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30 novembro 2013

Alma ao Socialismo - Léon Denis


ALMA AO SOCIALISMO

Em todos os tempos, as almas sensíveis, emocionadas pelo espetáculo das prolongadas tribulações e das negras misérias da Humanidade, assim como as que por si mesmas conheceram o infortúnio dos maus dias, hão ideado sistemas mais ou menos práticos, capazes de pôr termo aos sofrimentos dos homens. Desde que, porém, se pretendeu aplicá-los, os que o tentaram, esbarraram em decepções bem amargas. É que se não havia levado muito em conta o papel da Terra na grande harmonia universal, nem sabido adaptar ao grau de sua evolução as reformas, necessárias, mas, amiúde, prematuras.

As revoluções só têm feito, as mais das vezes, deslocar os abusos. Num progresso lento, contínuo e, sobretudo, na educação do povo, é que, principalmente, se encontra o “processus” mais eficiente para que neste mundo se realizem os aperfeiçoamentos entrevistos.

O Socialismo atual, também, quer estabelecer uma ordem de coisas que seja um composto de justiça e progresso. Mas, para isso, terá, antes de tudo, que se inspirar num ideal elevado, numa doutrina espiritualista, que constitua como que o cimento que ligue os seus elementos diversos, a fim de com eles formar um sistema homogêneo, uma força viva e benfazeja. Isso, entretanto, o de que sempre careceram as teorias socialistas, por demais impregnadas de materialismo.

Ora, esse ideal, a Doutrina, a Revelação dos Espíritos lhes vem oferecer, mediante as provas experimentais demonstrativas da existência e da sobrevivência da alma.

O moderno espiritualismo traz ao Socialismo a revelação da vida universal e de suas leis, cujo conhecimento é indispensável a todos os que trabalham pelo progresso social. Não sendo mais que um dos aspectos, uma das formas da vida universal, a vida humana tem que se adaptar a esta, tomando-a no seu sentido profundo e no seu objetivo, sob pena de ver todas as obras sociais atacadas de impotência e de esterilidade, porquanto, nada de durável se pode edificar fora da lei geral da evolução e da harmonia.

Para o materialista, a vida terrena, sem precedentes e sem conseqüentes, devota curtíssima duração aos sentimentos e aos liames que unem os homens. Porém, graças aos testemunhos dos defuntos, ampliam-se ao infinito as perspectivas. O nosso destino se desdobra, através dos tempos, numa sucessão de existências inumeráveis, cada uma das quais é um meio de educação, de ascensão gradativa, de evolução do ser, no sentido do bom, do perfeito.

Desde logo, pois, a vida adquire maior valor e o destino toma uma amplitude que escapa a toda e qualquer mensuração. A solidariedade e a fraternidade, que constituem os princípios essenciais do Socialismo, já não ligam somente os homens no presente, mas em todas as fases de sua imensa evolução. A fraternidade se torna uma das leis da vida universal, resultando daí ficarem as instituições, as obras humanas, fecundadas e como que iluminadas.

Vem depois o conhecimento do que somos, da nossa dupla natureza, perecível uma, a outra imortal e, conseguintemente, a solução dos problemas até aqui insolúveis, da vida, do livre-arbítrio e da responsabilidade, a conseqüência dos atos a recair sobre seus autores, a demonstração da justiça e o aperfeiçoamento de todos pelo trabalho, pelo estudo, pela utilização das forças morais inatas no homem.

Tais são os dados capitais desse ensino, dessa revelação, ao mesmo tempo científica, experimental e filosófica, que não pode ser abafada, desnaturada, falsificada, porque tem por intérpretes os milhões de vozes que se elevam em todos os pontos do Globo e que, fazendo umas a contraprova do que dizem as outras, nos informam das condições da vida futura e das suas leis.

Esse ensino penetra em todos os domínios do pensamento, toma pouco a pouco o lugar do dogmatismo dos séculos passados, das formas materiais, apoiado exclusivamente na consciência e na razão. E, unicamente a partir do dia em que o houver adotado, é que o Socialismo se achará em condições de trabalhar eficazmente na educação do povo, na reforma do ser humano, a fim de reprimir as paixões e o egoísmo, os ódios de classe, até hoje os maiores obstáculos à realização de seus objetivos.

Adotando esta ampla doutrina espiritualista é que o Socialismo alcançará o seu máximo de irradiação, toda a sua potencialidade regeneradora e logrará implantar na Terra um estado de coisas conforme a suprema lei de progresso e de justiça. Conservar-se-á estéril, enquanto ao programa das reformas materiais não juntar as forças do Espírito.

É preciso dar uma alma ao Socialismo!

Cada vez mais acerba e ardorosa se faz a luta pela vida, pois, em vez de restringirem as necessidades materiais, o que seria o remédio melhor, os homens as multiplicam em demasia. Todos os dias se criam necessidades fictícias, imaginárias, que mais pesado tornam o jugo da matéria, do mesmo modo que são desprezadas as necessidades espirituais, os tesouros da inteligência e do coração, para cuja aquisição viemos especialmente a este mundo. Daí resulta que, para a maioria dos homens, perdido ficou o objetivo da existência, restando-lhes recomeçá-la em condições mais penosas, mais dolorosas.

Ignorante da conseqüência de seus atos, que sobre ela recaem, e das leis do destino, a Humanidade prepara dias sombrios para o seu amanhã, dias que perdurarão até que a luz do Alto e a Revelação dos Espíritos lhe venham, enfim, clarear o caminho.

O papel do Espiritismo na educação social tem que se patentear, porque constitui uma inovação, necessária do ponto de vista filosófico, e se torna assim correlativo com os trabalhos dos sábios, orientados para o estudo das ondas que formam parte integrante dos feixes da vida universal.

Filosofia e Ciência têm que chegar, paralelamente, num sentido abstrato e concreto, aos mesmos resultados: ampliação do pensamento humano e extra-humano, do ponto de vista filosófico, por efeito de uma visão científica, precisa, clara e racional.
Diante desses vastos domínios da vida universal, em face da meta sublime que a alma colima através de suas peregrinações, que significação têm as vãs distinções de castas e os preconceitos da riqueza?

A noção das responsabilidades pode evitar muitas quedas e atenuar muitos ódios. Um movimento de igualdade aproxima todas as situações. Compreender-se-á que a injustiça da sorte é apenas aparente, que as provações têm sua razão de ser para a reparação das faltas do passado e a conquista de um futuro melhor.

Então, a malevolência, a inveja e o egoísmo poderão ceder lugar ao altruísmo, e a fraternidade deixará de ser uma palavra carente de sentido. Por isso que perceberemos o quão intimamente estamos ligados uns aos outros, em nossa eterna ascensão.

E o mal? perguntarão.

O mal não é senão o estado de inferioridade dos seres e dos mundos. Enfraquece com a evolução geral e acaba por desaparecer. E seu esforço de subida para o bem, para a luz, o próprio ser constrói sua consciência, sua personalidade, e na sua mesma elevação encontra a alegria e a recompensa.


Léon Denis


Fonte: Reformador (01/4/1925), órgão de divulgação da Federação Espírita Brasileira

29 novembro 2013

Uma Tomada de Consciência - José Herculano Pires



UMA TOMADA DE CONSCIÊNCIA

O apego ao contingente, ao imediato, apaga na consciência dos nossos dias o senso da responsabilidade espiritual. Nem mesmo a ronda constante da morte consegue arrancar o homem atual da embriaguez do presente. O problema do espírito e da imortalidade só se aviva quando ligado diretamente a questões de interesse pessoal. O católico, o protestante e o espírita se equivalem nesse sentido. Todos buscam os caminhos do espírito para a solução de questões imediatistas ou para garantirem a si mesmos uma situação melhor depois da morte.

