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06 outubro 2015

Evolução da Mediunidade - Edgard Armond


EVOLUÇÃO DA MEDIUNIDADE

A sensibilidade evolui com o ser no terreno moral, que se completa durante a evolução, com a conquista da sabedoria. À medida que vai adquirindo virtudes no campo do senti­mento vai também o espírito, através das vidas sucessivas, aumen­tando seu cabedal de conhecimentos sobre a vida, a criação, as fôrças e as leis que as regem.

O conhecimento atual porém é ainda restrito porque estamos, em relação ao Universo, muitos baixos na escala; o homem vai aprendendo mui lentamente, usando da razão e dos sentidos físicos, mas estaca sempre nas fronteiras do mundo hiper-físico porque, para penetrar aí, necessita de elementos de outro campo, nem sempre conciliáveis com o intelecto utilitário e objetivador

As vidas sucessivas em diferentes planos, com permanência mais ou menos demorada nos planos etéreos, são-lhe de grande auxí­lio, mormente quando já tenha ele sua consciência espiritual desper­tada para essa compreensão.

Toda vez que “morre” encarnando, ou “ressuscita” desencar­nando, descendo nas sombras da matéria pesada, ou renascendo nas claridades da luz, o homem sempre realiza provas, adquire conheci­mentos novos e progride, porque a vida não pára, é movimento ascen­sional permanente, no campo da eternidade imóvel.

Para as experiências no terreno material bastam a inteligência e os sentidos físicos mas, para as do campo espiritual, necessita faculdades outras, mais elevadas e diferentes, colocadas acima da Razão e já pertencentes ao mundo hiper-físico. São as do campo mediúnico.

“Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os se­gredos da natureza material, Deus deu ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais. Assim, com o telescópio pro­jeta seus olhares nas profundezas dos espaços e com o microscópio descobriu o mundo dos infinitamente pequenos.

Para penetrar o mundo invisível deu-lhe a mediunidade. Sua missão é santa porque sua finalidade é rasgar os horizontes da vida eterna” .  (6) Allan Kardec — “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

A sensibilidade individual, desenvolvida além dos limites consi­derados comuns, resulta na faculdade de ver coisas que os outros não vêm, ouvir o que não é normalmente ouvido, sentir de modo anormal e produzir fenômenos considerados absurdos em face dás leis gerais de julgamento e análise. É preciso enfim que o indi­víduo seja considerado um desequilibrado, segundo o modo de en­tender dos leigos e dos pretensos sábios.

Nos homens primitivos, que viviam ainda muito pelo instinto, a sensibilidade não ia além da epiderme e agia somente nos limites do ambiente próprio, para a mantença da vida: calor, frio, fome, terror, sexo...

Depois passou o homem a compreender a natureza externa, naquilo em que ela influía diretamente na vida pessoal do ser. Em seguida avançou um pouco e descobriu as relações existentes entre as coisas e os seres vivos e consequentes reações. Sentiu o vento e não mais se atemorizou; viu a chuva e a abençoou; produziu o fogo e aqueceu-se nele. Aplicou-se mais e promoveu a ligação entre as greis, as comunidades e as raças, iniciando assim os primeiros passos no terreno da coletivização; sentiu os reflexos e as consequências da vida social e esboçou então os primeiros rudimentos das leis.

Desenvolveu-se ainda e compreendeu a expressão simbólica da Natureza, como demonstração visual do divino poder, esboçando assim seus primeiros gestos nos domínios da arte e da beleza.

De esforço em esfôrço, passo a passo, avançando por milímetros, assim vem sendo até hoje quando, já evoluído a um grau mais avançado, inquietando-se com o sofrimento alheio, organizando a vida social em padrões mais justos e legislando com maior expressão fra­ternal, vai agora francamente a caminho de um mundo renovado, em bases aproximadoras do ideal evangélico.

E tende a prosseguir num grau acima o sensitivo, já como um homem renovado, penetrará nos mundos além-matéria, surpreendendo seus aspectos, movimentos e habitantes e, mais alto ainda, devassará os mundos espirituais completamente vedados aos olhos e à compreensão hu­mana atuais, rematando enfim sua visão superior na contemplação do Cosmo, sentindo sua pulsação, sua beleza, sua grandiosidade e sua admirável unidade eterna.

* * *

O desenvolvimento das faculdades do espírito tende pois à revelação das coisas divinas, em todos os seus aspectos e graus e à exemplificação de suas leis na vida comum.

