É muito comum o desenvolvimento de temas enfocando a louvável preocupação a respeito dos deveres dos pais com relação aos filhos, no núcleo familiar. Sem sombra de dúvida, seria inaceitável a indiferença a tão importante e oportuno assunto. Porém, considerando a família, como instituição social na qual se reúnem espíritos encarnados de variados níveis evolutivos, credores e devedores uns dos outros, rumo à perfeição, não podemos olvidar o regime de reciprocidade de deveres entre os mesmos.
Se, é verdade que aos pais compete o dever de amar, proteger, assistir e educar o filho para a vida, não é menos verdade que aos filhos cabe o dever de amar, respeitar e assistir os pais em suas necessidades; principalmente na velhice, quando peso da idade os torna dependentes. É importante lembrar, que o cumprimento desse dever, independe de como os pais se comportaram, se cumpriram ou não seus deveres. Isso não deve interferir no dever dos filhos; a oportunidade reencarnatória, da qual os pais se fizeram instrumentos, já é suficiente para que os filhos lhes sejam gratos.
Cometeriam grave erro, os filhos que se acomodassem ao simples dever da assistência material, embora reconhecedores que somos de sua importância. Porém, é importante ressaltarmos, que toda criatura necessita muito mais do que este tipo de assistência.
Lembramos que em uma das visitas costumeiras a um ancianato, ouvimos de uma interna o comentário: “aqui eu tenho apartamento com televisão e uma pessoa para cuidar de mim. Mas o que eu queria mesmo, era estar ao lado do meu filho. Hoje (era um sábado), ele deve estar passeando com os filhos e a esposa. Sinto muita saudade dele”. Este comentário revela, que a necessidade maior é a da presença, do carinho e da atenção.
A ingratidão dos filhos para os pais, principalmente, quando estes se encontram em idade provecta, é a maior prova da insensibilidade de algumas criaturas; reflexo do utilitarismo, que domina a sociedade contemporânea. Na antiguidade algumas sociedades, mantinham em seu seio, grupos formados por anciões, os quais, eram respeitados, e pela experiência de que eram portadores, tornavam-se conselheiros para as decisões mais importantes.
Hoje, a inversão de valores se fez patente - o mais importante não é ‘ser’ (ser experiente, ser honesto, ser justo, etc.), mas, sim, ‘ter’ (mesmo que seja apenas, a astúcia para conseguir de forma desonesta), causando abandono e solidão àqueles que não são mais produtivos. Essa é uma triste realidade, que precisa ser mudada.
Desconhecer a importância daqueles que no passado, limparam e araram a terra, plantaram as sementes e cuidaram, para que se tornassem árvores
frondosas e frutíferas de cujas sombras e frutos hoje nos servimos, é a manifestação cruel do egoísmo, em forma de ingratidão.
Nós como filhos, que inúmeras vezes, idealizamos grandes projetos
humanitários, não podemos esquecer, que se ainda não aprendemos a abrir os corações para amar os nossos pais, jamais conseguiremos amar à humanidade.
Respeitar pai e mãe conforme prescrito em os dez mandamentos, é assisti-los em todos os aspectos; não deveria representar para os filhos um sacrifício, mas, sim, um prazer – o prazer de retribuir a dedicação e o carinho, recebidos na infância.
Portanto, aos filhos hoje, compete o legítimo exercício da caridade e da gratidão, sem esquecer que da vida apenas recebemos o que damos. Quem semeia indiferença, candidata-se à solidão!
F.Altamar da Cunha - Publicado no jornal O Clarim - Março/2008
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