O companheirismo fortalece-se através da vitalidade do amor.
Nem sempre transcorrerá em clima de total identidade de propósitos e de sentimentos, como é natural, pois se trata de duas ou mais pessoas outras envolvidas na afetividade, no relacionamento fraternal. Por extensão, na convivência a dois, quando os interesses se apresentam ricos de esperanças, mas o comportamento é descuidado, sem arquivos de maturidade psicológica, desfaz-se, por falta de estrutura e de profundidade.
Pensa-se que a finalidade do companheirismo é fugir-se ao tédio, à solidão, e nunca se procura nele identificar o significado do amor, os benefícios dele defluentes, as satisfações da convivência e da amizade.
Pessoas que se sentem solitárias buscam relações com o propósito de fugir do desconforto que as assalta, porque isoladas, sem campo emocional para expressar os seus estados interiores. Não obstante, pareça justa a busca, não alcança o objetivo, por tratar-se de uma fuga e não de uma realidade.
Quem assim procede, pensa apenas em receber, em vencer os conflitos, apagar os ressentimentos íntimos que guarda contra si mesmo, terminando por transferi-los para aqueles com os quais pretende identificar-se.
Somente um trabalho de autodescoberta facilita a comunicação com os demais indivíduos, porquanto, ao serem identificados os traumas e as inquietações, as ansiedades e os desejos, não os transfere para os outros, procurando vencê-los em si mesmo antes que lutar contra, projetando-os como imagens detestáveis que são vistas nas pessoas a quem procura amar.
Quando se está carente de afeto e se deseja relacionamentos amorosos, o romantismo toma conta da imaginação e estabelecem-se normas de afetividade, nas quais o outro deve preencher as lacunas internas e os vazios existenciais.
Formulam-se programas de convivência exterior, como os passeios, divertimentos, refeições em restaurantes e lugares paradisíacos, teatros e cinemas, dando campo às emoções que logo passam, trazendo de volta a mesma insegurança, insatisfação e tédio...
Somente quando se é capaz de vencer os distúrbios íntimos e os auto-ressentimentos, é que se pode amar e buscar relacionamentos que estejam liberados de projeções perturbadoras e de fáceis atritos desgastantes.
É comum descobrir-se pequenas coisas que são detestáveis, quando praticadas pelo ser com quem se relaciona ou a quem se afeiçoa. Não obstante, essa repulsa decorre de intolerância interior a atitudes semelhantes que a pessoa mantém e não se dá conta de como procede.
Ao combater aquilo que lhe é desagradável no outro, está-se descobrindo, inconscientemente, a respeito de comportamentos iguais que vivencia e que, certamente, incomodam também ao companheiro que os silencia.
Joanna de Angelis / Divaldo Franco
Garimpo e Amor
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