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30 novembro 2018

Os Carneiros de Panúrgio – Orson Peter Carrara





OS CARNEIROS DE PARNÚRGIO




Palavra diferente, não é mesmo? Eu também não conhecia. O título da presente abordagem é também o título de um livro publicado em 1890 e de autoria do Dr. Bezerra de Menezes. É um romance filosófico/político – é daqueles livros que não se consegue interromper a leitura – e retrata em sua essência (daí a referência no título a carneiros) o comportamento de pessoas que seguem cegas, sem reflexão, outros comportamentos. Como carneiros que não questionam e se sujeitam. A expressão panúrgio vem de personagem da obra conhecida como Pantagruel, do escritor francês François Rabelais (cerca de 1494-1553).

O texto é de 1886, durante a Monarquia, e publicado um ano após a Proclamação da República. O próprio autor declara: “Esta obra foi escrita em 1886, quando nada podia fazer presumir o desastre da monarquia. Só a carência de meios, que agora me foram proporcionados, me impediu de publicá-la em pleno reinado de D. Pedro de Alcântara.(…)”.

O fato, porém, é que é obra atualíssima, muito instrutiva, no desdobramento da saga dos personagens e no analisar da própria vida humana, com os vários ingredientes que fazem as lutas do cotidiano, nos relacionamentos familiares, nos dramas e lutas pelo progresso. Entre os diálogos dos personagens, a preciosidade dos comentários fundamentos na Lei do Progresso, da Lei de Sociedade, de Igualdade, entre outras, além, é claro, da velha questão do Livre arbítrio e da Lei de Causa e Efeito. E com grande destaque para as lideranças políticas e mesmo para educação dos filhos. Uma obra espetacular, deliciosa de ler. E repito, além de muito instrutiva, muito cativante.

Escrita nada mais, nada menos, pelo grande médico Dr. Bezerra de Menezes, quatorze anos antes de sua morte, que ocorreu em 11 de abril de 1.900. Bezerra foi também político, escritor, conferencista, além de grande humanista, cuja biografia é riquíssima de exemplos em suas várias virtudes, entre elas a bondade e o amor ao próximo.

E o melhor: a obra não está esgotada, encontra-se editada, disponível, inclusive em PDF pela net. Recomendo com grande ênfase ao leitor.

O desejo aqui é enorme em transcrever vários trechos para motivar o leitor à leitura integral da obra, o que se torna impossível, seja pela extensão, seja pela preciosidade do conteúdo em todo o texto. Opto, todavia, para curiosidade do leitor, em transcrever poucas linhas que fazem referência ao título: “(…) O homem é um ruminante como o carneiro – e é talvez por isso que se sujeita a ser levado em manadas para onde o conduz o pastor. Durante um período da vida, acumula ideias, sem lhes prestar atenção, nem lhes dar o devido valor. Muito acabam a corda da existência, sem passarem desse período. São os que chamamos – carneiros de Panúrgio. Outros, raros, infelizmente, chegam ao período da reflexão – ou de remover as ideias que têm colhido em todo o tempo passado.

Estes são os verdadeiros ruminantes racionais, que se distinguem do rebanho, porque compreendem que todos são iguais e têm igual destino. Não querem eles uma sociedade sem diretor, mas exigem, por honra da Humanidade, e no seu maior interesse, que o diretor seja o que se impõe por seu merecimento pessoal – e não porque nasce numa família, sendo quase sempre, por isso mesmo que não precisa fazer merecimento para subir, personagem ignorante – profundamente imoral – e, conseguintemente, pernicioso à sociedade, cujos destinos lhe são confiados (…)”.

Parece-nos desnecessário fazer mais acréscimos à pequena transcrição. Somos os que somos conduzidos? A que pastor seguimos? Honramos a humanidade que pertencemos? Deixo à reflexão do leitor com a preciosa indicação da citada obra.



Orson Peter Carrara


29 novembro 2018

O Preconceito e a Hipocrisia - Fernando Rossit




O PRECONCEITO E A HIPOCRISIA


Algumas vezes o preconceito e a hipocrisia andam de mãos dadas.

Dois conhecidos meus, declaradamente homofóbicos, foram assistir ao filme “Bohemian Rhapsody” que conta a vida do extraordinário artista Freddie Mercury.

É claro que um filme de 2 horas não é suficiente para reproduzir tudo que a figura mais emblemática do rock mundial, o líder da banda Queen, significa para o mundo da música e das pessoas.

Mas o que chamou minha atenção foi a reação daqueles que condenam veementemente a homossexualidade.

-“Um gênio”, dizia um deles.

-“Pessoa extraordinária. Não haveremos de ver outro igual”, dizia o outro.

Não queriam nem podiam falar mal da homossexualidade do grande artista. Ficariam envergonhados perante todos se revelassem esse preconceito, conquanto a onda de conservadorismo que invadiu o Brasil nos últimos tempos pudesse oferecer uma certa “proteção” à manifestação odiosa.

Nossa sociedade defende com unhas e dentes as pessoas que conseguiram muito dinheiro e sucesso em suas vidas. Se falassem aberta e sinceramente o que pensavam, seria mais ou menos assim: “Ora, sou homofóbico, sim, mas somente com relação aos que não podem se defender. Tenho preconceito contra negros, sim, mas nem me lembro que Pelé é preto, afinal é um homem rico e de sucesso.

“Do grego, a palavra homofobia é formado pelos termos “homo” (semelhante, igual) e “fobia” (medo, aversão), que significa aversão às relações semelhantes (homem com homem, mulher com mulher).

Dessa maneira, podemos concluir que a homofobia corresponde a qualquer ato ou manifestação de ódio, aversão, repulsa, rejeição ou medo (muitas vezes irracional) contra os homossexuais, gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, o que tem levado a muitos tipos de violência, seja social, psicológica ou física.

O termo Homofobia foi empregado pela primeira vez em 1971, pelo psicólogo nova-iorquino George Weinberg em sua obra intitulada “Sociedade e a Saúde Homossexual” (1972), na qual afirma que as pessoas que alimentam a homofobia possuem problemas psicológicos”. (https://www.todamateria.com.br/homofobia/)

Diversas pesquisas indicam que homofóbicos sentem excitação por homossexuais.

Numa delas, “pesquisadores da Universidade da Georgia selecionaram 64 homens que (na escala Kinsey) se apresentavam como sendo exclusivamente heterossexuais. Todos foram testados por uma entrevista (clássica, o IHP) que estabelece o índice de homofobia, de 0 a 100. Com isso, foram compostos dois grupos: os não homofóbicos (IHP de 0 a 50) e os homofóbicos (IHP de 50 a 100).

Nota: chama-se pletismógrafo um instrumento com o qual se registram as modificações de tamanho de uma parte do corpo. Pois bem, todos vestiram um pletismógrafo peniano, graças ao qual qualquer ereção, até incipiente e mínima, seria medida e registrada. Depois disso, todos os 64 foram expostos a vídeos pornográficos de quatro minutos mostrando atividade sexual consensual entre adultos heterossexuais, homossexuais masculinos e homossexuais femininos.

À diferença do que aconteceu com o grupo de controle (ou seja, com os não homofóbicos), a maioria dos homofóbicos teve tumescência e ereção significativas diante dos vídeos de sexo entre homossexuais masculinos. Confirmando a interpretação da psicologia dinâmica: indivíduos homofóbicos demonstram excitação sexual diante de estímulos homossexuais.

Para quem quiser conferir, a pesquisa, de Henry E. Adams e outros, foi publicada no “Journal of Abnormal Psychology” (1996, vol. 105, n.3), com o título “Is Homophobia Associated with Homosexual Arousal?” (a homofobia é associada à excitação homossexual?) e é acessível na internet: http://migre.me/656Z4”). (https://www.pragmatismopolitico.com.br).

Por fim, vejamos a questão 803 de O Livro dos Espíritos:

– Perante Deus, são iguais todos os homens?

“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos”.

E a Constituição do Brasil:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Por enquanto, é só.


Fernando Rossit



28 novembro 2018

Mecanismos Mediúnicos - Hernani Guimarães Andrade




MECANISMOS MEDIÚNICOS



O mecanismo da incorporação mediúnica é fácil de compreender. Ela pode principiar pela aproximação da entidade que deseja comunicar-se. Esta poderá eventualmente influenciar o médium, facilitando-lhe o transe. O médium passa então a sofrer um desdobramento astral (OBE) e sua cúpula juntamente com o corpo astral deslocam-se parcial ou totalmente de maneira a permitir que a cúpula e o corpo astral do Espírito comunicante ocupe parcial ou totalmente o campo livre deixado pelo corpo astral do médium. A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior espaço é cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico, deixando lugar para a cúpula com o corpo astral do comunicador. Este – o Espírito comunicante – deverá também sofrer um processo semelhante ao desdobramento astral, para permitir que sua cúpula e corpo astral possam justapor-se ao espaço livre deixado pelo médium. (...)

Na figura 16 mostramos esquematicamente o mecanismo de uma incorporação mediúnica completa. Há casos em que a parte astral do médium se desloca só parcialmente, permitindo que apenas uma fração do astral do Espírito comunicador entre em contato com a zona anímico-perispirítica daquele. Mesmo nestas condições pode haver comunicação, a qual poderá ser em parte direta e em parte telepática. Em semelhante circunstância há sempre possibilidade de controle das comunicações, por parte do médium. Este poderá interferir no processo, ainda mesmo que totalmente afastado, pois a ligação com a sua zona anímico-perispirítica não cessa. Há sempre a presença do cordão prateado garantindo o domínio do próprio equipamento somático.

A fim de tornar mais clara a presente exposição, lançaremos mão das descrições dadas por André Luiz, acerca do processo da incorporação mediúnica. Na obra Nos Domínios da Mediunidade*, Capítulo VI, o autor espiritual trata da psicofonia consciente:

"Nesse ínterim, os condutores, obedecendo às determinações de Clementino, localizaram o sofredor ao lado de Dona Eugênia.

O mentor da casa aproximou-se dela e aplicou-lhe forças magnéticas sobre o córtex cerebral, depois de arrojar vários feixes de raios luminosos sobre extensa região da glote.

Notamos que Eugênia-alma afastou-se do corpo, mantendo-se junto dele, a distância de alguns centímetros, enquanto que, amparado pelos amigos que o assistiam, o visitante sentava-se rente, inclinando-se sobre o equipamento mediúnico ao qual se justapunha, à maneira de alguém a debruçar-se numa janela." (XAVIER, F. C. - Nos Domínios da Mediunidade, Rio: FEB, 1955, p. 49)

O autor espiritual do trecho citado faz uma série de observações muito importantes e oportunas. Assim, por exemplo, ele comenta que, ao presenciar o referido processo de incorporação, ele se recordou das "operações de enxertia no mundo vegetal". Ali ele observava algo que poderia comparar-se a "sutil processo de enxertia neuropsíquica". De fato, a superposição do corpo astral do Espírito ao restante do equipamento mediúnico implica na justaposição, do cérebro astral da entidade comunicandora, ao cérebro fisiológico do médium. Embora grande parte da consciência do médium tenha se deslocado juntamente com a sua contraparte astral, ele ainda mantém o controle da situação, graças à sua ligação com o corpo físico através do "cordão prateado". Por isso o médium nunca está inteiramente inconsciente durante o processo de incorporação deste tipo. As ideias que lhe afluem ao cérebro por indução do cérebro da entidade podem, no momento, parecer-lhe ideias próprias. Mas, passado o transe, quase sempre ele se esquece exatamente do que lhe acudiu à mente na ocasião. Pode falar e escrever quase automaticamente, sem esforço, às vezes sobre assuntos ignorados por ele em estado normal. Entretanto o médium bem treinado consegue exercer rigoroso policiamento das expressões induzidas durante a incorporação. Do mesmo modo, ele pode reassumir imediatamente o total controle do seu organismo, expulsando o comunicador. Basta-lhe o querer.

Na obra a que nos referimos – Nos Domínios da Mediunidade – há referência a um tipo semelhante deincorporação mediúnica, ocorrido com uma excelente médium, já bem desenvolvida e portadora de altas qualidades morais. Nesse episódio uma entidade violenta é trazida por mentores espirituais e compelida a incorporar-se na referida médium. Vejamos como o autor espiritual descreve o interessante episódio visto do lado do mundo dos desencarnados, cujo processo ele denomina "psicofonia sonambúlica":

"A médium desvencilhou-se do corpo físico, como alguém que se entregava a sono profundo, e conduziu consigo a aura brilhante de que se coroava.

Clementino não teve necessidade de socorrê-la. Parecia afeita àquele gênero de tarefa. Ainda assim, o condutor do grupo amparou-a, solícito.

A nobre senhora fitou o desesperado visitante com manifesta simpatia e abriu-lhe os braços, auxiliando-o a senhorear o veículo físico, então em sombra.

Qual se fora atraído por vigoroso ímã, o sofredor arrojou-se sobre a organização física da médium, colando-se a ela, instintivamente.

Auxiliado pelo guardião que o trazia, sentou-se com dificuldade, afigurando-se-me intensivamente ligado ao cérebro mediúnico." (Opus cit. pp. 66 e 67)

O interessante relato prossegue esclarecendo que a médium, conquanto funcionando como um instrumento passivo exteriormente, possuía qualidades morais positivas capazes de exercer um controle rigoroso sobre as expressões verbais do comunicador. Um dos observadores desencarnados que presenciava o fenômeno indagou, do Mentor espiritual que dirigia as operações, se D. Celina não iria lembrar-se das palavras que o comunicante pronunciava por seu intermédio. A resposta foi:

"Se quiser, poderá recordá-las com esforço, mas na situação em que se reconhece, não vê qualquer vantagem na retenção dos apontamentos que ouve."(Opus cit. p. 69)

E mais adiante, após uma série de considerações, acrescentou:

"(...) A psicofonia inconsciente, naqueles que não possuem méritos morais suficientes à própria defesa, pode levar à possessão, sempre nociva, e que, por isso, apenas se evidencia integral nos obsessos que se renderam às forças vampirizantes." (Opus cit. p. 69)

Os fenômenos da obsessão e possessão serão facilmente compreendidos, se considerarmos a possibilidade de um médium suficientemente sensível defrontar-se com uma ou várias entidades maléficas ligadas a ele por débitos passados mais ou menos graves. Às vezes, a simples aproximação do espírito "cobrador" basta para desarticular a cúpula do médium assaltado, provocando-lhe a saída fora do corpo e dando oportunidade ao obsessor de apossar-se do veículo mediúnico. Em outras oportunidades pode ocorrer uma aderência do obsessor ao astral do médium. Desse modo as influências do espírito passam a misturar-se com as sensações e ideias do sensitivo. Nesta situação a entidade pode transmitir ao médium, através da aura vital e por simples informação telepática, os seus sintomas mórbidos e seus pensamentos negativos, devido à fusão das auras. Muitos processos obsessivos deste tipo manifestam-se exteriormente no paciente sob a forma de doenças psicossomáticas, neuroses e psicoses.

Os tratamentos por meio de métodos psicoterápicos ou psicanalíticos podem melhorar o doente, quando o obsessor é benigno e está ligado ao médium por laços afetivos ou outras razões de natureza mórbida, mas não por ódio ou vingança. Entretanto, se os motivos se prendem a questões sérias devidas a fortes ressentimentos ou a pesados débitos kármicos, a cura torna-se problemática. O recurso dos choques – insulínicos ou elétricos – costuma libertar temporariamente o doente da influência do obsessor, porque este último também é atingido, por influência reflexa, pela violenta comoção causada no paciente. Nesses casos, a entidade é mecanicamente compelida a afastar-se do sensitivo. Mas logo que as condições se tornam favoráveis, e se não houver uma intervenção por parte do plano espiritual, o perturbador voltará à carga novamente. Algumas vezes o retorno é mais fácil e danoso, por encontrar-se a vítima lesada pela brutalidade do tratamento.

Hernani Guimarães Andrade  
Livro: Espírito, Perispírito e Alma – Ensaio Sobre o Modelo Organizador Biológico
Hernani Guimarães Andrade Editora Pensamento

27 novembro 2018

Peregrina Luz anuncia o amanhecer de uma nova era




PEREGRINA LUZ ANUNCIA O AMANHECER DE UMA NOVA ERA


Filhas e filhos do coração,


Na densa noite que aturde a criatura humana, rica de tecnologia de ponta e pobre de sentimentos morais, surge peregrina luz, anunciando o amanhecer. A Nova Era, programada pelos guias da Humanidade, está colocando os seus alicerces no coração das criaturas humanas, preparando o período de plenitude que nos está prometido pelo Senhor desde os dias do Sermão Profético anotado por Marcos no capítulo 13 do seu Evangelho, que as expectativas humanas demoram-se aguardando as dores que deveriam chegar, produzindo a seleção dos trabalhadores do bem na edificação do mundo melhor.

As entidades venerandas que se comunicaram nos dias que precederem a Codificação do Espiritismo, revigoram a promessa de Jesus de que, se não fosse a abnegação de muitos, a destruição seria terrível e por isso o Pai Misericordioso procurou diminuir as dores que pesariam sobre a Humanidade, insatisfeita e invigilante. Anunciaram o momento da grande mudança para Mundo de Regeneração. Essa operação fantástica que vem ocorrendo desde os longínquos dias do surgimento da Doutrina Espírita, codificada na Terra, alcança o seu clímax nestes gloriosos e atormentados dias.

O ser humano, que parece haver perdido o endereço de Deus, atropela, deixando-se arrastar pelo sentimento confuso que lhe domina a mente e atormenta as emoções, sem saber o rumo a seguir. Felizmente, a Doutrina que restaura a palavra do Senhor, volve à praça pública, permanece no ar, é percebida hoje graças aos veículos de comunicação em massa, especialmente pelo método virtual, a todos ensejando informar-se dos acontecimentos transcendentes que estão sucedendo em prol da criatura renovada.

Nestes dias, em que aqui estivemos debatendo questões fundamentais do nosso Movimento, em alto clima de respeito e de paz, os dois mundos intercambiaram, através da mediunidade dilatada pela inspiração, buscando as melhores diretrizes para servirem de alicerce à realização que já se encontra em início.

O Brasil, a pátria do Evangelho, parece despertar do letargo a que vem sofrendo inevitavelmente, em consequência da mudança que se opera no planeta, também desperta para a realidade nova do ser em relação a si mesmo, à sociedade, à vida. E o Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, desperto para as realidades novas, compreende que a única diretriz de segurança para o êxito é a vivência do amor, a unificação das entidades em decorrência da união das criaturas humanas.

Conseguistes abordar temas delicados em clima de alta fraternidade, à semelhança do primeiro Concílio, em Jerusalém, em que Pedro e Paulo se encontravam no momento grave da união ou da separação. A humildade de Pedro, ajoelhando-se aos pés do pregador das gentes, reverteu os planos maléficos da divisão, mantendo o Cristianismo na linha direta do amor com Jesus. Assim também, vindes conseguindo essa identificação, colocando ao lado pequenas divergências que, de maneira alguma, podem influenciar o conjunto harmônico que tem por meta a fraternidade universal.

Mas, ainda estamos no período de lutas, como asseverou o insigne Codificador. Dificuldades apresentam-se em toda parte. Perturbações sutis umas, graves outras, eclodem em nossas Casas convidando as pessoas generosas, mas incautas, a divergirem e a dissentirem em lamentáveis processos de obsessões sutis umas, mais graves outras.

Somente o amor pode trabalhar essas anfractuosidades que surgem em nosso Movimento nestes dias de preparação do grande período de libertação da alma humana dos grilhões do passado, das cadeias do ontem que ainda são muito fortes no ego de quase todos nós.

Mantende o coração liberado de preconceitos de qualquer natureza. Abri os braços ao recolhimento das criaturas humanas, porém mantende os postulados da Doutrina invioláveis, sem enxertos de qualquer natureza, porque se é verdade que o pensamento da Codificação evolve cada vez mais, não menos verdade é que o faz dentro das raízes fixadas, pelo Mundo Espiritual, nas obras fundamentais.

O que parece novo é nada mais do que melhor interpretação dos conteúdos básicos do pensamento kardequiano. Mantende a fidelidade ao trabalho do Venerando apóstolo de Lyon, sob os auspícios do amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que nessa unidade trabalhemos o coração da Terra para os dias melhores do porvir.

Não temais permanecer fiéis aos deveres abraçados. Os aplausos não significam atitudes de coerência, porque muitas vezes o mal é aplaudido pelos seus aficionados, o erro é divulgado pelos seus apaixonados e o crime, não poucas vezes, goza de cidadania, em razão da intimidade daqueles que ainda se encontram no equívoco e habilmente entretecem as redes fascinantes da degradação e do desequilíbrio.

Jesus, filhas e filhos queridos, é o nosso alvo, é o nosso modelo, é o guia que nos serve de parâmetro para todas e quaisquer realizações. Diante de incógnitas ou de perguntas sem resposta, reflexionai: que faria o Mestre neste momento? E, intentando encontrar a solução que Ele daria, segui a inspiração que vos chegue sempre em tom de fraternidade e de misericórdia e a caridade estará guiando-vos na direção deste alvo, que é o momento final do nosso encontro com o Rabi Galileu.

Nós, os Espíritos-espíritas que estamos convosco, não descansaremos enquanto não se estabeleça na Terra o primado do Espírito imortal. E o materialismo, a crueldade, a dissensão e as extravagantes propostas da indignidade humana, cederão lugar à paz, à beleza, à busca da perfeição, ensejando-nos a perfeita comunhão com o mundo transcendental.

Espíritas, a vós vos cabe hoje a tarefa da recristianização da Humanidade. É verdade que ainda não se logrou a cristianização conforme o Evangelho. A Doutrina, nas páginas escriturísticas da Boa-Nova, ensejou a criação de doutrinas respeitáveis e religiosas, mas não aquela que foi vivida pelo Santo de Assis através da abnegação total e da total entrega ao amor. Renasce agora, desde os dias em que as vozes dos céus desceram à Terra, qual um exército, sob o comando do general da paz, para remover os grandes obstáculos que foram levantados pela incúria e aplainar o grande terreno da solidariedade humana.

A dor ainda é a bênção que Deus oferece aos seus eleitos. Através dela podereis ostentar as condecorações cristãs colocadas em vossas almas, as cicatrizes das feridas derivadas das lutas, do sacrifício e da abnegação. Mas, crede, em momento algum estareis a sós. Mantende-vos alertas para que nunca vos afasteis das diretrizes do sacrifício e da abnegação para os comportamentos louváveis, sem dúvida, mas das glórias ilusórias e dos prazeres e extravagâncias do agrado da maioria.

Cristo ainda é símbolo de luta e, enquanto houver lágrimas nos olhos e no coração das criaturas humanas, ei-lO entre nós, na multidão, enxugando essas lágrimas e esses suores para libertar a criatura de si mesma e cantar o Glória a Deus nas alturas. Adiante, servidores do bem e da verdade! Que o vosso sinal de identificação seja o amor. Que os vossos atos sejam lavrados da claridade no dia da verdade, sem sombra e sem qualquer manifestação de engodo ou de engano.

Abençoe-nos, filhas e filhos queridos, o Senhor de todos nós! São os votos que fazemos os Espíritos-espíritas aqui convosco hoje, amanhã e sempre.

Muita paz! Um abraço carinhoso do servidor humílimo e paternal de sempre,


Bezerra de Menezes
Psicofonia do médium Divaldo Pereira Franco, no encerramento da Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional, em Brasília, em 11 de novembro de 2018

26 novembro 2018

O Aborto e suas conseqUências - Marco Tulio Michalick




O ABORTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS



Será que ao abortar não estamos criando condições para que o espírito reencarnante fique revoltado e se torne um obsessor?

O aborto é o crime mais cruel que se pode cometer, pois você está tirando a vida de um ser humano sem direito de defesa. É um crime bárbaro.

Vocês não imaginam a dor que esse espírito reencarnante sente nesse momento tão doloroso.

No momento do aborto, ele perde a oportunidade de voltar a reencarnar e, dessa forma, poder se redimir de erros do passado, aproveitar a oportunidade de evolução concedida pela misericórdia divina.

Por isso, ocorre ao reencarnante o desequilíbrio pela rejeição, pois muitos necessitam voltar com aquela família em específico para resgatar débitos do passado.

O processo da reencarnação é traçado pelo Departamento da Reencarnação, onde é preparado o mapa da vida do reencarnante.

O encontro com os futuros pais nos sonhos é essencial para o conhecimento da tarefa de cada um, muitas vezes, amigos de outras vidas ou desafetos, que devem aproveitar a oportunidade para repararem seus erros.

Como temos o livre-arbítrio, cabe aos pais a decisão de abortar ou não. Antes do ato propriamente dito, há um trabalho todo especial feito pelos socorristas com o intuito de evitar o crime, porém a decisão final é do encarnado.

No momento do aborto, o espírito abortado sofre muito. No livro “Deixe-me Viver”, Luiz Sérgio descreve: Mas o feto urrava de ódio.

Logo presenciamos sua transformação, que se operou parcialmente de uma frágil criança para um homem já idoso. Os médicos aguardavam, mas ele mal podia sustentar a cabeça de homem no corpo de um feto de cinco meses.

Após o aborto, esse espírito precisa de tratamento, passando por algumas cirurgias perispirituais e tratamento psicológico, pois sua casa mental não esquece os momentos cruéis de seu assassinato.

Esse tratamento é lento, pois não é fácil conscientizar o abortado de que o aborto é um ato físico e o espírito não deve ficar lembrando dos fatos tristes que passou.

Em tratamento no plano espiritual, encontra-se metade bebê, metade adulto. Revoltados, uns choram, outros gritam palavrões, todos com muito ódio e rancor.

Revolta e Obsessão

Mas nem todos os abortados aceitam a ajuda dos socorristas e passam a obsediar os pais, os médicos e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, tiveram alguma ligação com o aborto.

Esses passam a ser obsediados tanto no plano físico quanto no espiritual. Os abortados colam-se aos seus assassinos para cobrar deles o direito de viver.

Na obsessão, os corpos saem do nível e os abortados buscam as rodas energéticas (chacras), alimentando-se através delas. O espírito encarnado vai perdendo as forças, ficando a mercê dos vampiros.

Existem o “Vale da Revolta” e o “Vale do Aborto”, para os quais diversos espíritos são atraídos pela vibração perispiritual. Não conseguimos calcular o horror deste lugar, onde vários espíritos são escravizados por outros mais fortes.

Vamos descrever uma passagem do livro “Deixe-me Viver”: Envolto por dez espíritos obsessores, vimos um aborteiro, que chamarei de Célio.

Tentamos ajudá-lo, mas sua forma, que não podemos dizer humana, tal a deformação perispiritual, toda gelatinosa, arrastava-se pelo solo negro e viscoso, movendo-se com dificuldade, ainda mais por carregar junto a si seus verdugos, também muitos deles ainda na forma fetal, no ponto da interrupção da gravidez.

Em Célio só havia a fisionomia sofredora, o resto de seu corpo não mais possuía forma humana. Destacava-se nele o semblante sofredor.

Mais parecia um verme, lutando para se livrar de seus verdugos, que lhe sugavam sem piedade. Célio me pareceu um enorme feto, tendo a cabeça humana deformada e, colado nele, suas vítimas.

Assim como Célio, ali estavam vários outros aborteiros que contribuíram não só para retardar o plano de Deus para a reencarnação, como também prejudicaram seus próprios corpos.

Mesmo nestes lugares, há um hospital para ajudar estes espíritos. A aura espiritual é que capta a luz do mais alto e uma mente ligada ao ódio não se alimenta de luz e, sim, de vibrações baixas. Neste momento, eles serão socorridos.

Métodos de aborto

Na maioria das vezes, as pessoas que vão abortar pensam que esse ato é rápido e sem dor para o feto. A realidade é outra. É muito doloroso para o abortado e os meios usados pelos médicos são desumanos.

Talvez se a pessoa tivesse essa informação antes, pensaria duas vezes ou mais antes de cometer esse crime.

Extraímos do livro “Os Fatos da Vida”, de Brian Clowes, alguns destes métodos utilizados pelos aborteiros.

Segundo o autor, dependendo da idade de gestação do nascituro e da condição física da mãe, o aborteiro tem uma variedade de métodos de aborto em seu arsenal.

Os abortos prematuros (os do primeiro trimestre) são feitos geralmente por dilatação e curetagem (D&C) ou sucção.

Os aborteiros usam métodos mais complexos para matar bebês nascituros no segundo e no terceiro trimestre. Estes incluem dilatação e evacuação (D&E), solução salina, dilatação e extração (D&X), prostaglandina, histerotomia e abortos com injeção intercardíaca.

No aborto por sucção, um poderoso aspirador é usado para sugar desmembrado o bebê em desenvolvimento, junto com sua placenta.

O abortista ou seu assistente junta ou checa as partes do corpo do bebê para se certificar de que o aborto foi completo.

No aborto por dilatação e evacuação, o abortista utiliza um grande fórceps para esmagar o bebê dentro do útero da mãe e removê-lo aos pedaços.

Já no aborto salino, uma solução concentrada de sal é injetada no útero da mãe. O bebê aspira e engole esse veneno. O sal não só causa extrema dor como queima a pele do bebê.

A perversidade maior ocorre no aborto por dilatação e extração, por ser feito com vinte semanas de gravidez e, além disso, ser difícil, devido à rigidez dos tecidos fetais nesse estágio de desenvolvimento.

O abortista usa fórceps para girar uma das pernas do bebê e puxar através do canal de nascimento.

Depois, perfura a parte posterior da cabeça com uma tesoura bem afiada e abre as lâminas, rasgando o tecido e fazendo um grande buraco na parte mole do pescoço do bebê. Finalmente, aspira o cérebro do bebê e completa o parto em poucos segundos”.

Aborto Moral & Estupro

Quanto ao Aborto Sentimental ou Moral, que se refere ao Estupro, sabe-se da dificuldade da mulher em enfrentar essa violência brutal, mas tirar o filho não é o caminho correto. Não se deve consertar um erro com outro.

Diz ainda Brian Clowes que há dois métodos comuns para se desfazer dos corpos dos bebês abortados durante o primeiro trimestre da gravidez:

Jogar fora pela lixeira ou pelo inskerator (um triturador que se instala debaixo de pias) ou se desfazer deles como resíduos biológicos num saco de plástico especial. Bebês abortados de tamanho maior são vendidos com freqüência para fins de pesquisas.

No livro “Aborto à Luz do Espiritismo”, de Eliseu Florentino da Mota Jr., colhemos as seguintes informações sobre o aborto eugênico ou eugenésico: É aquele praticado para evitar o nascimento de criança portadora de anomalia física ou psíquica.

Neste caso há sério risco de predisposição hereditária, seja por doenças da mãe durante a gravidez, seja ainda por efeito de drogas por ela tomadas durante esse período, tudo podendo acarretar para aquelas enfermidades psíquicas, corporais, deformidades etc.

Diante desse quadro, em nosso modo de entender, se a gestante de um filho portador de anomalia física ou psíquica não alcançar esses avançados progressos da medicina fetal ou se, mesmo tendo alcançado, a criança nascer portando deficiências, está evidente que estamos diante de débitos pregressos.

Devemos deixar claro que a mãe se exime de culpa quanto ao aborto espontâneo, que acontece naturalmente, ou seja, não foi provocado por ninguém.

Quanto ao aborto sentimental ou moral, que se refere ao estupro, sabemos da dificuldade da mulher em enfrentar essa violência brutal, mas tirar o filho daquele que lhe cometeu o estupro não é o caminho correto.

Não se deve consertar um erro com outro. Deus não permitiria que isso acontecesse se ela não tivesse débitos referentes à situação vivida neste momento.

O filho vindo nessas circunstâncias pode ser um amigo de outras reencarnações e ambos podem ter alguns resgates para efetuarem em conjunto.

Existem inúmeros tipos de aborto. Comentamos alguns para que o leitor tenha ciência sobre como é praticado e o grau de conseqüência perante as leis divinas, bem como a situação do abortado após o crime propriamente dito.

Talvez essa leitura possa deixá-lo perplexo, mas a situação é gravíssima. O Brasil é um dos países campeões em abortos. Calcula-se que 50 milhões de abortos, entre legais e clandestinos, sejam praticados em todo o mundo anualmente.

As estatísticas acima mencionadas levam à conclusão de que 2640 mulheres morrem a cada ano devido ao aborto ilegal.

O estudo de David Readon extraído do livro de Brian Clowes, mostrou que, em 1994, as mulheres que abortaram tinham um agrupamento de sintomas psicológicos que ocorrem com muito mais freqüência do que entre as mulheres que não abortam.

Esses sintomas incluem perturbações mentais ou flashbacks (63%), tentativas de suicídio (28%), crises histéricas (51%), perda de autoconfiança e de auto estima (82%), irregularidades nos hábitos de comer, tais como anorexia ou bulimia (39%), uso ilegal de drogas (41%) e perda do prazer durante a relação sexual (59%).

Não há dúvidas de que a maioria das mulheres que fizeram aborto sentem-se envergonhadas de suas decisões e acreditam que devem manter seus segredos para si próprias.

Consequências Psíquicas do Aborto

É interessante esse capítulo do livro de Eliseu Florentino da Mota Jr. que trata do arrependimento e remorso. Descrevemos onde ele explica a diferença:

Dentre as causas determinadas das anomalias psíquicas, é induvidoso que o remorso assume especial relevância, porquanto, ao contrário do arrependimento, que é o primeiro passo para a reabilitação diante de um erro cometido, ele determina o surgimento do complexo de culpa, levando a pessoa que eventualmente tenha errado a crises nervosas, chegando mesmo à loucura.

Concluímos aproveitando um caso que ele cita do Dr. E. Nathanson, médico ginecologista e ex-diretor da maior clínica abortiva do mundo, em um depoimento prestado durante um congresso internacional realizado no Colégio dos Médicos de Madrid, capital da Espanha, mostrando as conseqüências psíquicas do aborto para as pessoas envolvidas diretamente no processo de abortamento:

Refiro-me ao “Centro de Saúde Sexual”, situado a leste de Nova York. Tinha dez salas de cirurgia e 35 médicos especializados estavam às minhas ordens. Praticávamos 120 abortos diários, inclusive aos domingos, e só no dia de Natal não trabalhávamos.

Quando me encarreguei da clínica, tudo estava sujo e nas piores condições sanitárias. Os médicos não lavavam as mãos entre um aborto e outro e alguns eram praticados pelas enfermeiras ou simples auxiliares.

Consegui modificar tudo aquilo e transformá-la em uma clínica modelo em seu gênero. Como chefe de departamento, tenho a confessar que 60 mil abortos se praticaram sob minhas ordens e uns 5 mil foram realizados por mim pessoalmente.

Recordo que em uma festa que demos, algumas esposas dos médicos me contaram que seus maridos tinham pesadelos à noite e, gritando, falavam de sangue e de corpos de crianças destroçados.

Outros bebiam demasiado, alguns tomavam drogas e vários deles tiveram que consultar especialistas de desordens mentais. Muitas enfermeiras se tornaram alcoólatras e outras abandonaram a clínica, afetadas por sérias perturbações nervosas.

Esse é um assunto amplo, que envolve mais informações que infelizmente não temos como expor totalmente nesta matéria, mas que podem ser pesquisadas pelos leitores nos livros citados neste texto.

As pessoas devem pensar sobre cada palavra que foi escrita e analisar se vale a pena praticar o aborto, se vale a pena penalizar um espírito reencarnante com essas torturas e, posteriormente, prejudicar a si próprio ao contrair débitos muitas vezes incalculáveis.

Eu já ouvi depoimentos de mulheres que declararam a vontade de abortar, mas que, quando mudaram de idéia e resolveram ter o filho, disseram que ele era tudo de mais sagrado que tinham, sentiam-se felizes por não terem abortado.

Aquelas que já abortaram, procurem se redimir desse erro. Como? A caridade cobre uma multidão de pecados (Pedro 4:8). Dediquem-se à criança abandonada, atenda ao berço da criança pobre. Se puder ainda gerar, aproveite, pois talvez aquele que foi abortado volte para uma nova tentativa de reencarnar.

Se não tem mais possibilidades de gerar, existe a alternativa da adoção. Outra maneira é visitar orfanatos, confeccionar roupas para os pequeninos, comprar cobertores, que com certeza isentarão eles do frio que provavelmente passariam. Enfim, nunca é tarde para amar!


Marco Tulio Michalick
Revista Cristã de Espiritismo


25 novembro 2018

Perdão - Divaldo P.Franco



PERDÃO


“Se perdoardes aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai celestial vos perdoará os vossos pecados. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados". (Mateus, VI: 14-15)

O perdão na visão da Psicologia profunda é dar o direito de cada um ser como é. E também a nós o direito de sermos como somos. Se o próximo é assim, não nos cabe modificá-lo, mas se estou assim, tenho o dever de modificar-me para melhor.

Não posso impor-me ao outro, porque minhas palavras serão apenas propostas. Eu que estou desejando ser feliz tenho a psicologia da minha autotransformação. E nunca devolverei mal por mal; procurarei sempre retribuir o mal com o bem. Se o outro é um caluniador, não posso me permitir ser igual a ele.

Toda vez que fico com raiva a pessoa está me manipulando, e eu não deixo ninguém me manipular. Não posso permitir que um desequilibrado me oriente. Sou eu a pessoa saudável; não devo dar a ele a importância que se atribui. Devo olhá-lo como um terapeuta olha um doente.

Se tenho uma visão diferente da vida, e se desejo transmitir esta visão, é nobre; mas não posso esperar que o outro a acate, porque ele está em outro nível de evolução. Devo dar o direito ao outro de ser inferior, se isto lhe agrade.

Se achamos que ele nos ofendeu, a nossa é uma situação simpática. Se ele nos caluniou, tanto eu como ele sabemos que é mentira dele. Se nos traiu, somos a vítima e ele sabe que é nosso algoz. Então o problema é da consciência dele. Não devemos cultivar animosidade, e sim perdoar. Não ficarmos manipulados, dominados pelo ódio, odiando também.

Esquecer é outra coisa. Na luz da Psicologia profunda o perdão não tem nada a ver com o esquecimento. Na visão espiritualista o perdão é o total esquecimento. São dois pontos diferentes. Não devolver o mal depende de mim; esquecer depende da minha memória. Muita coisa eu queria esquecer e simplesmente não esqueço.

Se dou um golpe num móvel e causou uma lesão nos tecidos da mão, essa lesão só vai desaparecer com o tempo, quando o organismo se recompor. Eu posso reconhecer que não devia ter feito, mas esse reconhecimento não tira o dano que causei.

À luz da Psicologia profunda, o perdão é exatamente não devolver o mal. Tenha a raiva, mas não a conserve que faz muito mal. Á predominância da natureza animal, sobre a espiritual, questão 742 do Livro dos Espíritos. Sentimos o impacto e não temos como evitar a raiva, é fisiológico, reagimos no momento. Mas conservar a mágoa é da minha vontade.

Se eu conservar a mágoa tenho um transtorno psicológico, sou masoquista, gosto de sofrer. É tão maravilhoso quando a gente ouve: Coitado! E aí fica pior. O outro vai embora e a gente fica aquele depósito de lixo, intoxicando-se. O racional é nos libertarmos de tudo que nos perturba. Somos seres inteligentes e possuímos os mecanismos de libertação.

Geralmente dizemos: Mas ele não devia ter feito isto comigo. Mas fez, o problema é dele. Quem rouba, quem furta é que é o ladrão. Já está encarcerado na consciência culpada. A visão psicológica do perdão é diferente da visão espiritualista do perdão. Como seres emocionais sentimos o impacto da agressão, mas não devemos nos revoltarmos, e trabalhemos para esquecer.

A medida que formos trabalhando, a mágoa, a ofensa, vai perdendo o significado. A medida que vamos descobrindo nossos valores, ela vai desaparecendo. Quando estamos de bom humor, ouvimos até desaforo e dizemos: "Sabe que você tem razão?" Quando levantamos de mau humor, só de a pessoa nos olhar, perguntamos: "Qual é o caso?" Não é o ato em si; é conforme nós recebemos o ato.

Divaldo conta o caso de alguém que, na festa de aniversário, recebeu de uma pessoa que não gostava dela, como presente, um vaso de porcelana, com um bilhete: "Recebe o meu presente, e dentro dele o que você merece". Dentro dele havia dejetos humanos. No aniversário da pessoa que havia enviado tal "presente", o nosso personagem lhe enviou o mesmo vaso, com os dizeres: "Estou devolvendo o vasilhame. O seu conteúdo coloquei num pé de roseira, e estou lhe enviando as rosas que saíram dali".

É um ato de perdão, devolver em luz o que se recebe em trevas. O esquecimento somente vem quando a memória se encarrega de diluir a impressão negativa, o que demanda tempo, reflexão e auto-superação. Perdão não é conivência com a coisa errada.

Quando uma pessoa me agride, eu não estou de acordo com ele; simplesmente não estou contra ele. Se meu filho age erradamente, está aturdido emocionalmente, é ingrato, faz tudo quando me desagrada como se fosse de propósito, eu não estou de acordo, é lógico. Mas eu não posso ficar contra ele. Porque mais do que nunca ele precisa de mim; ele está doente. Não é normal, isto é, não é saudável uma atitude assim.

Mas então eu tenho o direito de me sacrificar? Sim, se aceitou a maternidade, a paternidade, não há condição difícil. Ser co-criador é co-participador. Será que Deus nos abandona toda vez que somos ingratos para com ele? que blasfemamos, que fazemos tudo quanto não devemos? Então o perdão não é conivência com a coisa errada. Não é uma atitude para fingir que tudo está bem.

Alguém nos prejudica e nos pede desculpa. Respondemos: "Ok! mas ele me paga". É melhor enfrentar a realidade. Quando alguém nos disser "me desculpe", responderemos "Não posso. Hoje, eu não posso. Estou muito magoado". A gente diz: "eu te perdôo!" e no outro dia amanhece com dor de cabeça, porque não digeriu. O que devemos é não devolver o mal que nos foi feito.

A pessoa nos diz uma palavra grave, e nós conseguimos segurar. Aí ela diz "você me desculpe, eu não tive a intenção... Você vai perdoar?" — Estou pensando. — Mas então não perdoa? você não é espírita? sou espírita, mas, agora, não tenho condição de perdoar, agora me dê licença. Geralmente, dizemos: "Perdôo de todo o meu coração"; perdoa, mas com ele nunca mais.

E ainda pensamos: "Quem me fizer, faça bem feito, porque não vai ter outra oportunidade". Entretanto, o meu problema não é com ele, é comigo. Seja gentil com você. Se eu me permito viver magoado, ressentido, sofrendo, como vou amar o outro?

Eu mereço ter uma vida melhor. Ao chegar ao escritório: "Bom dia!", o outro responde: "não vejo porque seja tão bom assim". Não nos ofendermos com isso; se ele está de mau humor é problema dele, a doença do mau humor requer tratamento psiquiátrico. Seja gentil com você. Ame-se. Não permita que ninguém torne sua vida insuportável, nem para você, nem para os outros.

Divaldo conta o caso da pessoa que foi visitar um hospital de doentes mentais e lhe chamou a atenção, o psiquiatra. Noventa por cento dos agitados passavam perto do psiquiatra, uns diziam: Dr. já estou curado; ele respondia: Ok!; outros falavam absurdos, e ele ouvia, silenciava, ou concordava, e continuava a caminhada. No final, o visitante perguntou o por que da atitude dele, ao que respondeu: Eu sou saudável, não posso me atingir com o que dizem ou fazem, pois são doentes. E aí podemos perguntar: Será que a Terra não é um grande hospital?

A pessoa saudável não faz o mal conscientemente a ninguém. Mas quando está de mal consigo, agride o outro. Então seja gentil com você; seja honesto; está com raiva, admita. Estou magoado, etc. Reprimir esses ressentimentos vai ficar lhe prejudicando. Digira sua raiva; digira o ressentimento. Não os mantenha. Necessário deixar cicatrizar; às vezes fica uma cicatriz e é necessário uma cirurgia.

Devemos nos empenhar em descobrir os nossos pontos vulneráveis. E Divaldo narra uma experiência pessoal. "Depois de anos de auto-análise, descobriu alguns pontos vulneráveis e começou a trabalhar esses pontos. Notou que atendendo o público, às vezes ficava irritado. E descobriu que o ponto vulnerável era o cansaço. Quando ia ficando cansado perdia um pouco a lucidez.

O autógrafo é a oportunidade de ter um contacto com as pessoas. Alguns são tímidos, não chegam para conversar, pensam que vai incomodar. Mas o atendimento às vezes é prolongado. Começa 18h30 e vai até 1h30, 2h da manhã ainda está em pé. Quando a fila estava grande, ficava ansioso. Fez sua autoterapia: Está ali porque quer; faz porque gosta.

Certo dia, uma senhora, o anjo bom, lhe disse: "Pelo menos me olhe". O sangue subiu, voltou. — Muito obrigado, porque a senhora acaba de me ajudar. "Como me fez bem. Descobri o ponto vulnerável".

Devemos dar o direito de a pessoa ser agressiva, mas não nos dar o direito de revidar a agressão. A raiva é semelhante a uma labareda, ou um raio. Pode provocar danos incalculáveis. É inesperada.

O rancor é calculado. É necessário que aprendamos a colocar um para-raio e evitemos os tóxicos do rancor. Porque esse rancor nos dá prazer. Observamos mesmo entre os companheiros espíritas. Quando alguém que não lhe é simpático sofre algum dano, algum sofrimento, a pessoa diz: "Ah! já esperava. Quando não faço, Deus faz por mim". Deus é pai dele; do outro só é padrasto.

Não tenha prazer na infelicidade de alguém. Se devemos ter compaixão de quem sofre, devemos sentir prazer com a felicidade dos outros. Por seu intermédio, Bezerra de Menezes fez uma prece em que pede em favor dos que fazem os outros sofrerem. Geralmente pedimos pelos que sofrem, mas os que fazem sofrer estão em situação pior.

Geralmente, quando alguém progride nós temos inveja. Deus sabe como ele conseguiu tal coisa. Devemos alegrar-nos com o triunfo dos outros. É uma forma de perdoar a vida, por não nos haver dado aquilo que outro recebeu. Saúde, sucesso financeiro, são responsabilidades, provações.


Divaldo Pereira Franco
Seminário sobre o Perdão
Compilado por José Argemiro da Silveira




24 novembro 2018

Vampirismo Espiritual - Leandro Martins



VAMPIRISMO ESPIRITUAL


Cansaço, baixa imunidade às doenças, falta de equilíbrio e concentração, bem como excesso de irritabilidade podem ser indícios de uma perda energética provocada pelo vampirismo.

Quando a Doutrina Espírita se refere aos vampiros, não fala de seres mitológicos com dentes agudos, adaptados para sugar o sangue das pessoas saudáveis, mas sim, de encarnados e desencarnados, que, desrespeitando as leis de Deus, se munem de sentimentos de vingança contra desafetos do passado, ou mesmo de sentimento oportunista e passam a viver à custa de energia vital de outrem.

Há também aqueles seres que embora tenham deixado o corpo físico, continuam ainda vivendo os prazeres obscuros da carne e dos vícios como o fumo e as drogas, bem como os desregramentos da bebida e do sexo, entre outros e que por se encontrarem impossibilitados de satisfazerem seus prazeres, induzem outras pessoas encarnadas a fazê-lo, e delas captam os fluidos, sentindo-se assim os mesmos prazeres produzidos pelo ato.

2. - Espíritos vampirizadores

O termo vampiro é usado analogamente para definir o ato do espírito que suga intencionalmente as energias do outro, em alusão à figura mítica de Drácula que hipnotizava suas vítimas e lhes sugava o sangue até a morte. No mundo espiritual encontram-se figuras distintas deste ser mas que atuam de forma muito parecida com as artimanhas do conhecido ser das trevas do folclore.

Há espíritos que sugam as energias sutis de seus hospedeiros a ponto de lhes causar sérios danos à saúde física e psicológica, uma vez que, além de lhes enfraquecer as forças, lhes envolvem em formas mentais grosseiras, que os martirizam mentalmente levando-os, às vezes, a casos de loucura. André Luiz chamou este processo de infecção fluídica, tão grave é o dano causado a vítima.

3. - Seres alienados

Ao desencarnar, o homem leva consigo todos os seus vícios e necessidades. Dependendo de sua nova situação no mundo dos espíritos e, principalmente da região onde habita, é muito comum que sinta as mesmas necessidades que tinha quando encarnado. Como não tem meios para desfrutar dos prazeres da vida corpórea, e sem condições de suprimir esta necessidade em sua nova condição na erraticidade, ele busca apoio naqueles encarnados que podem lhe oferecer formas para a satisfação destas vontades.

Temos aí o sugador de forças vitais, que se aproxima de um encarnado que detém as mesmas necessidades que as suas, induzindo-o a prática em excesso dos vícios em comum. Podemos citar os viciados no campo sexual, das drogas, do jogo, e até nas práticas mais comuns do dia a dia, mas que em excesso, oferecem sérios prejuízos, como o caso da alimentação, como mostram os ensinamentos do espírito André Luiz nos livros da Coleção Mundo Espiritual (FEB).

Encarnados se alimentam e bebem em excesso, o fazem por si e por outros espíritos, e quando em comportamento sexual vicioso, expõem sua vida íntima e privada a uma série de experiências no campo sexual.

4. - Os monstros

Narra a literatura espírita que, no plano espiritual, há entidades que pela ignorância e atraso moral, além de subjugar suas vítimas encarnadas e até mesmo desencarnadas, mantêm pela chamada ideoplastia seu perispírito em formas monstruosas. Sentem-se bem sendo temidos e reconhecidos pela forma que se apresentam e, normalmente agem em bandos visando intimidar os outros espíritos que encontram pela frente.

Ambientes terrenos onde impera o vício e a imoralidade são roteiros preferidos destes espíritos, uma vez que lá encontram por afinidade suas presas com maior facilidade. Segundo o Espírito Miramez pela psicografia de João Nunes Maia, na série de livros que trata da Vida Espiritual (Editora Fonte Viva), bem como pelos livros de André Luiz, os matadouros de animais estão repletos destas criaturas que sugam a energia do animal abatido, saciando dos seus instintos ferozes com os fluidos da presa.

Velórios e cemitérios cujos enterros não contam com a proteção fluídica da prece e a presença de espíritos nobres, podem também ficar vulneráveis à presença destas criaturas, que aproveitam para colher os resquícios de fluidos vitais dos recém-desencarnados.

5. - Vítimas do ódio

Espíritos que mantém desavenças enquanto encarnados, também no plano espiritual, continuam nutrindo o mesmo ódio por seus inimigos. Sentindo-se em vantagem, travam forte perseguição a seus desafetos, aproximando-se deles e, muitas vezes, induzindo-os a tomar atitudes que os prejudiquem como a prática de vícios, o excesso físico, além da escravidão psíquica. Os Centros Espíritas tem por função serem abrigos ao viajor que bate à porta em busca do auxílio para os males do corpo físico ou da alma.

Entre os males da alma, é na Casa Espírita que aquele que, sentindo a pressão da cobrança de uma entidade espiritual vingativa, encontra a proteção e o entendimento necessários ao resgate dessa dívida cármica. Em reunião mediúnica privativa, este espírito será lembrado das palavras do Nazareno que ensinou a perdoar o mal que nos fazem, e que esta dívida cármica será sim quitada com a moeda da ação caridosa em favor de alguém e sem espera de recompensas que não seja outra senão a da alegria na prática do bem.

Envolvido em uma psicosfera de amor e oração, este cobrador do além sentirá o envolvimento de sentimentos de paz e bondade que o estimulará a desistir do intento de vingança e a compreender que o perdão liberta quem perdoa e não quem é perdoado.

6. - Vampiros encarnados

Não podemos deixar de falar da obsessão dos encarnados aos desencarnados. É o que acontece devido ao apego aos entes queridos. Ao desencarnar o homem passa a habitar um mundo desconhecido do plano físico, porém, há laços afetivos que não se rompem. O pensamento daquele que fica aqui atravessa as barreiras físicas chegando à alma daquele que está do outro lado da existência.

Se o pensamento do encarnado for de inconformismo e desespero, isto poderá causar desequilíbrios ao desencarnado que poderá sentir a necessidade de voltar a viver junto a seus entes queridos; e infelizmente é esta atitude que muitos tomam ao ouvir os chamados incessantes de seus entes queridos encarnados.

Mas a presença do espírito normalmente se torna um problema, pois ele passa a dividir o espaço com os encarnados e a tirar deles, mesmo involuntariamente, seus fluidos vitais e, pela ligação psíquica, podem passar sua insegurança emocional. Assim ambos, encarnados e desencarnados, são prejudicados.

Há também o exercício irresponsável da mediunidade, quando espíritos são praticamente escravizados por médiuns que os usam para a satisfação de prazeres pessoais e a manutenção de sua vaidade medianímica, como ensina André Luiz no livro Nos Domínios da Mediunidade:

“Desencarnados são mais vampirizados que vampirizadores. Fascinados pelas requisições dos médiuns que lhe prestigiam a obra infeliz, seguem-lhes os passos, como aprendizes no encalço dos mentores aos quais se devotam.”

Fala também do futuro destes irmãos envolvidos no processo de simbiose mental: “Na hipótese de não se reajustarem no bem, tão logo desencarnem o dirigente deste grupo e os instrumentos medianímicos que lhe copiam as atitudes, serão eles surpreendidos pelas entidades que escravizaram, a lhes reclamarem orientação e socorro.”

7. - Proteção

A forma de fugir desta influência é seguir as orientações da Espiritualidade que recomenda a vigilância e a mudança de hábitos. Ninguém pode nos forçar a fazer aquilo que não desejamos desde que tenhamos forças para resistir, conforme ensina o saudoso escritor Herculano Pires: ”Vivendo no plano extra-físico, os vampiros agem sobre nós por indução mental e afetiva. Induzem-nos a fazer o que desejam e que não podem fazer por si mesmos. Quanto mais os obedecemos, mais submissos nos tornamos”.

É preciso ter força para ignorar e resistir às más orientações, perdoar seus inimigos. Além de melhorar sua condição espiritual, você ainda convida os seus obsessores a seguirem seus passos em direção ao bem.


Leandro Martins
Revista Espiritismo


23 novembro 2018

Desordens de comportamento e obsessão - Jorge Hessen



DESORDENS DE COMPORTAMENTO E OBSESSÃO


Charity era viciada em drogas e deu à luz o menino Paris. Nove anos depois engravidou novamente e teve a menina Ella. O menino era mais introvertido e tímido, enquanto Ella era extrovertida, teimosa e determinada.

Charity conseguiu ficar longe das drogas por alguns anos. Porém, quando Paris tinha 12 anos e Ella 3, teve uma recaída (por seis meses) com cocaína. Foi difícil para Paris perceber que sua mãe era uma viciada. Transtornado, com 13 anos de idade, ele sufocou e esfaqueou sua irmã 17 vezes com uma faca de cozinha. Após o crime, ligou para o 911, o número de emergência local. Paris disse à polícia que estava dormindo e que, ao acordar, viu que Ella tinha se transformado em um demônio em chamas. Então, ele teria pegado a faca e tentado matar o “demônio”.

Em 2007, Paris foi condenado a 40 anos de prisão pelo assassinato. Charity estava convencida de que o crime não havia sido um acidente ou resultado de uma psicose temporária, pois, para ela, Paris realmente quis matar a irmã. Charity acredita que a recaída nas drogas contribuiu para deixar Paris furioso. Entretanto, do mesmo modo crê que grande parte do que está por trás da personalidade do filho seja genética, pois o pai de Paris tinha esquizofrenia do tipo paranoica, caracterizada por exemplo pela presença de ideias frequentemente de perseguição, em geral acompanhadas de alucinações.

Cremos que o ambiente familiar e social tem papel importante no desenvolvimento e manutenção de transtorno de conduta. Em alguns casos o uso de álcool e drogas pela mãe durante a gestação, e também de alguns medicamentos, já foram confirmados. As pessoas com transtorno de conduta são caracterizadas por padrões persistentes de comportamento socialmente inadequado, agressivo ou desafiante, com violação de normas sociais ou direitos individuais. São pessoas carentes de amor e de apreço pela sociedade, por isso ignoram o outro. Adotam costumes criminosos sem nenhum remorso, conservando-se frios e insensíveis ao que ocorre ao seu redor.

Para a psicologia o “self” nessas pessoas é desconectado do “ego”, padecendo uma rachadura que impede o completo relacionamento que determinaria a sua adaptação ao grupo social. O Espiritismo explica que isso procede de legados morais e espirituais que brotam das experiências infelizes de outras existências, quando o Espírito delinquiu, camuflando a sua culpa e se esquivando da coexistência social. E há em muitos casos influências espirituais que podem levar a desviosde conduta e mau caráter.

Allan Kardec esclarece que há vários tipos de obsessão, sendo o mais grave o de subjugação, em que o obsessor interfere e domina o cérebro do encarnado. A subjugação pode ser psíquica, física ou fisiopsíquica. Assim, as doenças mentais ou físicas também podem, de acordo com o conhecimento espírita, sofrer influências externas.

Recuando à época de Jesus, conferimos que os evangelistas anotaram diversos episódios de obsessões. A exemplo de Lucas, que descreveu o homem que se achava no santuário, possuído por um Espírito infeliz, a gritar para Jesus, tão logo lhe marcou a presença: “que temos nós contigo?”. [1] Numa ação obsessiva, seguida de possessão e vampirismo, o evangelista Marcos escreveu sobre o auxílio seguro prestado pelo Cristo ao pobre gadareno, tão intimamente manobrado por entidades cruéis, e que mais se assemelhava a um animal feroz, refugiado nos sepulcros. [2] No episódio da obsessão envolvendo alma e corpo, o apóstolo Mateus anotou que o povo trouxe ao Mestre um homem mudo, sob o controle de um Espírito em profunda perturbação e, afastado o hóspede estranho pela bondade do Senhor, o enfermo foi imediatamente reconduzido à fala. [3]

Na obsessão indireta, cuja vítima padece de influência aviltante, sem perder a própria responsabilidade, o discípulo amado João registrou que um Espírito perverso havia colocado no sentimento de Judas a ideia de negação do apostolado. [4] E na complicada obsessão coletiva causadora de “moléstias-fantasmas”, encontramos o episódio em que Filipe, transmitindo a mensagem do Cristo entre os samaritanos conseguiu que muitos coxos e paralíticos se curassem, de pronto, com o simples afastamento dos Espíritos inferiores que os molestavam. [5]

Diante dessas inquietações espirituais, Emmanuel afirma que o Novo Testamento trata o problema da obsessão com o mesmo interesse humanitário da Doutrina Espírita. Em face disso, devemos manter-nos atentos e ampliar o serviço de socorro aos processos obsessivos de qualquer procedência, porque os princípios de Allan Kardec revivem os ensinamentos de Jesus, na antiga batalha da luz contra a sombra e do bem contra o mal. [6]

Jorge Hessen

Referências bibliográficas:

[1] Lucas 4: 33,35

[2] Marcos 5: 2,13

[3] Mateus 9: 32,33

[4] João 13: 2

[5] Atos 8: 5,7

[6] Xavier, Francisco Cândido. Seara dos Médiuns, ditado pelo espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2001