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04 outubro 2015

Crianças Deficientes - Visão Espiritualista - Sílvia Almeida


CRIANÇAS DEFICIENTES


Para introdução ao estudo deste tema escolhemos um texto da Revista Espírita de 1864, no qual um Espírito vem dar uma explicação sobre este assunto dizendo o seguinte:

“Se pudésseis ver as forças ocultas que fazem mover o vosso mundo, compreenderíeis como tudo se encadeia, das menores às maiores coisas; compreenderíeis, sobretudo, a ligação íntima que existe entre o mundo fí...sico e o mundo moral, esta grande lei da Natureza; veríeis a multidão de inteligências que presidem a todos os factos e os utilizam para que sirvam à realização dos propósitos do Criador. Suponde-vos um instante ante uma colmeia, cujas abelhas fossem invisíveis; o trabalho que veríeis realizar-se diariamente vos causaria admiração e, talvez exclamásseis: Singular efeito do acaso! Pois bem! Realmente estais em presença de um ateliê imenso, conduzido por inumeráveis legiões de operários, para vós invisíveis, dos quais uns não passam de trabalhadores manuais, que obedecem e executam, enquanto outros comandam e dirigem, cada um em sua esfera de ação, proporcionada ao seu desenvolvimento e ao seu adiantamento e, assim, pouco a pouco, até a vontade suprema, que tudo impulsiona.

Assim se explica a ação da Divindade nos mais insignificantes detalhes. Como os soberanos temporais, Deus tem seus ministros, e estes, agentes subalternos, engrenagens secundárias do grande governo do Universo. Se, num país bem administrado, o último casebre sente os efeitos da sabedoria e da solicitude do chefe de Estado, como não deve a infinita sabedoria do Altíssimo estender-se aos menores detalhes da Criação!”[i].

Encontramos portanto aqui uma chamada de atenção para a Lei de causa e efeito, para a Providência Divina e para a justificação de cada detalhes nesta grande morada que é o Universo infinito criado e dirigido por Deus.

Desenvolvimento


Segundo refere Dora Incontri, a deficiência mental apresenta-se de modo geral com causas físicas perfeitamente identificáveis, podendo ser provocada por um problema genético (como no caso da síndrome de Down) ou por uma lesão cerebral. 

Independentemente, no entanto, da justificação, ela é uma “incapacidade momentânea de manifestação do Espírito e não uma incapacidade intrínseca da alma encarnada. Kardec comprovou isto, ao evocar Espíritos de crianças deficientes e que fora do corpo, tinham grande lucidez espiritual. Isso também se observa diariamente pelo facto de que, em muitos casos de deficiência, os diagnósticos médicos são taxativos, descartando qualquer possibilidade de desenvolvimento. Mas, quando estimulada convenientemente e quando revela uma vontade forte, a criança ultrapassa em muito os prognósticos pessimistas. O que é isto, senão o Espírito inteligente que, apesar dos obstáculos para a sua manifestação, luta e consegue pelo menos em parte, superar os limites do corpo?

O nascimento de crianças excepcionais é um desses factos que só se pode explicar inteiramente pela lei da reencarnação. As deficiências mentais (e evidentemente as físicas também) são sempre resultados de processos cármicos, cujas origens desconhecemos. Mas podemos indicar as suas características principais.


Espíritos que abusaram demasiado da inteligência, empregando-a em prejuízo de si próprios e do próximo podem ter encarnações expiatórias, em que se sintam tolhidos para usá-la integralmente. Geralmente, são espíritos que desenvolveram pouco o sentimento. 

Enquanto, pois, não podem manifestar a plenitude das suas faculdades intelectuais na carne, são obrigados a arranjar outras formas de comunicação com o ambiente e por isso, muitas vezes, mostram-se extremamente afectivos. A inteligência descansa, mas o Espírito progride, aprendendo a sentir. Isso se observa com muita clareza nas crianças de síndrome de Down — afectuosíssimas, em sua maioria.


Espíritos comprometidos em séculos de crimes e malbaratamento das Leis da vida, atingem tal estado de desequilíbrio espiritual, que só a reencarnação pode aliviar-lhes a consciência. É que a carne age como uma espécie de mata-borrão. Ao seu contacto, o Espírito amortece suas agruras de consciência e pode resgatar as suas dívidas e reequilibrar-se para o futuro. Mas, se ainda no Plano Espiritual, se vê abismado em profunda loucura, não pode, ao reencarnar, moldar um corpo normal e, assim, imprime na sua formação genética as lesões gravíssimas, que vão resultar em corpos defeituosos e incapacitados.”[ii]

“Frequentemente, através do suicídio, integralmente deliberado, ou do próprio desregramento, operamos em nossa alma desequilíbrios, quais tempestades ocultas, que desencadeamos, por teimosia, no campo da natureza íntima.

Cargas venenosas, instrumentos perfurantes, projéteis fulminatórios, afogamentos, enforcamentos, quedas calculadas de grande altura e multiformes viciações com que as criaturas responsáveis arruínam o próprio corpo ou o aniquilam, impondo-lhe a morte prematura, com plena desaprovação da consciência, determinam processos degenerativos e desajustes nos centros essenciais do psicossoma, notadamente naqueles que governam o córtex encefálico, as glândulas de secreção interna, a organização emotiva e o sistema hematopoético.

Ante o impacto da desencarnação provocada, semelhantes recursos da alma entram em pavoroso colapso, sob traumatismo para o qual não há termo correlato na diagnose terrestre. Indescritíveis flagelações, que vão da inconsciência descontínua à loucura completa, senhoreiam essas mentes torturadas, por tempo variável, conforme as atenuantes e agravantes da culpa, induzindo as autoridades superiores a reinterná-las no plano carnal, quais enfermos graves, em celas físicas de breve duração, para que se reabilitem, gradativamente, com a justa cooperação dos Espíritos reencarnados, cujos débitos com eles se afinem.”[ii]

Por exemplo um golpe suicida no coração, acompanhado pelo remorso, causará predisposição para hemorragias sem causa aparente, o suicídio por envenenamento ocasionará terríveis problemas de sangue, os afogamentos e enforcamentos, os fenómenos da incompatibilidade materno-fetal – os chamados fatores Rh, as quedas de grande altura e as viciações do sentimento e do raciocínio dão origem à hidrocefalia, as deficiências mentais.[iii]

Embora as faculdades sejam sempre do Espírito e não do corpo, este pode apresentar-se como um obstáculo à livre manifestação dessas faculdades, como refere Kardec no "O Livro dos Espíritos" (p. 368):

“O Espírito exerce, com toda a liberdade, suas faculdades depois da sua união com o corpo?

- O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria.

“( … ) existem casos em que a matéria oferece uma resistência tal que as manifestações são obstadas ou desnaturadas, como na idiotia e na loucura.” (comentário da p. 372)

P. 373 (2.parte) – Um corpo de idiota pode, assim, abrigar um Espírito que animou um homem de génio na existência precedente? - Sim, o génio, às vezes, torna-se um flagelo quando dele se abusa.”

“Assim, uma criança que renasce com graves bloqueios na inteligência pode ser um Espírito que possui poderosas estruturas mentais, ou seja, grande inteligência, mas que teve a necessidade de desenvolver o seu aspeto moral, bloqueando, assim, suas estruturas mentais que não lhe permitirão novas incursões no campo da inteligência que, sem o desenvolvimento da moral, lhe fariam novamente utilizar mal essa inteligência.

Assim, no meio mais humilde, exercendo profissões simples, poderemos nos deparar com grandes inteligências. Artistas do passado renascem com determinados bloqueios, por exemplo, na voz, impedindo-os de se expressarem naquela área, conduzindo-os ao desenvolvimento de outros aspectos de que tenham maior necessidade.

Todo o Espírito, contudo, renasce para evoluir e a tarefa do educador será sempre auxiliar a sua evolução, buscando os canais superiores de manifestação, disponíveis para o desenvolvimento, estimulando-os e incentivando seu progresso no bem. O que não canta, pinta, o que não pinta, modela, escreve, desenha, trabalha enfim em alguma área em que demonstra certa aptidão e que deverá ser aproveitada pelo educador, para o desenvolvimento de outras áreas.“[iv]

Isto porque pais e filhos se associam no processo de expiação. Muitas vezes os pais, como esclarece Divaldo Franco foram os autores intelectuais dos atos que estão na origem da atual deficiência do filho. “Talvez sejam aqueles que lhe desrespeitaram os valores morais ou então os responsáveis negativos do pretérito que volvem para ajudá-la a suportar as circunstâncias.”[v]

E acrescenta André Luiz: “Urge ainda considerar que todos os enfermos dessa espécie são conduzidos a outros enfermos espirituais – os homens e as mulheres que corromperam os próprios centros genésicos pela delinquência emotiva ou pelos crimes reiterados do aborto provocado, em existências do pretérito próximo, para que, servindo na condição de atendentes e guardiães de companheiros que também se conspurcaram perante a Eterna Justiça, se recuperem, a seu turno, regenerando a si mesmos pelo amoroso devotamento com que lutam e choram, no amparo aos filhinhos condenados à morte, ou atormentados desde o berço”[vi].

É assim que, vindo explicar a história de um casal perfeitamente saudável, cujos inúmeros filhos eram todos deficientes, um Espírito Protetor esclarece: “Não creiais, pois, que essa mulher, de que acabais de falar, seja vítima do acaso ou de uma cega fatalidade. Não; o que lhe acontece tem sua razão de ser – ficai bem convencidos. Ela é castigada em seu orgulho; desprezou os fracos e os enfermos; foi dura para com os seres caídos em desgraça, dos quais desviava os olhos com repulsa, em vez de envolvê-los num olhar de comiseração; envaideceu-se da beleza física de seus filhos, à custa de mães menos favorecidas; mostrava-os com orgulho, porque aos seus olhos a beleza do corpo tinha mais valor que a beleza da alma; assim, neles desenvolveu vícios, que lhes retardaram o avanço, em vez de desenvolver as qualidades do coração. É por isso que Deus permitiu que, em sua existência atual, ela só tivesse filhos disformes, a fim de que a ternura maternal a ajudasse a vencer sua repugnância pelos infelizes. Para ela isto é uma punição e um meio de adiantamento; mas nessa própria punição brilham, ao mesmo tempo, a justiça e a bondade de Deus, que castiga com uma das mãos, mas incessantemente dá ao culpado, com a outra, os meios de se resgatar.”[vii]

André Luiz, referindo-se à utilidade providencial destas existências completa:

“…na maioria dos sucessos em que se evidenciam, representam cursos rápidos de socorro ou tratamento do corpo espiritual desequilibrado por nossos próprios excessos e inconsequências, compelindo-nos a reconhecer, com o Apóstolo Paulo, que o nosso instrumento de manifestação, seja onde for, é templo da Força Divina, por intermédio do qual, associando corpo e alma, nos cabe a obrigação de aperfeiçoar-nos, aprimorando a vida, na exaltação constante a Deus.”[viii]

Conclusão


Para terminar, utilizaremos as palavras do Espírito Camilo que, por intermédio de Raúl Teixeira, nos deixa uma mensagem de esperança, de coragem e de confiança em Deus:

“49. Qual deve ser o comportamento dos pais perante o filho que nasce com deficiências físicas ou mentais? É possível desenvolver-se uma vida saudável ao lado dessas criaturas?

Embora as compreensíveis frustrações que costumam invadir a alma dos pais de filhos portadores de deficiências quaisquer, a certeza divina deve ser para eles o grande arrimo, o indispensável consolo.

Conscientes de que não há injustiçados pelas leis de Deus sobre a Terra, o problema com que seus filhos se acham assinalados está na pauta da lei de causalidade. Na certeza de que “o Pai não dá pedra ao filho que pede pão”, reconhecerá que se essas crianças renasceram sob seus cuidados pater-maternais, é porque eles, os ajudaram na marcha dos equívocos, de múltiplas formas, ou porque prometeram no mundo espiritual dar-lhes amparo, orientação, mão amiga, a fim de que atravessassem as estradas das expiações com real aproveitamento das limitações.

Importante é que esses pais, com filhos seriamente limitados, por isto profundamente dependentes de cuidados, sensibilizem-se perante os filhinhos carentes e muito amados, interpretando-os como pedras preciosas que o Criador colocou sob seus cuidados, sob seus desvelos, de modo a transformá-las em gemas rutilantes, valiosas, glorificando a vida. (…)

A vida junto aos filhos portadores de deficiência se mostrará tão normal quanto o permitam a maturidade e a visão do mundo que tenham; serão tão felizes quanto se sintam cooperadores de Deus, enquanto crescem, a seu turno, para o Grande Amanhã, quando se encontrarão em plenitude de saúde e harmonia com os filhos redimidos, sadios, felizes.”[ix]

Sílvia Almeida

[i] INCONTRI, Dora, A Educação Segundo o Espiritismo, 2ª ed., pág. 38-40.
[ii] XAVIER, Francisco Cândido (André Luiz), Evolução em Dois Mundos, 10ª ed., Cap. XVII, Pág. 206-9.
[iii] Cf. Idem.
[iv] ALVES, Walter Oliveira, Educação do Espírito, introdução à Pedagogia Espírita, 12ª ed. pág. 201-3.
[v] FRANCO, Divaldo, SOS Família, Cap. 33.
[vi] XAVIER, Francisco Cândido (André Luiz), Evolução em Dois Mundos, 10ª ed., Cap. XVII, Pág. 206-9.
[vii] “Uma Família de Monstros”, in Revista Espírita, Setembro de 1864.
[viii] XAVIER, Francisco Cândido (André Luiz), Evolução em Dois Mundos, 10ª ed., Cap. XVII, Pág. 206-9.
[ix] TEIXEIRA, Raul, Desafios da Educação, 1ª ed., pág. 83-5.

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