NO CAMINHO DAS MUDANÇAS
Tudo, naturalmente, possui seu início e um dia chega ao seu fim. Esta é a lei que vigora no Universo para as coisas que são temporárias. A eternidade, representada em Deus, ou a imortalidade expressada na vontade do espírito, não fazem parte desta lei maior, apenas é efêmero aquilo que não possui consistência, beleza, pureza, autenticidade, virtude.
No mundo da política, na organização da sociedade, nos fatos da vida, bem sabemos, tudo é regido pela temporalidade. Há início, crescimento e fim. Esta é a lei. O que fica é o conhecimento dos fatos, a expressão de sabedoria pelo aprendizado, a argúcia em evitar escolhas infelizes, o ciclo do ensino para o espírito.
A vivência de muitas eras na política, nesta última vida na terra e em outras mais, fez-me consciente que nem tudo está perdido quando se está num limite de tolerância no embate das forças.
Já vi governos fracassados darem a volta por cima e ganharem novamente o respeito popular. Já observei governos honrados se despedaçarem ao longo tempo pela perda de credibilidade. Já presenciei homens bem intencionados não conseguirem materializar as suas promessas. Já vi de tudo um pouco.
A atual crise brasileira, apesar das suas proporções gigantescas, haverá de passar, é natural. Pode demorar um ano, dois ou até mais, sucumbirá um dia, no entanto.
As lições do caminho é que serão importantes de serem tiradas porque um embate de forças deixa marcas e consequências. A irresponsabilidade de quem por ventura exerça o poder será, cedo ou tarde, descoberta e eliminada. Quando, porém, se está no olho do furação imagina-se que aquilo dure uma “eternidade”.
Pois bem, vi outras crises no Brasil.
Vi golpes de Estado na era Vargas.
Vi golpes sucessivos da retomada democrática de 1946 até o último deles em 1964.
Todos eles trouxeram traumas. Sequelas que até hoje se ressentem em alguns aspectos da vida política e social brasileira.
A crise que aí está possui contornos diferentes. A hegemonia de um partido que se intitulava popular não poderia ser ancorada na descoberta generalizada de um ambiente de corrupção. Logo aquele partido que exigia o exemplo se transforma no principal protagonista do mal lavado.
O povo, com isso, sofre, porque representa a parte mais frágil do processo social e econômico. É logo ele que é chamado para pagar as contas do prejuízo causado em nome do Estado.
Ele que nada teve a ver passa a ser o objeto das consequências dos desmandos. Sim, é claro, ele votou nos que estão no poder, mas logicamente todos eles pensam no melhor. Desta vez, porém, errou.
O que fazer? Como sair da crise? Como estancar esta sangria?
Algo já está sendo feito: deixar que as instituições livres possam encontrar a razão de ser dos fatos e que, depois de apurados, encontradas provas de mau uso do dinheiro público seja feita a devida punição dos envolvidos.
Por outro lado, vê-se a falta de liderança onde se esperava o árbitro do desenvolvimento e da paz social.
Oportunistas, como de costume, ficam de plantão tentando obter vantagens do desgaste dos atores em questão.
O povo continua a sofrer neste ínterim.
Vou dizer algo que pode chocar, apesar das consequências desta minha opinião, optando do lado de cá da vida. É melhor tudo continuar como está.
Alguém, ou em coro, poderia afirmar: de onde vem este espírito governista? Que depoimento é este que nada ajuda? É mais uma invenção deste médium que não tem o que fazer?
Ora, o que defendo, aliás, o que se defende do lado de cá da vida é que não se deve retirar do povo a sua oportunidade de aprendizado. É neste momento de confusão, de sobrevivência política para muitos, que conhecemos a verdadeira face dos políticos de plantão. Conhece-se quem realmente cada um é.
Bem mais do que isso.
A indignação generalizada exigirá da classe política tomada de posições que, em dias de calmaria, jamais ocorreriam.
As mudanças institucionais ocorrerão pela pressão popular.
Tudo será repensado para que não haja convulsão social.
Tudo, portanto, representará sinal de ganho e aprendizado coletivo.
É lógico que há perdas neste processo, mas onde estará a lei da destruição aprendida pelos espíritas em seus compêndios? Para que serve ela? Por ventura, desejam um parto sem dor?
Tudo isto é necessário para que o conjunto social reflita e tome as decisões de mudança para se alcançar um patamar melhor na política, na economia, e na questão social.
Sejamos práticos. Por acaso, alguém acha que o mundo se transformará num estalar de dedos do Criador e que trauma algum haverá?
Claro que não! É importante passar pela dor para não mais suportá-la. É assim que se aprende, todos sabem, no nível individual como no geral. É assim que os brasileiros aprenderão com tudo que aí está. Com perdas e ganhos, mas no final, certamente, com saldo positivo de mudanças.
Que cada um faça a sua parte.
Que cada comunidade promova os seus gestos de indignação e mudança.
Que sejamos construtores coletivos desta nova realidade.
É assim que o Brasil avançará no conjunto das nações.
Pagará seu preço, alto até, mas avançará. Mais firme e mais forte. Mais determinado e mais unido.
Que venham as mudanças e que Jesus nos abençoe nesta caminhada de encontro com o nosso destino de ser referência para o novo momento que passa a humanidade terrestre.
Firme com Jesus!
Freitas Nobre*
Texto recebido por Carlos Pereira em 15 de agosto de 2015.
*José de Freitas Nobre (Fortaleza, 24 de março de 1921 - São Paulo, 19 de novembro de 1990) foi um advogado, jornalista, professor e político brasileiro.
Na década de 1970, foi eleito deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro, pelo Estado de São Paulo. Tornou-se líder do partido na Câmara de Deputados e foi um dos políticos que, da tribuna, mais se opôs à ditadura militar.
Foi também líder espírita, diretor do Folha Espírita
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