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31 julho 2014

Por que o tratamento espiritual nem sempre cura? - Espírito Lúcius


POR QUE O TRATAMENTO ESPIRITUAL NEM SEMPRE CURA?

- Eu já vi muita gente ir em centro espirita buscar o tratamento espiritual e, apesar de ter feito tudo isso que você aconselhou, a pessoa morreu do mesmo jeito e da mesma doença que tinha antes.

- Sim, é verdade. Isso acontece várias vezes, mas quando entendemos os mecanismos da Lei do Universo, passamos a compreender que o grande tesouro que Deus nos oferece não é a vida de carne e osso, como todos nós imaginamos, equivocadamente.

A vida é estuante sempre, mais cheia de belezas inebriantes na dimensão espiritual do que na superfície quente e abafada, conflituosa e desesperante da Terra dos homens insensatos.

Assim, a morte não é a condenação ou a punição para quem não se acercou de Deus nem é o prêmio que merece receber o bonzinho que se tenha tornado espírita ou que tenha ido receber tratamento espiritual.

Todos continuaremos vivendo nas dimensões espirituais da vida. A diferença, no entanto, é que os que, em tempo, não quiseram trabalhar a favor de si mesmos, carregarão na alma as raízes da ignorância que modelaram cânceres físicos, a repercutirem novamente nos futuros corpos produzindo novas enfermidades, enquanto que os que passaram a entender de maneira lúcida a verdadeira responsabilidade de viver, já começaram o trabalho da própria modificação agora, antes mesmo de que o corpo carnal tenha sido conduzido à sepultura. Nós não somos capazes de imaginar quantos benefícios possa ter recebido o enfermo que, nos últimos períodos de sua trajetória na Terra, acercou-se das realidades do Espírito e se deixou por elas tocar com sinceridade, iniciando o esforço de transformação verdadeiro.

Quantos passarão a compreender os mecanismos da morte não roais como poderosas engrenagens destruidoras, mas como pontes que dão acesso a novos patamares de crescimento? Quantos não encontraram, por fim, o sentido que tanto buscavam para as indagações da alma, asserenando o interior nas horas da grande viagem?

Quantos não aprenderam o valor da oração verdadeira e sincera e, felizes quase, puderam constatar a chegada dos antigos amigos e parentes que o antecederam na tumba e que a ele se apresentam para acompanhá-lo no regresso à Casa do Pai?

A transformação do Espírito, acontece não apenas quando o corpo se recupera, glorioso e quase por milagre. Geralmente, cada um tem necessidades e compromissos específicos, de tal sorte que, se não será possível que todos tenham o corpo curado, todos se beneficiarão com forças para o Espírito, indispensáveis para a continuidade da vida que os aguarda, inexorável.

Por isso é que tal modificação, às vezes, é maior para a alma que parte para a Vida Verdadeira do que para aquela que consegue a cura completa e continua a pertencer ao número dos que permanecem expostos às tentações tão conhecidas e perigosas.

De qualquer forma, minha amiga, todos os que se acerquem de Deus e compreendam com clareza suas leis, sentirão uma paz indescritível, seja para enfrentarem as lutas na manutenção da vida física, seja para entenderem as belezas que os esperam no despertamento da vida da alma.

Poderá haver maior consolação do que essa?


Livro Esculpindo o Próprio Destino, cap. 24
Espírito Lúcius
Psicografia de André Luiz Ruiz.

30 julho 2014

Abençoado Festim - Francisco de Paula Victor


ABENÇOADO FESTIM


No Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec comenta, com muita propriedade, no item 8 do capítulo XIII, que por festins devemos entender a participação dos nossos irmãos do caminho na abundância do que já desfrutamos.

Reparemos.

Muito amiúde interpretamos como caridade apenas o ato exterior da distribuição de recursos e mantimentos, agasalhos e roupas, cestas de alimentação ou lanches fraternos.

Sem dúvida que toda ação no bem do semelhante, por mais singela que seja, será benção de luz em nossos caminhos.

Entretanto, analisando a parábola do festim, que nos foi proposta pelo Divino Mestre, forçoso reconhecermos o grande alcance da interpretação kardequiana.

O Divino Festim que o Cristo nos inspira aos corações é a repartição da abundância que nos favorece a existência.

Assim sendo, vejamos:

Que é feito de abundância das horas disponíveis em nossa vida diária, após as obrigações inadiáveis que atendemos no trabalho ou em casa?

O que fazemos com a alegria da saúde física, que nos envolve a benção da vida na terra, diante dos doentes que nos acompanham de longe?

O que estamos realizando com os recursos da inteligência que nos sobra das aquisições intelectuais perante a multidão de ignorantes e iletrados que nos rodeia?

O que fazemos com o excesso de parcelas relativas de poder dentro da organização social a que pertencemos, defronte da grande maioria de marginalizados da vida cidadã?

Que temos feito com os excessos de títulos acadêmicos ou de leituras brilhantes que descortinamos despreocupadamente ante a necessidade crescente de acesso à cultura pelas massas anônimas?

Como temos agido com as sobras de entendimento e compreensão, paciência e calma que porventura já possuímos no imo d'alma, perante aqueles outros irmãos desesperados e insanos em franco processo de agitação irrefletida?

Qual o destino que damos à benção das alegrias que nos exornam a vida perante aqueles outros companheiros de jornada desorientados e tristes? Não julguemos assim que a caridade se restrinja à distribuição de bênçãos ou recursos de ordem meramente material.

Nenhum de nós é tão pobre de recursos da alma, na abundância de nossas aquisições íntimas, que não possa partilhá-las em Divino Festim com os irmãos mais próximos de nosso roteiro terrestre.

Partilhar pois é o verbo da vida superior convidando-nos a conjugá-lo, o quanto antes, no convite à solidariedade cristã junto aos semelhantes.

Façamos isto e viveremos!


Irmão Victor (Francisco de Paula Victor)
Mensagem Psicografada em Reunião Pública no Centro Espírita Luz, Amor e Caridade, na noite de 28 de maio de 2007, por  Geraldo Lemos Neto. 

29 julho 2014

Inteligência de si - Rita Foelker




INTELIGÊNCIA DE SI

Esses escritos juntam várias coisas que ouvi e observei, recentemente, relacionadas a essa “coisa” de achar o outro sempre mais inteligente do que a gente.

A inteligência é a característica que define o ser espiritual, de acordo com a filosofia espírita. Portanto, somos todos inteligentes e pertencemos à Criação Divina. Todos nós fomos criados com o mesmo potencial, aprendemos a usá-lo e a escolher o que fazer com ele.

Em geral, consideramos inteligente alguém que cria um carro para estacionar sozinho, ou um chip cada vez menor que armazena cada vez mais “gigas”. Achamos que tecnologia é fruto de inteligência, mas nos sentimos pouco inteligentes nas coisas do dia-a-dia.

Ninguém, exceto as almas evoluídas, é altamente inteligente para tudo! Somos mais inteligentes para lidar com algumas situações e desafios, menos inteligentes para outros. Mas isso faz parte da nossa jornada evolutiva. Dificilmente poderíamos desenvolver todos os nossos potenciais numa só encarnação, então, trabalhamos por partes e evoluímos um pouco em cada setor.

Um fato sobre esses avanços tecnológicos recentes é que eles surgem de trabalho coletivo, são pequenas melhorias construídas sobre melhorias anteriores, ou reunidas com ideias dos colegas, de modo que praticamente não existe mais a figura individual do inventor, como Graham Bell e o seu telefone. Ou seja, há uma inteligência que não é necessariamente a de um único “gênio”, mas a de muitas pessoas pensando juntas.

A própria Humanidade é também uma inteligência coletiva, crescendo em conjunto. E que isso faz com que, individualmente, dentro desse movimento, também possamos desenvolver nosso potencial de inteligência, compreender mais, aprender melhor e viver mais satisfatoriamente. O acesso à web ajuda nisso. Sites trazem composições musicais, museus se abrem para visitas virtuais e contemplação das grandes obras de arte, bibliotecas disponibilizam seu acervo.

Mas essa inteligência muitas vezes não fica tão evidente, não é mesmo? Nas coisas cotidianas, por exemplo, é comum não se estar satisfeito consigo, com seu lugar, com seus relacionamentos. E não saber o que fazer.

Notamos que temos uma relação neurótica com o tempo. Num mundo que tantas vezes assusta e desconforta, desenvolvemos um grau de negatividade que nos faz defensivos e distantes. Ou nos enterra em nós mesmos, no trabalho, no consumismo, no vício. E nada disso denota um alto grau de inteligência, perante essas situações.

Às vezes, absorvidos em nossos “problemas”, perdemos o foco das alegrias simples, que mostram como a vida é especial. Às vezes, distanciados de nós mesmos, aderimos a padrões inventados por outras pessoas e que não compreendemos. Ou com que, em alguns casos, nem concordamos...

Mas isso pode ser diferente, quando desenvolvemos alguma inteligência de nós mesmos. Quando nos conhecemos melhor e descobrimos o que realmente desejamos que esteja em nossas vidas, deixando de lado o que não faz parte.

O que eu quero que seja cotidiano, para mim? Acordar disposto todos os dias? Trocar um beijo com o ser amado? Agradecer mais e reclamar menos? Cumprir minhas tarefas com ânimo e disposição? Celebrar a Natureza, a amizade? Comer alimentos mais saudáveis? Se nada disso está presente no meu dia de hoje, poderá estar a partir do momento da minha decisão. E assim veremos as melhorias refletirem a nossa inteligência de nós mesmos e nos fazendo bem. 

Por Rita Foelker – para o site FEAL
 

28 julho 2014

Pseudo-verdades Espíritas - Marcelo Henrique Pereira


PSEUDO-VERDADES ESPÍRITAS


De tempos em tempos, graças à mentalidade fértil de certos escritores, médiuns, dirigentes ou, na sua evidência mais comum, Espíritos que ditam mensagens (por via psicográfica ou psicofônica), aparecem conceitos, adjetivações ou, até, teorias que recebem da platéia espírita ressonância e aceitação, passando a ter respaldo como verdades inquestionáveis.

De imediato, devemos salientar que nada temos contra o potencial criativo humano, sobretudo quando expresso na forma de construções literárias e, neste aspecto singular, obras de ficção (inclusive espírita) existem aos borbotões, mas, infeliz e negativamente, nem sempre isto fica claro para o incauto leitor.

Corroborando esta diagnose está a gama de editoras “espiritualistas”, especializadas na produção e comercialização de um sem-número de obras de duvidosa origem e questionável conteúdo, que inundam prateleiras (mormente das instituições espíritas), em “pacotes” atrativos e catálogos coloridos e bem-formatados, vendendo uma imagem às vezes fantasiosa daquilo que não se encontra no material a ser lido, ou, o que é pior, inverdades que não subsistem ao mínimo e primário cotejo com os fundamentos da Doutrina Espírita.

Herculano Pires, neste mister, a propósito, em meados da década de 60 e por toda a década de 70, mesmo advogando a liberdade de expressão e a ausência de qualquer meio filosófico-doutrinário de censura (prévia ou posterior à publicação), advertiu-nos quanto à necessidade da separação – calcada no estudo e no conhecimento espírita – entre o joio e o trigo. Historietas e composições “água-com-açúcar” grassam abundantemente nas searas espíritas, contando, inclusive, com o beneplácito e (o que é mais grave) o fomento à leitura por parte de desavisados (ou despreparados e “empolgados” dirigentes).

É claro que o “povo” não quer saber de leituras densas e longas, a literatura do tipo “vale quanto pesa”, por sua aparência e contextura “pesada”, livros que esboçam parágrafos longos e terminologia avançada, de vez que a maioria, além de nunca ter desenvolvido (ou de ter odiado) a prática da consulta a dicionários ou enciclopédias – mesmo com as facilidades da internet de nossos dias – igualmente jamais apreciou leituras complementares derivadas do folheio de atlas ou obras de biologia, história, geografia, sociologia, física, medicina, direito...

Qualquer análise que exija esforço pessoal um pouco maior do que a mera leitura linear e seqüencial é, de pronto, rechaçada e esquecida, com a pífia justificativa de que falta estudo ou formação acadêmica ou, como mais se ouve por aí, “eu não tenho conhecimentos para tanto”, quando não a acusação padrão de que “estão querendo elitizar a doutrina”, com tantos professores e especialistas, eruditos e letrados, cheios de títulos e cargos, quando, “na verdade”, a doutrina “deveria manter sua simplicidade”. Há, convenhamos, uma generalizada confusão entre simplicidade e minudência ou simplificação extrema (a limitação ao básico ou ao “mínimo necessário”), ainda que este represente a alie-nação em relação à complementação dos conceitos fundamentais.

Então, opta-se pelo conhecido “chover no molhado”, com palestras repetititvas e enfadonhas e literaturas “rasteiras”, plenas de máximas, jargões e frases de efeito, ou o desfilar de historinhas e feitos de médiuns do passado, com gestos de humildade, bondade, amor, perseverança, piedade... aos montes. Nada contra, digamos, a exemplificação construtiva, a referência aos vultos e suas realizações. Mas, respeitosamente, o Espiritismo precisa “olhar para a frente”, com base no hoje, com o contributo real do espírita pensante e atuante na construção de relações, instituições, movimento e, como resultado, uma Sociedade melhor e mais espiritualizada.

As pseudo-verdades – que crescem em abundância, mesmo que não hajam sido semeadas propositadamente pelos próprios espíritas – compõem um rol que precisa ser apresentado e analisado, sem que se promova nenhuma “caça às bruxas”, nem se introduza nenhum “index” ou “santo ofício”, tampouco nenhuma “cruzada em defesa da pureza doutrinária”, mas, em verdade, para servir de alerta aos iniciantes ou aos interessados em conhecer e se aprofundar no conteúdo espiritista, os quais, as mais das vezes, são atraídos pela facilidade de alguns “livrinhos” que são acalentados como “pérolas”, manuais ou referências, mas que não passam de engodo ou falsas interpretações – peculiares ao nível ainda atrasado de quem as concebeu – ou, como costumamos dizer, representam “adequações do pensamento espírita às conveniências, gostos e raciocínios pessoais”, quando o esperado, desejável e imperioso seria justamente o contrário, ou seja, a adequação de nossos comporta-mentos, linguagem e pensamento ao perfil progressivo do Espiritismo.

Neste ensaio, sem ser conclusivo nem abrangente, apresentaremos algumas destas idéias, as quais, pelas informações “oficiais” disponíveis (em sede de Codificação) são neologismos que devem ser, no mínimo, tratados com reserva, aguardando que, pelos mesmos critérios adotados no trabalho de Kardec, haja confirmação posterior destas “teses”:

1) Alimentação espiritual similar à terrena – embora considerando nossa pouca iluminação espiritual e a proximidade aos níveis iniciais de evolutividade, os primeiros degraus da Escala Espírita (O livro dos espíritos, item 100 e seguintes), e, sobretudo, de modo mais flagrante, as viciações e os excessos comuns aos homens de nosso tempo (álcool, fumo, gula, jogatina, promiscuidade, avareza, orgulho, cupidez, egoísmo, vaidade, entre outros), é natural imaginar que carreamos para o plano invisível muitas das nossas “preferências” e “costumes” e, pela sensibilidade e pelo comprometimento perispiritual, sentimos muita “falta” daquilo que repetidamente fizemos uso numa (relativamente longa) existência corporal. Herculano Pires (em Vampirismo) comenta sobre a vinculação psíquica entre desencarnados e encarnados – uma, apenas, das variações desta intrincada simbiose – para que os primeiros possam continuar experimentando os “prazeres” que sentiam quando vivos, acompanhando os segundos em locais e eventos em que os efeitos das substâncias materiais possam ser novamente experimentados.

Todavia, daí a admitir ou preconizar que existam “alimentos fluídicos” ou psíquicos, em formatação similar à da conjuntura material é um excesso destemperado. Nada há na Codificação que ateste tal realidade e, mesmo que Kardec tivesse sido “econômico” neste particular, devemos respeitar o princípio animador da estrutura doutrinária espírita que exige, para a aceitação de “novas verdades”, a obediência ao Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), ou, explicitamente, a confirmação do relato por médiuns diferentes, idôneos, em momentos distintos e/ou locais separados, dando substrato de validade à nova informação, acostando-a ao chamado “corpo doutrinário”. (Veja-se o contido no quesito 710, de O Livro dos Espíritos – alimentação em planos mais sutis.)

2) Aeróbus, como meio de transporte na espiritualidade – André Luiz apresenta um meio de transporte nas colônias espirituais, idéia que deve ser encarada, a nosso ver, muito mais como figurativa e ficcional do que como real. A princípio, é característica do Espírito a locomoção pelo pensamento (questão 89, de O Livro dos Espíritos), em face da ausência das limitações naturais da existência material (em especial, o peso da estrutura corporal e a necessidade de deslocamento motor – com anteparo nos membros inferiores). Logo, a priori, fica descartada a idéia andreluiziana de que haja meios de transporte “semi-materiais” ou imateriais, mesmo em colônias que recebam Espíritos pouco adiantados, tais como os que figuraram nos relatos mediúnicos.

Há, sim, um quesito limitador ao “livre” deslocamento nos Planos Astrais, qual seja a própria condição evolutiva de cada um, que condiciona a liberdade espiritual plena. E, no caso de individualidades recalcitrantes no atraso, a prostração e a desobediência de muitos poderá, em alguns casos, significar a necessidade de participação de terceiros (mentores ou instrutores espirituais) que conduzam este ou aquele Espírito, de um local para outro, para fins de tratamento, orientação ou reeducação.

3) Dor como necessidade evolutiva – infeliz, desde o princípio, a delimitação, na literatura e na “pregação” espírita, das “duas opções” evolutivas do ser: pelo amor ou pela dor, isto é, sem ou com sofrimento. Veja o leitor, no periódico espírita que costuma ler, as conhecidas e repetidas entrevistas com personalidades (dirigentes, expositores ou médiuns) sobre as temáticas evolução, dor ou sofrimento, em que se propaga a equivocada idéia de que os encarnados “precisam” sofrer para alcançar a felicidade. Há os que alardeiam ser fundamental aceitar (com resignação) todo e qualquer revés da vida, porque o “bem suportar” significará a promoção espiritual para os “gozos futuros”: - Sofre hoje, porque o teu futuro “está garantido”!

A mecânica da dor (ou a sua sistemática, em tom impositivo) não é uma exigência da Lei Natural. Não há, convenhamos, entre as pontuais Leis Morais, nenhuma prescrição sobre o sofrimento necessário. Há muito excesso em tentar acondicionar a dor à Lei de Destruição, como se a transformação da matéria pudesse sugerir a indispensabilidade do concurso do sofrimento em nossas vidas. Outro excesso (ou, no mínimo, impropriedade na diagnose) é considerar que expiação seja necessária e totalmente sinonímia de dor, como “purgação” de erros pretéritos, pré-encarnatórios. Do contrário, melhor seria apresentá-la como dificuldade, obstáculo, ou, até, deficiência, mas, daí, a confiná-la – a expiação – como “sofrimento inafastável”, há uma perigosa e quase absoluta tendência explicativa.

Mais oportuna, vibrante e positiva é a apreciação da dor como reflexo (atual) de nossas posturas, hábitos e comportamentos (atuais ou passados), efeito inteligente de uma causa inteligente, aplicação pura e simples da Lei Divina que governa o Infinito, que nos coloca no papel de atores principais de nossas vidas, construtores de nossos atos, e não marionetes obedientes a instruções, ordens ou condicionamentos de instrutores ou “departamentos” da espiritualidade.

Evidentemente, não param por aí as invencionices ou as deficiências interpretativas. Muitas outras há, tão ou mais preocupantes, contingências às nossas limitações evolutivas, realidade que só pode ser modificada com a utilização do único antídoto, apontado pelos preclaros gênios de todos os tempos, luminares espirituais, deste e de outros mundos: o Estudo, sério e dedicado. Vacine-se, pois, freqüentemente... estudando!


Marcelo Henrique Pereira 

 

27 julho 2014

Corpo presente, pensamento ausente... - Wellington Balbo

 

CORPO PRESENTE, PENSAMENTO AUSENTE


Gustavo estava no centro espírita, porém seu pensamento caminhava pelo escritório, o que fez com que perdesse as partes mais interessantes abordadas pelo orador na palestra da noite. Mariana fazia o almoço em sua casa, mas sua cabeça andava muito longe dali, mais precisamente no trabalho que executaria na faculdade horas mais tarde, por isso não percebeu quando o arroz queimou. Jonas reunira-se com os amigos, mas não prestara atenção em nada do que fora conversado aquela noite, isso ocorreu porque a tela mental de Jonas viajava por uma outra roda de amigos, totalmente diferente daquela em que ele se encontrava.

Três pessoas diferentes, três situações semelhantes: corpo presente, pensamento ausente.

Quantas vezes isto ocorre conosco? Quantas vezes estamos num local mas nosso pensamento está em outro a milhares de quilômetros dali?

São questões que muitas vezes nos passam despercebidas e não paramos para refletirna importância de estarmos de corpo e alma onde quer que estejamos. Para efeito de estudo ampliemos um pouco mais o tema. Não estaremos mais sozinhos, mas integrados num ambiente onde várias pessoas se reúnem para objetivos comuns.Vejamos: imaginemos que numa reunião mediúnica, por exemplo, não apenas um indivíduo, mas a metade deles está ali só de corpo presente, com o pensamentoem descompasso dos objetivos da reunião. Será que a reunião obterá o mesmo êxito do que se todos estiverem conectados e vibrando no mesmo diapasão? A resposta está fácil: Não! A reunião não terá o mesmo sucesso porque parte de seus integrantes está ali apenas de corpo presente, mas o pensamento ausente.

A força do pensamento é ampliada sempre pelo número de pessoas que o alimentem e sustentem. Logo, quanto mais pessoas estiverem comungando os mesmos propósitos,mais força ele terá.

Observemos que este comentário foi feito em relação à reunião mediúnica, todavia podemos aplicá-lo dentro de qualquer campo de atuação em que uma assembléia de pessoas se reúne para tratar de determinado tema.

Kardec,na Revista Espírita de dezembro de 1868 tece valiosos comentários sobre a importância da comunhão de pensamentos, ou seja, sobre a relevância de estarmos sintonizados com os propósitos a que se propõe o grupo que nos ligamos.

E, como sempre, o Codificador constrói uma interessante analogia ao comparar uma assembléia de pessoas a uma orquestra em que cada integrante é responsável por uma nota, de modo que se os integrantes da orquestra produzirem um som harmônico a impressão será agradável, todavia se os sons forem discordantes a impressão será penosa. O mesmo, pois, ocorre com o pensamento. Se o pensamento do grupo está afinado os objetivos serão atingidos, porém se os pensamentos estiverem viajando por terras estranhas o sucesso não virá.

Compreendemos,então, a importância de estarmos de corpo e alma num local para que a harmonia reine e obtenhamos resultados melhores não apenas em termos individuais, mas também sob o aspecto coletivo.

Seja na reunião mediúnica, no escritório, em casa ou qualquer outro local é fundamental mantermos nosso pensamento junto ao corpo, a fim de que sozinhos ou em grupo consigamos atingir os objetivos que foram traçados.

Pensemos nisso. 


Wellington Balbo
Artigo publicado originalmente no Jornal Momento Espírita, do Centro Espírita Amor e Caridade – Bauru SP – www.radioceac.com.br

 

26 julho 2014

Estaríamos Nós, os Espíritas, nos Omitindo? - Sonia Theodoro da Silva



ESTARÍAMOS NÓS, OS ESPÍRITAS, NOS OMITINDO?

Poderíamos elencar uma série de questões e desafios que o nosso país atravessa nos dias atuais. Talvez, neste espaço, não coubesse a quantidade imensa de problemas nos quais o espírita poderia ser chamado a colaborar com todo o Conhecimento de que é portador, mas vamos apenas citar a Lei de Causa e Efeito, que traz às nossas mãos – a cada instante, a cada dia, a cada reencarnação – os resultados de nossas ações para o bem ou para a obscuridade.

Bastaria que olhássemos a vida como ela se apresenta hoje, para atestarmos, para comprovarmos os efeitos de nossas ações do passado; ao abrirmos um livro de História os fatos lá contidos demonstram a natureza humana em seus momentos de realizações, mas também de desvarios trazendo-nos, nos dias atuais, os frutos dessas semeaduras.

Vamos enfocar os grandes temas de nossa pátria – o Brasil enfrenta profundas crises morais; acrescente-se a isto, o fato de que as populações das grandes cidades não conseguem se livrar do tráfico de drogas e suas consequências; o país, através de seus poderes, aprova leis que visam a exploração desenfreada da Amazonia e sua consequente e paulatina ocupação desmedida – então vamos ficando por aqui e dar relevância a este último, com enfoque ao problema de Belo Monte – convidamos os leitores a assistirem ao vídeo que postamos em um dos blogs do Projeto Estudos Filosóficos Espíritas, e que fala por si: http://filosofandocotidiano.blogspot.com .

Em 2011 lançamos a Campanha “Descriminalizar ou educar” através destes blogs e deste site Feal, bem como de parte da imprensa espírita, onde expusemos as ideias de vários de nossos pesquisadores envolvidos com o Projeto Estudos Filosóficos Espíritas, e contrários à aprovação da legislação que pretende liberar o uso das drogas entrorpecentes, pois entendemos que seria o caminho mais curto para termos uma população de zumbis (veja-se os exemplos da Holanda e da Suécia).

Em 2012 lançamos a Campanha Contra a Descriminalização do Aborto, pois entendemos que este ato traria terríveis consequências morais e espirituais para todos os envolvidos e para a coletividade.

E voltamos a perguntar - estaremos nós, os espíritas, alheios a tudo isto? Nosso papel neste momento, tão proclamado como sendo de transição, é de agir, é de encaminharmos a população aos princípios espíritas, de forma aberta e claramente, colocando-os não como ameaça de um “futuro tenebroso” mas como elucidadores de que causa gerada com consciência acarreta colheita efetiva de sofrimento(s) futuro(s).

É o momento de descentralizarmos e desinstitucionalizarmos o Espiritismo, para que ele possa ser acessado por todos. É o momento de orientar e de indicar caminhos; é ainda, o momento de ocupar-se os espaços da mídia com consistência e falar-se de assuntos relevantes sob a visão dos princípios espíritas.

É o momento de assumirmos a simplicidade de Jesus de Nazaré, que curava almas e ensinava a caminhar; é o momento de alicerçar o Conhecimento Espírita em suas bases filosófico-científicas com as pesquisas atuais embasadas em critérios de rigor científico e sequentes às dos pesquisadores pioneiros, e dizer abertamente e sem temor: somos Espíritos imortais sim, somos responsáveis por tudo o que fizermos ou deixarmos de fazer, sim, e com as consequências geradas pelo nosso alheamento.

É o momento de educarmos nossos filhos, netos e sobrinhos, crianças e jovens, com base na Educação Espírita, para que assumam a sua identidade de Espíritos reencarnantes, sob a orientação segura de uma Doutrina que soma aprimoramento intelectual e sentimentos confraternos.

Emmanuel disse em algum lugar, que não estávamos reencarnados em férias – e que no momento em que mais intensamente precisaríamos lutar com empenho e amor, poderíamos ser distraídos pelos avanços da tecnologia e pelo progresso que nos traria fartura e conforto.

Estaríamos nesse momento? Acredito – minha opinião – que sim. Muito já poderíamos ter feito – da mesma forma como os pioneiros do Bem fizeram - serenamente, mas corajosa e efetivamente.

Certamente que o leme deste barco está nas mãos de Jesus – porém, não esqueçamos que mesmo Ele não prescinde de marinheiros responsáveis para conduzi-lo.

Sonia Theodoro da Silva


25 julho 2014

Récem-Nascidos - Christina Nunes



RECÉM-NASCIDOS

Outro dia, não sei se em razão de reminiscências apagadas de vivências de desencarnes anteriores, pus-me a viajar mentalmente e veio-me ao espírito imagens e sensações que me sugeriram ser a desencarnação semelhante, em muitas coisas, ao renascimento num novo corpo, só que em processo inverso.
Devemos chegar de volta às nossas moradas espirituais com aquela mesma cara de paisagem que faz todo bebê recém-nascido: o olhar vago, disperso, ou então mais focado - que seja! Os bebês de hoje aparentam nascer muito mais ligados do que os de antigamente, que muitas vezes nem abrir os olhos conseguiam. Mas é a mesma, a expressão no rosto, cheio de caretas ininteligíveis, de quem não entende nada do que está acontecendo: aquele bando de gente desconhecida em volta; nalgumas vezes, médicos, enfermeiras, o pai, com aquela cara arrepiada de quem ou vai desmaiar, ou se por a gritar de emoção, como se numa final de campeonato de Maracanã! A mãe com lágrimas nos olhos, por razões que - ainda - lhe são inexplicáveis! Estática, perplexa, transida de comoção com a vivência celestial, sempre única, sempre exclusiva, de enfim ver frente a frente aquele ser que idolatrava desde que o soube dentro de suas entranhas, e que foi se comprovando a cada dia mais vivo, a cada mês mais presente! Mexendo-se, se comunicando, e articulando em silêncio o aviso inequívoco de que estava ali, e de que veio para ficar, se outros fatores ingratos não concorrerem para o contrário...

Proteja-me, pelo amor de Deus! Socorro! Que tumulto é este, em volta, com esta gente desconhecida, e este monte de luzes, e neste lugar que nunca vi antes?! - Eis o que, talvez, gritasse cada neném, naquele primeiro minuto de susto em que sai de um mundo supostamente confortável, seguro, desconhecido, para o palco imenso de suas novas experiências, com dezenas de novas companhias!

Paralelamente, a mesma mensagem estatelada deve se espelhar nos nossos rostos, assim que nos desligamos daqui, da nossa zona de suposto conforto em território conhecido, bem ou mal, durante algumas dezenas de anos terrestres, e apesar de todas as adversidades, para acordar naquela esfera de vida das nossas origens, da qual durante um intervalo de tempo mais ou menos extenso nos esquecemos, senão completamente, pelo menos como se estivéssemos, em relação a ela, imersos nas névoas compactas cheias de imagens e acontecimentos que amorteceram quase por completo as nossas lembranças do que existia por lá!

Os espíritos, através da Doutrina codificada por Allan Kardec, ensinam-nos que o grau de perturbação da desencarnação varia de pessoa para pessoa, em acordo com o grau de despertamento e de compreensão da consciência para as realidades maiores da vida do espírito. A razão disso está no foco consciencial condicionado, por intervalo de tempo terreno considerável, pelas percepções restritas dos sentidos físicos, pela memória do passado embotada, e pelas vivências sequenciais da reencarnação finda. Assim, portanto, como variam ao infinito as circunstâncias nas quais cada ser retorna para a pátria espiritual, as correspondentes sensações de contexto acompanham com intensidade diferenciada cada ser desencarnante.

O que faz a passagem, portanto, em função de moléstia prolongada, que o reteve vários meses em condições prejudicadas de reflexos e de lucidez, há de aportar ao seu lugar de destino depois da transição muito provavelmente ainda dominado pela prostração inerente ao estado de fragilidade que o vitimizava no estado anterior. Dormirá em letargia, sob os cuidados dos assistentes médicos das instituições das esferas invisíveis, ou estacionará por tempo indeterminado em convalescença lenta, ou mais acelerada, correspondente ao seu nível de entendimento da continuidade de seus caminhos nestes outros lugares da existência. Em casos de acidente repentino, poderá acordar de abrupto do outro lado, em situações em que não tombe em inconsciência demorada após o trauma - aí, sem compreensão imediata do que lhe sucede, muitas vezes vaga, o que nos deixa por estas vias abruptas, entre os seus, sem nada entender, e por força querendo se comunicar! Afinal, se apalpa e se mede, e nenhuma diferença digna de nota percebe na sua apresentação pessoal. Sensações de prazer, de dor, de aflição e de fome ainda são as mesmas; e desta forma, ainda julga-se na matéria por extenso período de tempo, em completa confusão a respeito dos detalhes fora do comum que, aos poucos, o induzem a perceber que, diferente do que imagina, nada mais lhe acontecerá como antes.

Nestes e em outros episódios, em que pese o amparo infalível de mentores, familiares ou assistentes que acolhem carinhosamente o desencarnante, grandes haverão de ser os pontos de semelhança com os do ser indefeso e confuso que, em sentido contrário, atravessa o canal divino entre dimensões para prosseguir no aprendizado nos cenários materiais terrenos. Este último deixa seus lugares de origem, onde residem seres amoráveis aos quais se vê vinculado por laços de afeto ou de instrução, para, após o processo técnico de reducionismo que o ambienta ao corpo ligado ao útero materno, e à obstrução de memórias, dar entrada no mundo de experiências inéditas que o aguarda, sendo acolhido pelos seres destinados a lhe oferecer suporte na nova etapa de progresso evolutivo. Lá, doutra feita, nas dimensões que temporariamente abandona, deixa também saudades, lágrimas, mas a certeza, nos que ficam, de que o reencontro é assegurado; e de que todos permanecem vinculados pelos laços do coração.

E aqui, então, pequenino ser vulnerável, mas amparado pelos recursos da Providência, entrega-se aos cuidados dos primeiros companheiros de jornada que desempenharão papéis distintos no enredo de sua história pessoal. E os fixa, perplexo, assustado, ou com expressão alheia e vaga, de quem nada nem ninguém reconhece, e menos ainda entende o que lhe acontece, no meio de toda a intensa movimentação ininteligível, ao seu redor. Mas, por fim, de dentro das condições usuais de candura e inocência de todo nascituro, e uma vez tendo o reconforto e o aconchego de suas necessidades básicas atendidas, entrega-se ao sono reparador, nas primeiras horas nos palcos de sua renovada experiência corpórea. E a história prossegue, como deverá ser, com a evolução natural de suas vivências e respectivo aprendizado.

Em contrapartida, aquele outro, o desencarnante, deixa para trás o intervalo mais ou menos prolongado de fatos vividos na companhia de inumeráveis companheiros que compuseram o mosaico rico de sua finda estrada reencarnatória. Afetos, quanto desafetos; acontecimentos felizes e difíceis, em igual medida, lhe ensinaram novas facetas no seu processo de crescimento e ascensão espiritual.

Abandona, pois, tudo que lhe foi apenas emprestado, como pincéis para compor na tela branca de seu destino: o corpo desgastado e falido, entregue aos processos naturais de recomposição da vida noutros níveis; amigos e familiares consanguíneos, chorosos; trabalho, lar e pertences transitórios. E, a exemplo do recém-nascido na materialidade, retorna ao convívio de outros entes saudosos, que o recebem com alegria. Sempre compreensivos da mesma perplexidade e da idêntica vulnerabilidade de que dá mostras todo o ser que apenas retorna eternamente de suas viagens entre dimensões. 

Christiane Nunes



24 julho 2014

Mediunidade - Sociedade Brasileira de Estudo Espírita (SBEE)


MEDIUNIDADE

Cultura é a herança social. É todo o conhecimento acumulado pelas pessoas ao enfrentarem situações e desafios no cotidiano. Cada pessoa, motivada pela necessidade ou interesse e sustentada pela prontidão, fará continuamente conhecimento ao buscar um referencial diferente, que permita a construção de conceitos novos e, por sua vez, sustente comportamentos, atitudes renovados. As ferramentas que estão à disposição do ser humano nessa busca de referenciais diferentes são muito variadas. A mediunidade é uma dessas ferramentas que podem ser utilizadas para o crescimento do ser humano, mas o seu conceito, utilizado pelo senso comum, deve ser modificado.

No entendimento do Espiritismo, mediunidade não é sagrada, não é mística, não é mágica, não é sobrenatural. Não se alcança através de rituais ou de fórmulas predeterminadas. A sua prática é racional, equilibrada, transparente, fruto da persistência e da continuidade. O seu exercício envolve objetivo, planejamento e estruturação do processo.

A mediunidade não serve para "falar com os mortos", pois os espíritos desencarnados não se enquadram nesta concepção do imaginário da cultura material. A mediunidade não se reduz a um balcão de atendimento ao qual se recorre para resolver problemas. Não serve para dizer o que as pessoas devem fazer ou para decidir seu futuro, tolhendo o seu livre-arbítrio.

Para a Doutrina Espírita, mediunidade não deve ser vista como "transe". Mediunidade é sintonia e troca de experiência entre espíritos desencarnados e encarnados. Não há perda de consciência, não há anulação. Há soma das experiências das partes envolvidas, trazendo superação.

A mediunidade não "serve contra mau olhado" , não "serve para ganhar na loteria", não serve para justificar comportamentos anormais. Não "serve para desobsidiar espíritos". Não é "dom", não é "graça", não é castigo ou punição. É trabalho contínuo para a construção de um momento diferente, evidenciado no comportamento de cada um.

A mediunidade não faz milagres. Não concede "poderes" especiais. Ela não é fonte de todo o conhecimento. Os espíritos encarnados e os desencarnados envolvidos no processo mediúnico só conhecem alguma coisa na medida de suas experiências e de suas vivências.

A mediunidade não é exclusiva de algumas pessoas. Ela é uma capacidade, uma faculdade do espírito, que se aperfeiçoa pelo exercício e esforço pessoal. Ela é de todo o grupo cultural e está intimamente ligada aos seus valores e sentimentos. A mediunidade não está pronta e acabada, transforma-se e modifica-se ao longo do tempo, acompanhando o momento emergente, as situações vividas pelo grupo, a evolução das pessoas.

As pessoas evoluem pela soma de suas experiências e das experiências acumuladas pelo grupo social. Em constante crescimento interior, cada pessoa é diferente das outras porque vive experiências únicas ao longo de sua trajetória de vida. Ao ser colocada diante de novas situações, procura encontrar respostas em seu conhecimento acumulado ou no conhecimento acumulado de outras pessoas, estejam encarnadas ou desencarnadas.

Exercitar a mediunidade é buscar e encontrar respostas para as questões das pessoas e da sociedade, através da comparação dos referenciais de valores, idéias e sentimentos do polissistema material e do polissistema espiritual, úteis para a evolução da pessoa e do grupo.

Quando uma pessoa elabora um produto mediúnico está procurando, limitada pela prontidão do grupo cultural, evidenciar questões e/ou respostas novas para situações do social. Portanto, o seu produto é, antes de tudo, um produto cultural, com conceitos universais, alternativos, especialistas e individuais, e caracterizado por uma forma, com um significado e com uma função.

Mediunidade é instrumento que auxilia cada pessoa na construção do novo, através do rompimento de seus limites, ampliando a visão de si mesmo, dos outros, da natureza, de Deus. Mediunidade é expressão de identidade, é sintonia e troca de experiência. Mediunidade é interação entre os polissistemas material e espiritual.


Fonte: Sociedade Brasileira de Estudo Espírita (SBEE)


23 julho 2014

Livre Arbítrio - Sociedade Brasileira de Estudo Espírita (SBEE)

LIVRE ARBÍTRIO


Para a Doutrina Espírita não há destino, não há predestinação, não há sorte ou azar. O futuro é construído todos os dias. Através de pensamentos e ações, o espírito e seu grupo cultural escolhem e determinam seus caminhos, exercitando uma característica indissociável do ser inteligente: o livre-arbítrio.

A evolução é o fundamento da vida e ocorre pela aquisição de conhecimentos em sentido amplo: técnico, afetivo, emocional, moral, filosófico, científico, religioso.

O espírito adquire conhecimentos novos através das experiências, vivências e convivências acumuladas ao longo de sucessivas situações pelas quais passa, tanto no polissistema espiritual como no material.
Ao somar conhecimentos novos, o ser modifica a visão que tem de si mesmo, dos outros, do mundo e de Deus, ou seja, amplia a sua consciência, evolui. O conhecimento e o comportamento resultantes das situações enfrentadas delimitam um caminho próprio para cada ser inteligente. De acordo com as suas escolhas, ele tem experiências diferentes e, em conseqüência, conhecimentos diferentes, que desenham uma seqüência própria que lhe confere individualidade. Na construção do perfil que caracteriza como único cada espírito (inteligência, afeto, sentimento, valor, consciência) a liberdade de escolha, o exercício do livre-arbítrio, é o que permite ao ser inteligente alcançar os objetivos da vida.

Os segmentos de conhecimento acumulados pelo espírito no decorrer de suas experiências determinam, proporcionalmente, uma capacidade de entendimento, compreensão e construção. O conhecimento que o espírito possui permite que ele solucione várias situações da vida. Dentro do limite do que já é conhecido pelo espírito as situações não se constituem em dificuldade e a sua resolução contribui para que os que convivem com o espírito alcancem, também, o conhecimento que ele domina.

Entretanto, como as experiências vividas são limitadas, o que o espírito sabe também é limitado. As dificuldades apresentadas na superação de algumas situações indicam as limitações do espírito.
A solução, o conhecimento capaz de resolver a dificuldade, no entanto, não se encontra pronta; deve ser construída, adaptada às características únicas da situação e das pessoas envolvidas. A construção da resposta se faz da própria experiência do espírito ou da experiência acumulada pelo outro, encarnado ou desencarnado, que será adaptada ao edifício de conhecimentos do espírito, de acordo com a sua capacidade de raciocínio, seus sentimentos, seus valores e seu entendimento. É a liberdade de escolha que determina quais segmentos de conhecimento, tanto em qualidade como em quantidade, serão assimilados e como serão acomodados e equilibrados em relação aos conhecimentos que já constituem o ser, de forma coerente, para sustentar comportamentos.

As situações que o espírito enfrenta ao longo de sua trajetória, tanto no polissistema espiritual como no material, podem ser uma conseqüência direta de suas atitudes anteriores, ou podem ser condicionadas por variáveis além do seu controle. Entretanto, a escolha que o espírito adota diante da situação apresentada é de sua completa responsabilidade. Dentro dos limites de seu entendimento, o espírito é responsável pelas conseqüências, efeitos, desdobramentos e novas situações geradas a partir de suas decisões.
Diante do desafio e de acordo com sua liberdade de escolha, a resposta do espírito poderá estar situada entre o “hediondo” e o “sublime”. No entanto, com maior probabilidade, a resposta será compatível, coerente, com as decisões anteriores que a pessoa já tomou. Haverá escolhas mais ou menos adequadas para um certo espírito em um dado momento. Como os caminhos são múltiplos e as situações enfrentadas são diferentes, as respostas deverão ser diversas. O critério para se encontrar a resposta mais adequada será sempre individual. A coerência entre a verdade alcançada e a sua prática deverá nortear a escolha consciente. Quanto maior o cruzamento de experiências que puder ser mobilizado e considerado antes da tomada de decisão, maior a probabilidade dela estar coerente com a história de vida da pessoa até então; maior a chance da decisão preencher a necessidade do espírito naquele momento. O autoconhecimento, portanto, é fundamental, para o exercício pleno do livre-arbítrio.

Escolhas que afastem o ser inteligente da coerência com sua história propiciam desdobramentos com menor qualidade ou quantidade de experiências e, conseqüentemente, reduzem o aproveitamento daquela seqüência de experiências.

Muitas vezes, no entanto, as conseqüências de uma atitude ou pensamento podem não ser tão significativas. A escolha pode alterar a ênfase e a direção da trajetória, modificando as possibilidades existentes, mas sem conotação positiva ou negativa. As experiências possíveis, após a decisão, passam a ser diferentes das planejadas, mas igualmente significativas para a evolução do espírito na medida em que segmentos diferentes de conhecimento são explorados.

As conseqüências que se seguem ao exercício de escolha, propiciam experiências que vão contribuir para o crescimento do espírito na medida em que ele, consciente, se empenhe em aproveitá-las. O espírito cresce na medida em que se esforça por preservar ou ampliar as experiências que são favoráveis ou modificar as que não são adequadas.

O exercício do livre-arbítrio sofre a influência dos chamados paradigmas da cultura, da inteligência e da contingência, que podem potencializar ou dificultar o seu exercício pleno.

As influências sobre o livre-arbítrio são em primeiro lugar relativas ao conhecimento alcançado. Quanto maior o domínio sobre um segmento de conhecimento, tanto maior será o entendimento e a responsabilidade sobre as decisões. As decisões tomadas por uma pessoa, no exercício de seu livre-arbítrio, podem alterar, potencializar ou limitar o exercício do livre-arbítrio de outras pessoas.

O exercício do livre-arbítrio é tanto uma atividade individual como do grupo social. As limitações e as capacidades do espírito se relacionam com as do grupo. As limitações e as capacidades do grupo refletem a soma da mentalidade de seus membros, determinando uma massa crítica que sustenta ou inibe algum tipo de comportamento. O meio cultural, no qual um espírito está encarnado, determina um quadro dentro do qual ele passa a se mover. Este quadro facilita atitudes e comportamentos na medida em que algumas soluções já experimentadas estão à disposição como exemplo. Em contrapartida, pode limitar, ao aceitar apenas comportamentos com características aceitas pelo grupo, dificultando a exteriorização das potencialidades do espírito. Atitudes que atuem contra a mentalidade dominante do meio cultural exigem maior esforço para a sua sustentação, necessitando do apoio de um referencial diferenciado.

O grupo cultural evolui, muda seu comportamento, na medida em que seus membros evoluem, ou seja, esforçam-se para romper suas limitações, que também são, em parte, as do grupo. O grupo, não esquecendo de considerar aqui a família, pode determinar, criticar, inibir, sustentar, reforçar, permitir, propiciar, direcionar, induzir, limitar e estimular pensamentos e atitudes. O meio cultural é a maneira pela qual uma pessoa compartilha suas experiências com os outros.

A inteligência, como capacidade de resolver problemas, determina uma ou algumas abordagens preferenciais que selecionam o que será considerado como problema, as respostas alcançadas e os caminhos que serão utilizados. Se há facilidade por um lado, por outro limitam-se as opções. A forma pela qual a cultura, associada às características biológicas estruturou a inteligência, direciona a solução de problemas.

Há ainda, afetando o livre-arbítrio, as chamadas contingências, entendidas como incertezas sobre se uma coisa acontecerá ou não, o que pode ou não suceder, o eventual, o incerto, determinado por variáveis fora do controle da vontade da pessoa ou grupos envolvidos.

O espírito que reencarna se submete a algumas condições pelo fato de estar na Terra que também afetam o exercício do livre-arbítrio. A alimentação, o sono, o envelhecimento, as limitações do físico, da visão, da audição, as formas de comunicação, as condições do meio ambiente, etc.

Dentre os conceitos fundamentais que compõe o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento.

Fonte: Sociedade Brasileira de Estudo Espírita (SBEE)


22 julho 2014

Trajetória de Vida - Sociedade Brasileira de Estudo Espírita (SBEE)

TRAJETÓRIA DE VIDA

No processo de aprendizado, a pessoa tem momentos de profunda reflexão na busca do significado de sua existência: Quem eu sou? De onde eu vim? Por que estou aqui? Para onde eu vou? São perguntas cujas respostas são essenciais para o indivíduo deixar de ser passageiro do mundo imediato e se transformar em agente consciente e conseqüente do seu processo de vida, passando, dessa forma, a planejar sua evolução.

A proposta da Doutrina Espírita é tentar fornecer instrumentos e instruções para que se possa compreender e construir a pluralidade de caminhos que compõe a trajetória de vida. Portanto, é fundamental conhecer as alternativas existentes e ter consciência clara – sabedoria — dos caminhos que podem ser escolhidos.

É muito importante, ao se falar em trajetória de vida, conceituar passado, presente, futuro e referencial de vida.

O passado são os acontecimentos vividos, experiências acumuladas. O presente é o que a pessoa é e o que ela faz. Ao agir, o homem faz transformações — “quem não age não é” (Antonio Grimm). O futuro é a expectativa do que a pessoa quer ser.

O presente da pessoa possui suas bases no somatório das suas experiências e vivências, portanto é um resultado único e individual. A observação plena, racional e intensa do presente possui profundo significado para o homem. “Viver o presente, analisá-lo, pesquisá-lo é dar a dimensão do Universo à vida do homem” (Antonio Grimm).

A Doutrina Espírita promove o processo sustentável de vida por meio do encontro do homem consigo mesmo; ou seja, aquele que vive somente os acontecimentos do passado, ou apenas as expectativas do futuro, não vive o presente, portanto não age e não transforma.

A análise do passado, do presente e do futuro é feita de acordo com determinado referencial de vida. Para a Doutrina Espírita, referencial de vida é um sistema de valores utilizado como parâmetro de avaliação crítica das decisões, das ações e do comportamento.

Pode-se tentar traduzir a idéia de referencial de vida usando o seguinte exemplo: uma pessoa decidiu viajar. Viajar é uma experiência bastante interessante que permite conhecer outros lugares, pessoas e viver momentos novos. Ou seja, viajar é uma oportunidade de aprendizagem. Se esta viagem for planejada previamente, levando-se em conta as experiências anteriores da pessoa, acrescida das suas preferências e tendências atuais, além de se considerar as informações e indicações dos lugares a serem visitados, com certeza a viagem será mais condizente com as expectativas. O planejamento permitirá a escolha de caminhos mais objetivos e, o que é muito importante, servirá como referência caso, por engano, a pessoa saia do trajeto que escolheu. Entretanto, supondo-se que a pessoa não fez o planejamento prévio, deixando para o momento e para o acaso a escolha do caminho a ser tomado, a probabilidade da viagem não ser satisfatória será maior. Corre-se o risco de levar a trajetos perigosos, muitas vezes difíceis e penosos. Todo este cenário pode ser agravado pela falta de um ponto de referência para saber se a pessoa está se aproximando ou se afastando do objetivo desejado.

Dessa forma, a trajetória de vida de um indivíduo pode ser encarada como uma viagem do espírito a várias culturas, lugares, momentos, situações, desafios, funções e oportunidades. A abordagem da vida como trajetória e a utilização do referencial como ferramenta são muito úteis na otimização da evolução de cada pessoa. É importante estar reavaliando continuamente o referencial, transformando-o e corrigindo-o.

O sistema referencial proposto pela Doutrina Espírita traz alguns conceitos tais como: capital de vida, história de vida, inventário de vida, projeto de vida.

Capital de vida é a duração potencial, a quantidade de tempo disponível pelo espírito para construção de sua trajetória no polissistema material.

História de vida é a resultante singular e universal do somatório contínuo de experiências vividas e convividas pelo espírito.

Inventário de vida é o levantamento e avaliação de valores agregados pelo espírito ao longo de sua trajetória; coleção do resultado de suas experiências.

Projeto de vida é a construção da trajetória de vida do indivíduo na expectativa do que ele quer ser – projeto de construção do ser na ação de sua consciência.

O objetivo da vida é a evolução. Como evolução é um processo, a vida é necessariamente aberta, não há destino. A trajetória de vida é construída pela pessoa ao desenvolver os seus potenciais e superar os seus limites.

Resumindo, trajetória de vida é um caminho construído livremente pelo espírito ao interagir de forma consciente e consequente consigo mesmo, com os outros, com a natureza, com o Universo.


Fonte: Sociedade Brasileira de Estudo Espírita (SBEE)


20 julho 2014

Palavra às Mães - Emmanuel


PALAVRAS ÀS MÃES

Se o Senhor te concedeu filhos ao coração de mulher, por mais difícil se te faça o caminho terrestre, não largues os pequeninos à ventania das adversidades.

É possível que o companheiro haja desertado das obrigações que ele próprio aceitou, bandeando-se para a fuga sob a compulsão de enganos, dos quais um dia se desvencilhará.

Não lhe condenes, porém a atitude.

Abençoa-o e, quando possível, ampara os filhos inexperientes que te ficaram nos braços fatigados de espera.

Quem poderá, no mundo, calcular a extensão das forças negativas que assediam, muitas vezes, a criatura enfrascada no corpo físico, induzindo-a a transitório esquecimento dos encargos que abraçou?

Quem conseguirá, na Terra, medir a resistência espiritual da pessoa empenhada ao resgate complexo de compromissos múltiplos a lhe remanescerem das existências passadas?

Se foste sentenciada à indiferença e, em muitas ocasiões, até mesmo à estremada penúria, ao lado de pequeninos a te solicitarem proteção e carinho, permanece com eles e, o trabalho por escudo de segurança e tranqüilidade, conserva a certeza de que o Senhor te proverá com todos os recursos indispensáveis à precisa sustentação.

Natural preserves a própria independência e que não transformes a maternidade em cativeiro no qual te desequilibres ou em que venhas a desequilibrar os entes amados, através de apego doentio.

Mas enquanto os filhos ainda crianças te pedirem apoio e ternura, de modo a se garantirem na própria formação da qual consigam partir em demanda ao mar alto da experiência, dispensando-te a cobertura imediata, auxilia-os, quanto puderes, ainda mesmo a preço de sacrifício, a fim de que marchem, dentro da segurança necessária, para as tarefas a que se destinam.

Teus filhos pequeninos!...

Recorda que as Leis da Vida aguardam do homem a execução dos deveres paternais que haja assumido diante de ti; entretanto, se és mãe, não olvides que a Providência Divina, com relação ao homem, no que se reporta a conhecimento e convívio, determinou que os filhos pequeninos te fossem confiados nove meses antes.

