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12 outubro 2018

Eles já estão entre nós - Jaime Ribeiro



ELES JÁ ESTÃO ENTRE NÓS
Estamos preparados para receber uma nova ordem de humanos?

A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações – A Gênese Cap. XVIII -28.


Alguns jovens estão batendo nas nossas portas. Estão em silêncio, no fundo da sala das reuniões públicas ou vagando curiosos nas nossas livrarias, de prateleira em prateleira. Observam-nos atentamente. Muitos deles chegaram aos nossos centros após serem impactados por algum conteúdo espírita nas redes sociais. Outros, seguiram os passos de familiares ou sofreram alguma desilusão da vida e agora estão em busca de esperanças e consolações, exatamente como aconteceu conosco no passado.

Esses jovens foram atraídos pela força inexorável dos compromissos reencarnatórios. Eles já estão entre nós.

Na revista espírita de abril de 1866, por meio dos médiuns Srs. M e T, em sonambulismo, os espíritos nos alertaram que “os tempos estão chegados”. Falaram que a humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e que a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos.V A humanidade tornou-se adulta. Já conquistamos inúmeros recursos cognitivos e dominamos significantemente a ciência. Neste momento, estamos vivenciando o início de uma grande revolução tecnológica, no qual os dados e a inteligência artificial vão revolucionar as estruturas das organizações , afetando significativamente a forma como a humanidade se relaciona entre si.

Com a chegada dessas novas possibilidades, provenientes do domínio dos dados e o uso dessas informações extraídas do chamado big data(1), abrem-se as portas de novas necessidades para o ser humano. Faz-se necessário o desenvolvimento das habilidades emocionais e espirituais, essenciais para liderar essa nova fase, de maneira sábia e responsável. Elementos importantes para o protagonismo, diante da configuração dessas máquinas e robôs, para que sirvam ao bem comum do mundo.

Nessa fase adulta, na qual o intelecto já está desenvolvido e endereçado, abre-se espaço para o foco no amadurecimento moral e comportamental.

No meu livro novo, Empatia: por que as pessoas empáticas serão os futuros líderes do mundo, publicado este ano pela editora Letramais, alertamos para que o foco da educação, seja nas escolas ou nas famílias, contemple o fortalecimento das habilidades socioemocionais. No momento em que a tecnologia parece nos distrair com excesso de informações e conteúdo, a capacidade de discernir o que é relevante ou não, para nós e para o outro, agindo de forma empática, será uma das principais fortalezas da humanidade.

O fortalecimento dos chamados soft skills(2) é essencial para a consolidação de um novo ciclo, a nova era. Pesquisadores ao redor do mundo, demonstraram que se faz necessário descentralizar a responsabilidade e a urgência do entendimento dos temas relacionados ao trato humano; retirando a exclusividade das congregações religiosas e discussões filosóficas sofisticadas.

Essa convergência entre ciência e religião é mais um sinal de que o mundo de regeneração está chegando.

Para a concretização dessa nova etapa, milhares de seres de uma nova ordem espiritual estão reencarnando no mundo, com o objetivo de nos auxiliar nessa grande transição. Espíritos nobres, que se aliarão conosco, na preparação do mundo de regeneração. Já estamos recebendo essa nova categoria de espíritos, provenientes de sistemas e regiões mais evoluídas, para acelerar a evolução do nosso planeta.

Ao longo desse processo, anunciado pelos espíritos que coordenaram a codificação espírita, fica uma indagação: será que estamos preparados para receber esses novos colaboradores, nas nossas instituições? Será que estamos atentos e vigilantes para que eles não passem despercebidos aos nossos olhos desatentos?

Já há algum tempo, o mundo inteiro vem falando o quanto as outras gerações se assustam com a Geração Y- jovens nascidos pouco depois dos anos 80 até o ano 2000 - os chamados Millennials desafiaram o nosso tempo com suas transformações comportamentais e provocações sociais.

Esses jovens passam o dia inteiro interagindo, quase o tempo todo apenas pela tela de seus celulares. São ansiosos, autoconfiantes e não se encaixam facilmente em hierarquias. Contudo, são mais preparados para lidar com as diversidades e se preocupam com o meio ambiente como nunca nos preocupamos antes na história da humanidade.

Os Millennials são menos propensos a se vincular a uma instituição religiosa. Acreditam que a religiosidade é mais importante do que a religião, exatamente como nos ensinaram os espíritos há várias gerações atrás. Essa característica é suficiente para demonstrar a sinergia entre eles e a perspectiva religiosa da Doutrina Espírita, que ressignificou o culto religioso, trazendo-o para dentro do coração. Afastando-o das formas exteriores e resgatando a característica singular que Jesus trouxe à relação com o Criador.

