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23 outubro 2009

Sofrimentos Morais - Manoel Philomeno de Miranda


Sofrimentos Morais

A simples desencarnação de forma alguma liberta o Espírito dos seus hábitos e necessidades até então cultivados.

Impregnado pelas sensações em que se demorou, quando interrompidos os vínculos carnais permanecem os mesmos condicionamentos impondo-se como expressões que exigem atenção e cuidados.

Sensibilizado pelos impositivos que lhe constituíam recurso vital para a fixação no corpo, o perispírito continua canalizando para o ser espiritual os conteúdos que proporcionam alegria ou dor, conforme o teor vibratório de que são formados.

Os vícios mentais, os hábitos orgânicos e sociais, as ações desenvolvidas são elementos que nessa fase somatizam às impressões vigorosas nas tecelagens delicadas do Espírito, transformando-se em sensações e emoções correspondentes.

Algumas são tão fortes que se fazem correspondentes às físicas anteriormente vivenciadas, transformando-se em bênção, quando elevadas, ou incomparável suplício, se formadas por energias deletérias.

Convertendo-se em necessidades, impõem atendimento orgânico, como se a argamassa fisiológica se mantivesse em funcionamento.

Como é compreensível, o interromper de um hábito qualquer por circunstância não elegida, não consegue anular-lhe o condicionamento, particularmente se for

acolhido por largo período, no qual a pessoa se comprazia, centrando os interesses mentais e emocionais no seu desfrutar.

Transformando-se em martírio que não diminui de intensidade, em razão da carência não atendida, inflige sofrimentos morais de difícil definição.

Somem-se a essas sensações as ânsias, mágoas, angústias e o despertar da consciência, que faculta a avaliação das experiências fracassadas e torna-se volumoso o fadário que enlouquece muitos recém-desencarnados.

A autoconsciência é responsável pela ressurreição de fantasmas que pareciam extintos ou esquecidos, mas que nessa hora ressumam dos refolhos do inconsciente, assumindo forma e tomando força, transformando-se em algozes implacáveis, cujas aflições impostas se caracterizam pelo superlativo.

A descoberta do tempo malbaratado, a constatação dos erros e delitos perpetrados, o arrependimento tardio formam componentes punitivos que camartelam o ser espiritual, transformando-o.

Todos os sofrimentos são dilaceradores das carnes da alma, no entanto, aqueles de natureza moral são mais severos, porque ínsitos no âmago do ser não dão trégua a quem os padece.

Sem o costume salutar da oração lenificadora, nem da meditação saudável, a vítima de si mesma não encontra conforto para minimizar-lhes a intensidade, entregando-se à degradação da revolta ou ao abandono na agonia com que mais se agravam as aflições íntimas. Estorcegam então, sem consolo moral, atirando-se pelos resvaladouros da rebeldia e da blasfêmia, exaurindo-se e desfalecendo, para logo retornarem sob a mesma carga aflitiva de intérmina duração...

Tal ocorrência tem lugar, porque ninguém foge da sua realidade interior.

Desalojado o Espírito do domicílio celular, prossegue como antes, com a diferença exclusiva de encontrar-se desvestido da couraça orgânica.

Todos o seus valores permanecem inalterados, assim como os seus desejos e vinculações.

A frustração amarga por não poder administrar a máquina atual conforme o fazia com a orgânica, exaspera e alucina.

A nova dimensão para a qual se transferiu mediante a morte do corpo tem as suas próprias leis e constituição que não se alteram quando enfrentadas ou agredidas pelos que a alcançam.

O ser humano é essencialmente o conjunto dos seus hábitos mentais e contingências deles decorrentes.

Transferindo-se de habitat não se libera das condições a que se submetia, antes condu-las, e mais lhes sente a pressão em face do novo campo vibratório em que se encontra.

As dores morais no além-túmulo são uma realidade muito significativa, como sucede em relação à felicidade, à alegria, ao bem-estar, à paz, para aqueles Espíritos que se conduziram na Terra com retidão, equilíbrio, lucidez, abnegação.

Com admirável coerência, acentuou Jesus: — A cada um conforme as suas obras.

A morte, portanto, é a grande desveladora da realidade para todos quantos se encontram em trânsito pela névoa carnal, rumando, mesmo que sem se dar conta, para a Vida plena.

Alargar os horizontes mentais para a contemplação da madrugada imortal deve ser o compromisso de todos os seres humanos, mediante a vivência do dever reto, da consciência digna e dos pensamentos saudáveis.

Por: Manoel Philomeno de Miranda
Médium: Divaldo Pereira Franco,
página psicografada em 26-7-1999,
no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA

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