O CIÚME
O ciúme é um sentimento perturbador, que aflige a maioria das criaturas e alcança algumas outras espécies animais. Trata-se de uma emoção que se deriva do medo de perder-se a pessoa amada ou os objetos, posições e relacionamentos conseguidos ao longo da existência. É muito variável o seu grau de manifestação, apresentando-se de maneira sutil e simples até os casos mais graves de transtorno psicológico e mesmo mental, quando se transforma em fixação patológica.
O ciúme tem causas diversas, desde a infância, nos complexos de Édipo e de Electra, quando a criança ama o genitor do mesmo sexo e tem medo de perdê-lo. Noutros casos, são fenômenos de falta de autoestima e de ausência de segurança pessoal, por não acreditar nos próprios valores que lhe parecem insignificantes, facilmente superados pelos de outras pessoas.
Famílias desajustadas em que são demonstradas afeições diferenciadas entre os seus membros, com a eleição de uns em detrimento de outros, respondem a conflitos e recalques de autodesvalorização e medo. O ciúme transtorna a vida de quem o padece e agasalha, assim como daquele que lhe padece o aguilhão, porquanto a sua morbidez atormenta a ambos, envolvendo também outrem que lhe seria o causador.
Mesmo nas suas expressões mais simples, tem tendência de tornar-se destruidor, pela ausência de confiança e pelos tormentos que produz no paciente, inspirando-lhe, muitas vezes, crimes tenebrosos, a fim de livrar-se da situação. O ciúme é filho espúrio do egoísmo na sua faina de querer sempre para si, de não repartir emoções nem posses, encastelando-se em territórios de congelamento afetivo.
Pode-se facilmente superá-lo, quando os parceiros se resolvem pela honestidade do diálogo esclarecedor, oferecendo, cada um a seu turno, segurança e paz, defluentes do próprio ato de amar. Em casos mais graves deve-se recorrer à psicoterapia, a fim de libertar-se desse gigante da alma que alucina. O verdadeiro amor não se deixa corroer pela insegurança do ciúme.
Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 7.4.2016.
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