Livro:- "Na Era do Espírito"
Espírito Emmanuel
Médium: Francisco Cândido Xavier
Fonte:- CACEF


Renúncia por Amor ao Próximo - Amilcar Del Chiaro Filho


RENÚNCIA POR AMOR AO PRÓXIMO

O que leva uma pessoa a renunciar ao mundo, sem desprezar o mundo, para dedicar-se ao próximo? O que moveu um Albert Schwartz a deixar uma promissora carreira de musicista e pastor protestante, na Europa civilizada e embrenhar-se na selva africana e se dedicar inteiramente a um povo semi-bárbaro na época. A sua religião, alguns poderiam responder. Contudo, muitos outros tinham a mesma religião e não moveram um passo nessa direção.

Madre Teresa de Calcutá, tinha outra religião, embora também cristã, e se dedicou de corpo e alma aos miseráveis da Índia, incorporando o nome da cidade de Calcutá, ao seu próprio nome. Como Schwartz, não foram alguns meses ou uns poucos anos, de dedicação, e sim, décadas de sacrifício pessoal e amor ao próximo.

Outros tiveram atuação destacada em frentes de trabalhos diferentes, como o Mahatma Gandhi, que dedicou uma vida inteira para libertar o povo indiano, e com isso influiu em outros povos, da escravidão, da ignorância e da impiedade. Martin Luther King Jr., lutou pela igualdade entre brancos e negros. Lutou para que uma parcela do povo do seu país, discriminado, e visto com preconceitos absurdos, tivesse dignidade de vida.

Muito tempo atrás, Henrique Pestalozzi sonhou com uma educação profunda, que incluísse a moral e fosse dada a todos, ricos ou pobres. Ele foi o grande pedagogo que formou grandes pensadores. Um desses mestres e pensadores foi Hippolyte Léon Denizard Rivail que se imortalizaria com o nome de Allan Kardec. Este foi o pedagogo da alma, foi o homem que alicerçou uma ponte entre dois mundos, aparentemente irreconciliáveis, o mundo dos vivos e o dos mortos. Por essa ponte transita o amor.

Dentre as almas beneficiadas pela pedagogia do amor e da imortalidade, vamos encontrar, já no século XX um caboclo mineiro, de fala macia, que nasceu como uma extraordinária antena psíquica, para que os mortos visitassem os vivos e entrassem em comunicação com eles, para trocarem mensagens de amor, ou de perdão e esperanças. Falamos de Francisco Cândido Xavier.

Este homem simples, risonho, com pouquíssima escolaridade assombrou o mundo com a sua psicografia, dedicando-se a amar, consolar e assistir necessitados do corpo e da alma. Sob sua inspiração nasceram centenas de instituições de caridade no Brasil. Das suas mãos de luz, filhos, pais, irmãos, jovens e até crianças atravessaram a barreira, o abismo da parábola de Lázaro, existente entre o mundo dos vivos e o mortos, através desta ponte maravilhosa que se chama mediunidade, feita com um material amoldável, que se chama amor.

Todos esses personagens, e muitos outros que não citamos por nos faltar espaço, tinham algo em comum, o cumprimento do dever, entretanto, algo mais os impulsionava para frente e para o alto, o querer. Escolheram a missão e a cumpriram pelo seu querer, e este foi impulsionado pelo amor. Só existe uma grande e única verdade, o amor.


Amílcar Del Chiaro Filho

 

19 julho 2014

Casamento – Separar Resolve? - Agnaldo Cardoso


CASAMENTO - SEPARAR RESOLVE?

Quando duas pessoas resolvem, de comum acordo, viver sob o mesmo teto, desde logo terão chances de iniciarem a sua reforma íntima. E tudo começa com a luta contra o egoísmo, pois tudo o que era “meu”, passa a ser “nosso”!

Em verdade, o que mantém o matrimônio não é apenas a beleza do parceiro ou o prazer sexual, ambos importantíssimos, mas por si sós insuficientes, pois também a amizade, o respeito, o desprendimento, o carinho, etc., alimentam os laços matrimoniais.

O casal, ainda no plano espiritual, combina o reencontro no matrimônio, convencidos de que a união de ambos é um bom programa de obrigações reeducativas. Reencarnam e se casam.

Com o passar dos dias, os dois vão se conhecendo melhor, e percebem que o outro não era bem aquilo que parecia ser. Ele passa a noite roncando; ela fala dormindo a noite toda; ele quer dormir e ela assistir TV no quarto; ele tem o péssimo hábito de deixar a tampa do assento sanitário aberta e ela insiste em deixá-la fechada!

Ele deixa o tubo dental sempre aberto e ela deixa pedaços de fio dental espalhados pela pia! Ah! Que diferença do que ocorria antes... Sempre que se encontravam – antes do casamento - estavam arrumados, penteados, cheirosos, maravilhosos! Mas agora, ao acordar e olhar de lado, às vezes têm até um leve susto! Surgem os conflitos...

Hora de separar? Será que a separação resolve? Na balança da indecisão, começa a pesar mais o prato das imperfeições... Ela se pergunta: como pode aquela pessoa maravilhosa, transformar-se em alguém com tantos defeitos? E o outro, seguramente, se faz os mesmos questionamentos a respeito do parceiro.

É hora de tentar equilibrar os pratos, colocando na balança, os momentos de alegria... As pequenas coisas que os faziam rir antes; os cabelos brancos adquiridos juntos; os quilinhos a mais ou exageradamente a menos; as rugas... É hora de aceitar o estrago feito pelo mestre tempo nos corpos de ambos e a inexorável força da gravidade que sai derrubando tudo...

Se o parceiro não é bem o que idealizaram, com certeza foi o melhor que Deus pôde oferecer – e o que mereciam - para que cresçam juntos.

O esposo, tirano doméstico que pede à mulher total dedicação, provavelmente é o mesmo homem de outras existências, de cuja dedicação ela zombou, tornando-o agressivo. A companheira extremamente exigente, que envolve o marido em constantes crises de ciúme, é a mesma jovem que outrora foi desencaminhada por ele, com falsas promessas de amor, levando-a à degradação moral. Assim, a ambos cabe se tolerarem e se reeducarem!

Declarar que o divórcio é sempre errado é tão incorreto quanto assegurar que está sempre certo. Todo casamento dissolvido representa fracasso, pois a separação não faz parte da programação de ambos, é simplesmente uma alternativa, quando a união entra em crise insuperável.

A Doutrina Espírita não faz apologia do divórcio, mas aceita e explica racionalmente a sua necessidade em casos específicos, uma vez que há uniões em que o divórcio é compreensível e até razoável, para evitar um mal maior.

O divórcio, nesta circunstância, defendido por Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, limita-se tão-só a reconhecer uma separação já existente. É o mal menor, oferecendo aos divorciados, a oportunidade de tentarem reconstruir suas vidas e de legalizar sua nova situação perante a sociedade.

Não é lícito o divórcio, em considerando os graves problemas conjugais, à manutenção de um matrimônio que pode terminar em tragédia? Não será mais conveniente uma separação, desde que a reconciliação se tornou impossível?

Não têm direito, ambos, a uma nova tentativa de felicidade, ao lado de outrem, já que se não entendem? A resposta é sim.

Quem se casa e promete conviver bem com seu parceiro, mas abandona o barco ao menor indício de tempestade, certamente será responsável pelos destinos daqueles que abandona à deriva, à própria sorte. Isso será, fatalmente, plantação amarga num futuro próximo ou distante, cuja colheita será obrigatória.

Não basta casar-se. É importante saber para quê. Muitos dirão que a resposta é óbvia, que as pessoas casam-se por amor. Pode ser e deveria ser... O amor, porém, reclama adubação constante, pois a felicidade na comunhão afetiva não é prato feito e sim construção do dia-a-dia.

Acredito piamente que no casamento, amar é, acima de tudo, olhar ambos na mesma direção, sonhar os mesmos sonhos e construir em conjunto.

Agnaldo Cardoso