PANDEMIRA
A palavra soa estranha e, de fato, é; não há registro desse termo em nenhum lugar. Seria um neologismo, quem sabe?!
O vocábulo se apropria de dois substantivos: pandemia e ira. Virou, então, pandemira.
Pandemia é a associação do prefixo pan, que vem do grego e significa “tudo” ou “todos”, e do sufixo demos, também originário do grego, que quer dizer “povo”. Trata-se de uma doença infecciosa, que se espalha amplamente entre a população de uma região, continente ou mesmo por todo o planeta.
Ira, conforme assinala o dicionário Houaiss eletrônico, refere-se a “intenso sentimento de ódio, de rancor, geralmente dirigido a uma ou mais pessoas em razão de alguma ofensa, insulto etc., ou rancor generalizado em função de alguma situação injuriante; fúria, cólera, indignação.”
Estamos manifestando, atualmente, em grande parte dos nossos pensamentos, palavras, escritos e ações, o discurso do ódio. Alguns têm falado irrefletidamente o que pensam, realizado críticas contundentes, defendido e atacado pessoas e grupos, sem maiores ponderações ou discernimento. Partidarizam questões e polarizam ideias, tornando-se extremistas para proteger obstinadamente pontos de vistas e causas específicas. Saem dispostos ao conflito sistemático, armados para o confronto ideológico, gerando guerras verbais e acusações de lamentáveis consequências…
Paira sobre a ambiência espiritual terrestre um ar pesado que reflete emanações fluídicas de denso, sombrio e primitivo teor. Provoca encantamentos e alucinações nas mentes que se associam, por afinidade, a posturas belicosas irrefreáveis.
Algumas pessoas se reúnem por afinidades e formam séquitos de livres pensadores dispostos às últimas consequências, como se fossem “salvadores da pátria ou instrumentos da liberdade, do direito e da justiça”. Agem na propagação de ideias e de filosofias que questionam ou tentam desestruturar fundamentos da moral até então construída pelas sociedades no decorrer da história da civilização.
A disseminação de informações voláteis tem sido desvinculada da responsabilidade ética de averiguação de conteúdo, seriedade de propósitos e bom-senso. Por vezes, essa postura denota precipitação e imaturidade, irresponsabilidade e inconsequência, além de desrespeito perante pessoas e instituições.
No substrato de uma pretensa defesa à liberdade incondicional, armam-se e provocam, deliberada ou involuntariamente, confusão, descompromissados com a busca da verdade e com as consequências de suas ações. Esquecem-se de que a liberdade só é real quando apoiada no respeito ao próximo, sendo uma conquista da autotransformação, que não prescinde da consideração aos direitos individuais e coletivos nem de manifestação conscienciosa dos pensamentos e ideais distintos.
A felicidade é o caminho trilhado nas bases do reconhecimento de valores essenciais, tais como diversidade, alteridade, solidariedade e amor, indispensáveis ao autoconhecimento e à convivência harmônica com o próximo.
Não podemos nos deixar contaminar por essa pandemira, tampouco nos tornar mais representantes do ódio e do desequilíbrio, permitindo o alastramento insidioso desse mal. Nosso compromisso hoje é o de plantar as sementes da regeneração e da caridade, para não mais sofrermos dolorosas provas e expiações no presente e em futuro próximo.
A semeadura é livre, mas a colheita, obrigatória: a cada um será dado segundo as suas obras. Portanto, no dizer de Jesus (Marcos, 13: 33), devemos “olhar, vigiar e orar”.
Será que estamos fazendo a nossa parte?
Geraldo Campetti Sobrinho
Colaboração: Fernanda Lage e Carlos Campetti
Nenhum comentário:
Postar um comentário