O FIM DO MUNDO ESTÁ PRÓXIMO!!!
O dogma o juízo final é aceito de forma automática nas sociedades ocidentais. Isso torna os membros destas sociedades extremamente suscetíveis ao proselitismo de profetas apocalípticos, que conquistam fiéis com as mais antigas, e ainda eficientes, técnicas de terrorismo moral, aquelas que se apoiam no mito do castigo eterno.
Quando os textos sagrados judaico-cristãos referem-se ao Juízo Final não deixam clara toda a sistemática envolvida no complexo processo judicial em questão. As interpretações convencionais propõem um julgamento coletivo e simultâneo no final dos tempos, só assim oargumento do medo é eficiente.
Se esse "Juízo Final" fosse, na realidade, referente ao balanço entre méritos e deméritos que nossa consciência, em constante progresso, faz ao findar de cada fase da existência do espírito imortal e eterno, seria um evento frequente, pessoal e produtivo.
Esta é a forma de interpretação que aos espíritas se mostra lógica, mais justa e mais compatível com a profunda bondade do Criador. Entretanto, essa tese de extrema simplicidadee coerência, foi sistematicamente boicotada, durante milênios, por contrariar os interesses daqueles que viveram do fruto da venda do paraíso, e que ainda agora a boicotam, já quecontinuam a depender desse mesmo trôpego filão.
Um pequeno detalhe será analisado neste texto, a questão do apocalipse, do fim dos tempos. O dogma em questão, o do "Juízo Final", envolve uma teoria que contradiremos com inúmeros argumentos.
Existirá um juízo final coletivo, simultâneo e irrevogável no final dos tempos? E esse tal de final dos tempos, quando será? Afirmam os teólogos do cristianismo majoritário que esse evento se dará após inúmeros "sinais" de degradação da humanidade e do planeta.
Poderíamos, em face dessa frágil, porém popular hipótese, afirmar que ainda que elafosse verdadeira, o presente momento histórico está infinitamente longe dessa época, portanto, o castigo eterno estaria, por sua vez, a uma eternidade de nossos tempos.
Por que pensamos assim?
Pois, se o final dos tempos se dará, conforme previsto, após uma crescente derrocada das sociedades humanas e após cataclismos gigantescos, sendo que essas tragédias seriam marcadores da proximidade do fim, teríamos que procurar sinais de decadência das sociedades humanas para constatarmos que a progressão em direção ao grande final já estaria em seu termo.
Usando esse sistema de raciocínio provaremos, neste texto, que o fim do mundo, conforme previsto pelos profetas apocalípticos, está muito longe e que os que temem as punições eternas, principalmente em função da sua proximidade temporal, podem ficar tranquilos, pois ainda terão muito tempo e infinitas oportunidades de regeneração antes que o Sol se apague e a Terra congele.
Os sinais dos tempos ainda não são aqueles previstos pelos fatalistas. Pelo contrário, fartos são os documentos históricos que comprovam claramente a evolução cientifica, filosófica, espiritual e moral das sociedades humanas.
Reconhecemos que esse progresso estarrecedor, que ocorreu especialmente nos últimos cento e cinquenta anos, não se dá de forma linear e uniforme. Ainda existem muitas ilhas de barbárie que se consideram parte da civilização humana.
Existem, também, aquelas comunidades que se afogaram em suas riquezas,
promovendo o vício e a exploração dos seus semelhantes. São exceções que nada mais fazem do que comprovar a regra.
A expectativa de vida do ser humano passou de não mais que quarenta anos nos tempos do Cristo para 70 a 80 anos atualmente. Viver mais tempo não é o suficiente, temos que ter uma vida produtiva, útil. A qualidade de nossa vida melhorou sensivelmente com a regulamentação dos direitos humanos, das crianças, da mulher e dos idosos.
O trabalho hoje deve ser rentável, mas não escravizante. O lazer é um direito de todos, aqueles que não tem acesso à diversão estão reivindicando e obtendo progressos neste sentido.
A industrialização e a tecnologia permitiram um menor desgaste do ser humano na obtenção e processamento dos seus alimentos. Uma melhor qualidade da sua moradia, transporte e comunicação.
