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31 janeiro 2015

Progressos Moral e Intelectual - Eduardo Barbosa



PROGRESSOS MORAL E INTELECTUAL

O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas ideias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações.¹


Como sabemos, existem dois tipos de progresso na humanidade: o progresso moral e o progresso intelectual. É importante notar que esses dois raramente andam juntos. Atualmente, vivemos numa sociedade onde o progresso moral ainda está bem atrás do intelectual.


A humanidade chegou onde está pelo esforço evolutivo de milênios. Hoje contamos com alta tecnologia em diversos aspectos para facilitar nossas vidas. Já se tornou comum chegar em um determinado ambiente e a porta do estabelecimento abrir-se automaticamente para você passar ou a torneira abrir-se para você lavar suas mãos. Você pode pegar seu aparelho celular e se comunicar com quem você quiser, vê-lo à distância de qualquer lugar do mundo. Além disso, o homem tem conquistado a habilidade de estudar a sua e as outras sociedades do planeta Terra, através de estudos ligados à biologia, sociologia, geografia, etc. Tudo isso, caracteriza o progresso intelectual.


O progresso moral, está relacionado à moralidade, ou seja, à maneira que o homem age em relação aos seus semelhantes. O maior desafio para a humanidade neste momento é a eliminação do egoísmo e do orgulho, pois eles impedem a harmonia entre os homens. São os causadores dos conflitos em todo o mundo.


Sabemos que esses dois progressos são necessários ao homem, um ponto importante é que os dois são cumulativos. Logo, são aprimorados pelas reencarnações através do esforço individual de cada espírito. Deus criou seus filhos para progredirem nesses dois aspectos, porém as imperfeições humanas ainda tentam atrasá-los ao progresso moral.


Uma relação que podemos fazer deste tema à filosofia é o debate sobre fé e razão que prevaleceu na Idade Média. Alguns diziam que fé e razão são elementos opostos, que não podem ser atingidos ao mesmo tempo. O Espiritismo nos mostra que os dois podem ser atingidos ao mesmo tempo, de acordo com o esforço de cada um de nós. O progresso intelectual e o progresso moral não andam juntos, de fato. Porém, eles se ajudam, apresentando de forma lógica aos homens, nosso universo. Este post é baseado no estudo sobre Livre-arbítrio e Responsabilidade, encontrado no Módulo XI, Roteiro 1 do Programa Fundamental (Tomo II) do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE).


1. KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Questão 783, p.410, comentário.

Eduardo Barbosa
Fonte: O Jovem Espírita

30 janeiro 2015

Fronteiras da Regressão - Camilo


FRONTEIRAS DA REGRESSÃO


Seja qual for o teu caso, reflete no que os Emissários da Vida Perfeita te trazem ao conhecimento, através do Espiritismo. Sabes que volves ao Planeta no momento atual com o fim de te educares para a felicidade. Reconheces que não és vítima indefesa de qualquer episódio, senão apenas o desajustado que emerge de abismos sombrios em busca das claridades das Alturas.

Ajusta-te, assim, ao sumo do bem que verte do Senhor por sobre todas as criaturas. Une-te aos propósitos do Cristo e, quando te sentires estranho perante os afetos, ou quando notares estranheza nos que te cercam o convívio cotidiano, ora e ora mais, vigia-te com cuidado para que logres realizar os planos da tua reencarnação, de modo a que saias vitorioso da conjuntura em que as Divinas Leis te situaram.

Estuda as Leis da Vida, reflexionando sobre os objetivos que tens no plano dos teus dias, e envolve-te nas dobras do claro amor, sem te alapares nas brechas do desculpismo camuflador.

Conta com Cristo em teu roteiro e quando, por qualquer motivo, te situares nas fronteiras da regressão, detém-te e retira dessa experiência o quanto te seja útil ao progresso e à saúde moral.

Rearmoniza-te com situações e pessoas e liberta-te, a pouco e pouco, do teu passado tormentoso que se apresenta hoje, ensejando-te avanço e iluminação, ante a Luz dos Céus que canta, em acenos de equilíbrio e de amor, o teu próximo tempo de paz.


Espírito:Camilo
Psicografia: José Raul Teixeira


29 janeiro 2015

A Missão dos Espíritas - Espírito Lúcius



A MISSÃO DOS ESPÍRITAS


- Sabem vocês, filhos queridos, que não estamos no mundo para nos abanarmos em busca de posições cômodas e fáceis. Todos os que se conduzam pelos caminhos da alienação, cedo ou tarde serão obrigados a acordar pela dor, no triste despertamento para a verdade. Quanto aos que já nos candidatamos a servir por amor, não deixemos passar o instante precioso indicado por Jesus para a renovação de nós mesmos. Sei que os presentes demonstram acentuada disposição de servir, mas estamos no período do sacrifício.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos preciosa página no capítulo XX que nos ensina sobre “A missão dos espíritas”. Nela estão profundas advertências que nos devem tocar o senso do dever, se aceitarmos as tarefas de cooperadores sinceros do Cristo de Deus, na obra de regeneração do mundo.

Leu o trecho a que se refere o Espírito Ribeiro ao dirigir-se aos trabalhadores responsáveis:

Não escutais já o ruído da tempestade que há de arr velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a voss fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o dogma da reencarnação e da elevação dos Espírito», conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.

Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Os verdadeiros adeptos do espiritismo!… sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai.

Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!

Esta não é a hora de exigir direitos ou esperar facilidades, mas, ao contrário, é a do sacrifício de tudo o que possamos deixar para que o principal se realize. Os hábitos, os trabalhos e as ocupações fúteis são menos importantes na ordem das coisas, sobretudo agora que se aceleram os eventos que trarão o homem à consciência lúcida.

Nesta casa modesta, recebemos parte dos muitos vitimados nos trágicos acontecimentos do outro lado do mundo. Como nós, todas as instituições cristãs-espíritas, por sua natureza mais preparadas na questão do entendimento das leis do universo e na vivência da fraternidade real, serão postos de atendimento emergencial. O coração do divino mestre precisa de auxiliares para servirem de algodão, analgésico, alento e esperança a todos os feridos que puderem ser resgatados, no revolto mar da vida espiritual.

Nosso centro será mais uma unidade socorrista. Certamente que não nos sobram trabalhadores. Todavia, também não nos falta a boa vontade real. Assim, precisaremos mais ainda da cooperação de cada um de vocês.

Acostumados às disciplinas do trabalho, todos são pontos de apoio com os quais contamos para o oferecimento do melhor socorro.

Um hospital necessita de doadores de sangue nas grandes crises, tanto quanto a casa espírita necessita de doadores de energias benéficas e bons exemplos.

Contamos com todos para o trabalho noturno, após o adormecimento físico, porquanto de seus fluidos vitais, centenas de benefícios poderão ser espalhados aos desesperados. Não nos limitaremos a esperá-los por aqui duas vezes por semana. Precisamos de mais já que a necessidade é maior. Então, não se desgastem em atividades desnecessárias. Alguns sentirão uma espécie de cansaço durante o dia, indicativo de que suas energias estarão sendo utilizadas. Os que puderem repousar nessas horas, facilitarão o trabalho dos técnicos espirituais. Em muitos casos, não será necessário mais do que quinze minutos a meia hora de descanso, ainda que não aconteça o sono profundo.

Caso tal fragilidade aconteça em hora na qual não lhe seja possível repousar, asserenem o pensamento e liguem-se pelo pensamento ao nosso grupo a hm de que a sintonia se faça mais fácil. Afastem-se para algum local mais tranquilo e façam uma oração silenciosa.

Não se deixem impressionar pelas notícias nem se contaminem com o abatimento das pessoas que, em vez de se tornarem dínamos de otimismo, geralmente se deixam enfraquecer pela desgraça, piorando o próprio estado.

O mundo espiritual não precisa de mais gente atrapalhando o serviço do bem. Temos necessidades de idealistas e corajosos que não meçam suas conveniências ou interesses para fazerem aquilo que temos aprendido juntos: força, coragem, paciência e fé.


Espírito Lúcius
Psicografia de André Luiz Ruiz
Livro No Final da Última Hora

28 janeiro 2015

O Sexo na Vida Universal - Walter Barcelos

 

O SEXO NA VIDA UNIVERSAL


"O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmico em todos os círculos evolutivos." - André Luiz


Espiritismo e a ignorância sexual

O Espiritismo veio na época predita por Jesus, a fim de recordar e reavivar todos os seus ensinamentos, que foram esquecidos, e esclarecer muitos outros pontos importantíssimos no campo do conhecimento espiritual, que a Humanidade tinha condições de receber.

Dentre os vários assuntos esclarecidos pela nova doutrina, temos o tema sexo, sobre o qual os Espíritos nos oferecem um riquíssimo material para estudos, dissipando dúvidas, incertezas e preconceitos, clareando os caminhos ainda sombrios da afetividade humana.

Diante do que o Espiritismo nos oferece na atualidade, no campo do esclarecimento sexual, a visão das criaturas humanas sobre a missão sagrada do sexo ainda é muito limitada e obscura, reinando profunda ignorância. Para a maioria dos homens, o conhecimento sobre sexo está restrito às suas manifestações primárias, onde surgem o desequilíbrio, a viciação e a devassidão moral.

É o que nos fala o Espírito André Luiz:
"Não podemos, dessa forma, limitar às loucuras humanas a função do sexo, pois seríamos tão insensatos quanto alguém que pretendesse estudar o sol apenas por uma réstia de luz filtrada pela fenda de um telhado."

Na quase totalidade, conhecemos atualmente o sexo, tal como alguém que se gabasse de conhecer uma imensa floresta, por ter analisado tão-somente algumas humildes ervas encontradas em seus primeiros passos na mata virgem. Não devemos restringir as funções sagradas do sexo às manifestações bio-fisiológicas e aos desequilíbrios comuns da afetividade humana.

Para estudar e compreender sexo com Doutrina Espírita, é necessário deslocarmos nossa visão do campo estritamente fisiológico e projetá-la no campo ilimitado do Espírito imortal.


O Sexo na Vida Universal 

Sexo é fundamento da Vida Universal. Encontra-se nas origens da própria vida, a qual é emanada do Criador. É o que nos esclarece o Espírito André Luiz: "Criação, vida e sexo são temas que se identificam essencialmente entre si, perdendo-se em suas origens no seio da Sabedoria Divina." A energia sexual está intimamente ligada a todo princípio de vida, em todos os graus evolutivos, tanto no planeta Terra como em todos os recantos do Universo.

O sexo, na essência, é energia divina. Força da vida, encontra-se na base de todos os processos de evolução dos seres. Elucida-nos o Espírito Emmanuel:
"(...) Os estímulos genésicos (...) são ingredientes da vida e da evolução, criados pela mesma Providência Divina para a sustentação e a elevação de todos os seres"


Magnetismo, atração sexual e evolução

A evolução de todos os seres está condicionada aos recursos do sexo, que se desenvolvem e se aperfeiçoam, no curso dos milênios, impulsionados pela Lei de Deus, que é a de progresso para todos os seres do Universo.

É através dos recursos magnéticos do sexo que as criaturas humanas e todos os seres dos reinos inferiores se atraem uns aos outros, formando os casais e consequentemete as famílias, garantindo a preservação da vida no planeta e no Universo.

Fala-nos o iluminado Espírito Emmanuel:
"A energia sexual, como recurso da lei de atração, na perpetuidade do Universo, é inerente à própria vida, gerando cargas magnéticas em todos os seres, à face das potencialidades criativas de que se reveste."


Sexo: Energia Divina

O sexo é energia da própria vida. Todos nós somos chamados a administrá-la em nós mesmos e somos responsáveis pelo que fazemos com ela.

A energia sexual está tão ligada às profundezas da vida, que nos diz André Luiz:
"Examinando como força atuante da vida, à face da criação incessante, o sexo, a rigor, palpitará em tudo, desde a comunhão dos princípios subatômicos à atração dos astros porque, então, expressará força de amor, gerada pelo amor infinito de Deus."

A energia divina do sexo, expressando força de amor gerada pelo amor infinito de Deus, tanto existe na lei de atração entre os elementos químicos quanto no magnetismo planetário de atração, que dá harmonia aos mundos no espaço cósmico.

Sentimos dificuldades de entender a grandeza do sexo na Vida Universal, em virtude de reduzirmos suas funções unicamente a determinados órgãos e sensações do corpo físico.

Encontramo-nos ainda muito distanciados das belezas das leis divinas em nossa própria vida afetiva. Se as águas de um rio, em quase toda a sua extensão, são poluídas, colocando em risco a vida dos animais e do próprio homem, que dela se servem, não podemos dizer o mesmo com relação à sua nascente, cujas águas serão naturalmente claras e puras. Assim devemos ver também a energia sexual que, no seu estado de maior pureza, faz parte das forças que proporcionam o equilíbrio da vida universal.

A grandeza chega a tal ponto que os Espíritos se referem também à energia sublimada de nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo, pelas palavras de André Luiz:
"E a própria influência do Cristo, que se deixou crucificar em devotamento a nós outros, seus tutelados na Terra, para fecundar de luz a nossa mente, com vistas à divina ressurreição, não será, na essência, esse mesmo princípio, estampado no mais alto teor de sublimação?"

O sexo na Terra não será sempre o que sentimos, vivemos e experimentamos, na ignorância de paixões e vícios, pois a Lei de Deus, que é de progresso para todos, nos favorecerá sempre para conquistarmos valores mais altos, de relacionamento afetivo, na construção de nossa verdadeira felicidade.


Walter Barcelos

27 janeiro 2015

Sortilégios, Pactos Assombrosos, Subjugações - Jorge Hessen



SORTILÉGIOS, PACTOS ASSOMBROSOS, SUBJUGAÇÕES

Há poucos meses, em São Paulo, um jovem de 19 anos foi morto por sua própria mãe, possivelmente, por força de um ritual de “magia negra”. Quando foi presa, estava em crise psicótica (loucura? ou “possessão”?); falava sobre demônios e assuntos satânicos, e seis policiais foram necessários para dominar aquela senhora que pertencia a comunidades religiosas não convencionais da internet que adotam o sacrifício humano. Conforme investigação policial, ela teria dito que o filho tinha que ser morto por um “bem maior” (…!?…) O fato nos conduziu ao capítulo 9 versículo 16 do livro Atos dos Apóstolos, onde lemos o seguinte “e o homem que estava possesso do espírito mau pulou sobre eles com tanta violência, que tiveram de fugir daquela casa, sem roupas e cobertos de ferimentos.” [1]

Nawaz Leghari, de 40 anos, um paquistanês adepto do ritual de “magia negra”, estrangulou seus cinco filhos por entender que o sacrifício conferiria a ele “poderes mágicos”. Leghari matou desse modo suas duas filhas e três filhos, com idades variando entre 3 e 13 anos, na madrugada de 9 de janeiro de 2015, na localidade de Saeed Jan, norte de Karachi. O assassino estudava magia negra e resolveu fazer o sacrifício para aumentar seus “poderes”. Leghari realizou uma “odisseia espiritual” de 40 dias chamada “Chilla”, prescrita por um líder religioso local, com quem estudava alquimia. O paquistanês tentou inicialmente envenenar sua família durante o jantar, mas sua mulher o impediu após uma violenta discussão. A esposa e o filho mais velho decidiram passar a noite na casa de parentes, deixando os outros filhos com o pai, que os estrangulou um a um. [2]

Historicamente, quando o homem era ainda fisicamente parecido com os primatas, suas manifestações de religiosidade eram as mais bizarras, até que, transcorridos os anos, no mistério dos séculos, surgem os primeiros organizadores do pensamento religioso que, de acordo com a mentalidade geral, não conseguiram escapar das concepções de ferocidade, que caracterizavam aqueles seres egressos do egoísmo animalesco da irracionalidade. O homem foi levado a crer que os sacrifícios humanos poderiam agradar a Deus, primeiramente por não compreenderem Deus como sendo a fonte da bondade. Os povos primitivos e politeístas adoravam os deuses através de oferendas, cultos, rituais que geralmente comportavam sacrifícios de animais ou de seres humanos.

Como nos esclarece a questão 669, de O Livro dos Espíritos, “Nos povos primitivos, a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isso que os levou a imolarem, primeiramente animais e, mais tarde, homens”.[3] De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima.

O espírita convicto não acredita no poder irrestrito das forças dos espíritos maus nos pactos de “magia negra” com os mesmos. Há, no entanto, encarnados perversos, no limite da loucura, que simpatizam com os espíritos inferiores (violentíssimos) e solicitam que eles pratiquem o mal, ficando então obrigados a servi-los, porque estes também precisam da “recompensa” pelo empenho no mal. Nisso, apenas, é que consiste o tal pacto. Em O Livro dos Espíritos, os Benfeitores elucidam: “por exemplo – queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo; chamas então os Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal; e para te ajudar querem também que os sirva com seus maus desígnios. Mas disso não se segue que o teu vizinho não possa se livrar deles, por uma conjuração contrária ou pela sua própria vontade”.[4]

Nos sinistros casos analisados acima, podemos inferir sobre um processo de subjugação profunda, lembrando, porém, que a “possessão” é sempre temporária e intermitente, porque um desencarnado não pode tomar, definitivamente, o lugar de um encarnado. A rigor, o tema “magia negra” ainda não foi estudado de forma abundante pelos pesquisadores espíritas. Há pessoas que não acreditam na possibilidade da existência dos conjuros (“trabalhos feitos”), como é às vezes conhecida a “magia negra”. No entanto, um estudo cuidadoso do tema em O Livro dos Espíritos, e na Revista Espírita, comprova que essas manobras mediúnicas, com a finalidade de prejudicar o próximo, são perfeitamente possíveis. Como citamos acima, na questão 549, Kardec inquire: – Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus Espíritos? Na resposta, os Benfeitores demonstram de maneira categórica que é possível uma criatura evocar maus Espíritos para ajudá-la a causar mal a outra pessoa. A resposta esclarece ainda que esse ato pode ser realizado por uma sequência de procedimentos conhecidos como conjuração (conluio com as trevas).

Nas práticas de “magia negra” os apetrechos materiais e os rituais são utilizados para fortalecer a má intenção nos maus propósitos projetados naqueles contra os quais se deseja prejudicar. A interferência espiritual é de Espíritos inferiores, que se identificam com seres encarnados, também de qualidades morais inferiores, desejosos por afligir, enfermar ou até matar o próximo, ou ainda, ver realizados os interesses de ordem material. Se as criaturas visadas estiverem sintonizadas em faixas de equivalência vibratória, não tenhamos dúvidas de que serão atingidas por elas.

O Espiritismo analisa a gênese do fenômeno da “possessão” como uma faculdade mediúnica desgovernada, e trata esse tipo de manifestação através do diálogo com o Espírito subjugador, buscando compreender suas razões para esclarecê-lo e libertá-lo da sua própria ignorância e confusão mental. É bem verdade que os bons Espíritos nos resguardam destes malefícios, mas não esqueçamos que urge termos mérito para tal assistência.

Jorge Hessen
Site: A Luz na Mente  


Referências bibliográficas:

[1] Atos 19: 16
[3] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 1999, questão 669[4] Idem questão 549

26 janeiro 2015

Vida após a morte - Américo Domingos Nunes Filho


VIDA APÓS A MORTE


Os profilentes de crenças dogmáticas consideram-se privilegiados como "eleitos do Senhor" e "conhecedores da verdade que liberta". Na realidade, seus argumentos são frágeis e inconsistentes, desde que não utilizam o pensamento racional acreditando ser de origem divina o que facilmente se constata provir de mente humana.

Infelizmente, as idéias dogmáticas, limitadas ao estudo da "letra que mata", estão destituída de luz que resplandece verdadeiramente dos textos bíblicos, porquanto não estão alicerçadas na interpretação lógica e imparcial da Bíblia, nem mesmo levando em consideração a época em que ela foi escrita e o atraso considerável de seus autores, em correspondência com a época em que vivemos.

Ainda hoje, os admiradores das Escrituras, mergulhados no mar do literalismo bíblico, aceitam a criação do mundo em seis dias de vinte e quatro horas.

É incrível, contudo, acreditam os exegetas dogmáticos que o Universo foi criado há apenas seis mil anos, discordando inteiramente da ciência. Igualmente negam a teoria darwiniana da evolução, tachando-a de demoníaca, apesar do grande desenvolvimento cultural e científico de nosso tempo revelar sua existência.

Combatendo o pensamento racional da Doutrina Espírita, calcada na fé racionada, apontam alguns textos bíblicos, desconhecendo que ainda estão presos às revelações do Antigo e Novo Testamento em muitas de suas injunções humanas, ignorando inteiramente a presença já entre nós do Consolador Prometido, o "Espírito de Verdade".

A vinda do Paracleto foi profetizada por Jesus, atestando que esse Consolador complementaria as lições que ele próprio não pudera ensinar aos homens (João 14:26 e João 16:12-13). Portanto o verdadeiro conhecimento espiritual é progressivo e revelado somente aos que "têm olhos para ver e ouvidos para ouvir".

Aqueles que ainda aceitam literalmente o fato de Jonas ter sido deglutido por um grande peixe não podem questionar doutrinas científico-religiosas, as quais não estão preparados para entender, porquanto afirma a Biologia ser impossível que tal coisa tenha acontecido, já que homem algum pode ser ingerido por qualquer ser aquático. Inclusive, nem mesmo a baleia (mamífero e não peixe) tem capacidade de engolir o ser humano, porquanto possui canais digestivos bem estreitos, alimentando- se apenas de plâncton, crustáceos e pequenos peixes.

Até mesmo em nossos dias outra invencionice contínua sendo propalada pelos que lêem a Bíblia, utilizando a ótica da "letra que mata", desprezando o progresso científico atual: Josué, filho de Num e sucessor de Moisés, "fez parar o Sol e a Lua" (Josué 10:12).

Primeiramente, desde Copérnico e Galileu, sabe-se que nossa estrela não gira sobre a Terra. Depois, de forma alguma, poderia alguém deter qualquer astro celestial.

Utilizando o raciocínio, constatamos a fé cega dos dogmáticos bíblicos, não percebendo tantas incongruências no "livro sagrado", como, por exemplo, a ausência da presciência da Divindade, arrependendo-se de Ter criado o homem. (Gênesis 6:6) e de haver constituído rei a Saul.

Outra discrepância: o próprio Criador desobedecendo ao mandamento de sua autoria ("não matarás"). No 1º Livro de Samuel (Cap. 15, versículo 3), está escrito que "Deus" mandou Saul assassinar a todos os amalequitas, dizendo: "destrói totalmente a tudo o que tiver; nada lhe poupes, porém matarás homem e mulher, MENINOS E CRIANÇAS DE PEITO, bois ovelhas, camelos e jumentos" (os grifos são nossos).

Quanto disparate! Que absurdo! Tirar violentamente a vida até de bebês! Segundo ensinamento do "Novo Testamento", "Deus é Amor"- (João 4:8) e nunca o Criador mandaria matar, infringindo até um de Seus preceitos.

O livro de Eclesiastes ou "O Pregador" encontra- se no Antigo Testamento e tem sua autoria e autenticidade questionadas por numerosos exegetas. A seguinte afirmativa: "Palavra do Pregador, filho de Davi, rei de Jerusalém" e, em alguns trechos, as referências às obras realizadas por seu autor, claramente indicam Ter sido Salomão o escritor da obra. Contudo, os textos foram redigidos em época bem posterior a sua, desde que o idioma, com vocábulos em aramaico, é ulterior ao rei, introduzidos depois do cativeiro da Babilônia (término em 538 AC), contendo algumas palavras de origem persa, como "pardisin" (paraíso).

O soberano judeu, filho mais moço de Davi com Bate-Seba, faleceu em 931 AC, portanto em tempo bem anterior à escravidão dos hebreus, em Babilônia. Todavia, pela análise do livro, é demonstrada a presença de Salomão como seu idealizador. Afastando a hipótese mediúnica, certamente alguém escreveu a obra, tentando-se identificar como o grande sábio.

Por conseguinte, os "textos sagrados" são frutos de uma mistificação e mesmo que fossem escritos verdadeiramente pelo rei expressariam apenas sua opinião pessoal.

Outro dado considerável é a observação de que nem Jesus, nem qualquer vulto do Novo Testamento, faz alusão ao livro de Eclesiastes.

Salomão, apesar de Ter sido portador de grande sabedoria, não é exemplo a ser seguido por ninguém, muito menos por qualquer adorador bíblico, já que, além de poligâmico (harém de mil mulheres), era apóstata, tendo erigido altares e templos pagãos (1 Reis 11:6-7), como também odiado pelo povo, o qual oprimia com pesados impostos para sustentar o esplendor de sua corte (1 Reis 12:9-14).

Pois bem, citando as seguintes passagens de Eclesiastes, os entusiastas do dogmatismo relatam que não há vida depois da morte, negando um princípio básico da Doutrina Espírita, o da sobrevivência do ser após o decesso corporal: "Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas o s mortos não sabem cousa nenhuma, nem tão pouco terão elas recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento.

"Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em cousa alguma do que se faz debaixo do Sol”.

"Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma"(Cap. 9, versículos 5, 6 e 9).

Inobstante o que está escrito em Eclesiastes, os antigos hebreus acreditavam que as almas regressavam, após a morte, ao lugar dos mortos ("sheol") e, de lá, voltavam ao cenário terreno.

Em Isaías, denominado o "Quinto Evagelista", encontramos referências a haver vida além do túmulo, revelando a presença vivaz e atuante dos seres nos domínios espirituais. O profeta, por ocasião da entrada no "sheol" do despótico rei da Babilônia, nos apresenta os mortos conversando, comunicando-se, provando que os espíritos têm consciência de suas individualidades e que há vida de relação no além, pondo em xeque os textos apócrifos de Eclesiastes.

Os versículos são bem claros, muito transparentes, relatando existência "post-mortem": "Então, também tu (rei da Babilônia) fostes abatido como nós, acabaste igual a nós?" (Isaías 14:10).

O profeta narra que os interlocutores eram espíritos de potentados da Terra (príncipes e reis), surpresos por ver, na mesma situação, o poderoso monarca de Babilônia, o qual dizia, enquanto encanado, que "subiria aos céus, exaltando o seu trono acima das estrelas de Deus, como também assentando-se acima das mais altas nuvens, sendo semelhante ao Altíssimo" (Isaías 14:9 e 14:13-14).

Em que pese o livro de Eclesiastes afirmar que "os mortos não têm parte em cousa alguma e que a sua memória jaz no esquecimento", há igualmente no Velho Testamento o relato de uma entidade espiritual apresentando-se, após evocação realizada pelo rei Saul, como um ancião, envolto em uma capa. Tratava-se do grande profeta e juiz, Samuel (1 Sm.28:12-20), já falecido e sepultado em Ramá (1 Sm. 25:1).

Apesar de estar inserido no livro apócrifo o pensamento de que "os mortos não sabem cousa nenhuma", o espírito Samuel anuncia não somente a futura derrota de Saul para os filisteus, como também anuncia a morte em combate do soberano judeu e dos seus filhos (1 Sm.28:19).

Outra menção aos mortos é relatada, no antigo Testamento, em contraposição ao Eclesiastes, afirmando Jó, no capítulo 4, versículos 15 e 16 "Um espírito passou por diante de mim, fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo; parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava diante de meus olhos".

Querendo negar o aparecimento dos seres espirituais nos relatos bíblicos, os profitentes dogmáticos os enquadram como mensageiros divinos, criados à parte por Deus, sem qualquer vínculo encarnatório. Contudo, essas criaturas angelicais, ao identificarem-se, revelam seus nomes e apresentam- se como humanos.

O enviado Gabriel, por exemplo, é citado pelo profeta Daniel como "varão" (Dn 9:21). Inclusive, Gabriel quer dizer "Homem de Luz". Outro ser espiritual que aparece em diversas situações é Miguel, com a apresentação de guerreiro (Apocalipse 12:7).

Igualmente, as Escrituras expõem à vista, com formas humanas, entidades espirituais a Abraão, a Jó, a Moisés e a Josué, aos israelitas em Goquim, a Gideão, a Manoá e a outros.

Quanto a última referência, é expressivo o fato de o pai de Sansão ter conversado com o habitante do além como se estivesse coloquiando com qualquer mortal, até mesmo tentando oferecer-lhe alimentos (Juizes 13:10-16). Colocando por terra os textos de Eclesiastes contrários à sobrevivência das criaturas no além, Paulo, o apóstolo dos gênitos, assim se expressou, na Primeira Epístola aos Coríntios: "Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E se o Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé"(1 Co. 15:12-14).

Nessa mesma carta, Paulo ensina: "Mas alguém dirá: como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? (1 Co 5:35). Semeia-se corpo natural ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual" (1 Co. 15:44). "Assim como trouxemos a imagem do o que é terreno, trazemos também a imagem do celestial" (1 Co. 15:49). "Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, 'morte, o teu aguilhão?" (1 Co. 15:54-55).

Jesus, nosso querido Mestre, se constitui em exemplo marcante da certeza da vida após a vida. Ele mesmo voltou do além, comprovando e revelando a morte da morte, continuando a viver.

Que emoção vivenciou Madalena ao ver o meigo Rabi à sua frente, diante do túmulo vazio, recém-materializado, ultra-eletrizado, dizendo-lhe: "Não me toques..." (João 20:17).

O Cristo nos ensina: "Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" (João 11:25). A morte não existe. A vida contínua após a falência irreversível dos órgãos. Se não houvesse vida fora do túmulo, não teria sentido a vida antes da morte. O espírito preexiste ao corpo de carne e sobrevive além da sepultura.

O Evangelho de Mateus esclarece que, após Jesus Ter expirado, muitos espíritos entraram em Jerusalém e apareceram a muitos (Cap. 27, vers. 53). Diz, igualmente, que Madalena e a outra Maria, quando foram ao sepulcro, viram um espírito materializado: "O seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste alva como a neve" (Cap. 28, vers. 3).

O nosso amado Mestre, segundo informação do apóstolo Pedro, na sua Primeira Epístola, Capítulo 3, versículos 18 a 20, morto na carne e liberto em espírito, foi pregar, no além, aos que se encontravam em sofrimento ("prisão") desde o tempo de Noé.

Segundo Eclesiastes, "os mortos não sabem coisa nenhuma, não tendo mais parte com ninguém, sendo que o amor deles já feneceu".

Em quem acreditar? Em Pedro ou num suposto Salomão?

Se não há projeto, obras, nem conhecimento, nas paragens espirituais, para que, então, Jesus foi pregar para os mortos?

Em verdade, segundo "o espírito que testifica e não pela letra que mata", constatamos que prisão ("inferno") representa o sofrimento que parece não ter fim, tendo a aparência ou ilusão de eterno (tempo indeterminado), de algo que parece não ter fim e que nunca mais se acabará. Daí a expressão: "fogo eterno", citado emblematicamente no Evangelho (Mateus 18:8).

O Cristo, visitando e pregando aos espíritos aprisionados, nos revela a misericórdia do Pai, o qual "não contenda, nem se indigna, com os seus filhos" (Isaías 57:16). Visitar e pregar àqueles que estão "perdidos para todo o sempre" seria ato desumano e cruel, puro sadismo por parte daquele que é o nosso Mestre.

Personagem de grande expressão da Bíblia, o legislador Moisés, morto e sepultado na aterra de Moabe (Deuteronômio 34:5-6), aparece materializado, ao lado do profeta Elias, no "Monte da Transfiguração"(Lucas 9:30), atestando que os mortos vivem e que os textos já citados de Eclesiastes são realmente destituídos de importância e autenticidade.

Além das Escrituras, vem a ciência paulatinamente confirmar a sobrevivência do ser após a morte. Charles Richet, Prêmio Nobel de Física e Medicina, em 1913, criou a Metapsíquica com o fim de pesquisa os fatos transcendentes e ficou convencido da sobrevivência da alma. Depois, o trabalho marcante de Joseph Banks Rhine, nos anos trinta, com a Parapsicologia e a observação dos fenômenos psi-teta, exatamente explicados pelo notável pesquisador como de procedência espiritual.

Apesar de Eclesiastes afirmar que os mortos "não têm parte em cousa alguma", inúmeros cientistas, no decorrer de séculos, chegaram à conclusão da sobrevivência do ser, fora do túmulo. William Crookes, Prêmio Nobel de Química, em 1907, considerado o maior sábio inglês da época, inventor do radiômetro e dos tubos eletrônicos de catódio frio para a produção de Raios-X, fazendo pesquisa com a médium de ectoplasmia. Florence Cook, concluiu pela existência do espírito. O grande homem de ciências chegou ao ponto de amarrar a médium na cama com cordas, costurando os nós e as laçadas. Em várias ocasiões, penetrou na cabine mediúnica, junto com a entidade materializada (Kate King), e pôde vê-la, com nitidez, ao lado de Florence, estando essa inteiramente adormecida.

Em 1894, em carta dirigida ao professor Ângelo Brofferio, o insigne cientista britânico afirmou: "Seres invisíveis e inteligentes existem, os quais dizem ser espíritos de pessoas mortas". Em entrevista, publicada no "The International Psychic Gazette", relatou: "É uma verdade indubitável que uma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro".

Em 1950, o grande psicanalista Jung, entrevistado pela BBC, respondeu com muita propriedade a duas perguntas: "O Sr. acredita em Deus? E sobre a morte?". O mestre do psiquismo afirmou: "Eu não acredito em Deus, eu SEI". Quanto à morte, Jung disse: "Eu não acredito que a mente humana morra porque está provado que a mente humana não conhece passado, nem presente, nem futuro; contudo, se ela pode prever acontecimentos futuros então ela está acima do tempo, se está acima do tempo, não pode ficar trancafiada num corpo". Na obra "Realidade da Alma", relata: "A plenitude da vida exige algo mais que um ser; necessita de um espírito, isto é, um complexo independente e superior, único capaz de chamar à vida todos as possibilidades psíquicas que a Consciência-Ego não poderá alcançar por si".

Hodiernamente, os cientistas comprovam a presença dos mortos comunicando-se através de aparelhos eletrônicos. A esse tipo de intercâmbio mediúnico foi dado o nome de Transcomunicação Instrumental (TCI), pelo físico sueco Emst Senkowsky.

Outros campos de pesquisa, rigorosamente científicos, revelam a realidade da dimensão espiritual. Médicos, estudando o fenômeno de quasemorte em pacientes que sofreram parada cardíaca, ouviram relatos de semelhança impressionante, inclusive encontros memoráveis dos doentes com entes queridos falecidos.

Inúmeros cientistas também se vêem diante do "sobrenatural", ouvindo de pessoas moribundas, em alguns momentos de lucidez, a afirmação de coisas que ignoravam, principalmente a notícia de terem conversado com pessoas amigas ou familiares, falecidas por ocasião de internação dos doentes, fato desconhecido dos mesmos até então.

O fenômeno é conhecido com "Out of body" ou "Desdobramento ou Projeção da Consciência". vivenciado igualmente pelos clinicamente mortos e consistindo na saída do corpo espiritual, ou seja, a consciência agindo fora do espaço físico.

Em verdade, os mortos vivem, desde que o homem é um ser imortal, um cidadão do Universo, em busca da perfeição, nascendo e renascendo na arena física.



Américo Domingos Nunes Filho
Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 361 de Fevereiro de 2001

25 janeiro 2015

O problema não é Religião, mas Sectarismo - Dalmo Duque dos Santos




O PROBLEMA NÃO É A RELIGIÃO, MAS O SECTARISMO

“Quando olhamos por alto as pessoas, ressaltam suas diferenças: negros, brancos, homens e mulheres, seres agressivos e passivos, intelectuais e emocionais, alegres e tristes, radicais e reacionários. 

Mas à medida que compreendemos os demais as diferenças desaparecem e em seu lugar surge a unicidade humana: as mesmas necessidades, os mesmos temores, as mesmas lutas e desejos. Todos somos um. – James Joyce in “Finegans Wake”

Muitos companheiros e empenhados militantes da nossa Doutrina há muito defendem a idéia de que o Espiritismo não uma religião. 

Também estou de acordo com todos eles, em parte. Só não concordo com a falsa associação que muitos deles fazem entre religião e sectarismo, entre as igrejas e o cristianismo, bem como outros pequenos equívocos conceituais e históricos.

Realmente, o Espiritismo não é uma religião no sentido formal e exterior ao ser, muito menos no sentido de organização institucional. O que existe no Espiritismo e no seu movimento são temáticas filosóficas cuja essência é religiosa, mística, relacionada ao comportamento natural de adoração. No movimento esses temas são distorcidos pelos adeptos neófitos menos comprometidos com a originalidade doutrinária, se bem que não há muita coisa de original nas idéias do Espiritismo e sim nos enfoques e aplicações práticas. 

O comportamento místico-religioso não é proibido, muito menos não recomendável nas instituições espíritas. Essa postura crítica desses companheiros é apenas uma tendência presente em alguns grupos puristas, que vale como vertente de opinião e ponto de vista, merecendo todo o nosso respeito, mas não significa em momento algum que tenha fundamentação doutrinária inquestionável. Aliás, a aceitação ou rejeição de qualquer tipo de comportamento no Movimento Espírita é uma questão ética, de foro íntimo, e que pode ser compartilhado coletivamente ou objeto de crítica, mas nunca de condenação e perseguição. O que existe nessa polêmica histórica e bizantina é um certo e lamentável preconceito de mentalidade, um choque ideológico superficial de posturas entre o chamados místicos e os ditos filósofos e cientistas espíritas. Tal conflito faz parte dos tempos primitivos do movimento espírita brasileiro e perpetuou-se como sujeira guardada sob o tapete exatamente porque nunca foi tratado como um debate sério entre pessoas com interesses nobres e comuns, mas sim como um jogo de provocações pueris e pano de fundo para disputas de facções institucionais.

Mas o que importa realmente em tudo isso é discutir e refletir sobre o sectarismo, um tipo de comportamento ou desvio ideológico típico da natureza humana e não das suas preferências. Não podemos confundir os efeitos com as causas. O fenômeno do comportamento sectário, egocêntrico, estreito, autoritário, inseguro, intolerante, que não sabe conviver com a diversidade, pode se manifestar e qualquer área de atuação, seja nas igrejas, nos centros espíritas, nas academias universitárias, partidos políticos, como também nas torcidas de futebol. O inverso do indivíduo sectário é aquele compartilha, que aceita o outro sem preconceitos. E aceitar não quer dizer aderir, aplaudir ou reproduzir o que o outro faz. Para aceitar não é preciso concordar, basta respeitar. Estão fazendo uma confusão e naturalmente esquecendo que também nos discursos de pureza doutrinária, da fidelidade ao pensamento de Kardec, na afirmação dogmática e descontextualizada de que o Espiritismo não é religião, pode estar embutido o comportamento sectário, o mesmo que faz com que haja matanças e outras agressões entre os religiosos sectários. Jesus foi religioso sem nunca ter tido vinculo ou ter criado uma religião. Francisco de Assis, o Mahatma Gandhi, o pastor Martin Luther King e o médium Chico Xavier eram pessoas claramente religiosas. Não podemos colocá-las no mesmo saco ideológico de religiosos sectários como os padres Savonarola e Torquemada, o ativista Malcon X, o aiotolá Khomeini ou pastor Jim Jones.

Então, companheiros, até entendo e compreendo quando dizem “Não! Não dá pra aceitar! Sinto muito, mas eu me recuso a ser religioso. Prefiro ser espírita, simplesmente ser espírita”. Acontece que ser espírita não é tão simples assim como se diz. Não fica muito claro que tipo de espírita somos ou devemos ser. E não adianta argumentar que só existe apenas um tipo de espírita, ou melhor, aquele que é ou aquele que não é, pois isso fica parecendo uma simplificação retórica. Kardec disse que existem três tipos, ou melhor, três graus de espíritas. Eu, por exemplo, gostaria de ser aquele do terceiro grau. Não sei em que grau estou, mas, sob outro aspecto, acho que na realidade, pé no chão, sou um espírita do tipo religioso, “misticão”, no dizer do amigo Jaci Régis. Faço preces, às vezes por medo ou por gratidão, acho que Jesus realmente é o governador do planeta, que Ismael é o verdadeiro ban-ban-ban do Brasil (Pátria do Evangelho, é claro!), que as revelações de Emmanuel são autênticas, enfim, coisas de gente religiosa... Também não creio cegamente somente nas coisas que Kardec disse ou não disse ou deveria ter dito. Não policio os outros, mas me policio para não fazer inferências que me são convenientes ao pensamento de Kardec. Há quem me aceite e há quem me rejeite; há também quem se esforce para me aceitar.

No movimento espírita, como não poderia deixar de ser, existem muitas pessoas sectárias em vários graus de intolerância e auto-desconhecimento, até mesmo entre os chamados “intelectuais”, que são vistos mitologicamente como os grandes “cérebros” da doutrina, pessoas incomuns e de conhecimento acima de qualquer suspeita. Sabemos que a intelectualidade nunca foi sinônimo de maturidade e sabedoria. Intelectuais sectários logo são traídos pelo desequilíbrio emocional, sobretudo pelos traços de deboche típicos dos psicopatas e o auto-fascínio das personalidades fortemente narcísicas. Revelam um medo devastador de olhar para o mundo interior, a síndrome de Sócrates, e não aceitam de forma alguma que alguém possa passar por esse tipo de experiência sem mentir para si mesmo. Vêm daí a constante irritação e o sarcasmo com as idéias e vivências que destoam do rígido e defensivo padrão vivencial que adotaram para si.

É bem veridico, nós os chamados intelectuais espíritas, convivemos com uma falsa imagem de que somos os donos da verdade e os sábios absolutos da doutrina, os “doutores do templo”. Sofremos de um crônico complexo de inferioridade e queremos, a todo custo, sermos reconhecidos socialmente como uma elite científica e filosófica. E a religião e a religiosidade funcionam como bode expiatório nessa pretensão e ao mesmo tempo incapacidade de nos aceitarmos tal qual somos. Semelhante aos positivistas do século XIX, uma falsa e desesperada elite em busca de reconhecimento e brilho social, queremos acabar com a igreja inventando outra igreja, uma mudança da fachada. Nosso sonho é fazer sucesso nas universidades, escondendo a religião embaixo de um tapete todo furado e sobre o qual pisamos tentando disfarçar a nossa realidade. 

É assim que coisas como o Culto do Evangelho no Lar - CEL passaria se chamar Reunião de Estudo Espíritas no Lar – REEL. 

August Comte iria delirar de orgulho ao ver que suas idéias até hoje fazem sucesso no Movimento Espírita com o sugestivo rótulo de “kardecismo”.

Quando meus colegas de faculdade queriam me torrar a paciência nunca me chamavam de macumbeiro ou coisa parecida, mas viviam comentando com risinhos provocativos que Kardec era um plágio de Comte. Como nas noites espíritas brasileiras todos os gatos são pardos, é melhor sempre deixar muito claro que não temos nada a ver com a umbanda, o candomblé, com as igrejas, muito menos com a maldita religião. Conversando com amiga no trabalho, ela confessou-me em voz baixa que o pai era protestante e depois virou espírita. Perguntei se era espírita mesmo e ela admitiu que era umbanda e que usava esse artifício para disfarçar a estranha conversão do pai e, mesmo porque ele não se acostumaria com alguma coisa “tão fina como o Espiritismo” (palavras dela).

Vivemos todos mergulhados num oceano de preconceitos e por isso vivemos quase sempre em função daquilo que os outros vão “pensar” de nós. Essa é a verdadeira causa do sectarismo; para nos protegermos de um preconceito, criamos outros preconceitos cada vez mais ridículos e irracionais. Os intelectuais não estão isentos dessa escorregadela de orgulho e de arrogância. Pessoalmente, acho eu, pelo menos foi assim que aprendi na universidade, que o intelectual e a intelectualidade não são meros títulos acadêmicos de valor cartorial, mas uma condição dinâmica que progride e se transforma incessantemente; o intelectual autêntico é aquele que cresce e se transforma no universo da idéias produzindo conhecimento próprio; vai adquirindo autonomia de pensamento, isto é, pensando cada vez mais sem a interferência de idéias alheias; quando utiliza idéias dos outros as usa como meios e não com fim. Sei que é difícil estabelecer um critério de separação daquilo que é o nosso pensamento daquilo que é o pensamento do outro. Como bem disse Edgard Armond, vítima histórica dos espíritas sectários, “Muitos dizem que sabem, porque pensam, achando que pensar é saber. Há muita distância entre pensar e saber e saber sem pensar”. 

Já com o sectário é mais fácil identificar que ele não pensa por si próprio e quase sempre reproduz de forma distorcida as idéias dos outros. O sectário também é traído pelo seu perfil emocional alterado, típico dos fanáticos; ele simplesmente não admite a opinião do outro e repele qualquer idéia ou comportamento que não se coaduna com os seus preconceitos. Como se vê, o sectário não possui e não domina conceitos e sim faz confusão com eles. Trata-se de um traço que nos persegue bem de perto, sobretudo porque ainda não temos convicção ou uma fé inteligente e equilibrada nas idéias que cultivamos. Talvez seja realmente um vírus ideológico, um desvio ou imaturidade do pensamento aberto, autônomo, seguro, claro e objetivo e que ataca religiosos, filósofos e cientistas. Daí a sua característica mais emocional, ainda que camuflada de argumentação aparentemente racional.

Mas as coisas são como são e não vamos poder mudá-las só para que se adaptem ao nosso modo de ser ou então porque existem em torno delas um preconceito socialmente constituído. Preconceito é um conceito mal formulado, porque foi mal compreendido. A religião, por ter sido durante séculos o centro do conhecimento humano, é vítima do preconceito que ela mesma semeou, por ignorância de muitos religiosos, mas não de todos. Tornou-se uma palavra gasta e negativamente associada ao sectarismo religioso e aos maus religiosos. Hoje em dia ninguém quer ter suas idéias rotuladas de religiosas, a não ser aqueles que precisam fazer carreira profissional nesse setor. É só perguntarmos a um budista quais as idéias da sua religião e ele responde prontamente: “Não é uma religião, é uma filosofia... Não sou religioso, sou budista...” Muito original essa resposta, não é mesmo?

Como somos cultivadores de uma doutrina cuja ideologia essencial é a Verdade isso nos faz refletir sobre o tipo de pessoas que temos sido e também sobre o equivalente compromisso moral que temos com ela e com a sociedade em que vivemos. Não é à toa que somos muitas vezes cínicos e dissimulados quando nos defrontamos com a Verdade, principalmente quando se trata da verdade contida em nós e nas pessoas que julgamos não serem dignas da nossa confiança e aceitação. Fazemos parte de uma espécie que ainda está em construção moral e talvez sejamos os únicos que fingimos não conhecer ou não lembrar dos semelhantes com a intenção inconsciente de diminuir o outro e assim nos sentirmos no mínimo igual ou melhor posição.

Como todos nós temos um pouco de sectarismo na personalidade, precisamos nos questionar seriamente obre isso. Precisamos verificar se não estamos mascarando nossas posturas sectárias com discursos sofismáticos. Poderíamos até empreender um trabalho de cura reflexiva nesse aspecto. Tenho uma sugestão: poderíamos criar um trabalho assistencial chamado “S.A.- Sectários Anônimos” e ali descobriríamos qual o nosso grau de comprometimento com esse problema. Pode parecer brincadeira ou ironia, porém muitos de nós já estamos num grau de doença ideológica que, comparado ao alcoolismo, seria a fase de delírio trêmulo. Se a idéia não for bem aceita podemos esquecê-la imediatamente e consultar a questão 919 de o Livro dos Espíritos, respondida por Santo Agostinho. Quem não tiver preconceito contra santos católicos que se tornaram espíritas vai tirar um grande proveito dessa experiência.

Dalmo Duque dos Santos é mestre em Comunicação, bacharel em História e pedagogo. Publicou pela DPL os ensaios “Você em Busca de Si Mesmo” e “ A Inteligência Espiritual”. Está lançando pela mesma editora uma história do Espiritismo com o título “O Demolidor de dogmas – Allan Kardec e a Reconstrução da Fé no Ocidente”.

24 janeiro 2015

Grupo de desobsessão - Mario Franco



GRUPO DE DESOBSESSÃO

Se o Espiritismo é a doutrina que prevê o intercâmbio com o mundo espiritual, todo problema de inter-relacionamento com os espíritos deve ser analisado e tratado no meio espírita. Ora, observa-se que os casos de obsessão espiritual persistem em todos os níveis espíritas, além naturalmente de sua proliferação fora do circuito espírita. Porém não se fala em atualizar e criar novos grupos de desobsessão, com a finalidade de tratamento da obsessão espiritual.

Toda casa espírita que se preza deveria ter um grupo de desobsessão, fechado e restrito, formado por um pequeno número de médiuns reconhecidamente experientes, escolhidos com o critério do bom senso, para a delicada tarefa de conscientização e esclarecimento do espírito obsessor, por via da palavra oral. Deve-se evitar o crescimento exagerado do grupo de desobsessão, para não se tornar heterogêneo, fugindo das características de um grupo especializado para o tratamento da obsessão espiritual.

Além das controvérsias doutrinárias no meio intelectual espírita, verifica-se que os trabalhadores da seara também não se entendem quanto à melhor forma de trabalho prático. Ora, torna-se difícil encontrar um denominador comum no sentido de nortear uma lógica clara para o tratamento da obsessão, porque surge uma série de idéias contraditórias, preconceitos religiosos e opiniões sempre vinculadas a conselhos de certos espíritos em determinadas obras mediúnicas.

De modo que, ao se admitir, no meio espírita, que os espíritos possam isoladamente resolver tudo, a participação do trabalhador da seara espírita nas atividades de intercâmbio mediúnico ficou muito reduzida, a ponto de considerar-se um mero instrumento passivo, inclusive no caso específico de um necessário trabalho de suporte no tratamento da obsessão. Tudo parece identificar-se com um fundo de catolicismo, contido na maioria das obras mediúnicas.

Penso ser oportuno refletir melhor sobre o assunto, pois tudo indica tratar-se de um equívoco, por força de uma mentalidade predominantemente religioso que se instalou no meio espírita, levando a acreditar-se na infalibilidade dos espíritos protetores ou superiores, o que seria uma nova forma de crença em milagres. Trata-se de uma postura que se assemelha ao dogmatismo católico, que considera infalível a proteção dos santos canonizados.

Estou certo de que esse tipo de constatação abala profundamente os alicerces da crença religiosa que alcançou a maioria dos espíritas. No entanto se torna imprescindível repensar a dimensão do trabalho da seara espírita. Não basta entregar aos espíritos a responsabilidade pessoal de curar os obsediados e a tarefa de "limpar" o ambiente espiritual no seio das respectivas famílias, como se, num passe de mágica, tudo pudesse ser resolvido através de uma força estranha, inatingível ou milagrosa.

Penso que as atividades dos espíritas não se poderia restringir apenas à simples assiduidade nas reuniões doutrinárias, aos passes mediúnicos, às preces de louvor e ao trabalho de evangelização. Torna-se inadiável caminhar para um trabalho de busca daqueles que passam por graves problemas espirituais, procurando uma forma de reuni-los, com a maioria de seus familiares, dentro da própria casa espírita, que aliás deveria permanecer aberta por mais tempo, no sentido de permitir as tarefas de reeducação fraterna e apoio espiritual específico à família do paciente obsedado.

Observa-se que, por falta de melhor compreensão da essência dos ensinamentos contidos no primitivo Cristianismo, a maioria dos lares passa atualmente por profunda crise de convivência, enquanto a violência e a injustiça social se alastram por conta da negligência e corrupção no meio político. Ora, os casos de obsessão espiritual constituem um fator agravante de desarmonia e infelicidade, porque envolvem situações de desajustes comportamentais entre os próprios membros dessas famílias, por desconhecerem a natureza dos mecanismos de inter-relação com o mundo espiritual.

Portanto, tenho a convicção de que se poderia desenvolver um novo tipo de trabalho espírita em conjunto com a espiritualidade, no sentido de socorrer espiritualmente a família do paciente obsedado. Seria um trabalho de convivência fraterna dentro da própria casa espírita, onde todos ali reunidos pudessem manifestar os seus sonhos, idéias, opiniões e problemas espirituais e existenciais, de modo que tudo pudesse ser enfocado e analisado à luz do Espiritismo, num ambiente de fraternidade, esperança e alegria, conforme preconizado no seio do primitivo Cristianismo.


Mario Franco
Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 361 de Fevereiro de 2001

23 janeiro 2015

Amor e não temor a Deus - Nazareno Tourinho


AMOR E NÃO TEMOR A DEUS

É notória a incapacidade que os habitantes deste planetinha miúdo de categoria inferior, muito bom para provas e expiações, têm de compreender as coisas de natureza espiritual.

Em todas as épocas da Humanidade, desde as mais remotas, houve revelações das altas esferas do Além descortinando as grandes verdades da Vida, a partir da existência de um DEUS que a criou e a governa, mas até hoje ainda não aprendemos a pensar sobre esse SER incomparável, onipotente e magnânimo, senhor do nosso destino.

No que se refere ao grave erro de substituir DEUS por Jesus, aludido no artigo anterior, o problema vem de longe, pois começou com alguns dos primeiros apóstolos do Evangelho que, logo após o sepultamento do corpo crucificado do Mestre, acharam por bem dar início ao processo de sua divinização, passando a dirigir preces a ele e não ao Criador. Karen Armstrong, autoridade no assunto, mostra-nos documentadamente como ocorreu esse lamentável equívoco em livro de mais de quatrocentas páginas (UMA HISTÓRIA DE DEUS - Companhia das Letras, 1994, tradução de Marcos Santarrita com direitos reservados à Editora Schwarez Ltda., de São Paulo).

Menos de quatro séculos depois de tal equívoco o Cristianismo, já doutrinariamente adulterado para se converter no Catolicismo, através de um dogma estabeleceu a divindade de Jesus. E desde então, há mais de um milênio e meio, a cultura religiosa do mundo ocidental vem sendo prejudicada pela idéia de que orando a Jesus os homens não precisam orar a DEUS. A literatura espírita brasileira contemporânea, pesa-nos dizer, de conteúdo predominantemente psicográfico encontra- se impregnada dessa idéia infeliz que não tem o menor respaldo na obra de Allan Kardec.

Aprendemos na Codificação que "Jesus constitui o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra", aprendemos que sua doutrina "é a expressão mais pura da lei do Senhor", mas não aprendemos a olvidar DEUS dirigindo ao Cristo nossas preces. Muito pelo contrário: no derradeiro Capítulo de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO há uma coletânea de preces para orientar os que não sabem orar - quase quarenta são dirigidas diretamente ao Criador, meia dúzia aos bons Espíritos e nenhuma a Jesus no sentido de colocá-lo na posição de DEUS.

Note o leitor um detalhe sutil: o que criticamos não é orar a Jesus, é não orar a DEUS.

E fazemos esta crítica porque o próprio Jesus ensinou a orarmos ao Pai nosso que está nos céus...

Kardequianamente falando, é claro que, se podemos orar aos bons Espíritos, também podemos orar a Jesus. Aliás, podemos orar do jeito que nos aprouver. "A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque'. Eis o que ressalta o Capítulo final da obra há pouco citada, onde se lê mais o seguinte:

"O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, quando ditas de coração e não de lábios somente. Nenhuma impõe, nem reprova nenhuma. Deus, segundo ele, é sumamente grande para repelir a voz que lhe suplica ou lhe entoa louvores, porque o faz de um modo e não de outro."

O que ponho em foco para reflexão é o ânimo cristólatra de numerosos confrades, esquecidos de DEUS. Por que oram a Jesus e não ao Criador? Uma vez formulamos esta pergunta em um Centro Espírita, durante a palestra, e ouvimos a seguinte resposta:

- Porque os guias do Espiritismo no Brasil só oram a Jesus!

- Não sabemos se isto é completamente exato. Se for preferimos ficar com os guias do Espiritismo na França ao tempo de Allan Kardec...

- Gostaríamos de chamar a atenção dos companheiros místicos para a conveniência de superarmos o velho e alienante temor a DEUS que a herança cultural católica de outras vidas incrustou em nosso inconsciente. Devemos ter amor a DEUS e não temor. Se O amamos, por que não dirigimos a Ele nossas preces?


Nazareno Tourinho
Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 360 de Janeiro de 2001

22 janeiro 2015

Espíritas, amai-vos e instruí-vos - Domério de Oliveira


ESPÍRITAS, AMAI-VOS E INSTRUÍ-VOS

Podemos colocar a nossa Doutrina na sagrada bitola destas duas dinâmicas: Amor e Instrução.

Sabemos que o amor é a máxima expressão da vida. E sabemos, também, que o amor é a força de Deus que equilibra o Universo e os seres. O amor é fruto da nossa conquista espiritual. O Espírito evolui, hoje, em nossos dias, ninguém mais contesta a lei da evolução. Nos primeiros degraus da nossa longa jornada, o amor manifesta-se bruxuleante, como um pequenino ponto de luz. Depois, essa luz vai aumentando e quanto mais crescemos moralmente. O amor resplandece inundando a nossa Alma. O melhor conceito do amor, nos o encontramos, cristalino, nas palavras de Emmanuel:

"O Amor é o laço de luz eterna que une todos os mundos e todos os Seres da imensidade; sem ele, a própria criação infinita não tem razão de ser, porque Deus é a sua expressão suprema".

Sim, meus amigos. Amor e Instrução, duas asas magníficas que nos ajudarão a nos elevarmos dos pântanos poluídos, deste plano de provas, para alcançarmos esferas mais diáfanas.

Instrução é o ato ou o efeito de instruir. E instruir é adquirir conhecimento. E só adquirimos conhecimentos através de nossos estudos e, acima de tudo, através das boas leituras dos bons livros.

Meus amigos, estudo é a fonte perene da nossa emancipação moral e espiritual. Pelo estudo, abrimos os nossos olhos e aprendemos a separar o joio do trigo. A boa leitura liberta-nos das preocupações vulgares e nos faz esquecer das atribulações da vida. O bom livro, sem dúvida, é o nosso melhor amigo que nos dá bons augúrios, bem como, nos coloca em sintonia com os grandes vultos do passado. Sim, meus amigos, o bom livro é como uma voz que nos fala através dos tempos e nos relata os trabalhos, as lutas, as descobertas daqueles que nos precederam no caminho da vida e que, em nosso proveito, aplainaram as nossas dificuldades.

Não poderíamos almejar, maior felicidade, o poderemos, através do livro, comunicar- nos, pelo pensamento, com os Espíritos Eminentes de todos os séculos e de todos os países. Os sábios, os filósofos, os pensadores, os escritores, através da Ciência, das Artes e da Literatura. Ao contato dessas obras que constituem o mais precioso dos bens da humanidade, compulsando esses livros notáveis, pelos nossos estudos, sentimos um engrandecimento íntimo, sentimo-nos felizes ao pertencermos ao gênero humano. As irradiações dos pensamentos desses eminentes vultos, que incorporamos em nossas leituras, estendem sobre as nossas almas, enriquecendo-as com aquele verdadeiro tesouro que os ladrões não conseguem roubar e que as traças não conseguem destruir.

Meus amigos, nestas circunstâncias, saibamos escolher bons livros e habituemo-nos a viver no meio deles em relação constante com os Espíritos Elevados. Rejeitemos as obras imundas, rejeitemos a baixa literatura que nada edifica, mas que só serve para poluir nossas mentes. Acautelemo-nos dessa sub-literatura pornográfica que deixa, em sua passagem, a corrupção e a imoralidade.

Alguns amigos e confrades alegam falta de tempo para a boa leitura; entretanto, tempo não lhes falta para certos prazeres fúteis e conversações ociosas; se quisermos, sempre poderemos arrumar algum tempo para a boa leitura, basta querermos. Também, não se pode alegar falta de dinheiro para a aquisição de livros. As bibliotecas circulantes aí estão para empréstimo gratuito de bons livros. Em nossos dias, os preços dos livros espíritas são acessíveis aos bolsos mais humildes. Assim, cremos, que todos os interessados e estudiosos terão oportunidade para haurir instrução.

Sim, podemos alcançar o amor, no seu sentido mais amplo - cristão, podemos nos instruir, através das nossas lutas íntimas, através do nosso trabalho na Seara do Bem e através da nossa boa vontade. Lembremo-nos sempre:

"O livro edificante é o templo do Espírito, onde os Grandes Instrutores do Passado se comunicam com os aprendizes do presente, para que se façam os mestres do futuro".

Nima Arueira - "in" - "Mensagens Esparsas" - psicografia de Francisco Cândido Xavier
Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 365 de Junho de 2001

Domério de Oliveira