Hoje os Guias lançam mão de “faculdades de empréstimo” para algumas dessas revelações e para demonstração de fenômenos ainda considerados sobrenaturais mas, futuramente a humanidade, devidamente evoluída, fará o homem instrumento pleno e consciente das realidades espirituais aplicadas à vida coletiva.

São médiuns todos os profetas, instrutores de Verdades e também o são todos aqueles que as vivem, porque é por seu inter­médio que tais verdades caminham, tomam corpo e se realizam.

A mediunidade, pois, não é um fenômeno individual, restrito ao homem, privilégio de uns e outros, mas um fato universal, comum a tôda criação divina, no sentido de que as partes dessa criação se manifestam umas às outras e reciprocamente se revelam a síntese divina que representam e a essência universal que nelas se contem.

Assim como os seres se manifestam uns aos outros, Deus se manifesta aos homens por meio de sua Criação, e disso se conclui que todas as coisas e seres são fenômenos de intermediarismo.

O espírito criado, posto á frente desse simbolismo natural, executa também, penetrando nele com a sua inteligência, ou pela revelação, um fenômeno mediúnico: o reconhecimento do Criador presente e expresso em sua criação.

A mediunidade é pois um fenômeno natural e se realiza em todos os graus da hierarquia da criação, numa escala que vai do verme aos anjos, tudo e todos reciprocamente se manifestando e dando testemunho de si mesmos. Assim, Jesus Cristo foi, inegavelmente, o médium de Deus junto aos homens, manifestando, transmitindo e realizando suas vontades divinas.

Para rematar diremos que, como tudo o mais, a mediunidade evolui. Seus aspectos podem ser aparentemente os mesmos, porque neste mundo de matéria pesada as relações com os planos espirituais seguem determinados padrões invariáveis; os processos não mudam muito, porém as faculdades se dilatam e atingem cada vez horizontes e extensões mais amplos.

A mediunidade natural, sendo um sinal de desdobramento ou apuração de sensibilidade, dá ao indivíduo mais amplo conhecimento do mundo material em que vive e ao mesmo tempo lhe proporciona conhecimentos mais ou menos dilatados dos planos de vida situados em outros mundos.

Em qualquer ponto, portanto, do Universo em que esteja o indivíduo, ela se exerce com as mesmas características e consequên­cias sendo, pois, como dissemos, um fenômeno de constatação e aplicação universais.

Quanto maior o grau, o índice dessa sensibilidade tanto maior a intuição e, consequentemente, tanto maior o campo que o indi­víduo abrange na percepção dos fenômenos e dos aspectos da vida cósmica.

A natureza é um maravilhoso e amplo campo de manifestações fenomênicas ainda muito pouco penetrado pelo nosso rudimentar conhecimento.

Um exemplo típico dessa mediunidade natural pode ser encon­trado na pessoa do médium Pietro Ubaldi, por cujo intermédio recebemos ‘‘A Grande Síntese’’.

Ele assim explica como adquiriu suas faculdades, no preâmbulo de “As Três Mensagens”:

- “Devo esta comunicação a uma mediunidade, cujo surto se produziu após longa maturação, conseguida a poder de estudos, de renúncia material e de desenvolvimento moral. Observei que o progredir para a perfeição moral representa condição necessária ao desenvolvimento deste gênero de mediunidade, exclusivamente espiritual”.

Ele diz — mediunidade exclusivamente espiritual — para explicar que suas faculdades não são semelhantes àquelas que muitos adeptos da doutrina espírita classificam como fenômeno orgânico, coisa pertencente ao corpo físico, e essa distinção que faz corrobora nitidamente e plenamente justifica o modo por que encaramos a mediunidade em sentido geral, separando a mediunidade conquista da mediunidade-prova.

E Ubaldi acrescenta:

“Tornei-me médium imprevistamente há 19 anos, quando completei 45. A preparação cultural que me levou a isso foi, até aos 45 anos, uma vida de sofrimentos tremendos, suportados no isolamento e no silêncio, desprezado por todos. A dor é o maior livro da vida, aquele que nos revela a verdadeira ciência, porque através dela se chega a ouvir a voz de Deus.

“Inexperiente nestes assuntos, prossegue ele, de princípio clas­sifiquei este meu novo estado, de mediunidade. Mas depressa repa­rei que nunca caía em transe e que não era instrumento passivo e inconsciente. Classifiquei-o então como “mediunidade ativa e cons­ciente”, depois “ultrafania” isto é: captação das correntes do pen­samento (Nouri) e, por fim, “inspiração”. O meu fenômeno não é inato mas sim maturação biológica, como o desenvolver da criança que se torna homem. “Assim o meu primitivo estado, chamado mediúnico, transfor­mou-se num estado de inspiração que se assemelha ao misticismo dos seres para quem tudo isso é apenas um meio de cumprirem a sua missão para o bem neste mundo”.

E acrescenta: “Por certo que esta não é a mediunidade física que desprezo, porque o meu alvo é a ascensão moral até ao fim da vida e na mediunidade física em geral não se manifestam os santos, mas sim os espíritos inferiores. A fonte inspirativa e o método de inspiração são a origem das minhas obras”.

* * *

Há individuos que vivem aqui na Terra vendo da matéria somente os aspectos mais objetivos e grosseiros e não tem percepção alguma de sua transitoriedade. Para eles o mundo material é definitivo e estável e por isso se vinculam fortemente a ele, fazem parte integrante dele e nada compreendem ou sentem fora ou além dele.

Para tais indivíduos uma laranja é unicamente uma fruta que se come, e um vaso com lindas rosas nada mais que um simples ornamento.

O sentimento somente os interessa na parte que corresponde às suas próprias paixões ou comodidades e não se preocupam em conhecer-lhe as origens ou causas espirituais.

Mas há outros, já mais evoluidos, para os quais a sensibilidade se estende e amplia, permitindo compreender, sentir e penetrar mais fundo nas coisas que os rodeiam, descobrindo-lhes a beleza, o sentido moral, a significação espiritual.

E outros, ainda mais sensíveis, que devassam esferas além do mundo ambiente, penetram seus detalhes, surpreendem seus aspectos e sentem a presença da divindade em toda a criação.

Se para uns a sensibilidade se resume em ouvir o zumbido imperceptível de um inseto, para outro vai ao ponto de perceber, como se costuma dizer, a sinfonia das esferas.

Sempre e sempre uma questão de grau na capacidade de per­cepção íntima, que deriva de maior ou menor adiantamento espiritual. Por isso as escolas do mundo antigo, em seus cursos iniciáticos, tentavam sempre o despertamento e o desenvolvimento de fa­culdades psíquicas para que, por meio delas, fôsse adquirido um conhecimento mais exato do universo criado e da própria alma hu­mana, nas suas ligações entre si e com a divindade.

Formavam médiuns, mesmo que tal coisa não pretendessem como nós o entendemos hoje, e sempre e somente com auxílio de faculdades mediúnicas é que conseguiam obter efeitos concretos no campo das realizações práticas.

Para isso submetiam o neófito a um aprendizado custoso e a um regime duro de sacrifícios e renúncias, para purificar o espí­rito e desprendê-lo das coisas do mundo; sabiam que para apurar a sensibilidade~ era necessário abater ou, pelo menos, disciplinar as paixões animais, governadas pelo instinto.

Mas, com o transcorrer do tempo, o sistema clássico das inicia­ções foi sendo posto de lado, porque os resultados eram sempre precários; raros aqueles que conseguiam atingir os objetivos visados e, como consequência natural, o conhecimento passou a ser em sua maior parte intelectual e teórico, sem nenhuma realização aprovei­tável no terreno prático.

É claro que os que possuem hoje sensibilidade já evoluída colhem o que plantaram em vidas anteriores, recebem o resultado, das experiências que já realizaram, das provas que suportaram, e seu número é restrito. São esses os que sem a coação da dor ado­tam mais depressa e sem discussão ou vacilações os ensinamentos da Terceira Revelação porque já tem, para as verdades que ela prega, mais ou menos acentuada afinidade espiritual.

Mas, como estamos vendo, a grande maioria dos homens, que não tiveram ainda sua atenção despertada para essas verdades, as únicas capazes de reformá-los moralmente, permanece a margem da extensa renovação espiritual que se está processando no planeta.

São ainda fortemente animalizados e para eles a vida se resume na satisfação das. paixões do instinto. A meta, para eles, ainda não está visível. De quase nada lhes valem os esforços, sacrifícios e dedicação dos companheiros encarnados e desencarnados que se in­quietam com sua posição de inferioridade evolutiva, porque se fazem surdos, cegos e impermeáveis a todo esforço de esclarecimento.

Representam um elemento de estagnação, de parada, de retarda­mento para a evolução da espécie. O Umbral e as Trevas são ainda suas moradias naturais.

Para eles os açoites da Providência estão sempre vibrando e vibrarão até que sejam atingidos os limites da própria obstinação e, esgotados então todos os recursos da tolerância divina, restará o remédio heróico da rejeição para mundos inferiores onde a vida do Espírito exilado deve ser horrorosamente edificante.

E esse trabalho já está sendo feito.

Autoria: Edgard Armond
Livro: Mediunidade

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