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03 janeiro 2015

Tipos de Livre Arbítrio - Hugo Lapa

 

TIPOS DE LIVRE ARBÍTRIO


Muitas pessoas defendem a ideia de que o livre arbítrio é apenas uma ilusão. Outros declaram que o livre arbítrio é absoluto, que sempre escolhemos tudo em nossa vida. Isso é verdade por um lado, mas está ainda incompleto por outro. Do ponto de vista espiritual, existem dois tipos ou níveis principais em que podemos identificar a existência do livre arbítrio do ser humano. Vamos explicar estes dois tipos.

Livre arbítrio do planejamento de vida


O primeiro deles é o que denominamos de “livre arbítrio do planejamento de vida”. Esse livre arbítrio se realiza quando o espírito está no plano espiritual aguardando a sua encarnação. Nesse momento, a alma faz um planejamento de toda a sua existência vindoura, sempre com base em seu karma passado, desde o local de seu nascimento, o país em que vai nascer, a família em que ela vai nascer, os principais acontecimentos de sua vida desde a infância até a sua velhice, quais almas afins ela vai se relacionar, quais desafetos de vidas passadas ela vai encontrar, sua profissão e seu projeto de vida, ou seja, que missão ela deverá cumprir e também traça um conjunto de metas a serem alcançadas.

O mais importante nesse momento da programação de vida é a escolha de quais serão as principais provas de sua vida. As provas são os desafios que a alma terá que enfrentar e superar. A alma que atravessa uma provação sem se deixar dispersar, desencaminhar ou decair dentro das adversidades consegue seu intento e avança em seu desenvolvimento espiritual.

A alma que sucumbe as provas, se deixa levar pelas tentações do mundo e comete erros no enfrentamento dessas provas deverá refazer novamente as mesmas provações numa encarnação futura. Alguns exemplos de provações são: doenças, perda de entes queridos, dificuldades profissionais, humilhações, calúnias, agressões e ataques, isolamento, abandono, deformidades físicas, dentre outros.

Todos esse acontecimentos podem ter como objetivo despertar no espírito as virtudes que são inerentes a condição dos espíritos mais puros e avançados, como a humildade, o amor, a honestidade, a paciência, a força, a flexibilidade, a equanimidade, etc. Toda prova tem como objetivo libertar o ser humano de algum defeito gerado por sua condição mundana e despertar nele uma virtude que é essencialmente espiritual, ou seja, que está mais ligada a sua natureza infinita e eterna do que a sua natureza humana, material ou temporária. Nesse sentido, existem alguns tipos ou padrões de provas que despertam alguns destes valores ou qualidades, como por exemplo, a prova da humildade.

A prova da humildade tem como objetivo libertar o ser humano do orgulho, da vaidade e do egocentrismo, que são características típicas do mundo material limitado. Um dos maiores exemplos da prova da humildade é nascer e viver em condições de pobreza ou miséria, onde faltam os recursos básicos para a nossa sobrevivência. Nessa prova, o espírito encarnado começa a se liberar de suas necessidades humanas e passa a elevar seu pensamento a sua natureza transcendente, a fé, a intuição, a religião, a Deus, etc. Nesse sentido, ele entende que o mundo não gira ao seu redor, mas que ele é alguém que precisa de um algo mais na vida; ele precisa ver além do imediato e do passageiro, e não apenas ficar dependendo de benesses mundanas.

A prova da humildade se caracteriza por qualquer situação em que nosso orgulho é posto em cheque, e vemos nossas forças humanas se esgotarem, se encerrarem, e a única coisa que nos sobra é a ascensão do pensamento a algo maior a que possamos recorrer. Nesse sentido, uma pessoa que nasce pobre pode ter escolhido ser pobre o resto de sua vida, justamente para libertar-se dos resíduos de orgulho e egoísmo. Os espíritos encarnados que escolheram a pobreza como instrumento da prova da humildade podem trabalhar e tentar ascender socialmente a vida inteira, que não terão sucesso. Observe que aqui não existe qualquer determinismo, fatalidade ou acaso, pois foi o próprio espírito, antes de nascer, que escolheu a vida de pobreza para bem atravessar a prova da humildade e se libertar da vaidade, orgulho e egoísmo.

Livre arbítrio de reação às provas


Ainda no exemplo acima vemos o segundo tipo de livre arbítrio que faz parte do ser humano. Este chamamos de “livre arbítrio de reação às provas”. O primeiro, como dissemos, é a escolha que a alma faz, ainda no plano espiritual, das provas pelas quais precisa viver. Isso significa que, se o espírito escolheu ser pobre a vida inteira para aprender a ser humilde, ele será pobre a vida inteira, não importa o que faça. Mas ele pode, durante toda a sua vida, resignar-se com essa condição ou lutar contra ela, e aqui reside o segundo tipo de livre arbítrio, que é exatamente a forma como uma pessoa reage as coisas que lhe ocorrem.

Ainda no caso da pobreza, uma pessoa pode ser pobre e escolher entrar no mundo do crime, assaltar, roubar, etc, ou ele pode escolher trabalhar honestamente e lidar com a pobreza da forma mais nobre, que é viver uma existência de honestidade, amor, compaixão, etc. Em outro exemplo, uma pessoa pode viver a prova da morte de um ente querido, e reagir tanto positivamente quanto negativamente. Nesse caso o livre arbítrio consiste não em escolher o que vai lhe ocorrer (livre arbítrio do planejamento de vida), mas em escolher como agir ou reagir diante do que lhe acontece.

Nesse sentido, a forma como alguém reage a prova faz parte do seu livre arbítrio. A pessoa tanto pode ficar deprimida e desistir de viver pela perda, por exemplo, de um filho, ou pode usar esse sofrimento para se tornar uma pessoa melhor. Existem pessoas que perdem os filhos em acidentes de carro e se engajam em campanhas contra a violência no trânsito. Esse é um modo de reagir positivamente àquela provação; é uma forma de utilizar nosso livre arbítrio de um modo construtivo.

Algumas pessoas podem perguntar: mas e as outras escolhas que fazemos na vida, como cursar uma faculdade de medicina ao invés de Direito, ou trabalhar como atendente e não como vendedor. A resposta a essa pergunta é bem simples. Todas as escolhas de nossa vida estão em sintonia com aquilo que sentimos que deve ser feito com base no planejamento de vida que fizemos antes de nascer. Dessa forma, se uma pessoa escolhe medicina ao invés de direito, ela sente interiormente que é a medicina o curso a ser escolhido, e não Direito. Esse sentimento vem justamente das escolhas que ela fez antes de nascer, e as escolhas que ela fez antes de nascer estão muito mais em sintonia com nosso ser interior do que as nossas escolhas humanas.

Isso ocorre porque, no plano espiritual, o espírito está dotado de muito mais liberdade de ser o que é, pois se encontra além de qualquer condição limitante. Chamamos de condição limitante o corpo físico e uma mente humana condicionada pela cultura, educação, etc. De qualquer forma, mesmo que o espírito seja mais livre do que na matéria, mesmo assim ele ainda está limitado pelo seu grau de desenvolvimento espiritual, e por esse motivo, muitas vezes, ainda precisa da ajuda de espíritos mais adiantados para programar sua existência de tal forma que ela seja proveitosa para seu crescimento espiritual.


Autor: Hugo Lapa


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