Cooperação com o Bem
O outro irmão decidiu também cooperar com Deus.
Eu quero servir a Deus. Mas, eu quero servir a Deus aqui, no meio do povo, junto à minha gente. E ficou no vilarejo atendendo às multidões.
O irmão, que subiu a montanha, passou muito tempo lá. Desenvolveu de tal forma a sua capacidade mental, o seu poder de concentração, sua integração com as coisas do Cosmo que, quando pensava algo negativo, era capaz de dissolver a neve.
Lá embaixo, o outro irmão trabalhava as necessidades alheias, tratava feridas, as chagas abertas, as dores do mundo.
O irmão que tinha subido a montanha para meditar, sentiu saudade do outro que ficara lá embaixo e decidiu visitá-lo.
O grande desafio para ele era: Como é que eu vou, depois de tanto trabalho aqui em cima, misturar-me àquela gente lá embaixo? Como é que eu vou?
Mas, a saudade era grande, e ele pensou:
Bem, vou fazer uma bola de neve bem compacta e levo comigo porque eu posso verificar como é que vai ficar meu pensamento. Poderei sentir se meu pensamento desviar do bem.
Fez a bola de neve e desceu a montanha, silencioso. Quando chegou, depois de muitas horas, lá embaixo, no vilarejo, depois de tanto tempo, saiu a perguntar:
Onde estaria Fulano? O seu irmão. Onde estaria aquele homem?
Alguém apontou um casebre. Algumas folhas de palmeira cobriam o casebre e debaixo, no meio de jovens, de crianças, de velhos, um homem de barbas longas, a cabeça já alvejada pelo tempo, cuidava da perna de uma jovem morena, muito linda, que esticava-a sobre as pernas dele. Ele tratava de uma ferida aberta, com toda tranquilidade, com toda paz do mundo.
O irmão visitante começou a olhar a jovem que era tratada pelo irmão barbudo.
Foi olhando aquela jovem bela, fixou-se na sua perna esticada e a bola de neve começou a derreter em sua mão.
A moral da história é que é muito fácil ser virtuoso e cooperar com o bem, longe do mal e dos desafios.
O nosso grande repto, o nosso grande desafio na Terra é cooperar com Deus na luta que temos. É cooperar com Deus no meio das adversidades, no meio de toda essa loucura em que estamos, no meio da criminalidade, da corrupção, das mentiras, das falcatruas, das inimizades.
É exatamente para esse meio que Deus nos mandou. E, se o Criador nos mandou pra cá, para viver essa experiência, é porque Ele sabe que aqui, nesse caldo de cultura, é que teríamos melhores e maiores chances de crescer, cooperando com o bem na Terra.
Não adianta sermos virtuosos, no meio de virtuosos.
O mundo é de provas, o mundo é de expiações, exatamente porque temos que aprender a tirar leite da pedra, a transformar limões em limonada.
É por essa razão que a nossa cooperação com o bem não pode se restringir a viver entre pessoas boas, no sentido de ajudá-las. Não são os bons que precisam de nossa ajuda, como disse o Cristo: Os sãos não precisam de médico, quem precisa de médico é quem é enfermo.
Ainda que tenhamos por amigos do coração as pessoas do bem, as pessoas harmonizadas, as pessoas que nos ajudam a crescer, não esqueçamos que temos um compromisso de estender as mãos àqueles que estão na retaguarda, àqueles que estão atormentados, os que não conseguem entender e ver a vida como nós já conseguimos compreender e ver a vida.
É preciso ser cooperador do bem, mas onde ele não existe, porque senão, choveremos no molhado.
Seremos como aquele homem que conseguia dissolver a neve com seu pensamento, mas que não tinha dissolvido da alma o olho mau, o olho ruim, o olho lascivo e pecador.
* * *
É desse modo que começamos a pensar de que maneira poderemos colaborar com o bem, de que forma poderemos cooperar com o bem no mundo em que estamos.
Parece que a nossa ação não vai servir para nada. O discurso comum é que tudo está perdido, nada tem mais jeito.
