Tudo leva a crer que a mediunidade na criança é algo rudimentar. As percepções não são tão estruturadas como no adulto, visto que em seu psiquismo ainda não se completou o desenvolvimento adequado do ego para sustentar as invasões psíquicas possíveis. Os fenômenos mais comuns estão na área da vidência a desencarnados familiares da atual ou de outras vidas, cujas presenças no campo mediúnico da criança, por conta em geral da boa relação que tiveram, evocam-lhe recordações agradáveis, transmitindo-lhe bons fluidos, bem como lhe infundem confiança e tranquilidade para enfrentar os desafios futuros. Pode-se imaginar que a imaturidade física e psicológica na criança é um obstáculo ao desenvolvimento equilibrado da mediunidade, bem como ao seu uso.
O desenvolvimento da mediunidade na infância é um risco que se corre em face dos desequilíbrios psíquicos que podem advir para a criança. Nem sempre o espírito encarnado que se encontra na infância estaria apto a lidar com a confusão mental que isso acarreta. Os pais devem conversar e educar seus filhos sem lhes impor comportamentos formais e padronizados típicos dos adultos. As obsessões em crianças não são comuns, não só pela sua conduta inocente, pela proteção de que gozam, como também pela pouca influência dos complexos inconscientes. Quando crianças estiverem sob influência espiritual obsessiva devemos, pois, procurar tratamento espiritual e psicológico. Este último, nos casos em que o comportamento da criança e sua compreensão de mundo estejam visivelmente comprometidos. Talvez pelo fato de estar camuflado num corpo muito infantil, o encarnado saia temporariamente (até a puberdade) do foco de desencarnados inimigos.
Escondem-se até que a reencarnação se complete no início da adolescência. Quando os pais notarem que seus filhos possam estar sofrendo algum tipo de obsessão (sono frequentemente agitado, comportamento inabitual, doenças sem diagnóstico específico, medos sem causa aparente, agressividade não típica, hiperatividade fora do comum, sentimento de perseguição por vultos estranhos, etc.) devem levá-los a tratamento médico-psicológico e a tratamento espiritual à base de passes. Crianças que apresentam transtornos psíquicos com influência espiritual obsessiva devem ser conduzidas a tratamento psicológico ou psiquiátrico, conforme seja o caso, e a tratamento espiritual, sem ser conduzida à reunião mediúnica ou ao desenvolvimento de sua faculdade. O que os pais devem fazer quando seus filhos apresentarem sinais precoces de mediunidade? Devem conversar, sem alardes, com eles a fim de se interarem sobre o que sentem ou veem. Consequentemente devem esclarecer-lhes sobre o assunto e, para tanto, devem, eles próprios, conhecer do que irão falar, ou procurar pessoas experientes em auxílio. Não são incomuns as referências a fenômenos mediúnicos com crianças, os quais, muitas vezes, perturbam mais aos pais do que a elas próprias. As percepções mediúnicas por parte de certas crianças, principalmente o contato mente a mente, são comuns e costumam assustar mais aos adultos, que ouvem-nas contar, do que a elas próprias. Nada há que comprove ser a mediunidade uma faculdade exclusiva do adulto ou que esteja relacionada à maturidade do corpo físico. Qualquer criança tem o potencial da faculdade mediúnica, podendo ser despertada a qualquer tempo. Não devem os pais estimular a mediunidade em seus filhos, tendo em vista a possibilidade de lhes dificultar a estruturação do ego.
A pouca quantidade de crianças que se conhece exercitando a mediunidade explícita se deve à não maturação do ego, ainda não consolidado para o exercício de uma faculdade, cuja possibilidade de cindir, por esse motivo, é grande. Não é adequado o exercício da mediunidade, a qual se pressupõe seja um contato com o mundo adulto de lá e de cá, em crianças antes da adolescência. A educação espirítica de crianças deve prioritariamente começar em casa e ser complementada em instituições pedagogicamente preparadas para tal, com conteúdos adequados ao ego em fase de consolidação. Essa educação não deve conter exercícios mediúnicos nem contatos explícitos com desencarnados em condições de sofrimento ou com intenções agressivas.
A presença de crianças em reuniões mediúnicas de desobsessão é uma ocorrência que deve ser evitada, em face do desequilíbrio que pode ser gerado. Caso apresente mediunidade ostensiva, deverá ser orientada por educador espírita experiente no trato com a mediunidade. Seria de bom alvitre que o passe dado às crianças seja em reunião distinta dos adultos. O tratamento espiritual às obsessões em crianças deve se limitar ao passe individual. Em alguns casos deve ser administrado apenas em casa. Crianças desencarnadas podem dar comunicações mediúnicas através de médiuns adultos apresentando linguagem infantil. Isso é factível, pois alguns deles não assumem a idade adulta logo após a desencarnação. Aos poucos o espírito comunicante, ao ser esclarecido de sua condição e auxiliado por benfeitores espirituais, vai retomando sua condição de espírito lúcido, consciente de sua adultez.
Adenáuer Novaes
Do livro: Psicologia e Mediunidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário