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09 agosto 2013

Separação da Alma e do Corpo - Claudia C. e Elio Mollo



SEPARAÇÃO DA ALMA E DO CORPO

Se considerarmos o significado da palavra dor, que é de acordo com o dicionário uma “sensação desagradável produzida pela excitação de terminações nervosas sensíveis aos estímulos dolorosos e classificada de acordo com o seu lugar, tipo, intensidade, periodicidade, difusão e caráter” a separação da alma e do corpo não é dolorosa; o corpo, frequentemente, sofre mais durante a vida que no momento da morte; neste, a alma nada sente. Os sofrimentos que às vezes se provam no momento da morte são um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.

Na morte natural, que se verifica pelo esgotamento da vitalidade orgânica, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de energia.

A separação da alma e do corpo se opera desligando-se os liames que a retinham, assim ela se desprende. Essa separação não se verifica instantaneamente ou numa transição brusca; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que fosse libertado. Os dois estados se tocam e se confundem, de maneira que o Espírito se desprende pouco a pouco dos seus liames; estes se soltam e não se rompem.


Durante a vida o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material ou perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse envoltório, que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. A observação prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os indivíduos. Para uns é bastante rápido e pode dizer-se que o momento da morte é também o da libertação, que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até mesmo meses, o que não implica a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno à vida, mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado, a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e quando a morte chega é quase instantânea. Este é o resultado dos estudos efetuados sobre todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e o corpo, é às vezes muito penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso é excepcional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se em alguns suicídios.


Na agonia, às vezes, a separação definitiva entre a alma e o corpo pode verificar-se antes da cessação completa da vida orgânica, ou seja, a alma já deixou o corpo, que nada mais tem do que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo, e não obstante ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento. Ele se mantém enquanto o coração lhe fizer circular o sangue pelas veias e para isso não necessita da alma.


No momento da morte a alma sente, muitas vezes, que se desatam os liames que a prendem ao corpo, e então emprega todos os seus esforços para se desligar de uma vez. Já parcialmente separado da matéria, vê o futuro desenrolar-se diante dela e goza por antecipação do estado de Espírito.


Kardec explica que este desprendimento antecipado da alma ocorre com certa frequência, antes de morrer muitas pessoas entreveem o mundo espiritual, desta forma, esperançosos, podem suavizar o pesar de deixar a vida. Porém no momento exato da separação o espírito perde a consciência de si mesmo e como ocorre no nascimento, ele jamais testemunha o último suspiro de seu corpo, a separação ocorre sem que ele se dê conta disto. A agonia final é muitas vezes acompanhada por convulsões que nada mais são do que um efeito físico, e cuja sensação o espírito quase nunca experimenta, pode algumas vezes, sentir estas últimas dores como um castigo. (1)


O exemplo da larva que primeiro se arrasta pela terra, depois se fecha na crisálida, numa morte aparente, para renascer numa existência brilhante, pode dar-nos uma pálida ideia da vida terrena, seguida do túmulo e por fim de uma nova existência, porém, é necessário não tomá-la ao pé da letra.


A sensação que experimenta a alma no momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos, depende do que se fez durante a vida terrena, se fez o mal, no primeiro momento, sente-se envergonhado de o haver feito, depois a consciência lhe cobra a reparação dos maus atos praticados. Para o justo, é muito diferente: ele se sente aliviado de um grande peso, porque não receia encontrar nenhum olhar perquiridor.


Em uma comunicação transcrita na Revista Espírita (2) encontramos o seguinte diálogo:


Perg.: – Que efeito vos produziu a morte?
Resp.: – A morte! Não estou morto, meu filho; tu te enganas. Levantava e, de repente, fui tomado por uma escuridão que me desceu sobre os olhos; depois me ergui: julga o meu espanto ao me ver e me sentir vivo, percebendo, ao lado, sobre a laje, meu outro ego deitado. Minhas ideias eram confusas; errei para me refazer, mas não pude; vi chegar minha esposa, velar-me, lamentar-se, e me perguntei: Por quê? Consolei-a, falei-lhe, mas não respondia nem me compreendia; foi isso que me torturou, deixando-me o Espírito ainda mais perturbado.


O Espírito encontra imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele, segundo a afeição que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos, e o ajudam a libertar-se das faixas da matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista durante a passagem pela Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados, que vai visitar.


Na morte violenta ou acidental, quando os órgãos ainda não se debilitaram pela idade ou pelas doenças, a separação da alma e a cessação da vida geralmente se verificam simultaneamente, mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto.


Na Revista Espírita de 1859 (3) Kardec traz uma entrevista com um oficial do exército da Itália que descreve o momento da separação da alma e do corpo durante um combate:


Perg. – 7: Assistindo a um combate e vendo homens morrer, testemunhais a separação entre a alma e o corpo?
Resp.: –Sim.


Perg. – 8: Nesse momento vedes dois indivíduos: o Espírito e o corpo?
Resp.: – Não; que é então o corpo?

- Mas nem por isso o corpo deixa de estar lá; não deve ser distinto do Espírito?
Resp.: – Um cadáver, sim; mas não é mais um ser.

Perg. – 9: Qual a aparência que então assume o Espírito?
Resp.: – Leve.

Perg. – 10: O Espírito afasta-se imediatamente do corpo? Dignai-vos descrever tão explicitamente quanto possível como as coisas se passam e como as veríamos, caso fôssemos testemunhas.
Resp.: – Há poucas mortes realmente instantâneas. O Espírito, cujo corpo foi atingido por uma bala, a maior parte do tempo argumenta consigo mesmo: “Vou morrer, pensemos em primeiro sentimento a dor o arranca do corpo e só então podemos distinguir o Espírito, que se move ao lado do cadáver. Isso parece tão natural que a visão do corpo morto não produz nenhum efeito desagradável. Tendo sido toda a vida transportada para o Espírito, apenas este chama a atenção; é com o Espírito que conversamos ou é a ele que damos ordens.

Observação – Poderíamos comparar esse efeito ao produzido por um grupo de banhistas; o espectador não presta nenhuma atenção às roupas deixadas à margem.


Após a decapitação, por exemplo, frequentemente o homem conserva por alguns instantes a consciência de si mesmo por alguns minutos, até que a vida orgânica se extinga de uma vez. Porém, muitas vezes a preocupação da morte lhe faz perder a consciência antes do instante do suplício.


Não se trata, aqui, senão da consciência que o supliciado pode ter do si mesmo como homem, por meio do corpo, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, ele pode conservá-lo por alguns instantes, mas de duração muito curta, e a perde necessariamente com a vida orgânica do cérebro. Isso não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente desligado do corpo, mas pelo contrário, pois em todos os casos de morte violenta, quando esta não resulta da extinção gradual das forças vitais, os liames que unem o corpo ao perispírito são mais tenazes, e o desprendimento completo é mais lento.



Estudo com base no Livro II, Capítulo III, questões 154 à 162 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec). Pesquisa: Claudia C. e Elio Mollo.


NOTAS:
(1) Allan Kardec - Revista Espírita, junho de 1861, Marques de Saint-Paul, morto em 1860 e evocado a 16 de maio de 1861 a pedido de sua irmã membro da Sociedade Espírita Parisiense.
(2) Allan Kardec - Revista Espírita, dezembro de 1858, Um Espírito nos funerais de seu corpo.
(3) Allan Kardec - Revista Espírita, setembro de 1859, Um oficial do exército da Itália.

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