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31 agosto 2013

Como Servimos na Seara Espírita - Alinkdar de Oliveira



COMO SERVIRMOS NA SEARA ESPÍRITA? 
 
O título desse texto pode levar-nos a um equívoco: a de julgar que seja lícito exigir padrões de comportamento e de linguagem aos seguidores da Doutrina Espírita. Exigir, nunca. Haja vista que o mal mais fácil de ser alastrado em qualquer grupo, por mais sério que seja este, é a institucionalização de normas, que, se em questões específicas tem o seu mérito, tem também o grande demérito de, no assunto espiritualidade, burocratizar o que não deve e não pode ser burocratizado: o trato com a alma. Sobretudo, respeitemos o livre-arbítrio do próximo. Também afastemo-nos, com todas as nossas forças, da descabida vestimenta de defensores da pureza doutrinária nos outros. Defendamos, sim, a pureza Doutrinária em nós, através do empenho em aplicarmos os conceitos espíritas. Que nunca esqueçamos que uma das importantes formas de incentivarmos a mudança do outro, é pelo nosso exemplo, é pela nossa conduta. Percebe-se que, infelizmente, o Movimento Espírita está em parte, burocratizado e, felizmente, em boa parte tendo portas abertas para importantes mudanças. Hoje é realidade a efervescência de métodos e trabalhos auto-educativos. O que nos faz vislumbrar que tende a desaparecer – se não no curto, mas no médio prazo - o espírito institucional que trazemos de vidas passadas. Haja vista que ainda há Centros Espíritas e Entidades Representativas onde o culto ao externo prevalece ao interno. No entanto, contracenando com esta situação adversa, percebe-se hoje grande progresso no interesse em – enquanto espíritas – caminharmos na direção dos princípios elementares do Espiritismo, o que representará um grande avanço para nós, espíritas, e para a humanidade. Como ainda há Centros Espíritas que cultuam o personalismo (em número cada vez menor) sugiro neste espaço alguns passos para desburocratizarmos o que precisa ser desburocratizado. As idéias a seguir não têm o espírito de ditar normas, o propósito é apontar sugestões. 

1) Sobre o personalismo no movimento espírita. O personalismo é uma das mais fortes manifestações negativas do ego. 

Ouvi certa vez de um budista que quando não estamos bem com os outros é o ego manifestando- se. Disse ele que o ego é irreal, não existe. É como a escuridão, só existe na ausência da luz. Quando bem nos conhecermos, quando a luz divina for nossa manifestação natural, o ego não terá espaço para manifestar-se. Mas...como ainda estamos longe de vivenciarmos a luz divina, então que procuremos estar no comando do ego, em vez de sermos por ele comandados. Assim, o teremos como importante aliado. Sobre o personalismo no movimento espírita, diz o Dr. Bezerra de Menezes: “Ninguém pode vendar os olhos a título de caridade, porque deliberadamente o apego institucional marcou esse segundo período de nossas lides, em muitas ocasiões, com enfermiças atitudes de desamor como forte influência atávica de milenares vivências. Isso era previsível e, por fim, repetimos velhos erros religiosos.(...) Há de se ter em conta que nos referimos ao institucionalismo como grilhão pertinente a todos nós, sem jamais vinculá-la a essa ou àquela entidade organizativa em particular, porque semelhante marca de nosso psiquismo, por muito tempo ainda, criará reflexos indesejáveis na obra do bem. O institucionalismo é fruto da ação dos homens; ele em si não é o nosso adversário maior e sim os excessos que o tornam nocivo.” Importante observação: No parágrafo anterior o insigne Dr. Bezerra de Menezes faz referência ao “segundo período de nossas lides”. Para o leitor que ainda não leu um dos livros-base para a liderança espírita dos novos tempos (livro Seara Bendita, Editora Dufaux), transcrevo a seguir a síntese dos três períodos do Espiritismo, apontados pelo citado mestre (Dr. Bezerra) no mencionado livro. A seguir os três períodos da implantação do Espiritismo, cada um deles com a duração de 70 anos, a partir da primeira edição d’O Livro dos Espíritos. O primeiro constituiu o período da consagração das origens e das bases em que se assentam a Doutrina, que lhe conferiram legitimidade; O segundo coincide com o fechamento do século e do milênio, foi o tempo da proliferação; O terceiro coincide com o momento atual. Disse Dr. Bezerra que “é a etapa da fraternidade na qual a ética do amor será eleita como meta essencial, e a educação como passo seguro na direção de nossas finalidades”. 

2) Sobre a importância do afeto. Grande parte dos Centros Espíritas não demonstra alegria e entusiasmo em receberem novas pessoas. 

Sabemos que é significativo o número de pessoas que chegam ao Centro Espírita pela DOR, isto é, em momentos em que estão fragilizadas e carentes. Por isto necessitam sentirem-se acolhidas. Acolhidas com o real afeto, afeto verdadeiro. Recebermos – na porta da entrada do Centro Espírita - um "seja bem vindo", dito com um sorriso no rosto é muito importante, faz bem para nossa alma (isto é, para nós mesmos). Assim como, na saída da Sala do Passe, nos é estimulante ouvirmos e sentirmos a energia positiva de frases como: "Vá, com Deus e volte sempre". 

3) Sobre as orações de abertura das atividades espíritas. 

Nas orações iniciais ou finais de um evento espírita, temos por hábito começar dizendo: “Neste instante deixemos os nossos problemas fora deste ambiente...”. Por que deixarmos nossos problemas fora do ambiente espírita? Por que exigir que aquela pessoa que chegou com um grande problema tenha a força para esquecê-lo, mesmo que seja de forma momentânea? Se o ambiente espírita é apropriado para orientar, consolar e encaminhar, por que não adotarmos outra maneira de iniciar nossas orações? Por exemplo, poderíamos adotar essa forma: “Irmão amigo, se você tiver algum problema que o atormente, vivencie-o em sua mente. Traga-o para este ambiente. Sinta como ele lhe faz mal. Perceba como ele lhe prejudica. Agora, lembre-se de Jesus, o Mestre, que disse „Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida‟. Lembre-se de que nosso Mestre por nada nos censura, que Deus, nosso Pai, nos aceita como somos, com todos os nossos acertos e com todos nossos erros. Repita mentalmente, irmão amigo, as palavras que vem a seguir. Repita-as com muita emoção, pois quando colocamos emoção no pensamento mais facilmente abrimos o canal da oração. Fale mentalmente como se Jesus estivesse à sua frente, pois que de fato Ele está: „Jesus Mestre querido, tu que disseste Não Temas Eu Estou Contigo. Dê-me forças para que eu também possa estar contigo. Sei que estás sempre próximo, mas tenho que aprender a fazer minha parte, caminhando em sua direção. Dê-me forças, Mestre, para que eu possa ir ao seu encontro e que essa oração inspire-me a visualizar a melhor maneira de resolver esse problema que tanto me atormenta.‟ Agora, ainda mentalizando Jesus, continuemos nossa oração, agradecendo por tudo de bom que Jesus e os bons amigos nos propiciam...” (a partir desse momento o orador profere as mais apropriadas palavras de ânimo e agradecimento para a ocasião e a circunstância). Um dos motivos de pedir ao irmão que se lembre do seu problema em vez de esquecê- lo, é que a psicologia afirma que só vencemos um problema quando dele temos consciência. Por exemplo, quem tem medo de falar em público (e a maioria das pessoas o têm) só irá dominar esse medo conscientizando-se de que o medo realmente está presente. E a partir daí adotar métodos para ter controle sobre o mesmo. Desta forma, no momento inicial da oração, pedir ao outro para esquecer dos seus problemas é uma maneira inadequada de enfrentar a questão, ao mesmo tempo em que não estaremos respeitando a condição emocional do irmão que está necessitando de apoio. 

4) Sobre os textos de divulgação distribuídos nas entradas dos Centros Espíritas. 

Há panfletos de divulgação de nossa Doutrina, geralmente distribuídos na porta de entrada, que traz as seguintes informações: “Espiritismo, a terceira revelação.”; “Espiritismo, a Doutrina que responde aos questionamentos fundamentais do ser humano.”, etc.. Expressões como estas não são necessariamente atraentes para quem visita um Centro Espírita pela primeira vez. Elas passam uma imagem de prepotência, ares de superioridade. A linguagem que atrai o visitante é aquela em que, mais do que valorizar o Espiritismo, valoriza-se a grata presença dele no recinto.

5) Sobre o pedido feito aos freqüentadores dos Centros Espíritas: “Nosso Centro Espírita está precisando de trabalhadores voluntários.” 

Muito mais produtivo do que divulgar “Nosso Centro Espírita está precisando de trabalhadores voluntários” é mudar para “Nosso Centro Espírita, através da oferta do trabalho voluntário, está propiciando oportunidades a quem procura um sentido para a vida.” O que, além de ser um comunicado mais atrativo, traduz a mais pura realidade, tirando do Centro Espírita a imagem de “pedinte”, substituindo-a pela imagem de “ofertante”.

6) Sobre a linguagem utilizada em entrevistas em rádio, jornal e TV. 

Tem sido comum nas entrevistas de confrades espíritas, os mesmos colocarem ênfase nas questões científicas e filosóficas de nossa Doutrina, em detrimento ao aspecto religioso da mesma. Se Jesus evidenciou a importância do amor, na frase “Conhecereis os meus discípulos por muito se amarem”, é porque os aspectos amoroso, religioso e transcendental mais nos aproximam de Deus. Os espíritas, sem ser regra geral, são conhecidos por serem pessoas boas e caridosas. No entanto, quando entrevistados, projetam a imagem de pessoas que mais valorizam o conhecimento do que o amor ao próximo. Discute-se a reencarnação, o intercâmbio com o mundo espiritual, mas, muitas vezes, nas entrevistas, não são abordados a importância do afeto, o fato de que somos todos irmãos, o fato de que todas as religiões têm sua importância e valor, etc.. O “amai-vos e instrui-vos” do Espírito Verdade, foi por muitos de nós simplificado para “instrui-vos”. Chegada é a hora de do retorno ao original “amai-vos e instrui-vos”. Para que estejamos em sintonia com a mensagem de Cristo, importante é, nas entrevistas em rádio, jornal e televisão: Ser humilde, sem ser submisso; Ser sincero, sem ofender; Ser objetivo, sem ser agressivo; Mencionar sempre o nome de Jesus. Pois, muitos não espíritas consideram-nos “não cristãos”, e surpreendem-se quanto mencionamos o nome do Mestre; Respeitar as instituições em geral, pois, respeitando a religião alheia, abrimos portas para que a nossa também seja respeitada; Ser sobretudo amável e alegre (um sorriso no rosto é diamante lapidado)

7) Sobre a afirmação “o serviço de unificação é urgente, porém, não apressado”. 

 No livro Seara Bendita, Editora Dufaux, um dos pronunciamentos do Dr. Bezerra de Menezes, autor da frase em destaque (logo acima), esclarece-nos como podemos estar interpretando-a de forma muito equivocada. Vamos ao seu pronunciamento: “Afirmamos outrora que o serviço da unificação é urgente, porém, não apressado. Verificamos no tempo que alguns corações sinceros e leais, entretanto, sem larga vivência espiritual, inspirados em nossa fala, elegeram a lentidão em nome da prudência e a acomodação passou a chamar-se zelo, cadenciando o ritmo das realizações necessárias ao talante de propósitos personalistas na esfera das responsabilidades comunitárias. O receio da delegação, a pretexto de ordem e vigilância, escondeu propósitos hegemônicos em corações desavisados, conquanto amantes do Espiritismo. Em verdade, a tarefa é urgente, não apressada, mas exige ousadia e dinamismo sacrificial para encetar as mudanças imperiosas no atendimento dos reclames da hora presente, e o hábito de esperar a hora ideal converteu-se, muita vez, em medida emperrante.” 

Finalizando 

Queridos confrades, encerro este texto com a transcrição de mensagem de Dr. Bezerra de Menezes no já citado livro Seara Bendita, referindo-se aos Centros Espíritas: “Respeitaremos em nome do amor a quantos ainda estagiam nas formalidades e convencionalismos. Firmaremos bases seguras fora dos limites da conveniência, para assegurar, aos mais novos que chegarão, a oportunidade de vislumbrarem horizontes que atendam as suas exigentes expectativas, com as quais renascerão no soerguimento desse período de moralização e atitude, nesse momento de Espiritismo por dentro e não fora de nossos corações.” 


Alkindar de Oliveira 


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