortos ou fugindo apavorados da região do combate.

Quem já atingiu um nível de evolução equilibrado “OUVIU”, e tem a oportunidade de buscar na fé o pedido para que esse conflito termine e que possam todos desenvolver no coração o Divino Amor Maior.

Nilton Moreira
Artigo da Semana - Estrada Iluminada
Fonte:
Espirit Book

27 março 2022

Em tudo é o mesmo suor - Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 
EM TUDO É O MESMO SUOR

“Com o suor do teu rosto comerás o teu pão”, Gênesis 3:19.

Workaholic, Burnout, assédio, condições análogas à escravidão, teletrabalho, colaborador, uberização, empreendedor, desemprego… A gramática do mundo do trabalho do século XXI é permeada de novas roupagens para velhos conceitos, alguns destes, inclusive, que deturpam a essência do trabalho, a faculdade do Espírito que mais o aproxima do criador.

Realização, prazer, utilidade, bem comum, sustento, aprendizado, lazer… Outras expressões que deveriam aparecer mais no mundo do trabalho, mas a despeito de toda a tecnologia que nos cerca, nosso meio de vida continua sendo uma das fontes de sofrimento para o Espírito encarnado, pelo excesso, pela falta ou pela alienação no seu desempenho.

O fato de o trabalho ser um valor universal, algo eminentemente positivo, não faz dele uma questão acrítica. O equilíbrio nessas relações, entre empregados e entre empregadores, os excessos, o desrespeito e toda uma gama de distorções, são pontos de pauta, como lições de uma vida melhor, à luz da lei de justiça, amor e caridade.

Dado que o trabalho é tão importante, em especial na visão comungada por nós, espíritas, os seus limites e desvios também devem ser objeto de nossas discussões. Não nos aspectos legislativos ou nas políticas dessas relações, que guardam fóruns específicos para tal, mas no sentido dos papeis reencarnatórios que ocupamos nessas relações, e no de que somos, sim, responsáveis pelo bem ou pelo mal que propiciamos nessa seara.

A nossa maior vergonha histórica, a escravidão, tratada de forma relevante nas questões 829 a 832 de “O livro dos Espíritos”, ainda se apresenta, passado tanto tempo, em formas atuais e sutis de submissão, de tratamento desumano, onde se morre pelo trabalho, como resquício daquele suor que ainda escorre hoje em dia nas frontes cansadas.

A escravidão, nas suas diversas derivações modernas, como o tráfico de mulheres, o trabalho infantil, o trabalho para pagar dívidas infinitas, bem como o trabalho desregulado e desamparado, são questões que afetam o tecido social, em especial daqueles mais vulneráveis, e merecem seu espaço de reflexão entre nós, como espíritas e como cidadãos.

O trabalho, como dever, tem seus limites, na lembrança da questão 683 da obra já citada. Não vivemos para o trabalho, mas este, sim, é a fonte de uma vida melhor, seja pelo aspecto material, seja pela construção de relações e de realidades. O trabalho está no contexto da encarnação, mas não é a sua finalidade. Mesmo o trabalho no bem, tão importante para nós, não é um fim, e sim um meio de nossa evolução.

No que se refere ao trabalho, além de um sentido amplo, entendido como a ação do Espírito para modificar a sua realidade, no emprego de suas forças, existe o significado mais utilizado, aquele do ganha pão, do sustento, que pode ser objeto de exploração de quem nos emprega, mas, também, pode ser força hipnótica que nos cega pelas águas da ambição.

A sanha de ganhar mais, de se ter mais, de possuir destaque, de estar em holofotes, pode nos conduzir a outras formas de escravidão, na qual nos tornamos prisioneiros de um modo de vida. Claro que a excelência profissional, a qualidade das entregas, o desenvolvimento na carreira, são valores que nos trazem realização e felicidade. Para nós, para os que nos cercam e para a sociedade. Mas, como tudo, demanda equilíbrio em relação às outras dimensões da nossa vida.

O suor que nos dá o sustento, que propicia a realização de tantas coisas boas na humanidade, é o mesmo que patrocina situações deploráveis, do homem em relação ao próprio homem, ou ainda, das suas próprias jaulas mentais que ele mesmo constrói em sonhos de transitoriedade.

Ao fim da encarnação, no “país da luz”, o trabalho continuará sendo um valor, um meio de progresso, mas os pressupostos que o qualificam serão diferentes da realidade que ainda temos no plano material. Uma visão mais alargada de uma vida que prossegue, e que torna esse trabalho, como valor, é algo a ser pensado hoje nesse contexto do mais além.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Publicado na Revista Harmonia de Fevereiro de 2022
Fonte: Portal Casa Espírita Nova Era

26 março 2022

O Vale dos Arrependidos - Hugo Lapa

 
O VALE DOS ARREPENDIDOS

Um espírito estava prestes a nascer no mundo material. Um anjo que o estava instruindo decidiu conduzi-lo a um vale no submundo do plano espiritual onde dezenas de milhares de espíritos se mantinham presos. Muitos não sabem, mas as almas que vivem nos mundos espirituais sempre se ligam uns aos outros pela afinidade de suas vibrações e de sua natureza.

O espírito e o anjo chegaram a um vale desconhecido de muitos, conhecido como o “Vale dos espíritos arrependidos”, para onde vão as almas daqueles que viveram vidas superficiais, cometeram erros e não aproveitaram a sua encarnação. Ambos foram conversando com alguns desses espíritos. Um deles disse:

“Desperdicei minha vida com a bebida, a boemia, bares, futebol, churrascos e com falsos amigos. Todos eram meus “amigos” quando eu estava bem, bebia e contava muitas piadas nos botecos da vida, mas depois que contraí uma doença, todos se afastaram. No leito de morte vi que desperdicei minha vida com frivolidades e depois que cheguei ao plano espiritual tive uma forte sensação de tempo perdido…”

Outro espírito de uma mulher, ainda chorosa, nos disse:

“Sim, desperdicei minha encarnação tentando ajudar meu filho a ser alguém na vida. Eu não percebi que fazia isso porque me sentia carente e sozinha. No fundo queria que ele ficasse comigo e não desejava sua liberdade e independência. Eu era dependente dele e por isso achava que o estava ajudando, mas só o prejudiquei. Eu o mimei muito e depois ele não conseguia ser independente. No meu leito de morte ele nem apareceu. Eu vivia também para outras pessoas e elas nunca me deram nenhum valor. Podia ter feito tantas coisas na vida, estudado, trabalhado, me dedicado a vida espiritual, mas perdi toda uma encarnação vivendo em função de outras pessoas.”

Uma outra alma, que parecia muito triste, disse:

“Sim, eu desperdicei minha vida mergulhando no trabalho e vivendo apenas para conquistar bens materiais. Meu objetivo na vida eram os melhores cargos, os melhores salários, ganhar mais e mais dinheiro, status e uma posição de destaque. Vaidade das vaidades, tudo isso era apenas vaidade, como diz Salomão na Bíblia. Perdi 70 anos da minha vida com bobagens, futilidades e remoendo coisas supérfluas. Como gostaria de ter uma outra chance e cuidar mais de mim mesmo, ajudar outras pessoas, amar mais, dar valor as coisas simples da vida, me ligar no espírito eterno que sou, ter vivido mais a vida espiritual, e não as ilusões do mundo material. Aqui no plano do espírito, nada podemos trazer da matéria.”
Uma alma que parecia um pouco agitada e até irada dizia:

“Aquele líder religioso me enganou! Ele me prometeu um paraíso no céu se eu desse o dízimo, se seguisse os dogmas da religião, se eu fosse casto e reto, e estou aqui, nesse vale sombrio, amargando todas as consequências de um vazio interior pela total perda de tempo. Gostaria de voltar a vida e mudar de postura, não acreditar cegamente em líderes religiosos, ter fé apenas em Deus, amar e não cultivar dogmas ou verdades prontas e acabadas. Poderia ter exercido a verdadeira espiritualidade, mas perdi tempo, muito tempo e fui um hipócrita. Não praticava o que eu mesmo pregava. Mas pensando bem, no fundo ninguém me enganou, eu mesmo que me deixei enganar, pois acreditar em dogmas e no fundamentalismo era algo muito mais cômodo do que me desenvolver espiritualmente e me tornar uma pessoa melhor, mais humilde e mais amorosa.”
Outros espíritos diziam:

“Eu desperdicei minha vida com sexualidade descontrolada”; “Já eu desperdicei minha vida com intelecto agudo e muito conhecimento teórico, mas sem prática e sem experiência direta”; “Eu fiz algo muito comum: desperdicei minha vida me julgando sempre superior a outras pessoas, e não compreendi que esse sentimento de superioridade nada mais era do que uma forma de abafar a imensa insegurança e inferioridade que eu sentia.”

E assim, muitos relatos nos foram passados pelos espíritos presos ao “Vale dos Arrependidos”, almas que desperdiçaram a oportunidade que Deus lhes deu de evoluir espiritualmente se detendo em questões banais, transitórias e sem nenhuma importância para a verdadeira vida, que é a vida do espírito imortal que somos.

Você, que ainda está encarnado e vivendo a sua vida, não faça como esses espíritos, que jogaram suas vidas fora levando existências superficiais, sem alma, sem profundidade, sem se perguntarem quem são e o que estão fazendo aqui. Almas que vivem apenas pelo corpo e pelas aparências do mundo, e não pelo espírito e pela verdade. Você tem tempo de mudar, não desperdice essa sagrada oportunidade de desenvolvimento espiritual que Deus te deu… que é a vida.


25 março 2022

Por Que Eu Tenho Essa Doença? - Luciane Almeida

 
POR QUE EU TENHO ESSA DOENÇA?

Muitos de nós passamos por grandes dificuldades relacionadas à saúde. Algumas patologias parecem ser fardos bem mais pesados do que outras. No entanto, para quem sofre é sempre muito difícil independentemente do grau da sua doença. Muitas pessoas buscam tratamento, mudam hábitos para escolhas mais saudáveis e, nós espíritas, intensificamos a busca da tão sonhada reforma íntima. Mas a doença permanece lá. Por quê? E a pergunta não se cala: “Por que eu não me curo dessa doença?”

Como estudiosos da Doutrina Espírita, conhecemos bem as Leis que regem a Vida e sabemos que a Lei de Causa e Efeito é implacável. Mas por quanto tempo ficaremos colhendo os frutos amargos de um plantio irresponsável?

Precisamos nos atentar para o fato de que, mesmo que aprendamos a lição e que nos renovemos internamente, conscientizando-nos da falta cometida, o dano material causado não é restaurado como um passe de mágica. As lesões perispirituais, por exemplo, são restauradas aos poucos. Aprendemos, quando crianças, que qualquer machucado leva algum tempo para cicatrizar e, durante esse período, sentimos algum incômodo, compreendendo que é resquício de um trauma que só melhora quando finalizar todo o processo.

Então hoje, quando nos encontramos na iminência de “herdar a Terra”, através do planeta regenerado que se aproxima, já com alguma consciência das Verdades Sublimes do Evangelho, interrogamo-nos internamente: “por que eu ainda sofro com essa doença?”. Aí vem um benfeitor espiritual que nos intui amorosamente: “Filho, não vês que o reparo perispiritual é um processo do qual não se pode esquivar? A restauração está sendo feita. As fibras rompidas durante o ato insano estão, pouco a pouco sendo reconstruídas e, enquanto isso, seu órgão ainda reflete deficiências que se originam no seu corpo etéreo. Logo passará! Um longo caminho já foi percorrido, pois sua consciência já compreende a Luz. Agora é só esperar o tempo cicatrizar o ferimento e estarás liberto!”

Assim é que uma pessoa, hoje portadora de ansiedade, por exemplo, necessitando medicação para equilibrar a química cerebral, sente-se impotente e sofre ainda mais por não conseguir “controlar” as próprias emoções. “Por que os outros conseguem e eu não consigo?”. É nesta hora que devemos esperar resignados, e até entender que estamos bem próximos de expurgar essa dor, pois hoje é a ansiedade, ontem pode ter sido algo mais grave, uma paralisia cerebral, anencefalia, Parkinson, Alzheimer. Então estes graus em que as doenças se apresentam são resquícios de algo mais grave em processo de restauração, que só o tempo (e a não reincidência) neutralizará.

Sendo assim, cultivemos a paciência durante os processos de restauração física, seja ela na matéria densa ou na matéria etérea, confiantes de que Jesus nos ampara sempre.

Autora: Luciane Almeida
Fonte:
Kardec Rio Preto

24 março 2022

Ante a Morte - Martins Peralva

 
ANTE A MORTE

LE Questão 149: Que sucede à alma no instante da morte?
R. - Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara momentaneamente.

Tranqüiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram. (Emmanuel)

* * *

Além de seu papel eminentemente esclarecedor, caracterizando a base de sua filosofia, tem o Espiritismo outra função, não menos importante, junto à criatura humana, sujeita, por efeito da própria condição de nosso orbe, às mais dolorosas vicissitudes, no campo moral e físico: a de confortá-la, de consolá-la nos instantes cruciais da existência.

Apesar da "velhice do mundo" e da não menor "velhice das religiões", sob o ponto de vista da cronologia, muito pouca gente acostumou-se com a separação dos entes queridos, em conseqüência da morte, ou desencarnação.

A dor de quem fica é, bem o sabemos, motivada pela falsa e errônea idéia de que a morte seja o fim, separando, para todo o sempre, irreparavelmente, os que partem dos que ficam na ribalta do mundo.

É bem verdade que as religiões orientais apontaram sempre a morte por simples fenômeno de separação da alma do corpo, com a continuidade, por aquela, em lugares de gozo ou sofrimento, de sua vida.

Nem por isso, porém, tais mensagens de imortalidade ressoaram, positiva e beneficamente, na inteligência humana. Apesar de todos os preceitos imortalistas das religiões que precederam a Doutrina dos Espíritos, a perda dos entes amados ainda repercute como tragédia, de angústia e sofrimento, para familiares e amigos mais chegados.

A partir da codificação espírita, nos idos de 1857, quando Allan Kardec editou "0 Livro dos Espíritos", o assunto passou, na verdade, a ser encarado sob outro aspecto, atenuando, sensivelmente, a dor da separação e, por outro lado, acentuando a esperança de que, não sendo a morte o fim de tudo, a partida é, apenas, temporária ausência, com a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, o reencontro se dará, em qualquer parte do Universo - no Espaço, noutros mundos, na própria Terra.

Não se vá dizer que esta compreensão espírita nos tornará isensíveis à dor ante a partida de um ente querido, familiar ou não. Não se predique seja o espírita uma pessoa proibida de sentir e chorar, realmente, a partida de um parente ou amigo, eis que uma e outra coisa representariam inexata idéia de que o Espiritismo seja uma Doutrina capaz de insensibilizar o coração humano, de extinguir as emoções normais da criatura, esterilizando-lhe o sentimento.

O conhecimento e a assimilação doutrinário-evangélicos têm a faculdade de fortalecer-nos o Espírito e o coração, tornando-nos capazes de, pela fé, pela certeza da imortalidade, chorarmos, sem dúvida, o desenlace do ser amado, sem, contudo, confiar-nos ao pranto enfermiço, doentio, por improdutivo, e que nunca se acaba.

A morte outra coisa não é senão uma viagem, quase sempre mais longa, que o Espírito realiza. E o reencontro com o "morto" muita vez se dá com muito maior brevidade do que nas viagens comuns, aqui na Terra, de pessoas encarnadas.

Não raro, especialmente num país como o Brasil, de imensa extensão territorial, um parente ou amigo despede-se de nós e, durante vinte, trinta ou quarenta anos não se dá o reencontro, e, às vezes, nunca mais ele é visto por nós ?!...

No fenômeno que o mundo impropriamente denomina "morte", muita vez a criatura que desencarnou volta ao convívio dos seus, na condição de filho, sobrinho ou o que for, dois-ou três anos depois.

Esta compreensão de que a morte não é o fim, mas um episódio inevitável, de transição, não impede o espírita de verter lágrimas ante o corpo inerte do ser amado. Emmanuel, na mensagem "Ante os que partiram", pondera: "Nenhum sofrimento, na Terra, será comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio".

A compreensão espírita apenas não o deixa eternizar o sofrimento, pois sabe que a separação é temporária, e que, além disso, a vida física não é a principal para as almas, malgrado sua importância, mas simples etapa destinada a favorecer-lhes o resgate de erros, o aprendizado indispensável à conquista da perfeição. A nosso ver, em nome da Doutrina Espírita ninguém deve reter as lágrimas sinceras, abundantes ou discretas, segundo as condições emocionais de cada um de nós, que, no instante da separação, brotam, dos olhos de quem fica; nossa idéia, a este respeito, é de que não devemos converter o pranto das primeiras horas ou dias em inconformada expressão de revolta, de insubmissão às leis divinas, que são sempre, o espírita esclarecido bem o sabe, de amor e misericórdia, de sabedoria e magnanimidade.

Há, ainda, sob o ponto de vista doutrinário, outros aspectos que situam o Espiritismo por mensagem altamente consoladora, ante o multimilenário problema da "morte": pelas abençoadas vias da mediunidade, os que ficam podem-se comunicar com os que se foram, como se no corpo físico ainda estivessem, sentindo-lhes as emoções, identificando-lhes as idéias, reconhecendo-lhes os hábitos e pontos de vista.

A mediunidade - maravilhosa ponte que liga o mundo físico ao espiritual, a Terra ao Espaço - descerra as portas do Infinito, possibilitando o amoroso reencontro das almas desencarnadas com as encarnadas.

Além da mediunidade, que proporciona ainda, algumas vezes, a materialização ou corporificação dos que se foram, temos os sonhos espíritas, quando podemos estreitar nos braços e envolver nas vibrações puras do amor e do carinho os seres amados.

Maravilhosa doutrina que "luariza de esperança a noite de nossas vidas" - di-lo, com rara e bela definição, o Espírito de escol que transitou pelo mundo, no solo glorioso da França, com o nome respeitável de Léon Denis!.

Como se observa, têm os espíritas elementos muito sérios, racionais e profundos, de ordem filosófica, para considerarem e conceituarem a nossa doutrina como a mais consoladora, a que maior soma de conforto pode dispensar ao homem nos instantes de dor, de maneira que, ao invés do pranto imoderado, possamos honrar a memória dos que partiram "abraçando com nobreza os deveres" que nos legaram, acentuando, assim, o outro aspecto, o educativo, que a caracteriza, que a situa por fator de extrema valia na obra de redenção da humanidade.

Que ninguém se entregue ao pranto inestancável, inconformado, ante o corpo estirado no esquife; que ninguém se envergonhe de ensopar os olhos com as lágrimas da saudade justa, compreensível, ante o coração amado que demanda outras regiões; mas, que o trabalho do bem seja a melhor forma de lhe cultuarmos a lembrança.

Esta é a mensagem que, em nosso pobre entendimento, o Espiritismo dirige a todos que se defrontam, em casa ou nos círculos pessoais de amizade, com o velho e sempre novo problema da "morte".

Martins Peralva
Livro: Pensamento de Emmanuel - 4


23 março 2022

A caridade no pensar! - Maria Lúcia Garbini Gonçalves


A CARIDADE NO PENSAR!

Fora da caridade não há salvação, nosso Mestre ensina no capítulo 15 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, uma lição que se repete muito no meio Espírita por sua profundidade. Isso porque, como explica Paulo no item 10 da mesma obra, quem a pratica vive em paz e estará encurtando sua caminhada ao Reino de Deus, à terra prometida.

Porém, quando se fala em caridade, a maioria das pessoas imediatamente pensa em esmola, o que não deixa de ser caridade, se a intenção for a sincera vontade de ajudar o irmão, sem pensar em qualquer retorno. Entretanto, no item 10 da mesma obra, um espírito protetor nos esclarece que podemos praticar a caridade por pensamento, por palavras e por ações.

O foco deste ensaio é a caridade por pensamentos.

Infelizmente, a maior parte das pessoas também ignora a força de nossos pensamentos e que eles estão aliados às nossas intenções e que são veiculados por fluidos espirituais. Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e vibrações sonoras. (1)

O fato de as ondas e raios de pensamentos não se confundirem, já nos indica, por dedução lógica, que o pensamento realmente chega ao seu alvo, prejudicando-o ou ajudando-o.

O incrível é que nunca foi tão disseminada a ideia do poder do pensamento por muitos neste planeta, e no entanto, parece que nunca estivemos tão divididos pelos efeitos dos nossos pensamentos gerados pelos nossos sentimentos equivocados.

Os pensamentos que emitimos, ao escaparem de nós, se agrupam, por lei, aos seus semelhantes e, em muitos casos, voltam a nós, seus criadores, como nuvens de abelhas retornando ao apiário a atormentar-nos, ou a abençoar-nos, dependendo da sua formação no laboratório da mente. (2)

Então, quando os nossos pensamentos são bons, estamos fazendo caridade a nós mesmos e aos outros.

O nosso querido planeta Terra não nos aguenta mais, são muitos pensamentos negativos a se combinarem, juntando-se, a gerarem as consequências deletérias que testemunhamos hoje. Basta ver que raramente estivemos sem um conflito bélico por razões geopolíticas, umas vezes entre as nações poderosas, outras vezes entre as menos poderosas. Como nossos pensamentos são ainda belicosos, os resultados são sempre a discórdia, os duelos.

