O PROGRESSO
O mal já não é uma fatalidade inelutável de que não nos poderíamos libertar; ele aparece como um aguilhão, como uma necessidade destinada a compelir o homem para a estrada do progresso. Apesar dos sofismas dos retóricos, o progresso não é uma utopia. A existência do homem, na época quaternária, errante através das florestas, ou vivendo nas cavernas, não é comparável à do mais miserável camponês de nossos modernos países.
À medida que penetramos no mecanismo da Natureza, vamos podendo utilizar-nos da Ciência, para melhorar nossa situação física; foi o que sucedeu no correr das idades, pela transformação gradual das plantas, que são úteis à nossa alimentação, pelo saneamento das regiões insalubres, pela dragagem e regularização dos cursos da água, que suprimem as inundações; assim, também, os flagelos naturais como a cólera, a peste, a difteria, a raiva, diminuem dia a dia de intensidade, graças aos imortais descobrimentos de Pasteur e seus discípulos. Temos o direito de esperar que, pelos progressos da Ciência, a tuberculose e outras doenças epidêmicas, que dizimam, ainda, a Humanidade, não serão mais, daqui a alguns anos, que um mau sonho, dissipado pela luz da Ciência.
A Civilização dá ao homem uma segurança que seus precursores não conheciam; a agricultura e a indústria lhe têm proporcionado um bem-estar, que os antepassados nunca teriam ousado sonhar. As comunicações rápidas fizeram desaparecer as fomes periódicas, esse flagelo da Antiguidade e da Idade Média, assim como a higiene diminuiu as epidemias.
No ponto de vista moral, o progresso tem sido mais lento; a luta pela existência é ainda cruel, mas, quem compararia o proletariado atual com a escravidão antiga? Se as guerras não parecem desaparecer, já não se arrancam às populações dos seus lares para serem vendidas em leilão, e os soberanos não gastam os seus ócios, como os da Assíria ou do Egito, furando os olhos dos prisioneiros ou elevando pirâmides com seus membros mutilados.
O sentimento da solidariedade afirma-se hoje pela multiplicação dos hospitais, pelas pensões aos velhos, pelo auxílio aos enfermos, pelas associações contra os riscos da doença e do desemprego.
Sente-se que um novo estado de coisas está em via de elaboração; se ainda se acha rudimentar e defeituoso em muitos pontos, é de crer que vá tomando vôo. A evolução para melhor surge como consequência da elevação intelectual da massa social, que a instrução, liberalmente distribuída, começa a fazer sair do seu torpor. Não se espera mais a felicidade por uma intervenção sobrenatural. Compreende-se que ela será o resultado do esforço coletivo. É preciso deixar aos amadores os paradoxos fáceis da negação do progresso, porque este aparece como a lei espiritual que rege o Universo inteiro.
Daí resulta que somos criadores de um determinismo ulterior, que será a consequência de nossas ações passadas; possuímos a possibilidade de modificar nossas existências futuras, no mais favorável sentido, conforme o grau de liberdade moral e intelectual, em relação com o ponto de evolução a que tenhamos chegado.
Por Gabriel Delanne
Obra: "A Reencarnação"
Nenhum comentário:
Postar um comentário