Provavelmente, essa é uma das gerações que veio nos preparar para as novas fases que estão na iminência de se apresentar ao mundo: épocas caracterizadas pela dominância da tecnologia em quase todas as frentes da organização humana.

Só que não parou por aí. Depois deles já chegou a Geração Z, que já nasceu submetida às novas tecnologias e formas de interação, entre 1994 e 2010, os primeiros nativos digitais. Essa nova geração, não se conforma em ser passiva e tem profundo interesse em produzir e consumir o seu próprio conteúdo. Quem nunca ouviu falar dos youtubers, que desafiam a audiência de grandes emissoras e celebridades da televisão? Enquanto nós sonhávamos com a facilidade de ter tudo pronto e disponível nas nossas casas para economizar tempo, eles são encantados com a possibilidade de fabricar e customizar o que consomem.

Segundo alguns amigos de Chico Xavier, Emmanuel teria reencarnado no Brasil por volta do ano 2000. Uma provocação que precisamos nos fazer nesse momento é: seríamos capazes de reconhecer Emmanuel, hoje um jovem de aproximadamente 18 anos, se ele chegasse em nossas casas, com fones de ouvido e smartphone na mão, nos “desafiando” a construir um novo conteúdo ou uma nova plataforma digital para o movimento espírita? Ele teria espaço para nos ajudar a redesenhar a dinâmica de nossos estudos doutrinários longos e tradicionais? Será que esperamos que ele, ou algum espírito da mesma ordem de grandeza, cheguem às nossas casas apenas na meia-idade, empunhando pergaminhos e vestidos com o figurino do romance Há dois Mil anos? Receberíamos com alegria as suas sugestões e ideias, nos tornando responsáveis por conduzir e ajudar a desenvolver tamanho potencial espiritual, ou faríamos com que ele desistisse de nós e procurasse outra casa? Lideraríamos oportunidades para que eles desenvolvessem suas habilidades mediúnicas e doutrinárias ou transformaríamos esse processo numa prática de resiliência e paciência?

Emmanuel, se você está lendo esse artigo aqui no blog da Intelítera, por favor, não desista da gente. Nós estamos nos preparando e lutando contra os desafios das transformações de nossa época. Foi mal, Mano! 😊

Se você for um jovem espírita e estiver de alguma forma triste com a gente: persista. A Doutrina Espírita é o Consolador prometido por Jesus. Precisamos de você para executarmos juntos a transição planetária. Será uma alegria me conectar com você também: meu instagram é @jaimeribeiro.

Eu, particularmente tive muita sorte. Quando era um jovem - da Geração X- no movimento espírita, em Pernambuco, encontrei mentores e orientadores na Sociedade Espírita Bezerra de Menezes. O mais importante foi Luiz Mário, hoje já no plano espiritual, que silenciosamente me incentivou aos estudos da codificação e me engajou ao trabalho doutrinário e social. Uso a palavra sorte, porque ouvimos muitos os relatos de jovens que se desapontam ao tentar desenvolver alguma atividade em instituições Brasil afora, alguns se mantém firmes à Doutrina, outros se desapontam e retardam a tarefa. Diferente do que pensamos, a culpa não é deles. A tarefa de integrá-los e desenvolvê-los, é nossa.

Provavelmente ainda estamos presos à forma como fomos engajados ao espiritismo no passado, o que nos leva a acreditar que as novas gerações devem se adequar ao formato que acreditamos ser o melhor. Para nós, se eles não entendem, é um indício de que não estão efetivamente comprometidos ou preparados para servir a Jesus.

Estamos tão enganados como os pais que tentam fazer os filhos se interessarem por atividades, jogos, músicas, danças e filmes que gostavam na sua época de juventude. Alguns jovens podem até achar legal conhecer os gostos dos pais, mas, em alguns momentos, pode parecer bem estranho para eles.

Desde a época do surgimento dos primeiros Millennials, estamos quebrando a cabeça para entender porque nossos centros e nossos eventos estão com pouca participação do público jovem. Quando assumimos que eles já não têm interesse por questões espirituais como nós tínhamos, estamos repetindo o mesmo comportamento que nossos pais tiveram no passado, quando apontaram que a nossa geração, já não cultivava valores morais nobres como a deles. Assim como nossos pais estavam exagerando na análise dos conflitos de gerações, nós também estamos, quando realizamos esse confortável julgamento.

Allan Kardec apontou que “a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior” (A Gênese Cap. XVIII -28 fonte Kardecpedia).

Ao longo dos últimos anos, nos ocupamos em buscar atividades para encantá-los. Promovemos corais, brincadeiras, salas coloridas e outras atividades, numa tentativa bem-intencionada de adivinhar quais os seus objetos de interesse. Tomamos essas nobres iniciativas, desavisados do fato que essa geração gosta de criar suas próprias dinâmicas, cabendo a nós o dever de apoiar e amparar.

Muitas vezes, desejamos que eles assumam compromissos com o trabalho do bem sem entendermos a melhor forma de promover essa nova rotina. Repetimos “disciplina, disciplina e disciplina” para eles, mas o que vai fazer com que se engajem no trabalho e se adequem á disciplina do serviço do bem, é o propósito claro e a alegria da liberdade em servir. Para eles, o compromisso vem depois do engajamento. Nós queremos que seja o inverso.

Infelizmente estamos enganados. Essas novas gerações não vão se comprometer com alguma atividade só porque falamos que é bom e necessário. Os bônus horas, para eles, são os bitcoins(3) espirituais que estão dispostos a acumular, mas precisam que deixemos claro, de forma racional, os benefícios do serviço no campo do bem.

Dessa forma, as instituições filantrópicas também precisam se desafiar a avaliar novos modelos de voluntariado. Preparando-se para receber a cota de dedicação, mais ou menos generosas, que cada um deles tem para oferecer nesse momento da vida.

Diferente do que a maioria de nós imagina, essa forma de eles se envolverem não é um problema. A fração de trabalho, ou o nível de engajamento que cada um pode dar, serão sempre bem-vindos no campo do trabalho do Cristo. Se o jovem só pode vir duas vezes ao mês ao trabalho no orfanato do centro, não é porque seja menos compromissado com a sociedade do que o voluntário de meia-idade que vai toda semana fazer a mesma tarefa. Ele apenas pode ter outras tarefas para cumprir, como estudar, estar com os amigos, praticar esportes, viajar com a família ou simplesmente ser jovem. Precisamos compreender essa nova dinâmica social.

É verdade que os jovens são chamados “trouble makers” (criadores de problemas), mas é exatamente essa que é a nossa necessidade, em especial nas casas espíritas. Isso é uma boa notícia para a nossa evolução. Para não nos tornarmos obsoletos no nosso próprio mundo e na nossa própria época. Precisamos de maturidade espiritual para aproveitar todos esses “problemas” apresentados e trazidos para nossa zona de conforto, para garantirmos a continuidade do movimento espírita, por meio da modernização das práticas sociais e consolidação inovações nos modelos pedagógicos de estudos doutrinários.

Lembremos que Jesus também foi considerado pela sociedade de sua época, um criador de problemas. Nosso Mestre curava aos sábados e se hospedava na casa de cobradores de impostos, o que já era mais do que suficiente para escandalizar os sacerdotes e religiosos. Giordano Bruno foi considerado “trouble maker” porque discordou da Igreja e falou que a Terra não era o centro do universo. Kardec também foi um “trouble maker” para os espiritualistas americanos, quando a Doutrina Espírita apresentou a reencarnação e a igualdade entre senhores e escravos, perante as leis de Deus.

Os trouble makers são necessários para a evolução do mundo e da sociedade. Sem a provocação bondosa e fraterna, não há ruptura e avanço espiritual.

Por isso, precisamos estar atentos para não falharmos como líderes nesse processo de aceleração da Nova Era, como falei no meu último artigo aqui no blog. Em especial aqueles que são dirigentes das casas espíritas, têm o compromisso de preparar os sucessores para continuarem a missão de alavancar o progresso do nosso mundo. Não daqui a 20 anos: AGORA!

Como falou o codificador: sabemos que o Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque acaba com os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o fanatismo.

Ultimamente, temos visto empresas, escolas, universidades e grandes instituições, se movimentando e se adaptando para atrair talentos dessas novas gerações, com o objetivo de garantir a continuidade de seus produtos e serviços. Essas organizações estão em busca de se conectar ao mundo atual e se preocupam em não perder a própria relevância. Nós precisamos seguir o exemplo deles e fazer o mesmo em nossas instituições e eventos doutrinários.

Se eu pudesse, humildemente, apontar uma tarefa como a mais importante para que o movimento espírita eleja como foco para os próximos cinco ou dez anos, eu resumiria no esforço para responder sim para a pergunta que eu faço novamente: Estamos preparados para receber o jovem Emmanuel reencarnado, com seu smartphone na mão e querendo modernizar o youtube do nosso centro?

Ao fazer essa pergunta novamente, acredito que oficialmente entramos na lista dos trouble makers. Contudo, tenho certeza que após uma breve reflexão coletiva, seremos absolvidos e chamados também de “problem solvers”(4)

Jaime Ribeiro
 Fonte: Intelitera

Notas:

(1) Big data é um termo que descreve o grande volume de dados — tanto estruturados quanto não-estruturados — que sobrecarrega as empresas diariamente
(2) habilidades ou capacidades relacionadas com a inteligência emocional, com as habilidades mentais de cada pessoa.
(3) são moedas virtuais modernas.
(4) Tradução livre: resolvedores de problemas



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