Mas, como? Como é que Deus continua mandando crianças para a Terra?
Como é que Deus continua nos dando sol, chuva, primaveras e verões, se não tivesse mais solução para nada?
Por que continua a nos dar sementes para serem semeadas?
É porque as coisas não estão perdidas. Há muita gente perdida na Terra, mas nós poderemos lhes ajudar a encontrar o caminho. Nós poderemos ser-lhes bússola ou apresentar-lhes uma.
Daí nós poderemos colaborar com o bem, cooperar com o bem, enaltecendo os valores das pessoas valorosas.
Como é difícil falarmos coisas boas de quem é bom. Parece que ao falarmos do bem das pessoas boas, nós ficaremos diminuídos, quando não é verdade.
Quando falamos o bem de alguém, a virtude das pessoas que a gente conhece, um vizinho, um colega da escola, um amigo, um professor, um familiar, ou alguém que a gente não conhece, mas que viu na televisão, que leu no jornal, quanta gente boa sobre as quais nós podemos falar coisas boas, ajudando o bem a ganhar espaço no mundo.
Quantas vezes podemos dizer a palavra que esclareça, que ilumine, que oriente na hora certa. Ajudar a alguém na hora certa, com uma palavra.
Poderemos cooperar com o bem, silenciando diante da ofensa, da agressão de alguém, por que se nós respondermos naquele impulso da hora, da cólera, da mágoa, com toda certeza nós magoaremos também os outros.
O grande problema - nos lembrou o Homem de Nazaré - não é o que nos entra de fora para dentro, não é o que nos entra pela boca da alma, é o que sai dela. Porque aquilo que nos chega proveio de alguém e esse alguém será responsável. Mas, o que sai de nós e é negativo, a responsabilidade é nossa.
Então poderemos cooperar com o bem, fazendo o bem, falando o bem, ensinando o bem, indicando as coisas boas. Temos tantas formas de fazer isto.
O mal não merece comentário em tempo algum. Mas, se houver necessidade de comentarmos o mal de alguém que seja para extrairmos o bem dessa lição.
É nesse pensamento que se apóiam os moralistas, aqueles que ensinam a Humanidade a viver melhor, acompanhando as formas pelas quais a Humanidade vive pior.
Então, cooperar com o bem não é apenas adquirir virtudes em branco, pureza em branco. Aquela pureza teórica de quem se esconde do mundo, de quem se tranca a sete chaves.
A cooperação com o bem, toda a cooperação com o bem exige que saiamos ao campo de lutas, ao campo de batalha. É no mundo onde deveremos nos desenvolver.
Não esqueçamos da oração sacerdotal de Jesus. Ela foi chamada assim nas traduções – a oração sacerdotal de Jesus, quando Ele pede a Deus em relação aos Seus discípulos:
Senhor, Eu não Te peço que os tires do mundo. Eu Te peço para que os livres do mal.
É no mundo que deveremos estar. A nossa grande preocupação é viver no mundo sem nos tornarmos uma pessoa mundana, negativa, infeliz e inferior. Jamais nivelar por baixo em termos morais.
Nivelar-mo-nos sempre a partir daquilo que é nobre, que é digno, que é bom, cooperando com o bem.
Por isto, vale a pena entender as lições de Paulo de Tarso quando nos propõe falar aquilo que convenha à sã Doutrina; falar aquilo que represente o bem, que seja conveniente ao bem – a Boa Doutrina, a boa orientação do Homem de Nazaré.
Podemos cooperar com o bem de múltiplas formas, começando de nós, tratando de nós, gostando de nós próprios, melhorando a nossa autoestima, iluminando o nosso coração para que, de um coração iluminado, possam partir energias positivas na direção dos outros, na direção do mundo.
Foi Cristo que disse que: A boca fala daquilo que está cheio o coração.
Se o nosso ser, se a nossa intimidade estiver cheia de luz, não haverá outro recurso senão falarmos claridades, cooperando com o bem.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 140, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em abril de 2008.
Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 24 de maio de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário