O GRANDE MILAGRE DA FAMÍLIA
Na terra, somos todos pais, mães e filhos
adotivos. Não segundo a carne, mas pelo espírito. Identidade de natureza
mesmo só com Deus, todos os demais laços de parentesco são papéis que o
Pai nos concede para experimentarmos a co-criação, ainda que na
metáfora da matéria, para servir de estágio, de projeto piloto,
preparatório para o grande plano de amor que o Criador possui para cada
uma de suas criaturas.
Filhos mesmo, somos só de Deus e, mesmo
assim, apenas em potencial. Essa nossa única autêntica filiação só se
realiza a partir da aproximação íntima e sincera com o Pai, com o outro,
consigo mesmo a começar por um compromisso. Com promessa, com boa
vontade começa o processo de realização de potenciais que nos fará a
todos super-heróis, com superpoderes, Salvadores profundos, a começar
por nós mesmos.
É por isso que, desde antes de nascer,
tornamo-nos todos comprometidos com um processo de vivência comum,
prometidos uns para os outros. Não importa muito o tamanho, a idade e a
função com a qual venhamos no grupo familiar, o maior vem sempre com a
missão de cuidar do menor. Enquanto a menoridade se manifesta na infeliz
vivência desse pêndulo de atração e repulsão, apego e ódio, através das
vidas sucessivas, a maioridade se expressa precisamente no serviço que
nos fará, do instinto ao afeto, esgotarmos a egolatria e ensaiarmos o
respeito, a empatia, a alteridade.
De início o homem, recém saído ainda da
animalidade só é capaz de tratar o outro como o outro o trata, e a vida
saberá utilizar para o crescimento essa terrível limitação que,
utilizada para a violência, o escraviza nos círculos de vinganças
mútuas. Atendendo à enorme força do instinto de preservação, vítimas e
algozes, colocados em família, serão induzidos a uma troca de serviços,
um mútuo condicionamento para a proteção. É assim que a família se torna
uma fantástica usina de reciclagem do lixo mental e espiritual que
vamos, com nossos muitos equívocos, e nosso imenso orgulho, acumulando
em nossas almas durante as várias vidas.
É na família, então, que se opera o grande
milagre. Aqueles mesmos que antes se condicionavam mutuamente à
animalidade pelo egoísmo, irão agora, por meio do serviço, libertar-se
mutuamente para o cuidado numa onda poderosíssima. Em André Luiz, mas
também nos diversos outros livros que abordam resgates de seres trevosos
muito endurecidos, é a mãe que é convocada para o momento mais delicado
quando, já extenuado no mal, o ódio é defrontado com o amor e o monstro
terrível reduz-se à condição de simples bebê e se aconchega no colo
materno.
Fala nosso grande repórter com
conhecimento. Como relatou em Nosso Lar, sua própria mãe, muito mais
elevada que ele, internou-se por longos oito anos no charco em que André
Luiz chafurdou após a morte, até que seu filho, mobilizando enfim a boa
vontade em forma de oração, foi capaz de ver a mão de luz, no caso a
mãe de luz, que há tanto tempo se lhe oferecia.
E-mail: mauzomi@ig.com.br
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