Todos sabemos o quão urgente e triste ainda é a questão da fome em nosso planeta, principalmente em países da África e em parte da Ásia, onde a pobreza e a desigualdade social atingem níveis absurdos e inimagináveis para a sobrevivência do ser humano. Neste contexto, uma região está chamando a atenção de todos os povos em decorrência da situação emergencial em que se encontra.
O Chifre da África (extremo leste do continente, próximo à Ásia) é composto por cinco países: Eritreia, Djibuti, Etiópia, Somália e Quênia. No fim de julho, a ONU decretou estado de fome para a região, o que só ocorre quando um quinto da população está sem comida e quando morrem dois adultos ou quatro crianças a cada 10.000 pessoas, diariamente.
Essas informações são apresentadas pela revista Veja, edição 2.229, de 10 de agosto de 2011, na reportagem “Condenados à fome” (página 98). A mesma matéria também traz a informação de que a Somália vive a pior situação entre os cinco países graças a uma intolerância religiosa. Enquanto os países vizinhos recebem alimentos, remédios e médicos para aliviar o sofrimento de sua população, os somalianos estão sendo impedidos de receber auxílio internacional porque a milícia islâmica Al Shabab (“a juventude”, em árabe), que controla o sul do país e tem ligações com a Al Qaeda e o Hezbollah, tem como princípio isolar a África de qualquer influência ocidental. “Em 2009, baniu doações de comida e campanhas de vacinação sob o argumento de que se trata de conspiração para matar crianças”, conclui a reportagem.
A Folha de São Paulo, de 5 de agosto de 2011, pág. “Mundo” A19, também traz números alarmantes relativos à Somália. Segundo o periódico, 29 mil crianças menores de cinco anos morreram naquele país somente nos meses de maio, junho e julho, e outras 640 mil crianças estão desnutridas, o que pode aumentar consideravelmente o número de mortes nos próximos meses. Números estes que poderiam ser ao menos suavizados se houvesse bom senso naqueles que dizem “proteger o povo das más influências”. Ora, desejam propagar uma religião e manter intactos seus costumes, mas para isso sua população (teoricamente, seus protegidos) sofre física, mental e espiritualmente com a fome. É obrigada a todos os dias presenciar o sofrimento de seus filhos, amigos e parentes em troca de uma justificativa tola e intolerante, em que não se pode ver outro motivo de existir a não ser a velha necessidade do homem em manter seu orgulho e sua razão em primeiro lugar, preterindo todas as demais necessidades básicas e a dignidade das outras pessoas.
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, indaga na questão 789 se “o progresso reunirá um dia todos os povos da Terra em uma só nação?”. Como resposta, compreende-se que é impossível uniformizar costumes ou necessidades decorrentes, por exemplo, da diversidade de climas, mas que é possível sim existir um único sentimento de caridade, destituído de preconceitos. “Quando a lei de Deus for, por toda a parte, a base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para outro, como os indivíduos de homem para homem. Então eles viverão felizes e em paz, porque ninguém procurará fazer injustiça para seu vizinho, nem viver às suas custas.”
Ou seja, quando o ser humano compreender que todos os encarnados na Terra estão praticamente no mesmo estágio de evolução e que, com a reencarnação, pode-se um dia nascer norte-americano e em outro afegão, não haverá mais distinção entre os povos e todos se respeitarão como membros irmãos de uma mesma morada, onde todos devem colaborar mutuamente para o progresso individual e da humanidade. Quando a lei de Deus for puramente compreendida, aberrações como esta da Somália serão raras, ou melhor, se extinguirão e muitas outras distinções, além das questões religiosas, como a cor da pele ou a opção sexual, serão meros detalhes que em nada atrapalharão nosso relacionamento interpessoal.
A questão 807 de O Livro dos Espíritos traz uma repreensão severa àqueles que se consideram “donos do mundo e da verdade”. Vale reproduzi-la na íntegra, para nossa reflexão:
807 – Que pensar daqueles que abusam da superioridade da sua posição social para oprimir o fraco, em seu proveito?
– Estes merecem o anátema. Ai deles! Serão oprimidos, ao seu turno, e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que fizeram sofrer.
Com este aprendizado, que só a reencarnação pode oferecer, chegará o dia em que conseguiremos enxergar a todos como irmãos, enterrando fundo nosso orgulho e egoísmo, ainda tão latentes em nossas atitudes.
Cássio Leonardo Carrara
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