AMOR E NÃO TEMOR A DEUS
É notória a incapacidade que os habitantes deste planetinha miúdo de categoria inferior, muito bom para provas e expiações, têm de compreender as coisas de natureza espiritual.
Em todas as épocas da Humanidade, desde as mais remotas, houve revelações das altas esferas do Além descortinando as grandes verdades da Vida, a partir da existência de um DEUS que a criou e a governa, mas até hoje ainda não aprendemos a pensar sobre esse SER incomparável, onipotente e magnânimo, senhor do nosso destino.
No que se refere ao grave erro de substituir DEUS por Jesus, aludido no artigo anterior, o problema vem de longe, pois começou com alguns dos primeiros apóstolos do Evangelho que, logo após o sepultamento do corpo crucificado do Mestre, acharam por bem dar início ao processo de sua divinização, passando a dirigir preces a ele e não ao Criador. Karen Armstrong, autoridade no assunto, mostra-nos documentadamente como ocorreu esse lamentável equívoco em livro de mais de quatrocentas páginas (UMA HISTÓRIA DE DEUS - Companhia das Letras, 1994, tradução de Marcos Santarrita com direitos reservados à Editora Schwarez Ltda., de São Paulo).
Menos de quatro séculos depois de tal equívoco o Cristianismo, já doutrinariamente adulterado para se converter no Catolicismo, através de um dogma estabeleceu a divindade de Jesus. E desde então, há mais de um milênio e meio, a cultura religiosa do mundo ocidental vem sendo prejudicada pela idéia de que orando a Jesus os homens não precisam orar a DEUS. A literatura espírita brasileira contemporânea, pesa-nos dizer, de conteúdo predominantemente psicográfico encontra- se impregnada dessa idéia infeliz que não tem o menor respaldo na obra de Allan Kardec.
Aprendemos na Codificação que "Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra", aprendemos que sua doutrina "é a expressão mais pura da lei do Senhor", mas não aprendemos a olvidar DEUS dirigindo ao Cristo nossas preces. Muito pelo contrário: no derradeiro Capítulo de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO há uma coletânea de preces para orientar os que não sabem orar - quase quarenta são dirigidas diretamente ao Criador, meia dúzia aos bons Espíritos e nenhuma a Jesus no sentido de colocá-lo na posição de DEUS.
Note o leitor um detalhe sutil: o que criticamos não é orar a Jesus, é não orar a DEUS.
E fazemos esta crítica porque o próprio Jesus ensinou a orarmos ao Pai nosso que está nos céus...
Kardequianamente falando, é claro que, se podemos orar aos bons Espíritos, também podemos orar a Jesus. Aliás, podemos orar do jeito que nos aprouver. "A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque'. Eis o que ressalta o Capítulo final da obra há pouco citada, onde se lê mais o seguinte:
"O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, quando ditas de coração e não de lábios somente. Nenhuma impõe, nem reprova nenhuma. Deus, segundo ele, é sumamente grande para repelir a voz que lhe suplica ou lhe entoa louvores, porque o faz de um modo e não de outro."
O que ponho em foco para reflexão é o ânimo cristólatra de numerosos confrades, esquecidos de DEUS. Por que oram a Jesus e não ao Criador? Uma vez formulamos esta pergunta em um Centro Espírita, durante a palestra, e ouvimos a seguinte resposta:
- Porque os guias do Espiritismo no Brasil só oram a Jesus!
- Não sabemos se isto é completamente exato. Se for preferimos ficar com os guias do Espiritismo na França ao tempo de Allan Kardec...
- Gostaríamos de chamar a atenção dos companheiros místicos para a conveniência de superarmos o velho e alienante temor a DEUS que a herança cultural católica de outras vidas incrustou em nosso inconsciente. Devemos ter amor a DEUS e não temor. Se O amamos, por que não dirigimos a Ele nossas preces?
Nazareno Tourinho
Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 360 de Janeiro de 2001
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