Quando iremos aprender a fazer a paz na prática? Sim, é uma questão de quando teremos um número suficiente de pessoas conseguindo gerar bons fluidos frutos de um real esforço de desejar o bem, de pensar em caridade, amor, até que formemos uma egrégora de luz, de paz, limpando a nossa maltratada Terra, e assim, atraindo mais e mais paz. Essa é a caminhada que precisamos percorrer para a luz, para a Regeneração.

Sabemos que esta regeneração está um parto difícil, mas que vai nascer a criança, já que “O progresso da Humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei.(2) Por isso precisamos de todos juntos, vibrando na paz, no amor. Se cada um de nós cultivarmos bons pensamentos, já estaremos irradiando essas vibrações a todos que estão nessa sintonia. Assim estaremos sendo mais caridosos para com os nossos irmãos, que são as outras pessoas, os animais, os vegetais, os minerais, enfim, com o planeta.

Pensamentos negativos são notas dissonantes na harmoniosa orquestração da mente, e as boas ideias fortalecem o cérebro, revigoram os nervos, estendendo as bênçãos do bem em todo o complexo biológico. É hora de participarmos com mais intensidade da nossa evolução mental, procurando conhecer todos os horizontes da mente, para trabalharmos com proveito na grande construção do homem de amanhã. Começando hoje, com sutis toques de reformas de costumes, amanhã o trigo já estará maduro. Poderemos arrancar o joio, para novos e fecundos plantios. Esse é o impulso irresistível da evolução. Avancemos.(2)

Maria Lúcia Garbini Gonçalves
Fonte:
Agenda Espírita Brasil

Referências:

(1) KARDEC, Allan. A Gênese .capítulo XIV – Os fluidos, item 15;

(2) KARDEC, Allan. A Gênese .capítulo XVIII – São chegados os tempos, item 2;

(3) MAIA, João Nunes. Psicografado pelo Espírito Miramez. Horizontes da Mente


22 março 2022

A Busca Pelo Autoconhecimento - Maria Thereza dos Santos Pereira

 
A BUSCA PELO AUTOCONHECIMENTO

Atualmente, com a quantidade de informações disponibilizadas às pessoas pelas redes sociais, canais, lives, cursos, palestras, workshop etc., conceitos são construídos e desconstruídos diariamente com muita facilidade, que dificulta a percepção concisa e clara sobre algo. Resta difícil construir uma conclusão sobre qualquer assunto, posto que o entendimento fica parecido a uma “colcha de retalhos”, com tantos pontos de vista e opinadores diferentes sobre assuntos diversos.

Temos acesso à tanta informação e queremos descobrir tantas outras que acabamos esquecendo de olhar para nós mesmos e escutar os opinadores que realmente podem fazer diferença em nossas vidas, que somos nós mesmos e Deus.

Afinal, o que realmente precisamos aprender?

É muito importante que todos busquemos nos melhorar, aperfeiçoar e estar em constante evolução em todos os aspectos de nossas vidas, mas de fato a ingestão de tantas informações, desordenadas e relativizadas, são necessárias à nossa evolução?

Há momentos na vida que precisamos realizar uma autoanálise para entender QUAL o momento estamos vivendo, O QUE buscamos e COMO chegar lá.

Esses momentos podem ser aqueles em que você medita, tira para realizar uma caminhada ou qualquer outro em que você esteja apenas com você mesmo, ou melhor, que esteja apenas na companhia de você mesmo e Deus!

Isso porque a nossa jornada desde o dia que reencarnamos até o dia do falecimento do corpo físico é individual, como nossa bagagem espiritual e lições que precisamos ter. O que precisamos passar, viver e aprender, ninguém passa por nós e Deus “não dá fardos largos a ombros fracos”, por isso, nós próprios temos que buscar.

O que é certo é que, apesar de individual, a jornada não é sozinha, já que Deus nunca deixa de assistir qualquer indivíduo através dos nossos mentores espirituais, bem como Ele próprio nos fala através de nossa consciência (que é unitária e exclusivamente nossa).

Assim, se você está lendo este artigo, pelo menos alguma afinidade com a doutrina espírita possui e, portanto, possivelmente busca ser alguém melhor e uma pessoa de bem.

Desta feita, tornemos ao questionamento anteriormente realizado de uma forma mais elaborada de acordo com o aspecto espiritual de nossas vidas: o que realmente falta aprender para sermos uma pessoa melhor amanhã do que somos hoje?

Assertivamente neste artigo não temos a resposta, repito que ela é individual, cada um sabe o que lhe falta aperfeiçoar, ou pelo menos imagina através de sua intuição e dos espíritos amigos que lhes inspiram.

Não oferecemos a resposta objetiva, porém o caminho pode ser indicado: o primeiro passo é identificar quais são os pontos de melhoria através do autoconhecimento.

A investigação de si mesmo pode fazer com que o indivíduo não apenas controle melhor suas emoções, como pode melhorar suas atitudes, refletindo sobre os erros passados, para não repeti-los. (1)

O autoconhecimento deve vir acompanhado da autoaceitação, que implica em não nos enganar, aceitarmo-nos imperfeitos como somos e traçar estratégias para nos melhorar, pelo uso da inteligência e consciência que Deus nos proporcionou, bem como inspirações dos amigos espirituais que nos envia.

O autoconhecimento, autoaceitação e auto perdão são premissas para reforma íntima e a efetiva transformação moral que todos devemos praticar. (2)

Se o leitor ainda não tem traçados seus objetivos, inclusive espirituais para buscar evoluir, ser uma pessoa melhor e de bem, convido-o a realizar o autoconhecimento e estudar a doutrina que ensina que o homem de bem “interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem” (Kardec, 2018), assim, enfim, encontrará a resposta!

Maria Thereza dos Santos Pereira
Reprodução - Revista Letra Espírita, ed. 28
Fonte:Blog Letra Espírita

Referências:

KARDEC, Allan; Tradução de Matheus Rodrigues Camargo. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 43ª reimp. São Paulo: Editora EME, 2018.

1- Leia mais em: “Premissas da Reforma Íntima”

2- Leia mais em: “Três Passos para a Reforma Íntima”


21 março 2022

A Cegueira - Nilton Moreira

A CEGUEIRA


Uma das leituras da madrugada. Mensagem mediúnica dada em Paris 1863 por Vianney, conhecido como Santo Cura d’Ars.

“Meus bons amigos, para que me chamastes? Terá sido para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui e a cure? Ah! Que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista e as trevas a envolveram. Pobre filha! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, eu, sem que Deus o queira.

Todas as curas que tenho podido obter e que vos foram assinaladas não as atribuais senão àquele que é o Pai de todos nós. Nas vossas aflições, volvei sempre para o céu o olhar e dizei do fundo do coração: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste.

” Após essa prece, meus amigos, que o bom Deus ouvirá sempre, dadas vos serão a força e a coragem e, quiçá, também a cura que apenas timidamente pedistes, em recompensa da vossa abnegação. 

Contudo, uma vez que aqui me acho, numa assembleia onde principalmente se trata de estudos, dir-vos-ei que os que são privados da vista deveriam considerar-se os bem-aventurados da expiação. 

Lembrai-vos de que o Cristo disse convir que arrancásseis o vosso olho se fosse mau, e que mais valeria lançá-lo ao fogo, do que deixar se tornasse causa da vossa condenação. 

