“...sabendo Jesus que chegara sua hora de partir desse mundo para o Pai, tendo amado os seus próprios, que estavam no mundo, amou-os até o fim.”*[1]
Em nenhum tempo, em nenhuma pátria, em nenhuma sociedade, a rogativa por amor, justiça, paz e fraternidade se fez tão intensa.
Vivemos tempos áridos num país, cuja a expectativa espiritual é supostamente tornar-se a “pátria do Evangelho”, clamamos por reajuste urgentes, por educação de qualidade e por uma filosofia ética moral que nos liberte das crenças apequenadoras e pueris. Porém, essa filosofia se encontra entre os homens desde 1857, sob o título de Doutrina Espírita.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações. [2] Seu maior objetivo é dar ao homem a liberdade de consciência no uso perfeito de sua razão.
Como religião, Allan Kardec comenta na Revista Espírita do mês de dezembro de 1868, por ocasião do Discurso de Abertura da Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade de Paris, em 01/11/1868, se o espiritismo seria uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. E explica que no sentido filosófico, o espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.”[3]
Em tempos de ansiedades e volúpias mentais é necessário refletir que temos feito para que o espiritismo consiga aglutinar as forças colaborativas para as instâncias da ciência, da filosofia e da religião?
Quais têm sido as propostas educacionais para os espíritos reencarnantes nos dias atuais?
O livro A gênese, publicado no ano de 1868, completou 150 anos em janeiro, traz-nos a informação sobre a nova geração que marcaria a era do progresso e se distinguiria pela inteligência, razão precoce e grande inclinação ao bem.
Será que o Codificador se enganou quanto a nova geração?
Será que os responsáveis pela educação libertadora da mente, temos negligenciados o efetivo papel na educação para a geração que desponta neste mundo de acelerados apelos à vida automatizada?
O episódio do “lava os pés” registrado por João consoante consta no capítulo 13 versículos 1, nos oferece pálido indicativo do trabalho edificado pelo Cristo junto aos discípulos diretos. Narra o evangelista: “... sabendo que chegaria a sua hora de partir deste mundo para o pai tendo amado os seus próprios que estavam no mundo amou-os até o fim”.[4]
Jesus contava com aqueles homens para a colaboração da divulgação de um novo princípios de vida, por isso mesmo, os educou, preparou e os amou até o fim. Não houve exclusão, nem reproche e sequer condenação. Independente de suas fraquezas, mazelas, equívocos, Jesus os amou até o fim.
Educar o espírito vai além dos valores efêmeros da contemporaneidade. Amou os até o fim, para o homem formado no pensamento cíclico do nascer, crescer e morrer, significa amou-os até a sua morte. Porém o sentido correto do amou-os até o fim ganha uma dimensão majestosa e plena. Amou-os até o fim, significa amou-os até as últimas consequências, não importando o desfecho daquela história.
Até o fim é, em primeiro lugar, até o final de uma etapa; até se concluírem todas as coisas; até completar todos os acordos. Significa ir até às últimas consequências; ao extremo da situação; levá-la a término de modo constante e perfeito.
Ao refletirmos no papel que estamos protagonizando, nesse momento da história, há de se avaliar o grau de nossa participação nesse movimento de transição dos valores.
Será que o codificador se enganou quanto a nova geração?
Quer os pais ou aqueloutros comprometidos com tal mister, será que a atual crise moral é fruto da negligência dos educadores?
De posse a mais de 160 anos de um roteiro regenerador ainda insistimos nos velhos hábitos e crenças, repetimos os princípios do homem instintivo e sensual?
O desânimo, a tristeza, a depressão e a ausência de intenções superiores avolumam nos variados meios sociais, haja vista o painel social, político e cultural da sociedade contemporânea.
A tristeza conduz a morte como afirmou Paulo de Tarso: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.”[5] A afirmativa paulina foi chancelada pelos filósofos do século XVII e XIX, a saber, Baruch de Espinoza e Henri Bérgson, quando proclamam que o homem possui uma potência divina, intitulada Conatus (latim para esforço; impulso, inclinação, tendência; cometimento) , energia essa capaz de mantê-los conectados com a vida e com propósitos superiores, portando na falta dessa energia o homem entristece, definha, adoece e morre.
A tristeza é a causa primeira das enfermidades, portanto é necessário adotar o padrão comportamental do Cristo, edificando roteiros sublimes no coração e na mente para adquirirmos forças superiores de ação para gerirmos nossa administração, enquanto tutores dos reencarnantes da nova era, pois neles são assentados a esperança do mundo de regeneração.
Cultivar a potência divina em nós é revigorar nossas oportunidades de trabalho e de redenção.
A tarefa de amar até o fim é a tarefa confiada ao homem atento e que despertou para a grandeza do amor.
Amar até o fim é amar incondicionalmente até as últimas implicações do amor. A cada instante vivido na carne nos aproximamos da inevitável transposição para outras paragens na derradeira viagem rumo às regiões espirituais, em face dessa fatalidade inexorável, regulamento para a qual não há exceções, cabe refletirmos se estamos amando até as últimas consequências do amor.
Referências bibliográficas:
[1] João 13,1
[2] Kardec, Allan. O Que É O Espiritismo. Preâmbulo- 56. ed. 1. imp. – Brasília: FEB, 2013.
[3] Kardec, Allan. Revista Espírita de dezembro de 1868 (Discurso de Abertura da Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade de Paris, em 01/11/1868)
[4] João 13,1
[5]2 Coríntios 7 ,10
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