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24 janeiro 2010

Nuvens que Passam - Raul Teixeira

Nuvens que Passam

É impossível alguém viver na Terra sem ter problemas.

Este é um planeta de problemas. Não precisamos muito para ouvir a voz do Sublime Pastor quando disse: No mundo só tereis aflições.

Não podemos discutir a veracidade das coisas ditas por Jesus de Nazaré. Ele sabia muito bem quem somos nós e a necessidade que todos temos de estar neste planeta, no planeta Terra.

No mundo só tereis aflições. De nenhuma maneira Ele nos disse que o fato de termos aflições no mundo implicaria em afligirmos os outros. De jeito nenhum.

Tudo na Terra tem um significado de aflição. Quase tudo, no mundo, é profundamente afligente.
Sentimos aflições por não saber das coisas. Aflige-se a mãe grávida, a mulher grávida por não saber se o seu bebê vai nascer sadio, vai nascer com problemas.

Aflige-se a pessoa que está no ponto de ônibus na hora do trabalho e passa o primeiro ônibus cheio, o segundo cheio. A hora está passando e a criatura se aflige.

Aflige-se o vestibulando que estuda loucamente, mas não tem a mínima ideia de como serão as provas, o que cairá nas provas.

Aflige-se a pessoa diante do que vai comer: Será que isto me fará mal? Será que isto me fará bem? Será que eu posso comer isto? Será que isto engorda? Será que...?

As várias aflições do mundo, em todos os níveis. Se um dos nossos familiares que está na rua, que está trabalhando e que costuma chegar em determinado horário não chega, lá está a aflição a tomar conta de nós: O que houve? O que aconteceu? O que terá havido?

E começamos a telefonar, a ligar, a saber, a buscar... As aflições.

Todos esses fenômenos têm níveis, níveis menores, níveis maiores. Todos na Terra sofremos muitos reveses.

O desemprego, por exemplo. Que tormento, que falta de chão sentimos quando nos falta o trabalho profissional, quando não temos onde ganhar o pão diário.

A enfermidade, as doenças que invadem nossa casa, nos acometem, acometem os nossos familiares. Gastamos dinheiro, gastamos recursos emocionais, sentimentais, na busca da solução para o problema da cura, da medicação, do tratamento.

O luto, a aflição do luto, a dor do luto. Quando vemos algum dos nossos partir para o mais Além, algum amigo, alguma pessoa querida, tudo isso faz parte do que poderíamos dizer que são nuvens pesadas que se ajustam, que estacionam sobre as nossas vidas.

É como se, a qualquer momento, essas nuvens fossem desabar convertidas em tempestade.

É verdade, todas essas experiências se assemelham a nuvens que passam. Todas elas tomarão rumo novo, todas partirão diante dos ventos de uma nova realidade, diante dos ares de uma nova espera.

Nenhum desespero diante dessas nuvens densas. Nós, na Terra, estamos aqui exatamente para isso: aprender a driblar situações difíceis, aprender a superar desafios, aprender a ganhar experiências positivas, experiências do bem, aprender a nos aproximar do Reino do Senhor, esse Reino dos Céus que se encontra em nossa intimidade, esse Reino dos Céus que está dentro de nós.

Por isso, diante dessas nuvens pesadas que toldam volta e meia os céus de nossa existência, cabe uma postura de serenidade.

Não é fácil, não é simples, mas não temos outra alternativa diante dos reveses, diante das aflições, senão a tranquilidade, asserenar-nos tanto quanto nos seja possível, fazendo-nos sempre esta mesma pergunta: Se eu me desesperar, se eu me desarticular, resolverei alguma coisa?

A resposta será negativa. E, se eu não resolver nada perdendo as estribeiras, perdendo-me no meio dos problemas, melhor guardar harmonia em mim e esperar por Deus.

* * *

Na medida em que buscamos essa harmonia e entregamos nossa vida nas mãos de Deus, todas as coisas vão se encaminhando.

Essas nuvens que passam sobre nossas existências podem provocar muito pavor, muito medo, muita insegurança, fazendo com que muita gente admita o azar sobre sua vida.

Há pessoas que se imaginam dotadas de uma falta de sorte, dos azares da sorte, quando em realidade não estamos expostos aos azares. As coisas nos acontecem, em razão da escala de nossos méritos, de nossos deméritos, dos erros e acertos que tenhamos perpetrado em dias longínquos ou próximos de nossa existência espiritual.

Por isso, é importante verificar que as frustrações, os conflitos que chegam às nossas vidas também são nuvens que passam.

Se olharmos um ano atrás: o parente doente, o filho doente, nossa própria enfermidade e, quando nos damos conta, estamos aqui, lépidos, fagueiros, sorridentes, trabalhando, alegres. Tudo aquilo se foi. Tudo aquilo já passou.

Há um caso muito interessante que ouvi da voz do nosso saudoso médium Chico Xavier, conhecido mundialmente por seus livros, mais de quatrocentos livros publicados, centenas e centenas de entidades espirituais escreveram por seu intermédio. Pois bem, Chico Xavier vivia, conta ele, um momento muito difícil em sua existência, imaginando-se diante de um processo expiatório bastante severo e, no momento que seu anjo guardião lhe apareceu, se lhe mostrou, o Espírito Emmanuel, seu guia espiritual, ele, no meio daquela aflição toda que o desgastava, propôs a Emmanuel:
Meu irmão, quando houver uma oportunidade que o senhor encontre com a mãe do nosso Mestre Jesus, peça a ela uma orientação para mim. Estou atravessando essa hora aziaga de minha vida e, certamente, uma mensagem de Maria me ajudaria a superar esse transe. E era tão honesta, era tão sincera a dor de Chico, que seu benfeitor espiritual disse que iria providenciar.

Na primeira oportunidade em que estivesse em contato com a mãe do Nazareno, pediria a ela uma orientação para a sua vida. Dias depois, narra Chico Xavier, o Espírito Emmanuel lhe apareceu e lhe disse:
Chico, a mãe do nosso Mestre manda-lhe uma mensagem. E o nosso Chico Xavier, de saudosa memória, tomou papel, lápis para anotar a mensagem que lhe vinha de parte de Maria de Nazaré: Pode dizer, meu irmão.

E o Espírito Emmanuel ditou para ele: Isto também passará.

E Chico ficou esperando a continuidade da mensagem. Mas a mensagem era isto, a afirmativa de que todas as nuvens passam. Isto também passará.

Curioso é que, quando conversávamos com Chico Xavier, ele nos chamou a atenção para um fenômeno de linguagem muito interessante e para um entendimento muito próprio para a questão.

Quando ele leu demorada e várias vezes aquela frase, chegada para ele da parte da mãe do Mestre, se deu conta da veracidade dela porque tudo no mundo passa. Este é o mundo das impermanências e se passam os momentos de tristeza, de dor, de amargura, também passam os momentos de folguedos, de festa e de alegrias.

Tudo passa porque este é um mundo de passagem. Estamos aqui, en passant, estamos aqui momentaneamente, porque o reino de Cristo ainda não é deste mundo e, nós, conforme Suas próprias palavras, somos ovelhas do Seu rebanho.

Desse modo, não somos daqui, estamos de passagem pela Terra. Todas as coisas que hoje nos causam sofrimento, amargura, dor, luto, pranto passarão se nós soubermos esperar os ventos da Providência Divina, os ventos da Sublime Misericórdia, com firmeza e trabalho, com boa vontade e perseverança, colocando-nos, por nossa vez, sob o Amor e a Justiça de Deus.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 156, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 18.10.2009.

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