Ah! Quantos há no mundo que um dia, nas trevas, maldirão o terem visto a luz! Oh! Sim, como são felizes os que, por expiação, vêm a ser atingidos na vista! Os olhos não lhes serão causa de escândalo e de queda; podem viver inteiramente da vida das almas; podem ver mais do que vós que tendes límpida a visão! 

Quando Deus me permite descerrar as pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delícias do Espírito que vive de contemplação e de amor?

Não pedirias, então, que se te concedesse ver imagens menos puras e menos suaves, do que as que te é dado entrever na tua cegueira! Oh! Bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar.

Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte.

Agora, algumas palavras dirigidas a ti, minha pobre sofredora. Espera e tem ânimo! Se eu te dissesse: Minha filha, teus olhos vão abrir-se, quão jubilosa te sentirias! Mas, quem sabe se esse júbilo não ocasionaria a tua perda! 

Confia no bom Deus, que fez a ventura e permite a tristeza. Farei tudo o que me for consentido a teu favor; mas, a teu turno, ora e, ainda mais, pensa em tudo quanto acabo de te dizer. Antes que me vá, recebei todos vós, que aqui vos achais reunidos, a minha bênção. ”


Nilton Moreira
Artigo da Semana - Estrada Iluminada
Fonte:
Espirit Book

 

20 março 2022

Laços de Amor além do Tempo - Luis Fernando Lopes

 
LAÇOS DE AMOR ALÉM DO TEMPO

A médium Yvonne do Amaral Pereira é uma das personalidades mais importantes da história do Espiritismo no Brasil. Portadora de uma mediunidade exuberante, desde cedo teve que aprender a lidar com as presenças espirituais em sua vida. Enfrentou a doença e os estados psíquicos perturbadores provocados pelas potencialidades anímicas e mediúnicas que lhe caracterizavam, atravessando toda a infância e a juventude em meio a interferências de desencarnados e recordações de sua encarnação anterior, que lhe provocavam tormentos, às vezes, insuportáveis.

Quando eu a conheci, dialogamos muito e nos identificamos bastante, vindo a saber que, quando jovem, ela experimentou muitas sensações psíquicas e dificuldades que eu também havia vivenciado.

Ao entregar-se à Doutrina Espírita, D. Yvonne dedicou-se como poucos à causa do Bem, exercendo a mediunidade com a nobreza e a abnegação que são próprias aos Espíritos disciplinados, decididos a levar adiante os compromissos assumidos antes do retorno aos caminhos terrestres.

O seu livro Memórias de um Suicida é uma obra de beleza ímpar, devassando as dimensões espirituais e revelando ao mundo o sofrimento atroz que se instala na vida de quem opta pela fuga dolorosa mediante o suicídio. Sendo ela própria uma ex-suicida, a recepção mediúnica do livro constituiu-lhe, de certa forma, um sacrifício, porque ela foi obrigada a rever cenas de situações que havia vivenciado na erraticidade. No entanto, a obra tornou-se uma advertência de valor inestimável para os viajantes da vida física, muitos dos quais certamente devem a esse livro o fato de terem-se afastado das consequências devastadoras do autoextermínio.

Certo dia, quando fui visitá-la, por ocasião de uma de minhas viagens, encontrei-a com o braço fraturado, suspenso por uma tipoia para poupá-la de fazer movimentos bruscos. Ao perguntar sobre o ocorrido, a médium elucidou-me gentilmente:

— Divaldo, você deve saber que a publicação do livro Memórias de um Suicida não agradou aos Espíritos vampirizadores que no mundo espiritual exploram seres suicidas em regiões inferiores. Pois bem. Um dia estava saindo de casa e, ao abrir a porta, senti duas mãos vigorosas empurrando-me pelas costas. Sem conseguir segurar-me eu caí de forma desajeitada e quebrei o braço com o qual psicografo. Esparramada no chão, olhei para cima, tentando identificar o autor do empurrão. Então eu vi um Espírito com fisionomia retorcida e com ar de ódio que me disse: “Isso é para você aprender a não receber esse tipo de livro, que prejudica os nossos planos de dominação dos seres miseráveis que nós exploramos!”. Então, eu pude entender o porquê da queda e do braço fraturado.

D. Yvonne não se deixou, porém, abater pelo acontecimento e prosseguiu sem vacilar no trabalho de amor que lhe cabia executar.

A médium dedicada, proveniente de um passado reencarnatório marcado pelo insucesso, nunca conseguiu adaptar-se a uma vida social mais ampliada, razão pela qual sempre trabalhou em sua própria casa, realizando costuras para fora a fim de obter o sustento material. Ela desejava casar-se e construir uma família, o que não estava no seu programa espiritual porque na existência anterior houvera se suicidado por causa de uma tragédia familiar desencadeada por ela mesma em Portugal, no século XIX. Na ocasião, a morte prematura da sua filha de quase sete anos e o falecimento do seu marido trouxeram-lhe uma dor insuportável, uma vez que ela havia cometido o adultério que destruiu o próprio lar e precipitou as duas desencarnações. Dominada pelo remorso, a jovem portuguesa atirou-se nas águas do Rio Tejo, morrendo afogada e experimentando todas as sensações angustiantes da imersão e da decomposição do cadáver. Ela trazia na memória espiritual as recordações desses episódios com lucidez impressionante, que incrementavam a sua dificuldade em permanecer com o psiquismo equilibrado para trabalhar na mediunidade. Sua infância e sua juventude foram assinaladas por sofrimentos indescritíveis, por causa da mente conturbada pelas lembranças amargas, que somente o Espiritismo conseguiu explicar para que obtivesse algum alívio já na fase adulta (115).

Dessa forma, Charles, um Espírito protetor que havia sido seu pai por mais de uma encarnação, inclusive naquela existência em solo português, advertiu-a para o fato de que a solidão deveria ser o seu caminho na Terra, provação necessária para que aprendesse que o remorso pelos danos provocados à sua família jamais poderia justificar o desespero a que viesse a entregar-se, culminando com o gesto insano de tirar a própria vida. Por isso, nesta encarnação no Brasil, a nobre trabalhadora do Bem precisava aprender o respeito à vida por meio da renúncia e da entrega total ao amor fraterno.

Certo dia, contrariando as orientações dos seus guias espirituais, D. Yvonne começou a estreitar laços afetivos com um rapaz. A aparente amizade foi-se dilatando até o ponto em que o jovem a convidou para um jantar. Após o restaurante, os dois assistiriam a um filme no cinema e completariam a noite agradável.

Muito empolgada, ela se vestiu com simplicidade, mas com elegância. Não poderia descuidarse naquele momento de aproximação, que poderia resultar em um compromisso futuro. Tinha a certeza de que ele seria uma ótima companhia para um momento de espairecimento sem maiores consequências. Desejava conversar, e via no moço um ar de educação que a deixou tranquila.

Naquele tempo os rapazes eram muito cuidadosos ao se aproximar de uma jovem para tentarem namorar. Não seria, portanto, em um primeiro encontro que avançariam o sinal do equilíbrio. Estava tranquila.

O rapaz também se preparou convenientemente, não descuidando da roupa e do perfume que causariam boa impressão.

Na hora marcada, ele foi buscá-la em casa e ambos se dirigiram ao local do jantar. Durante todo o tempo, ele correspondeu às expectativas de D. Yvonne, com uma postura exemplar de educação e sem utilizar qualquer expressão vulgar. Era um verdadeiro cavalheiro. Por sua vez, a médium procurou demonstrar que se tratava de uma pessoa lúcida, simples e destituída de maiores ambições, apresentando-se sempre de forma muito reservada aonde quer que fosse.

A certa altura, o jantar se encerrou e os dois tomaram o caminho do cinema para darem curso à segunda etapa daquele momento de lazer ingênuo e respeitoso.

Quando estavam na porta do cinema, o rapaz comprou os ingressos e se dirigiu para a entrada da sala de projeção, seguido pela enamorada. Nesse exato momento apareceu o Espírito Charles e perguntou-lhe:

— Aonde pensas que vais?

— Vou assistir a um filme, meu irmão. Nada demais — respondeu ela.

— Tu tens certeza de que não há nada com que te preocupares?

— Claro que sim. Ele é um rapaz educado e gentil. Não irá tomar nenhuma atitude para me desrespeitar.

— Infelizmente a tua ingenuidade é imensa... Depois de ter oferecido um jantar tu não achas que ele irá cobrar-te o pagamento?

D. Yvonne ficou surpresa com a informação do amigo espiritual. Enquanto dialogava psiquicamente com Charles, o rapaz estranhou o fato de que ela não o seguiu, atravessando a porta para entrar na sala de projeção.

— Mas ele me pareceu ser um bom rapaz...

— Pois bem. Agora tu já sabes que as aparências enganam e que deves estar mais atenta às circunstâncias da vida. E mesmo que ele fosse uma pessoa bem intencionada, há muito tempo tu já conheces o teu caminho nesta existência física. Estamos aqui, os Espíritos que se comprometeram contigo para o trabalho da mediunidade, para a tarefa de aprimoramento e de renúncia que assumiste. Portanto, quero dizer-te que terás de escolher. Se tu fores com ele, nós não iremos contigo. O nosso compromisso de trabalho estará finalizado e aqui mesmo iremos despedir-nos.

Nesse momento o jovem, percebendo que havia algo estranho acontecendo, insistiu para que ela entrasse no cinema:

— Yvonne, você não vai entrar? — perguntou ansioso.

A nobre senhora, refletindo sobre as palavras de Charles, tomou a sua decisão:

— Fulano, infelizmente eu não poderei acompanhá-lo! Lembrei-me agora mesmo de que tenho uma costura para entregar a uma cliente linda hoje. Até logo!

Ao dizer isso, a médium saiu apressada, sem olhar para trás, deixando o rapaz sem entender o que aconteceu. E os dois nunca mais voltaram a ver-se.

De fato, D. Yvonne sentia a falta de um companheiro que alegrasse os seus dias. Mas o casamento não estava no seu programa reencarnatório. Ela necessitava transitar pelo mundo mantendo uma atitude de reflexão acerca dos valores da vida conjugai e da família.

Depois disso, nossa querida D. Yvonne mergulhou ainda mais no trabalho mediúnico, psicografando romances, participando de reuniões de desobsessão, consolando as pessoas e atuando no receituário mediúnico homeopático conduzido pelo Espírito Bezerra de Menezes.

A partir de certa época, ela entrou em contato com o idioma esperanto, a língua neutra internacional proposta pelo polonês Lázaro Luiz Zamenhof. Com isso, a médium pôde fazer muitos amigos dentro e fora do Movimento Espírita, especialmente entre estudiosos da Cortina de Ferro, como eram chamados os que viviam nas repúblicas soviéticas, que se unem pelo ideal de uma comunicação sem barreiras linguísticas e permeada pelo sentimento de fraternidade.

Um dos esperantistas com os quais ela se correspondia despertou-lhe um afeto especial. Era um homem mais jovem do que ela e que denotava ser portador de boa cultura, ao lado de um expressivo espírito de generosidade. A amizade entre ambos foi aos poucos estreitando-se e o rapaz também confessou-lhe sentir por ela uma ternura especial.

Numa época em que não havia internet, a correspondência era feita por cartas, que se tornavam cada vez mais frequentes. Até que em uma ocasião o jovem polonês escreveu-lhe confessando que a amava. Não sabia dizer como, porque os dois não se conheciam pessoalmente, mas sabia que, ao dialogarem através das correspondências, D. Yvonne parecia-lhe muito familiar. O mesmo sentimento era compartilhado por ela, o que lhe causava sofrimento por reconhecer que não poderia alimentar qualquer ilusão de um relacionamento próximo ou remoto. Contudo, aquela sensação de conhecer esse rapaz perturbava-a.

Vamos abrir um parêntese explicativo.

Durante toda a sua infância e parte da juventude, D. Yvonne registrava a presença de um Espírito que nutria por ela um grande amor. Ela o chamava Roberto de Canalejas, nome que possuíra na sua última reencarnação, quando nasceu na França e foi morar em Portugal, casando-se com ela. Esse Espírito era exatamente o marido a quem havia traído, gerando a consciência de culpa e o desespero que culminaram no suicídio doloroso a que me referi (116).

Depois de um largo período de convivência com a médium, esse Espírito afastou-se para reencarnar, e a jovem Yvonne nunca mais recebeu suas visitas, que lhe faziam muito bem ao coração.

Essa observação que inseri tem o objetivo de elucidar que o jovem esperantista com o qual D. Yvonne se correspondia era o seu marido do pretérito, que retornava ao corpo físico em terras distantes, o que não lhe permitia uma aproximação mais pronunciada do antigo afeto a quem não deveria vincular-se na atual existência, a benefício de ambos. Acontece que o sentimento costuma trair-nos, precipitando-nos em situações não programadas que podem comprometer os nossos melhores esforços de sublimação e de resgate.

Em decorrência da extensa comunicação mantida pelo casal do passado reencarnatório, o rapaz decidiu viajar ao Brasil para conhecê-la, infringindo as normas do planejamento existencial traçado e tentando reencontrar o seu antigo amor. D. Yvonne foi advertida por Charles, informando-a de que não poderia encontrá-lo, visto tratar-se precisamente do antigo esposo em nova roupagem corporal. D. Yvonne tentou sem sucesso dissuadir o amigo estrangeiro de realizar tal viagem ao estado do Rio de Janeiro para visitada, apresentando mil alegações como empecilhos que deveriam desestimulá-lo. Nada obstante, o jovem esperantista veio ao Brasil, procurando D. Yvonne no endereço que constava nas cartas recebidas.

Ao chegar à porta da casa da médium, ele foi recepcionado delicadamente por um membro da família, que já estava instruído a não permitir o seu acesso ao interior da residência. D. Yvonne foi tomada de choque emocional ao vê-lo na porta de entrada. O seu coração vibrava ao sabor de uma balada de ternura que ecoava em sua memória desde tempos remotos. Ela se escondeu de uma forma que poderia olhá-lo sem que ele a percebesse. Por fim, quando o rapaz foi informado de que a médium havia iniciado uma longa viagem sem data certa para retornar, ele baixou a cabeça, profundamente entristecido, agradeceu a recepção e se retirou do local, deixando naquela residência todas as esperanças de conhecer pessoalmente o seu grande amor.

D. Yvonne ficou com a alma despedaçada, mas conformou-se com as provações afetivas que teria que arrostar para se redimir dos equívocos praticados em nome da invigilância e do desrespeito aos sagrados laços de família.

O tempo transcorreu célere e, certo dia, a médium recebeu notícias da desencarnação do amigo e afeto distante.

A vida de solteira, a sede de ternura e a dedicação à causa do Bem foram-lhe um bálsamo que lhe permitiram recuperar-se do passado de sombras compactas nos caminhos do coração, para que ingressasse definitivamente em uma nova fase de conquistas libertadoras.

D. Yvonne do Amaral Pereira desencarnou no ano de 1984, deixando um legado composto por obras psicografadas da mais alta qualidade, incluindo o extraordinário livro Memórias de um Suicida. Além disso, o seu amor às pessoas simples e aos Espíritos em sofrimento dão testemunho de que o compromisso espiritual assumido por ela foi honrado com todos os méritos possíveis, transformando-a em uma personalidade veneranda e atribuindo-lhe a condição de autêntica cristã, que conseguiu o mediunato.

Certo dia, quando eu fazia uma palestra sobre a mediunidade e mencionava a vida de D. Yvonne, referindo-me à sua história secular ao lado de Roberto de Canalejas, os dois se apresentaram à minha visão mediúnica, portadores de rara beleza Espiritual. Uma emoção peculiar invadiu-me o coração ao vê-los juntos, porque a cena era verdadeiramente comovedora. Estavam de mãos dadas, mais apaixonados do que nunca e muito felizes por se unirem novamente, revivendo em seus corações os laços de amor que prosseguem estudantes além do tempo (117)...


Livro: Sexo e Consciência - capítulo 9
Organizado por Luis Fernando Lopes a partir de palestras de Divaldo P. Franco


19 março 2022

Alma e Pensamento - Martins Peralva


ALMA E PENSAMENTO

LE 89-a. - O pensamento não é a própria alma que se transporta?
R. - Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.


* * *

Nossas emoções, pensamentos e atos são elementos dinâmicos de indução. - Emmanuel

A força do pensamento, e sua conseqüente influenciação no próprio destino humano, constitui realidade que ninguém pode, nem deve ignorar.

Se a alma está no lugar onde projeta o pensamento, por maior seja a distância percorrida, ou a percorrer, evidentemente devemos sempre "pensar bem".

Pensar no bem, pelo bem e para o bem - nosso e de todos.

Pensar sempre no bem, a fim de que a nossa influenciação sobre os demais seja benéfica, salutar, construtiva.

O Espírito, elemento inteligente do Universo, pensa.

A Mente, "campo da consciência desperta", segundo Emmanuel, reflete.

O Corpo, "máquina divina", na feliz definição de André Luiz, executa, com o auxílio dos órgãos que lhe são peculiares.

"Cada Espírito - ensina Allan Kardec - é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados, sem que se fracione para tal efeito." Quando o pensamento, traduzindo, assim, atividade anímica, reveste expressões de alegria e bom ânimo, de entusiasmo e equilíbrio, semelhantes expressões se pro-jetam no Tempo e no Espaço e tomam o rumo da criatura em quem pensamos, alcançando-a, inevitavelmente.

Em sua tríplice composição, pode o homem ser comparado a um "farol", significando :

a) - A Energia luminosa que se expande, ou seja: Espírito que pensa, por sua condição de elemento inteligente do Universo ("O Livro dos Espíritos", cap. II, parte 1., questão n.° 23). É o ser responsável, que prestará contas à Lei, agora ou mais tarde, aqui ou em qualquer parte.

b) - A Mente que coordena, integra, concentra e dirige a energia do pensamento. Espelho que reflete a energia espiritual ("Campo da consciência desperta" - Emmanuel), a refletir a dinâmica do ser inteligente.

c) - O físico, a estrutura material de que é construído o "farol" e que serve de veículo de manifestação do espírito no plano material. É a parte destrutível, que se refaz, se recompõe tantas vezes quantas necessárias, até que o ser pensante dela não mais precise na obra que lhe cabe cumprir: o aperfeiçoamento moral e cultural ("Máquina divina" - André Luiz).

O Espírito, encarnado ou desencarnado, edificado no Bem, sintonizado com as lições cristãs, projeta sua luz, sua claridade por toda parte. A todos beneficia e serve, à maneira do farol que indica o rumo certo, em pleno oceano e por maior seja o negrume da noite, às embarcações que demandam portos longínquos.

A criatura atingida pelo nosso pensamento recebe o fruto mental por nós elaborado.

Assim sendo, ficamos sabendo que:

- pensamentos de otimismo geram bem-estar,

- pensamentos de esperança conduzem bom ânimo,

- pensamentos de fé são instrumentos, vitais, de fortalecimento e coragem, de estímulo e segurança,

- pensamentos de fraternidade se refletem, junto aos que amamos, am forma de inexplicável felicidade, de indefinível júbilo interior.

Costuma-se dizer que "o pensamento elimina distâncias", mas, quase sempre, quem o diz não compreende a intrínseca e científica realidade do enunciado.

Todavia, com o preceito espírita de que, "se o pensamento está em alguma parte, a Alma também aí está", o problema se esclarece, em definitivo.

O pensamento põe psiquicamente juntas duas criaturas, ou dois grupos de criaturas, unindo-as, intimamente, em simbiose que pode ser de natureza superior ou deprimente.

Emmanuel, cujos ensinamentos se afeiçoam, singularmente, à índole da Doutrina Espírita, tornando-se esse elevado instrutor, por isso mesmo, depositário não só do nosso carinho, mas, igualmente, do nosso integral respeito - Emmanuel, ao dizer, em judiciosa mensagem, que os pensamentos "são elementos dinâmicos de indução", amplia-nos a responsabilidade, no que toca ao simples "ato de pensar".

Responsabilidade que nos impõe uma conduta evan-gélica na emissão de pensamentos.

Responsabilidade que nos impõe não só o controle e a disciplina da atividade mental, mas, também, a criteriosa seleção dos pensamentos.

O nosso pensamento, expressando idealismo nobre ou desejo de rotina, pode levar tranqüilidade ou inquietação aos que partilham, conosco, a experiência evolutiva.

O bom pensamento - pensamento de amor e solidariedade, de elevação e pureza - influencia não só do ponto de vista psíquico, como do físico.

O mau pensamento - pensamento de ódio e rancor, de inveja e despeito - produz as mais desagradáveis impressões, em conseqüência de cargas magnéticas que o destinatário recolhe, sente, mas, via de regra, desconhece a procedência.

A mente que vibra maldosamente desfere petardos maléficos, forças deletérias, fenômeno que a grande maioria da humanidade ignora.

Desta maneira, para que nos seja possível exercer influência, benéfica ou maléfica, sobre os nossos semelhantes, não há necessidade, precípua, de estarmos fisicamente aproximados, nem, tampouco, de assestarmos, contra eles, instrumentos materiais de destruição e morte.

Recolhamos, pois, das claras fontes do Evangelho do Senhor, a cristalina água da fraternidade, pura e desinteressada, para que nos seja possível:

- saciar os famintos,

- dessedentar os sequiosos,

- reconfortar os tristes,

- erguer os que tombaram nos desfiladeiros do sofrimento, enviando a todos os caravaneiros da redenção com Jesus, mesmo a distância, nas luminosas asas do pensamento reto, os suprimentos da alegria.

