LAÇOS DE FAMÍLIA
Resultante de um longo processo evolutivo do princípio espiritual
junto ao princípio material, cada Espírito é uma individualidade, um
ser independente, herdeiro de si mesmo, responsável pelo que de bom ou
de mau desenvolve em si.
Ao renascer na Terra, o Espírito herda dos pais apenas o corpo físico.
Recebe a influência desse corpo, dos meios familiar e social em que
nasce e vive, mas é livre nas suas decisões, cedendo sempre às
influências que mais se afinem com as suas tendências.
Cada existência terrestre é então, muito importante para o
desenvolvimento do Espírito, pela riqueza de experiências, de opções
que ela lhe proporciona.
Partindo, pois, do processo reencarnatório, condição sine-qua-non da
evolução do Espírito, podemos compreender que o parentesco familiar
remonta às existências anteriores.
Imaginemos um Espírito, após suas primeiras (que podem ser muitas!)
encarnações, já com alguma razão, algum discernimento, algum
livre-arbítrio, vivendo já em família e vamos imaginá-lo reencarnando
e desencarnando “n” vezes até hoje.
Essas inúmeras existências fizeram-no conviver com “n” famílias, com
“n” pessoas, como esposos, pais, irmãos, amigos..., almas imortais
como ele e, resultando dessas “n” existências, ligações, liames entre
elas. Algumas dessas relações foram simpáticas, outras desagradáveis,
dolorosas e outras indiferentes.
Como os Espíritos evoluem de acordo com o seu livre-arbítrio,
evidentemente que muitos com os quais esse nosso Espírito se
relacionou, evoluíram para graus mais elevados, outros continuam mais
ou menos iguais a ele e outros estão mais atrasados.
Nesse longo tempo, esse Espírito conviveu em determinadas épocas com
Espíritos ou grupos de Espíritos diferentes daqueles com os quais
iniciou sua jornada.
Assim, nossa família atual pode nada ter a ver com as famílias com as
quais convivemos num passado distante ou mesmo, próximo. Talvez,
possamos estar juntos com alguns elementos, mais dificilmente com
muitos.
Este raciocínio pode nos dar um “chacoalhão” em nossos sentimentos de
posse afetiva. Mas, se pensarmos que o objetivo da nossa caminhada,
como consequência da etapa evolutiva que estamos vivendo é: “AMAR O
PRÓXIMO COMO A SI MESMO”, expressão moral da perfeição a ser
conquistada, podemos perceber o quanto é necessário convivermos com
pessoas e grupos diferentes que nos proporcionem condições mais amplas
e variadas de aprendizado e desenvolvimento.
Compreendemos também que nossa família atual pode ou não ser parte da
nossa família espiritual que se constitui de todas as pessoas com as
quais convivemos e com as quais estabelecemos laços agradáveis de
afeição.
A família consanguínea não cria, necessariamente e por si só, os laços
espirituais.
A família, no sentido espiritual, é constituída por Espíritos que
mantêm os laços espirituais antes, durante e após as reencarnações,
mesmo estando em planos diferentes.
A família espiritual se dilata cada vez mais à medida em que o círculo
de afeições se amplie.
Percebemos, pois, que cada reencarnação, proporcionando condições de
aperfeiçoamento e equilíbrio de afeições já existentes e início de
novas, amplia nossa família espiritual, da qual podemos perceber
alguns elementos no lar, dentre os amigos...
E este raciocínio nos leva à compreensão da importância da família
consanguínea, que reúne não somente os afinados pela afeição e
interesses comuns, como também os ligados pelos sentimentos negativos,
amigos e adversários para que na convivência cotidiana, nas lutas, nas
alegrias e tristezas, a harmonização se faça e se amplie na sublimação
dos sentimentos amorosos, transformando os relacionamentos difíceis em
agradáveis.
Cabe-nos, pois, todo o esforço na conquista e conservação da
harmonização no lar, mesmo à custa de renúncias e sacrifícios a fim de
que todos os elementos da família consanguínea passem a fazer parte da
nossa já existente família espiritual.
Por: Leda de Almeida Rezende Ebner
Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec - cap. XIV item 8
Publicado em: Jornal Verdade e Luz Nº 169 de Fevereiro de 2000
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