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06 dezembro 2010

Os Adversários, Mestres Oportunos - Joanna de Ângelis

Os Adversários, Mestres Oportunos

Abraçando os ideais de enobrecimento, pensa-se que todas as criaturas estão vibrando no mesmo diapasão do progresso e que, em consequência, haverá uma natural adesão em torno dos objetivos relevantes que devem conduzir as vidas para os altiplanos da felicidade.

O ser humano é um conquistador insuperável, fadado às estrelas que lhe estão ao alcance, na medida em que se empenha por alcançá-las.

Desde a descoberta do fogo e do invento da roda, o seu mundo jamais foi o mesmo, alterando os seus padrões de comportamento e de convivência no rumo de melhores resultados.

Mediante o esforço e o raciocínio que se lhe foi desdobrando – a Divina Presença no cerne do ser! – levantou-se e começou a avançar na direção do Infinito, ora sob dores acerbas, noutros momentos em júbilos inexcedíveis, conquistando espaços e adquirindo conhecimentos.

Renascendo em contínuo processo de crescimento intelecto-moral, vem acumulando as experiências que se transformam em bênçãos que deve esparzir pelos caminhos percorridos, deixando pegadas apontando o porto de segurança que se encontra sempre à frente.

Quando atraído pela mensagem libertadora de Jesus, porém, modificam-se-lhe as paisagens interiores e alteram-se-lhe os interesses, ampliando-lhe as possibilidades de ser útil, conseguindo um significado especial para a existência.

Nada obstante, porque se movimenta num planeta igualmente de provas e de expiações, não se pode furtar à psicosfera que lhe é peculiar, nem às injunções que o caracterizam.

Compreensível, portanto, que nem todos aqueles que navegam na mesma barca da evolução estejam firmados em propósitos de edificação nobilitante, alguns ainda detendo-se em estágio inferior, assinalados pelo primarismo de que se fazem portadores.

Indiscutivelmente, o processo de transformação interior, no qual os instintos cedem lugar aos valores da razão e da consciência, é lento, ainda mais, tendo-se em vista que nem todos os viandantes da indumentária material iniciaram-se no empreendimento espiritual no mesmo instante.

Procedentes de especiais momentos da evolução, incontáveis, inevitavelmente, encontram-se em patamares diferentes, que explicam as diversas aspirações que os tipificam.

Felizes aqueles que já compreendem os impositivos da existência terrena, após vencerem os impulsos agressivos que lhes conferiam a sensação de dominadores do mundo e que o sentido exclusivo da vilegiatura carnal seria conquista dos prazeres e das sensações que mais os agradam.

Aqueles que são mais fisiológicos do que psicológicos, detêm-se nas faixas das paixões primevas e, mesmo quando a consciência se lhes desperta, prosseguem vivenciando um período de transição, que ainda lhes não permite uma visão perfeita da realidade. Embora ansiando por algo melhor, competem, quando deveriam cooperar, malsinam os companheiros, quando lhes cabia o dever de os auxiliar, porque a predominância do ego torna-os ambiciosos e prepotentes.

Não sabem servir com abnegação, sem servir-se, retirando os lucros do orgulho e da presunção, que lhes constituem a moeda retributiva. Podem mesmo desejar ser melhores, no entanto, os impulsos afligentes que resultam dos conflitos e dos complexos de inferioridade que os acompanham de existências pretéritas, transformam-nos em inimigos de todos aqueles que supõem lhes farão sombra...

São infelizes, disfarçados de joviais, humanitários e bondosos, na hipocrisia em que vivem, ocultando os sentimentos inferiores.

Desse modo, transformam-se em adversários perversos dos demais que não lhes compartem as ideias e que pensam pretenderem excluir.

* * *

Adversidade é lição para a vida e adversários são mestres que proporcionam o treinamento no bem., sem o concurso do aplauso ou da bajulação habituais, dificultando o trabalho honorável do servidor fiel.

Esses irmãos infelizes que se propõem envenenar-te os sentimentos com a sua pertinaz perseguição, merecem compaixão ao invés de reproche ou de animosidade.

Se é verdade que não lhes deves facultar um relacionamento pusilânime, não é justo devolveres os seus pensamentos enfermiços com outros do mesmo gênero.

Sofres, porque gostarias de servir sem a presença desse tipo de tribulação.

Choras, porque os teus são anseios de construção do amor em toda parte, e, no entanto, sentes o amargor da calúnia que te antecede os passos, da maledicência que te aturde quando lhes tomas conhecimento, ou da zombaria depois que vais adiante...

O melhor comportamento em tais circunstâncias é não valorizar o mal nem aquele que se te fez mau.

Concede-lhe o privilégio de ser como se encontra, mas impõe-te o dever de ser fiel ao compromisso com Jesus, que também experimentou iguais ofensas sem dar-lhes a menor importância.

Gastas tempo e preocupação mental com esses companheiros que te vigiam e acusam, que te acompanham com insistência e infernizam os momentos em que trabalhas e quando repousas.

Ficas indagando como conduzir-te, desde que, se silencias ao mal e ao descalabro que reinam, acusam-te de omisso, mas se levantas a voz e proclamas a verdade, taxam-te de intolerante e mendaz...

Desse modo, faze o que deves e comporta-te conforme estabelece o teu programa ante a consciência do dever.

Esses adversários dos teus objetivos não são apenas opositores teus, mas, sem dar-se conta, dAquele a quem procuras servir, que os entende e concede-lhes tempo para a reabilitação.

Aprende, portanto, com os inimigos, fraternidade legítima, compreensão gentil, exercitando sempre a compaixão.

Na aduana da caridade, a misericórdia e o amor dão-se as mãos, a fim de ensejarem à virtude máxima a ocasião de expressar-se.

Constituam-te estímulo o serviço desses mestres desconhecidos, apurando-te mais, qualificando-te melhor, a fim de produzires com segurança na seara da elevação espiritual da humanidade.

Ninguém atravessa o rio carnal sem experimentar a correnteza violenta sobre a qual navega o Espírito.

Todos os homens e mulheres afeiçoados ao bem pagaram o pesado tributo da diferença entre eles o os que os cercavam, a época em que viveram e naquela pela qual anelavam, e é graças a eles que percorres os atuais caminhos por onde segues em júbilo e dores, porém, fixado na meta que te fascina.

* * *

O mundo ainda não tem condições de compreender e aceitar o compromisso da iluminação íntima como primeiro passo para a marcha ascensional.

Por enquanto, somente aqueles que se fizeram fortes e decididos conseguem ultrapassar as barreiras das dificuldades, colocando marcos na senda escura, de maneira a facilitar a jornada espiritual dos que virão depois.

Todo desbravador carrega as marcas da sua audácia de aventureiro do progresso. Abrem picadas na densa mata, traçam roteiros nos mares bravios, alçam-se aos céus ampliando os espaços e caminham sobre acúleos, quebrando-os, assim preparando a senda para o porvir...

Exulta, portanto, por teres adversários, mestres desconhecidos, a seres adversário de quem quer que seja.

Joanna de Ângelis

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na noite de 2 de junho de 2010, em Istambul, Turquia

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