Os fertilizantes do bem.

O adubo do amor cristão.

A suave melodia do otimismo e da esperança.

A nossa presença, mesmo através do pensamento, junto aos que palmilham, conosco, os roteiros aprimoratórios, deve ser uma presença sadia e alegre, edificante e fraterna.

Isso depende, essencialmente, de cada um de nós. O meio é a seleção, criteriosa, dos nossos pensamentos. O coadjuvante, valioso e indispensável, é a nossa boa-vontade.

A boa-vontade que persevera até o fim.

Martins Peralva
Livro: O Pensamento de Emmanuel - 2


18 março 2022

Por trás do ‘cancelamento’ nas redes sociais - David Monducci


POR TRÁS DO 'CANCELAMENTO' NAS REDES SOCIAIS

Vivemos uma época muito conturbada de esgarçamento dos valores morais e de padrões comportamentais estabelecidos, em função de mudanças sociais rápidas.

Nesse cenário, de alguma forma caótico, presenciamos um ‘apagar’ dos limites entre o certo e o errado, o bem e o mal, o normal e o anormal, o lícito e o conveniente (1 Co 10:23). Simultaneamente, vivemos o período da imposição do politicamente correto e da pós-verdade, representada por declarações pessoais, com forte apelo emocional e apoiada exclusivamente em um conjunto de crenças, impostas no grito e na força, como uma suposta verdade alternativa para influenciar a opinião pública e o comportamento social. Isso tudo cria um pano de fundo desafiador, no qual os indivíduos ou grupos que não se amoldam a um determinado perfil ou modelo, são vistos como nocivos e perniciosos, e por isso, passíveis de serem desprezados, excluídos e cancelados.

Em cenários complicados assim, de tantos ‘cancelamentos’, fica evidente a falta de tolerância dos que se enrijecem em torno de um discurso e de ideias naturalmente falíveis, agindo de modo a cancelar, ou eliminar, as vozes dissonantes, erroneamente imaginando que silenciando os mensageiros podem cancelar as ideias.

A visão espírita

O livro dos espíritos (782 e 783) traz uma interessante explicação sobre essa questão. Kardec pergunta se não há homens que de boa-fé entravam o progresso, acreditando favorecê-lo porque o veem segundo seu ponto de vista. “Assemelham-se a pequeninas pedras que, colocadas debaixo da roda de um grande carro, não o impedem de avançar”, respondem os Espíritos, complementando logo a seguir, sobre a marcha progressiva e lenta do aperfeiçoamento da humanidade, que “há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma”.

Allan Kardec comenta ainda que “o homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se esclarece pela força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas ideias pouco a pouco, dormitam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações. Nessas comoções, o homem muitas vezes não percebe senão a desordem e a confusão momentâneas que o ferem nos seus interesses materiais. Aquele, porém, que eleva o pensamento acima da sua própria personalidade admira os desígnios da Providência, que do mal faz sair o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido”.

Distúrbio mental, emocional?

A dominação da organização psíquica por uma única ideia ou associação mental, configurando um estado prolongado de monoideísmo (ideia fixa), pode ser incluído como um sintoma em alguns transtornos psicológicos. Isso, se pensarmos em um distúrbio como aquilo que atrapalha ou perturba alguma coisa. Se pretendermos, porém, uma interpretação biológica, equiparando com uma enfermidade orgânica, não.

Segundo a doutrina espírita, é plausível argumentar que quando o psiquismo se acha fixamente dominado por uma ideia, ele cria as condições para o desenvolvimento de um quadro obsessivo autoinduzido, cenário que foi muito bem representado recentemente no desenho animado Soul (Pixar, 2020).

Por si só, o radicalismo e a intolerância por mais nefastos que possam ser, não configuram um estado doentio. Mas é interessante termos em mente a possibilidade de um distúrbio social como nos resultados do experimento social da “Terceira Onda”, conduzido pelo professor de história americano Ron Jones, em 1967, e transformado no filme alemão A onda de 2008. A experiência de Jones evidenciou como a diversidade e a pluralidade de ideias e visões enriquecem o mundo, a vida das pessoas e os contextos sociais. A história é farta de registros de épocas e contextos sociais nos quais as divergências de ideias e comportamentos foram suprimidas em nome de uma (pseudo) uniformidade.

Os contrários da vida

Os intolerantes não percebem que suas próprias vidas ficam pobres, monocromáticas, enfadonhas e monótonas quando cancelam os que pensam diferente.

A vida pode ser comparada com os brinquedos em um parque infantil. Quer na gangorra ou no balanço o que se tem é uma alternância entre pontos divergentes e opostos, para frente x para trás, em cima x embaixo, mocinho x bandido, quem pega x quem esconde. Se suprimimos um dos lados, a brincadeira acaba e só resta o tédio, o vazio de um espaço não preenchido.

Toda necessidade advém de uma ausência, carência ou insuficiência. No esforço de tentarmos preencher um vazio, buscamos alguma coisa que nos dê motivo e uma razão significativa para nos movermos. A percepção, mais ou menos consciente, de uma sensação de vazio existencial pode funcionar como a força motriz que leva os indivíduos a se identificarem com uma ideia ou grupo que lhes dê significado de vida ou que os acolha. O fato de nos identificarmos com um grupo ou um sistema de ideias propicia-nos o sentimento de pertencer a algo maior e mais importante do que a nós mesmos.

O prazer pelo mal Freud propôs uma teoria sobre o funcionamento da energia psíquica que se mostra suscetível a aumentos, diminuições e equivalência, de modo que poderíamos falar em prazer, sofrimento e substituição. Para evitarmos a angústia e o sofrimento do vazio existencial, quando não temos uma vida repleta de amor e ternura, buscamos algum tipo de prazer ao pertencermos a um grupo ou a um movimento mesmo que ele gere algum ônus. Uma metáfora famosa pode ser vista no conto de Claude Steiner Uma história de carícias com a paródia entre carinhos quentes e espinhos frios.

Numa visão simplista, podemos interpretar o prazer pelo mal, segundo a teoria freudiana da economia psíquica, pleiteando alcançar um estado de prazer pessoal ou coletivo impondo uma dor ou castigo ao outro. Seriam os traços de personalidade sádica descritos na literatura.

Para melhor lidarmos com esses desafios é preciso buscar a serenidade, o equilíbrio e algum distanciamento. Serenidade para não nos deixarmos envolver em um torvelinho de emoções e paixões que impeçam uma visão clara e lúcida do momento e dos movimentos da sociedade na qual estamos inseridos (Jo 17: 15-23). Equilíbrio para discernir o bem do mal, a verdade da impostura, o certo do errado, a luz das trevas, a essência da aparência, o eterno do passageiro (Mt 10: 16-23). Distanciamento na higiene mental que permite ir até os ímpios sem se fazer como eles (Mt 16: 6).

David Monducci*
Fonte: Correio News
 
*David Monducci é neurocirurgião, mestre em filosofia e autor do livro Saúde e Vida, uma abordagem espiritual sobre emoções e doenças, Correio Fraterno, 2016.