Possivelmente seja perda de tempo
acercar-nos desse cansativo tema. Todavia, acreditamos que sob o pálio
do velho adágio “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, a
questão pode ser abordada de forma menos complicada. Antes, porém,
reafirmamos tudo o que já registramos muitas vezes na imprensa: os
livros insalubres não devem ser comercializados nas livrarias de uma
instituição espírita! Nem mesmo em nome da surrada cantilena “liberdade
de expressão”. “Não faz nenhum sentido as instituições continuarem
comprando essa literatura [infausta]. Deveriam fazer a barreira de
obstrução mesmo sem brigar com ninguém, até porque somos espíritas e é
urgente saber o que é um livro genuinamente espírita.” (2)
Raul Teixeira explana o seguinte:
“quanto mais descomprometido com a Doutrina Espírita é o ‘livrinho’ ou o
‘romancinho’, mais o povo gosta. Somos responsáveis por essa chuva de
lodo sobre a nossa literatura espírita que dá lucros exorbitantes.
Muitos clubes do livro [com honrosas ressalvas] não respeitam a Doutrina
Espírita e normalmente colocam mensalmente um livrinho “baratinho” para
cobrar mais caro e terem altos lucros sobre os seus assinantes.” (3)
Atualmente são vendidos a rodo esses destroços literários. “É preciso
frear a entrada dessas obras nas instituições. Que os editores vendam
onde quiserem, menos no centro espírita.
É muito importante os espíritas
assumirem posição. Nunca será falta de caridade denunciar o mal. Falta
de caridade é nossa omissão ante a disseminação do mal através dos
livros. Não podemos entrar na falácia de que o mal é querer o bem.” (4).
Há obstinados gênios das trevas divulgando “pérolas azuis” do tipo “o
mundo espiritual é uma cópia do mundo físico e não o contrário”; “a
mulher desencarnada sofre fluxos menstruais”; “os Espíritos vão ao
banheiro e dão descarga”, “instrutor espiritual conta piadas
pornográficas”, “mentor descreve com minúcias as curvas sensuais de
jovem desencarnada”, “mentor endossa o aborto de anencéfalos”. É
chocante! Nessa invasão “mediúnica” enunciam “que existem
relacionamentos sexuais para promoção de ‘reencarnação’ no Além”. Ah!,
por falar em reencarnação, tais livros revelam as várias “reencarnações”
de Allan Kardec, culminando por encontrar o mestre de Lyon imerso num
corpo (re)nascido em Pedro Leopoldo.
Seria patético se não fosse
burlesco, ou o avesso?! Seria cômico se não fosse é trágico. Garante tal
literatura que “as pretas e pretos velhos, caboclos e correlatos, são
entronizados como mentores de instituições espíritas.” Óbvio que as
tradições das práticas mediúnicas africanas e ameríndias não padecem de
discriminação entre os espíritas estudiosos, nem avaliamos os Espíritos
de índios e negros, de todo, involuídos, todavia, ignorantes. Sim!
