Vida Religiosa
Afinal de contas, o que que é religião?
A partir do momento que entendemos o sentido de religião, as coisas passam a ter um sentido mais específico para nós.
Religião é religamento, religar, reunir a alma ao seu Criador. Esse é o sentido de religião, que vem do latim religare.
Se estamos falando de religar, isso significa que em algum momento nós nos desligamos da Providência Divina, das Leis de Deus, do contato com o nosso Criador.
A vida religiosa decorre desse sentimento religioso.
As criaturas não são religiosas porque frequentam um templo religioso, não são religiosas porque tenham um rótulo de religião, tampouco porque tenham ou pratiquem esse ou aquele ritual no campo da crença.
Os indivíduos são religiosos pelo estilo de vida que levam na Terra.
É muito importante verificar como é a nossa vida religiosa.
Será que a nossa vida religiosa se restringe a ir ao nosso templo uma vez na semana, duas vezes na semana e cumprir a ritualística daquela crença institucionalizada?
Será que a nossa religião nos leva a vivenciar no dia a dia, no cotidiano, as coisas mais importantes para a nossa vida na Terra?
Essa vivência não pode ser num momento, num dia, durante um culto, durante uma atividade ou encenação.
A vivência religiosa é um modus operandi, é uma maneira de se operar durante a vida. A vivência religiosa é um modo de ser diante da existência.
Por isso é muito séria essa questão da vivência da nossa religião. Encontramos muitas criaturas que, apesar de frequentarem seus templos os mais variados, na sociedade levam uma vida espúria. São pessoas de índole má, intrigantes, promíscuas moralmente. São pessoas maliciosas, maledicentes, vulgarmente chamadas de fofoqueiras. Essa não pode ser uma vivência religiosa.
Aqueles que são invejosos, orgulhosos, prepotentes, presunçosos, donos da verdade - essa não será uma vivência religiosa.
Os indivíduos preconceituosos, aqueles que admitem que a verdade esteja somente na sua igreja, no livro que elas leem, no culto que elas fazem - essa não é uma vivência religiosa.
A vivência religiosa nos leva à libertação e nunca à escravização.
Para que tenhamos uma vivência digna em termos de religiosidade, é importante que essa religiosidade não seja um adereço, um enfeite que a gente leva dependurado na vida. Deve ser um sentimento interno que nos vincula ao nosso Pai Criador.
Cada qual de nós, na sua atividade cotidiana, precisará desenvolver a sua vivência religiosa.
E encontramos muita gente vivendo de maneira religiosa, sem que frequente nenhuma igreja.
Existem indivíduos que se afirmam materialistas, outros se dizem ateístas, mas vivem com determinada dignidade, numa linha de respeito ao semelhante, de amor ao próximo, de respeito às leis que, certamente, poderíamos garantir que eles têm uma vida religiosa de alto nível.
São materialistas mas não usurpam nada de ninguém. São incapazes de tripudiar sobre a ignorância ou a necessidade alheia.
Por isso, quando falamos em vivência religiosa, afirmamos que nada tem a ver com o ritual externo que chamamos de crença.
Essa vivência, para ser realmente religiosa, tem que se desenvolver de tal modo que nos leve ao recolocamento junto ao Criador, que nos conduza à religação com Deus, à ligação de novo com o Criador.
Ao longo das nossas experiências humanas, ao largo de nossas quedas e dos nossos levantares, muitas vezes cometemos equívocos, erros, delitos que nos afastam dessa visão da Divindade. A vivência religiosa nos aproxima Dela.
* * *
A vivência religiosa deve nos levar à maturidade.
Qualquer religião deve ter por escopo, por objetivo transformar os seus fiéis, os seus adeptos em pessoas amadurecidas.
Não há nenhum sentido em nos apresentarmos como pessoas religiosas dentro de uma faixa de imaturidade, de infantilidade, imaginando que Deus exista somente para nós, que Ele terá que fazer as coisas como nós queremos e não à Sua vontade, na Terra como nos Céus, de acordo com a oração dominical.
A vivência religiosa exige de nós reflexão e essa reflexão vai também nos ajudando no processo do amadurecimento a fim de que sejamos, na condição de religiosos, pessoas alegres.
Alegria não significa viver sorrindo o tempo todo.
Muitas pessoas sorriem demais porque têm distúrbios emocionais. A alegria é esse estado íntimo de saber-se representante do bem, de admitir que está fazendo aquilo para o que renasceu, cumprindo a vontade de Deus no mundo.
Cada vez que saímos de casa para trabalhar com saúde, com disposição, com coragem, isso é motivo de alegria.
Quando levantamos pela manhã e beijamos nossos filhos, nos despedimos dos esposos, isso é motivo de alegria.
Quando ligamos o nosso carro, quando apanhamos o ônibus, o trem, o que for, pagando a nossa passagem, tendo recursos para isso, é motivo de alegria.
A vida religiosa deixa de ser a vida do templo e passa a ser a vida na vida, a nossa incorporação às Leis de Deus, nosso ajustamento à vida da sociedade, cumprindo as leis, cumprindo os nossos deveres, pagando nossos impostos, reclamando das coisas quando devidamente justa a reclamação, mas dando a nossa contribuição à vida, às coisas, na certeza de que a religião existe para nos ensinar a viver no mundo.
Nenhuma religião existe para nos ensinar a viver na vida espiritual.
Quando chegarmos lá, estaremos em um outro contexto para o qual nossos anjos guardiães, os guias espirituais nos nortearão.
A nossa vivência na Terra, esta sim é um desafio e a vivência religiosa nos leva a ser pessoas dinâmicas, joviais, mas compenetradas na nossa alegria, no nosso esporte, nosso lazer, nossa arte, aqueles que gostamos de cantar, de sorrir, de brincar, de fazer piadas. Tudo isso faz parte da vida.
Mas temos que saber que a nossa arte, nosso canto, nossa piada, nossa mensagem vão alcançar outros corações, vão fermentar em outras almas, vão germinar em outros territórios emocionais.
Então temos responsabilidades com tudo quanto dizemos, fazemos, brincamos, sorrimos. Com tudo quanto cantamos, com tudo quanto gozamos.
A vida religiosa é muito mais do que vivermos diante de estátuas, de símbolos, de imagens, de livros. É muito mais do que isto.
A vida religiosa é esse mundo interno que abrimos para o mundo externo.
Quando Jesus Cristo estabeleceu que a boca fala daquilo que está cheio o coração, Ele tinha razão.
Quando abrimos a alma e nos expomos, estamos expondo aquilo que carregamos por dentro.
As pessoas do bem, seja o que for que elas façam, expõem o bem que carregam por dentro.
As pessoas do mal, qualquer que seja a sua atividade, apresentam o mal que carregam por dentro.
Daí a vivência religiosa nos chamar a atenção, nesses dias de tanto materialismo, de tanto ateísmo, de tanta descrença em Deus por parte dos religiosos.
São religiosos que estão fazendo guerras, são religiosos que estão fazendo aborto, são religiosos que estão matando e se suicidando, são religiosos que estão mentindo, prestando falso testemunho, vendendo a consciência. São religiosos, lamentavelmente.
Mas são religiosos da boca para fora. Não podem ser aqueles que têm o sentimento da religião na alma porque este sentimento de religiosidade nos faz fugir do religiosismo e ter em Deus a Fonte primária da vida, a Inteligência Suprema do Universo e, gradativamente, nos faz sentir-nos irmãos uns dos outros, trabalhando aquilo que precisamos trabalhar e sendo felizes, enquanto preparamos o mundo melhor de amanhã.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 167, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em setembro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 09.08.2009.
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