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21 junho 2018

Os deuses e o destino - Richard Simonetti



OS DEUSES E O DESTINO


Historiadores não estão certos de que ele tenha existido. Não obstante, são atribuídos à sua lavra os dois maiores poemas épicos da antiga Grécia: A Ilíada, que exalta as proezas do herói Aquiles, na última etapa da guerra de Tróia. A Odisséia, que narra as aventuras de Ulisses, rei de Ítaca, marido de Penélope.

Trata-se, como o leitor já percebeu, de Homero, o poeta, supostamente, cego que teria vivido no século IX a.C.

Em Revista Espírita, novembro de 1860, Allan Kardec reporta-se a uma comunicação mediúnica assinada por Homero. O poeta se identificou dando informações relacionadas com sua infância em Mélès, razão pela qual era chamado Mélèsigène, fato que Kardec desconhecia e que confirmou depois. O médium era de poucas letras e não tinha nenhum conhecimento a respeito do autor da mensagem. São detalhes importantes para autenticar a manifestação. Kardec indagou se os poemas, como os conhecemos hoje, são fiéis aos originais.

– Foram trabalhados – informou Homero.

Bem de acordo com as pesquisas atuais. Supõe-se que, originariamente, os dois poemas pertenceram à tradição oral. Isso implicava em alterações frequentes, não apenas quanto à forma, mas ao próprio conteúdo, na base do velho “quem conta um conto aumenta um ponto”, até que se fixassem os textos definitivos.

Apesar desses senões, a figura de Homero ganha consistência na força daqueles poemas, que se apresentam como vigoroso panorama da cultura helênica.

Destaque-se dois aspectos fundamentais: Primeiro, a visão antropomórfica. Os deuses são situados como seres caprichosos que, inspirados em paixões e desejos, interferem frequentemente nas ações humanas. A própria guerra de Tróia, que serve de cenário para A Ilíada, teve início por causa de uma disputa entre as deusas Hera, Afrodite e Atena, a saber qual a mais bela.

O príncipe Páris foi chamado a decidir. Escolheu Afrodite, que o seduziu com a promessa de que lhe daria por recompensa a mais bela mulher do mundo. A deusa não teve nenhum constrangimento em relação a pequeno detalhe: a prometida era casada, esposa de Menelau, rei de Esparta. Com suas artes Afrodite ajudou Páris a raptar Helena. Liderando a reação dos gregos, Menelau iniciou a guerra para resgatar a rainha.

O outro aspecto diz respeito à instabilidade de suas personagens lendárias, em contraditório comportamento: De um lado, ideais de nobreza, inspirando ações heroicas e meritórias. De outro, fraquezas a se exprimirem em ódios e paixões, capazes de gerar ações torpes e más. A narrativa de Homero transcende a cultura helênica, reportando-se à própria humanidade, com suas virtudes e mazelas.

Como sempre acontece em relação à cultura grega, temos nos dois poemas épicos uma representação mitológica da realidade. O Olimpo, monte grego nas proximidades do golfo de Salonica, seria a morada dos deuses. O mundo espiritual é bem mais amplo. Projeta-se em outra dimensão, que interpenetra a nossa, colocando-nos em contato permanente com seres espirituais que, à semelhança dos deuses, nos observam, acompanham, inspiram e influenciam.

Somos, não raro, joguetes de Espíritos que, qual o faziam os habitantes do Olimpo, imiscuem-se em nossos pensamentos, ações e iniciativas, exercitando seus caprichos e explorando nossas fraquezas. Sob sua ação, de acordo com nossas tendências, revelamos indesejável ciclotimia, alternando bons e maus momentos, boas e má ações, pensamentos virtuosos e viciosos, ao sabor das circunstâncias, como as personagens mitológicas.

Mas os próprios deuses sabiam que acima de seus caprichos estava um poder supremo, que chamavam destino, a cujos desígnios não podiam furtar-se. O destino exprime a vontade de Deus, Senhor da Vida, o pai de amor e misericórdia revelado por Jesus. O Criador tem objetivos bem definidos a nosso respeito, que vamos conhecendo na medida em que amadurecemos. Nesse mister, algo já sabemos: A Terra – nossa escola. A dor – nossa mestra. As dificuldades – nossos estímulos. Os problemas – nossos desafios. O Bem – nosso caminho. O mal – nosso desvio. A perfeição – nosso destino. Assim, paulatinamente, nos habilitaremos a superar a influência dos “deuses” submetendo-nos aos abençoados desígnios de Deus.

Richard Simonetti

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