Porque se fossem mais conscientes ou se não fossem ignorantes, não
algemariam a mente em atavismos de personagens do pretérito. Estamos
diante de delírio e de extrema fascinação no movimento espírita
doutrinário. Os dirigentes não utilizam de forma criteriosa as barreiras
para seleção doutrinária dos livros expostos ao público! Afirma Divaldo
Franco que “o pudor em torno do Índex Expurgatorius da Igreja Romana
tem levado muitos líderes a uma tolerância conivente
[contemporização].”(5)
As instituições espíritas
[inclusive algumas federativas], “por interesse puramente comercial,
vendem quaisquer livros “psicografados”, de autoajuda, de esoterismo, de
outras doutrinas, quando deveriam preocupar-se em divulgar as obras do
Espiritismo, tendo um critério de lógica.”(6)
Temos observado que sob o lábaro
da “liberdade cultural” há os que pugnam pelo não expurgo dos livros
antidoutrinários nas prateleiras das nossas bibliotecas espíritas, desde
que haja na página inicial dessas obras (avaliadas como lesivas ao
programa da Codificação), sumários de análise e sugestão para a leitura
de obras com contextos adversos. Interessante esse método, sem dúvida,
mas cremos que o ingresso dos espíritas (menos precavidos), deve ser
irrestrito tão somente nas bibliotecas que se balizem exclusivamente nas
obras doutrinariamente irrefutáveis. Logicamente, sem obrigação de
pelejar com os desfavoráveis a restrições, podemos aceitar a catalogação
dos atuais “entulhos-literários” e destiná-los a espaços de leitura
apenas frequentados por espíritas conscienciosos e pesquisadores
honestos, capazes de analisar com lucidez os conteúdos das obras. Somos
partidários do ideário de “que as instituições espíritas deveriam ter
uma comissão para analisar e avaliar a qualidade do livro e divulgá-los
ou não, porquanto as pessoas incautas ou desconhecedoras do Espiritismo
fascinam-se com ideias verdadeiramente absurdas. (7)
Destarte, é importantíssimo
“montar a barreira natural do exame [dos livros] consoante recomenda
Kardec, até porque não se trata de reconstrução do arrepiante Índex
Librorum Prohibitorum..” (8)
Se a biblioteca for acessível a
qualquer pessoa, é urgente toda precaução, pois quanto maior nível de
ignorância do ledor, importância máxima dará a “segurança” oferecida
pela instituição ao livro a que ele tem livre acesso para leitura.
Infelizmente, para os calouros e/ou incautos, o que é oferecido pelo
centro espírita é interpretado como válido, fidedigno e doutrinariamente
correto. Eis aí o “deus-nos-acuda” instalado! Cremos que “mesmo sem
atracar com ninguém é imperioso defender o território [instituição
espírita], porque quem compra [ou toma emprestada] uma obra de má
qualidade no centro, sai declarando que aquela obra é espírita, pois foi
adquirida no centro. Se um centro espírita comercializa uma obra de má
qualidade é porque esse centro também é de má qualidade.” (9)
Sobre as bibliotecas espíritas,
concordamos que as mesmas devem ser locais “intocáveis”. Porém, não há
como comparar a liberalidade de uma biblioteca mundana (descompromissada
com a Terceira Revelação) com uma biblioteca espírita. Nada mais
desigual! Os desígnios são completamente diferentes. A primeira prima
por arquivar, conservar e oferecer informações para desenvolvimento da
cultura ordinária. A biblioteca espírita, entretanto, deve ser ambiente
intocável, e muito mais do que isso, deve ser um templo abençoado para
abrigar as obras ajuizadas e consagradas universalmente pelos
Benfeitores Espirituais. A primeira propõe aclarar o intelecto, mas a
segunda necessita alumiar a mente e potencializar o coração do homem.
Não podemos permitir que as instituições espíritas sejam transformadas
em picadeiros, inobstante seja a “comédia o inverso da tragédia”(10),
porém, na retaguarda do malfeitor campeia o bufão (protagonista do
circo), e “os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem
por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus
vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios; a timidez os faz
zombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam, comungam com
ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem
muito mais virtude do que a transformação moral.”(11)
Os espíritas desleais são os
verdadeiros descrentes da equidade, da esperança, da Natureza e de Deus;
recusam o bom senso e afiançam o fanatismo. A desencarnação, porém, os
arrastará encharcados de águas de cheiro e cobertos de ouropéis, que
hoje os disfarçam entre os homens. Pelo exposto, é inadmissível ficarmos
temerosos de sermos classificados de anacrônicos, conservadores ou até
mesmo clericais. Depende de todos nós melhorar a qualidade das práticas
doutrinárias e cada qual deve fazer a sua parte. É importante sermos
inexoráveis para blindar ininterruptamente a Doutrina Espírita contra os
títeres das trevas (conhecidos como falsos profetas da atualidade), que
tapeiam quais concessionários das Trevas. Contra eles devemos nos
insurgir, a fim de expor o Espiritismo como Doutrina ajuizada, sublime e
incorruptível.
Referências:
(3) idem
(4) idem
(6) idem
(7) idem
(9) idem
(11) idem
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