PAI - QUE PESSOA É ESSA?
“Vivi uma vida repleta de problemas, mas não são nada comparado com os problemas que teve que se enfrentar meu pai para conseguir que minha vida começasse”. Bartrand Hubbard.
Foi no século IV a.C. que a figura
masculina assumiu o controle das ações dentro das coletividades humanas.
Antes os cultos eram oferecidos às mulheres, notadamente pela
maternidade. Naquela época os clãs eram dominantes e o homem teve que
assumir o controle da família e todos os que não fossem do sexo
masculino deveriam seguir seus comandos. Na história das civilizações
encontramos constantemente a figura do escravo. Também o escravo devia
obediência ao homem. A soberania masculina era hereditária e, assim,
permaneceu por longos períodos históricos.
Os professores Aquino, Oscar e Denise no
livro “História das Sociedades” faz importante abordagem ao assunto,
elucidando-o: “Antes, nas comunidades primitivas, a família se confundia
com o próprio grupo; todos se consideravam ligados por laços
consangüíneos e a descendência era fixada pelo lado feminino, pois a
mulher exercia uma atividade mais importante para a sobrevivência do
grupo – a coleta. Vigorava o direito materno... Com o surgimento da
propriedade privada, o direito materno foi derrubado e a descendência
passou a se fazer pelo lado paterno para garantir o direito dos filhos à
herança. Desse modo garantia-se a acumulação da riqueza para a família.
Da mulher passou a exigir-se a virgindade e a fidelidade conjugal –
imposição feita principalmente para garantir a certeza da paternidade e,
portanto, para legitimar o direito dos filhos à herança”.
Assim explica-se historicamente o porquê da
soberania masculina na relação familiar. Acontece, porém, que a medida
surgia apenas para garantir a descendência das riquezas. E como ficavam
os filhos? Provavelmente eram educados para garantir a sobrevivência do
clã e defende-lo das agressões internas e externas. São notáveis os
fatos que relatam a transferência do poder paternal ao primogênito, um
deles, talvez o mais famoso historicamente, é o caso de Esaú e Jacó,
netos de Abraão.
O tempo passou e o homem continuou como
dominante. Filhos nasciam e cresciam sob os tetos constituídos. E lá
estava ela, a mãe, cuidando da educação enquanto o pai cuidava da
manutenção do lar. Pai e Mãe tornaram-se assim peças importantes no
constructo social. Os filhos nasciam e se preparavam para o matrimônio.
Meninas dos doze anos em diante já podiam pensar em casamento e jovens
meninos deviam assumir seus compromissos conjugais bem cedo e assim
perpetuavam o “modus operandi” do processo.
Um dia houve uma revolução feminina na qual
a mulher deixou o posto de submissão ao homem buscando sua igualdade de
direitos. Estamos vivendo presentemente essa situação. Ora, se os pais
são independentes entre si e os filhos necessitam tanto deles para
crescerem de forma psicologicamente sadia, como enfrentar a situação?
Quem de fato predomina – o pai ou a mãe? Para um estudo mais profundo da
questão devemos buscar as observações do psiquiatra e psicanalista e
membro da Associação Freudiana da Bélgica e Lacaniana Internacional, Dr.
Jean-Pierre Lebrun. Segundo ele a discussão de soberania entre pai e
mãe remonta aos tempos dos sábios gregos, notadamente Ésquilo, um dos
tragediógrafos, em sua história denominada Oréstia. Naquele episódio a
mãe mata o pai e é morta pelo filho por causa do assassinato que
cometera. A pergunta é: porque o filho matou a mãe? Seria o caso de ser o
pai o legitimo genitor por ser ele o que fecunda e a mulher a que
salvaguarda o jovem rebento, apenas nutrindo o germe que lhe fora
semeado?
A questão é muito complexa se vista por
este lado, contudo o notável psicanalista apresenta outro fato
contundente quando explica a relação de parentalidade. Segundo ele “no
primeiro tempo, a criança está presa ao gozo materno, mas é necessário
que ela se desvincule para poder levar vida própria. O pai funciona como
um anteparo, impedindo que esse gozo invada a criança. A figura paterna
separa a criança da mãe porque constitui um outro polo do gozo.”
Segundo estas observações notam-se a
importância de ambos no processo da condução dos filhos e o pai é aquela
figura que oferece à criança uma nova oportunidade: a relação dela com o
mundo, pois que ele, o pai, é o representante deste mundo no contexto
familiar. Assim o pai passa a ser o dinamizador daquela consciência em
direção ao futuro. A mãe representa a o aconchego, o pai a abertura.
Assim se explica o porquê do “Honrar Pai e Mãe” inscrito no Decálogo.
Nas questões 582 e 583 de “O Livro dos
Espíritos” temos a informação concisa dos deveres de ambos, notamente
quando a espiritualidade comenta que “Deus colocou a criança sob a
tutela dos pais para que eles a conduzam no caminho do bem, e lhes
facultou a tarefa ao conceder à criança uma constituição frágil e
delicada, que a torna acessível a todas as impressões” Joana de Angelis
assevera que ”os pais não são os construtores da vida, porém, os médiuns
dela, plasmando-a, sob a divina diretriz do Senhor.” Emmanuel, como que
concluindo o pensamento acima, nos diz que: “os pais humanos têm de ser
os primeiros mentores da criatura.”
De posse de todas essas informações podemos
situar bem a posição do Pai, da Mãe e de ambos no processo de
construção de um indivíduo saudável. Quanto ao Pai, ele é o grande
orientador do filho em relação ao mundo. Mundo que ele conhece porque
nasceu primeiro. A ele é dado o dever de conduzir o filho para as vias
úteis dos seus crescimentos, representa o grande cicerone daquele que
está retornando para mais um período no corpo físico.
No capítulo 46 do livro “Luz no Lar”,
psicografado por Chico Xavier, encontramos a frase abaixo: “Ser Pai é
ser colaborador efetivo de Deus, na Criação”. Hoje a moderna psicologia
coloca os pais como educadores e a sociedade corre sérios riscos se:
“não transmitir à geração seguinte as ferramentas indispensáveis para
enfrentar o que pertence à nossa condição comum”, ainda nas palavras de
Jean-Pierre.
Ser Pai, portanto, é ser um amigo
indispensável para que o filho cresça em paz enquanto se organiza física
e psiquicamente para os embates que o aguardam no processo da sua
evolução espiritual.
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