As viagens intermunicipais consumiam dias no lombo de mulas, hoje as viagens intercontinentais nos tomam horas.
A mulher, com o controle da natalidade, pôde desenvolver-se como profissional, assim,passou a colaborar com o crescimento da riqueza comunitária. Tornou-se mais independente e pôde lutar contra o massacre afetivo imposto pelos casamentos arranjados, pôde defender-se de maridos cruéis e de leis sexistas. Hoje ela escolhe seu parceiro, e manterá seu relacionamento em bases de amor verdadeiro, se assim achar melhor, e não somente pela obrigação do cumprimento de normas radicais de uma sociedade patriarcal.
A sexualidade agora pode ser exercida com liberdade. A promiscuidade que surgiu nos primeiros tempos da liberação sexual será, gradualmente, substituída pela liberdade responsável, e esta nascerá da democratização da educação para a saúde, que vem sendo estimulada pelas organizações sociais e governos legítimos.
O homem moderno não mais se satisfaz com relacionamentos sexuais com profissionais. Antes ele era obrigado, pelos costumes e convenções sociais, a manter relacionamentos sexuais com prostitutas para comprovar sua masculinidade. Hoje desdenha e ridiculariza essa postura retrógrada e relaciona-se com sua companheira, namorada ou esposa.
A prostituição, que consome em vida suas vítimas, como se no inferno estivessem, perdeu parte do seu espaço. Ainda não acabou, infelizmente, mas estamos caminhando para uma redução considerável do comércio sexual, já que a sexualidade exercida em ambiente de amor, além de ser muito mais gratificante é a antítese da derrota de não ser querido.
A violência dos guerreiros bárbaros, medievais e contemporâneos não mais ocorre, pelo menos não na mesma proporção. Os tribunais de guerra procuram controlar os excessos em conflitos armados, coíbem o ataque a civis e os genocídios ocorrem em menor escala, mesmo nos conflitos mais sangrentos. Os criminosos de guerra respondem, em muitos casos, pelos seus abusos.
A violência urbana e doméstica hoje é divulgada e nos horroriza. Não fica impune e escondida sob o escudo do poder. Os crimes dos ditadores, dos gangsteres, dos bandidos e dos corruptos são levantados e nos revoltamos quando não são esclarecidos e punidos.
Hoje, ajudar ao nosso próximo, ser condescendente e tolerante, é mérito e não fraqueza, como era nos tempos do Cristo. Procuramos a correção política por opção. Queremos ser melhores e queremos saber como lidar com as diferenças. As ONGs proliferam em uma rede abençoada de serviços ao próximo, aos animais e ao meio ambiente.
Nosso País é um exemplo de evolução nos últimos cinquenta anos. Superamos a ditadura e consolidamos a democracia. Reduzimos a fome e a mortalidade infantil.
Aumentamos a expectativa de vida. O cidadão está mais consciente de seus direitos como ser humano, homem, mulher, criança e consumidor.
Não estamos em um mundo perfeito, muito ainda deve ser feito. Mas se existe necessariamente uma curva de Gauss relativa à evolução humana, é evidente que estamos no quadrante da ascensão e não na decadência. Portanto, ainda falta muito para a derrocada. Ou seja, o fim do mundo esta mesmo é longe, muito longe...
A não ser que os profetas do apocalipse considerem que a inquisição, o holocausto, as penas capitais, a escravidão, a fome, as epidemias, os genocídios, a lei das selvas, que foram aspectos marcantes do passado da humanidade, representem o paraíso perdido. E que, paradoxalmente, o ambiente moderno seja efetivamente pior do que esses momentos nebulosos já vividos e, felizmente, superados.
A Providência Divina e seus verdadeiros mensageiros, aqueles que nos trazem eflúvios de otimismo, encorajamento, consolo, responsabilidade, liberdade e amor são os responsáveis pelo progresso contínuo, ainda que lento, dessa marcha coletiva em direção à regeneração plena. A ameaça, o medo, o terror... Não, isso não nos leva a Deus e muito menos ao amanhã glorioso que sonhamos.
Parafraseando Jesus: "Veja quem tem olhos de ver".
Giselle Fachetti Machado
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