O MAL E A MENTE
Não somos na intimidade o que somos em público.
• Ricardo Orestes Forni
“A mente, exteriorizando os níveis psicológicos, é responsável pelas atitudes, por expressar a realidade espiritual de cada um.” – Joanna de Ângelis.
Coincidindo parcialmente, é claro, com a colocação de Joanna, encontramos na revista VEJA em sua edição de número 2335, de 21 de agosto de 2013, a opinião de um psicólogo americano que afirma que o mal está em todos nós, mais precisamente, segundo Freud, na própria natureza da mente humana. Philip Zimbardo pesquisou na Universidade Stanford, nos anos 70, quais ambientes e situações estimulam de forma decisiva a expressão do lado ruim de cada um. “Freud dizia que a tendência a destruir e a praticar o mal tem suas raízes na própria natureza humana e que todos nós, sem exceção, carregamos um componente que incita a maldade. Os pensadores que vieram depois reforçaram essas descobertas, ao concluir que o mal está no caráter, na personalidade. Ou seja, ele repousa dentro das pessoas – e pode vir à tona ou não”, coloca o psicólogo.
O mal está dentro do corpo ou fora dele? A mente é um produto do cérebro como a bile o é do fígado e a urina dos rins? Sendo a mente oriunda no Espírito ela é tetradimensional e não poderia estar contida num espaço tridimensional – o cérebro. Já, ao contrário, a bile cabe no fígado e a urina nos rins. A mente sendo produto da personalidade, segundo diversos pesquisadores, é uma elaboração que não está contida na matéria, mas transcende a ela. E se o mal nasce nela, o mal é extracerebral. A personalidade é a faceta visível de um Espírito naquela reencarnação, sendo produto da individualidade imortal que é esse mesmo Espírito. Personalidade (alma) é a roupagem da atual existência da individualidade (Espírito). Segundo nos ensina Hermínio C. de Miranda em seu livro Alquímía da Mente, a individualidade (Espírito) mergulha parcialmente na matéria se apresentando nela através dessa personalidade. Mantém, entretanto, uma outra parte conectada com a realidade cósmica que muitos denominam de inconsciente coletivo e que é um inconsciente mais lúcido do que pode supor a nossa vã filosofia, o nosso orgulho e vaidade alimentados pelo nosso microscópico saber.
Em um outro trecho da mesma reportagem o psicólogo afirma que os estudos demonstram que não mais do que 10% das pessoas conseguem permanecer imunes a situações que as compelem a agir de forma má. Se considerarmos que a população espiritual vinculada a um planeta de provas e expiações como o nosso é de Espíritos de pouca evolução moral, esse dado estatístico também não causa surpresa a nenhum espírita. Quantos Chicos, Divaldos, Madres Teresa de Calcutá, Mahatma Ghandi, Albert Schweitezer podem existir entre os bilhões de Espíritos encarnados e desencarnados que estudam no educandário da Terra? Os dez por cento do estudo citado pelo psicólogo são até demais.
Em um novo questionamento o psicólogo afirma que mesmo aqueles indivíduos que todos consideram boas pessoas estão sujeitos a se converter ao mal dependendo das condições que encontram pela vida. E essa afirmativa também é endossada pelo fato de que a personalidade de uma existência pode apresentar um verniz que mascara a individualidade que é o Espírito. Dependendo das agressões que receba, pode reagir de forma diferente. Não somos na intimidade o que somos em público. Pode ser até que assim o desejássemos. Mas, enquanto a personalidade (alma) não traduzir plenamente a individualidade (Espírito), assim continuará acontecendo.
O mal, segundo Joanna de Ângelis, é remanescente dos instintos agressivos, predomina enquanto a razão deles não se liberta, sob a dominação arbitrária do ego, que elabora interesses hedonistas, pessoais, impondo-se em detrimento de todas as demais pessoas e circunstâncias.
Se tudo ficou muito confuso nesse artigo até aqui, relembremos dois ensinamentos de O Livro dos Espíritos fáceis de serem compreendidos. O bem é tudo aquilo que está conforme a lei de Deus, e o mal tudo aquilo que dela se afasta. Se a dúvida persistir, analisemos se o que estamos fazendo gostaríamos de receber para a nossa própria pessoa. O outro ensinamento é o de que o homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos seus esforços, por fracos esforços. Não são fáceis de serem compreendidos? Disse que são fáceis de serem compreendidos, mas quanto a sua aplicação em nossas vidas!...
A última pergunta de O Livro dos Espíritos ensina que o bem reinará sobre a Terra quando os bons vencerem sobre os maus. O que, na minha desvalida opinião, ocorrerá quando vencermos a nós mesmos.
Ricardo Orestes Forni
Fonte- Revista Internacional do Espiritismo de março de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário