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26 janeiro 2011

A Imprensa - Raul Teixeira

A Imprensa

Todas as formas de reprodução, em larga escala, de textos escritos é chamada imprensa.

A partir daí, todos esses movimentos que têm havido, ao longo da História do homem, desde quando o homem começou a escrever suas ideias, seus pensamentos, nas lajes de pedra, no solo, onde quer que tenha sido, passamos a ter a existência de um veículo de comunicação.

É muito importante que uma geração legue a outras a sua produção, a sua cultura, tudo aquilo que aprendeu.

É muito importante que as gerações novas prestem atenção no legado que lhes foi deixado pelas gerações anteriores. A imprensa se presta a isso.

É dessa forma que achamos nos livros, nos opúsculos, nas revistas, nos textos mais variados, a presença do passado investindo no nosso presente.

A imprensa é profundamente importante para a Humanidade. Desde quando passamos a sentir necessidade de saber das coisas, que se sucedem aqui, ali, acolá, lançamos mão da imprensa.

A imprensa tem ajudado nesse grande movimento de alfabetização das criaturas. Seria muito complicado alfabetizar hoje, bilhões e bilhões de almas mundo afora, através da tradição oral, pertencente a muitos povos antigos.

Hoje, graças ao trabalho da imprensa, esse labor de alfabetizar se torna mais fácil.

Mas a imprensa também colaborou bastante, no movimento da democracia, para esse tipo de governança, esse filosofar social, esse sistema de dirigir comunidades, de dirigir o Estado, a cidade-estado grega. Naturalmente se deve à imprensa da época.

Os textos dos grandes democratas apresentados às comunidades e o povo podendo conhecer direitos, deveres, saber quem era nobre, quem era ignóbil, isso tudo vem colaborando para distender no mundo a democracia.

E o que falar das revoluções científicas?

Tudo quanto os cientistas vão adquirindo em conhecimento, vão desenvolvendo na sua lavra de pesquisas, é a imprensa que divulga.

Hoje, conhecemos jornalistas científicos, aqueles que acompanham o trabalho dos cientistas nos laboratórios e tratam de difundi-los para as comunidades. Isso se deve à imprensa.

Mas, curiosamente, temos observado um fenômeno preocupante: a incapacidade de muitos, que fazem imprensa, de divulgar coisas boas.

Será que, sob a justificativa de que a imprensa busca sempre atender ao interesse popular, e isto é verdade, deve procurar atendê-lo, essa comunidade necessita somente de notícias drásticas, de coisas negativas?

Impossível é pensar que não existam notícias boas para os jornais, para as revistas. Coisas boas para a publicação em livros.

Por que esse compromisso nefasto de grandes grupos da imprensa em divulgar somente o negativo?

Quem estaria lucrando com isto? A sociedade não é.

Quem estaria ganhando com esse movimento pessimista que se alastra pela sociedade, a partir de uma imprensa mal forjada?

Ficamos pensando no trabalho que tiveram os homens, desde o começo da civilização, para estruturar uma sistemática que ganhou grande pulso depois de Johannes Gutenberg, com os seus tipos móveis montados, ao invés das pessoas escreverem manualmente os textos.

Tudo isso ganhou dimensão com os novos trabalhos gráficos, com os novos maquinários gráficos. Mas, por que razão a criatura humana penetrou esse descaminho do negativismo?

Qualquer notícia que lemos tem a sua negatividade, traz o escândalo na sua pauta.

Será que é isto que a sociedade do mundo espera da imprensa?

Será que a imprensa não tem mais possibilidades de trazer esperanças às criaturas? Orientá-las? Elucidificá-las?

Quando pensamos em tudo isso, temos que refletir que está chegado o momento de refundirmos todo o trabalho da nova imprensa.

* * *

O interesse popular é pelo bem. Qual é a criatura, qual é a família que gostaria de ler somente tragédias, desastres, infortúnios, infelicidades ao compulsar as páginas de um jornal?

Quem é que gostaria de saber só de escândalos da vida alheia, as intrigas da intimidade dos casais famosos, ao compulsar uma revista?

Quem é que gostaria de ter, nas páginas de um livro, senão aquilo que deleitasse, que ilustrasse, ainda que se narrasse um crime, um desastre passional, mas que fosse para o engrandecimento da vida, para trazer uma mensagem nova?

Todos gostariam. De modo que, quando vemos a imprensa servindo de veículo, exatamente para fazer o oposto daquilo que é a sua missão, informar devidamente, preocupamo-nos com o futuro das comunicações.

Vale a pena pensar nos textos que encontramos redigidos pelos Apóstolos de Jesus, pelos discípulos.

É claro que eles falavam das traições, dos crimes da época, das tragédias sociais. Mas, fundamentalmente, tudo aquilo era para falar da vida, que esplende em toda parte. Da vida que nos concita a amá-la, a respeitá-la, a valorizá-la.

Deveria ser esse o papel da imprensa: divulgar aquilo que é de interesse social, sem qualquer dúvida. Mas o interesse social superior.

Não há nenhum interesse para a sociedade, em tomarmos conhecimento de que, neste exato momento, caiu um ônibus em tal lugar, explodiu um automóvel em outro lugar ou desabou um prédio em qualquer parte do mundo. Há tanta coisa boa para se noticiar.

Lamentavelmente, é raro lermos a respeito de jovens pobres das favelas, que aprenderam a cartilha, a tabuada, que fizeram vestibulares e foram aprovados, que dançam ballet, que foram contratados por empresas internacionais para dançar, para cantar.

E isso diz respeito ao interesse social. Cada criatura pobre, cada menino simples entenderia que, se aquele pôde se superar, ele também poderá. E isso seria incentivo.

Quando vemos a nossa imprensa, em grandes contingentes, preocupada e ocupada tão somente em divulgar o escândalo, é natural refletirmos que também ela estará incentivando as almas frágeis, aos Espíritos débeis, que procurarão, através dos escândalos, um lugar na imprensa.

É por isso que nos lembramos de uma canção, de uma letra de Chico Buarque de Holanda: Meu guri. Ele retrata exatamente isto: ele disse que chegava lá, porque ele via os meninos da favela onde ele vivia, os meninos do morro, do bairro pobre, conseguindo as coisas às custas do roubo, da falcatrua, da criminalidade.

E o poeta popular narra, com riqueza, o que é que vai na alma de um guri que cresce vendo aquilo na imprensa, nos jornais, sem falarmos naquilo que ele vivencia no seu habitat.

Seria tão bom se a imprensa do mundo inteiro se associasse aos interesses do nosso Criador. Trazer luz para as mentes e para os corações.

Ninguém está dizendo que a imprensa não deveria noticiar o crime, a falcatrua, a barbaria. Mas não como algo fundamental. Noticiar en passant para chamar a atenção, não focar a sua venda, a venda de seus produtos no que há de pior.

Ao abrirmos uma revista, um jornal, um periódico qualquer o que encontramos ali é costumeiramente nauseante.

A pornografia, a prostituição, a corrupção política, a corrupção de toda ordem, como se não houvessem outros valores que tivéssemos necessidade de conhecer.

Há tanta gente boa no mundo, há tanta coisa boa na Terra precisando desses spotligths da imprensa. Precisando dessas anotações da imprensa, que jornalistas sensíveis ao progresso do mundo, que periodistas sensíveis à necessidade social de crescer, de se libertar da sombra, não perdessem de vista que, nesses tempos curiosos da Terra, nesses tempos danados do mundo, nessa hora bicuda da Humanidade, todos sentimos necessidade de uma imprensa que sirva o bem, que trabalhe para a luz e nos ajude a crescer.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 197, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em agosto de 2009

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