SOBRE O COMPORTAMENTO
O ponto central de
qualquer discussão sobre o comportamento humano, sob a ótica espírita, é
a liberdade. Somente a liberdade pode criar condições para o real
crescimento do espírito. Não apenas a liberdade social, externa. Mas a
liberdade interna, que é o espaço que cada um realiza em si mesmo, para
manipular suas energias. Como se vê, essa liberdade não tem um sentido
de inutilidade e anarquia emocional, mas flui dentro de um sentido de
apreensão global do ser e de sua relação com os outros, que são, por seu
turno, outros tantos espaços de liberdade conquistada.
A questão da oposição entre o livre-arbítrio e o determinismo, exprimindo o conflito da vontade na construção do destino, na verdade reduz-se dialeticamente à contradição, entre a liberdade e a não-liberdade, como a tese da plenitude espontânea e antítese da contenção pelo reconhecimento da plenitude espontânea do outro. A liberdade essencial é, nessa visão, uma questão de relação humana, que a compreensão plurivivencial ou continuum vivencial do Espiritismo esclarece e elucida.
Por outro lado, na visão autenticamente espírita, não há porque nivelar imperfeição com o mal. A imperfeição é a nossa marca natural. Talvez sejamos sempre imperfeitos. Por isso, “a primeira lição comportamental do Espiritismo é que devemos nos livrar da angústia da perfeição, a fim de que possamos equacionar nossa própria imperfeição”.
O Espiritismo valoriza o corpo, a vida presente e incorpora as noções de tempo e espaço, causa e efeito, numa dinâmica capaz de libertar tanto da sombra do passado, quanto do medo do futuro, para exaltar o momento em que se exercita o único bem imperecível, que é a vida imortal que cada um possui, como acervo inalienável.
O moralismo, erguido falsamente como moral e ética, impôs uma visão dolorosa, tenebrosa, sombria à vida terrena, potencializando a condição natural de transitoriedade e insegurança que são apanágios do estágio evolutivo na média da humanidade. Os impulsos, as emoções naturais, foram catalogadas como caminhos da perdição e impôs-se o cerceamento, o recalque, como meta salvacionista, embora a angústia, a não-realização que acarretavam.
Com isso, o sentido estético da vida diluiu-se no medo das tentações demoníacas, sempre afoitas em perder o homem, a arrastá-lo para o umbral, para o inferno, a obsidiá-lo. Para ganhar um céu futuro, exigiu-se um não-viver, como se a vida fosse dividida, compartimentalizada irremediavelmente e não um fluxo ininterrupto englobando tempo e espaço, causa e efeito. O amor, o belo, a poesia, o sentido livre da criatividade foram comprometidos pela visão sombria da natureza pecaminosa que cada um trazia como marca indelével, seja do pecado original ou das dívidas do passado.
Formas de vivência, como o sexo, o amor, a paixão, exprimindo a emoção natural de cada um e convenções sociais, como o casamento, a família, o divórcio, a natalidade, por onde se escoa a emoção humana, precisam ser pensadas sob o enfoque libertador do Espiritismo global, autêntico, questionando o que existe na realidade social, para que surja uma contribuição revolucionária que remodele falsas concepções tidas como verdades e que não apenas se autodestroem, como infelicitam as pessoas, até em nome de Deus.
Reclama-se, porém, contra o que parece um excesso de teorização e pedem-se noções objetivas, claras, determinando o que é e não é compatível com a moral espírita. Todavia, é da essência do próprio Espiritismo deixar que cada um elabore seu código moral, seus valores, para o que o conteúdo da Doutrina oferece subsídios fundamentais.
A questão é encontrar coragem e sentido para romper com as tenazes de um moralismo castrador, colocado como meio de elevação e superação, mas que copia diretrizes que o tempo descartou.
O comportamento espírita baseia-se no sentido libertador, na ruptura que o Espiritismo pode significar se conseguir se desatrelar de imposições culturais superadas e projetar uma nova noção de moralidade que não cerceie, contingencie ou castre o espírito.
Jaci Regis
Fonte: Abertura - Jornal de Cultura Espírita, maio de 1987, ano I, nº 2. Licespe - Santos-SP.
A questão da oposição entre o livre-arbítrio e o determinismo, exprimindo o conflito da vontade na construção do destino, na verdade reduz-se dialeticamente à contradição, entre a liberdade e a não-liberdade, como a tese da plenitude espontânea e antítese da contenção pelo reconhecimento da plenitude espontânea do outro. A liberdade essencial é, nessa visão, uma questão de relação humana, que a compreensão plurivivencial ou continuum vivencial do Espiritismo esclarece e elucida.
Por outro lado, na visão autenticamente espírita, não há porque nivelar imperfeição com o mal. A imperfeição é a nossa marca natural. Talvez sejamos sempre imperfeitos. Por isso, “a primeira lição comportamental do Espiritismo é que devemos nos livrar da angústia da perfeição, a fim de que possamos equacionar nossa própria imperfeição”.
O Espiritismo valoriza o corpo, a vida presente e incorpora as noções de tempo e espaço, causa e efeito, numa dinâmica capaz de libertar tanto da sombra do passado, quanto do medo do futuro, para exaltar o momento em que se exercita o único bem imperecível, que é a vida imortal que cada um possui, como acervo inalienável.
O moralismo, erguido falsamente como moral e ética, impôs uma visão dolorosa, tenebrosa, sombria à vida terrena, potencializando a condição natural de transitoriedade e insegurança que são apanágios do estágio evolutivo na média da humanidade. Os impulsos, as emoções naturais, foram catalogadas como caminhos da perdição e impôs-se o cerceamento, o recalque, como meta salvacionista, embora a angústia, a não-realização que acarretavam.
Com isso, o sentido estético da vida diluiu-se no medo das tentações demoníacas, sempre afoitas em perder o homem, a arrastá-lo para o umbral, para o inferno, a obsidiá-lo. Para ganhar um céu futuro, exigiu-se um não-viver, como se a vida fosse dividida, compartimentalizada irremediavelmente e não um fluxo ininterrupto englobando tempo e espaço, causa e efeito. O amor, o belo, a poesia, o sentido livre da criatividade foram comprometidos pela visão sombria da natureza pecaminosa que cada um trazia como marca indelével, seja do pecado original ou das dívidas do passado.
Formas de vivência, como o sexo, o amor, a paixão, exprimindo a emoção natural de cada um e convenções sociais, como o casamento, a família, o divórcio, a natalidade, por onde se escoa a emoção humana, precisam ser pensadas sob o enfoque libertador do Espiritismo global, autêntico, questionando o que existe na realidade social, para que surja uma contribuição revolucionária que remodele falsas concepções tidas como verdades e que não apenas se autodestroem, como infelicitam as pessoas, até em nome de Deus.
Reclama-se, porém, contra o que parece um excesso de teorização e pedem-se noções objetivas, claras, determinando o que é e não é compatível com a moral espírita. Todavia, é da essência do próprio Espiritismo deixar que cada um elabore seu código moral, seus valores, para o que o conteúdo da Doutrina oferece subsídios fundamentais.
A questão é encontrar coragem e sentido para romper com as tenazes de um moralismo castrador, colocado como meio de elevação e superação, mas que copia diretrizes que o tempo descartou.
O comportamento espírita baseia-se no sentido libertador, na ruptura que o Espiritismo pode significar se conseguir se desatrelar de imposições culturais superadas e projetar uma nova noção de moralidade que não cerceie, contingencie ou castre o espírito.
Jaci Regis
Fonte: Abertura - Jornal de Cultura Espírita, maio de 1987, ano I, nº 2. Licespe - Santos-SP.
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