A maioria absoluta dos espiritualistas está sempre disposta a investir (este é o termo exato) em obras assistenciais, mas revela o maior desinteresse pelas obras culturais. Apegam-se os religiosos de todos os matizes à tábua de salvação da caridade material, aplicando grandes doações em hospitais, orfanatos e creches, mas esquecendo-se dos interesses básicos da cultura. Garantem os juros da caridade no pós-morte, mas contraem pesadas dívidas no tocante à divulgação, sustentação e defesa de princípios fundamentais da renovação da cultura planetária.

A imprensa, a literatura, o ensaio, o estudo, a fixação das linhas mestras da nova cultura terrena ficam ao deus-dará. Falta uma tomada de consciência, particularmente no meio espírita, da responsabilidade de todos na construção e na elaboração da Nova Era, que é trabalho dos homens na Terra.

Ninguém ou quase ninguém compreende que sem uma estruturação cultural elevada, sem estudos aprofundados no plano cultural, que revelem as novas dimensões do mundo e do homem na perspectiva espírita, o Espiritismo não passará de uma seita religiosa de fundo egoísta, buscando a salvação pessoal de seus adeptos, precisamente aquilo que Kardec lutou para evitar.

A finalidade do Espiritismo, como Kardec acentuou, não é a salvação individual, mas a transformação total do mundo, num vasto processo de redenção coletiva. Proporcionar aos jovens uma formação cultural apoiada na mais positiva e completa base espiritual, que mostre a insensatez das concepções materialistas e pragmatistas, dando-lhes a firmeza necessária na sustentação e defesa dos princípios doutrinários, não é só caridade, mas também realização efetiva dos objetivos superiores do Espiritismo nesta fase de transição. Sem esse trabalho não poderemos avançar com segurança e eficácia na direção da Era do Espírito. Temos de dar às novas gerações a possibilidade de afirmarem, diante do desenvolvimento das Ciências e do avanço geral da Cultura, como disse Denis Bradley: “Eu não creio, eu sei!” Porque é pelo saber, e não pela crença, pela fé racional e não pela fé cega, pelo conhecimento e não pelas teorias indemonstráveis que o Espiritismo, como revelação espiritual, terá de modelar a nova realidade terrena, apoiado na confirmação científica, pela pesquisa, dos seus postulados fundamentais. A revelação humana confirma e comprova a revelação divina.

Esse é o problema que ninguém parece compreender. Todos sonham com o momento em que a Ciência deverá proclamar a realidade do espírito. Mas, essa proclamação jamais será feita se a Ciência Espírita não atingir a maioridade, não se confirmar por si mesma, podendo enfrentar virilmente, no plano da inteligência e da cultura, a visão materialista do mundo e a concepção materialista do homem. Por isso precisamos de Universidades Espíritas, de Institutos de Cultura Espírita dotados de recursos para uma produção cultural digna de respeito, de Laboratórios de Pesquisa Psíquica estruturados com aparelhagem eficiente e orientados por metodologia segura, planejada e testada por especialistas de verdade, capazes de dominar o seu campo de trabalho e de enfrentar com provas irrefutáveis os sofismas dos negadores sistemáticos. É uma batalha que se trava, o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, agora desenvolvido com todos os recursos da tecnologia.

Chega de pieguice religiosa, de palestras sem fim sobre a fraternidade impossível no meio de lobos vestidos de ovelhas. Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada à crença simplória, de falações emotivas que não passam de formas de chantagem emocional. Precisamos da Religião viril que remodela o homem e o mundo na base da verdade comprovada. Da caridade real que não se traduz em esmolas, mas na efetivação da fraternidade humana oriunda do conhecimento de nossa constituição orgânica e espiritual comuns, ou seja, da inelutável igualdade humana. De exposições sábias e profundas dos problemas do espírito, nascidas da reflexão madura e do estudo metódico e profundo. Temos de acordar os dorminhocos da preguiça mental e convocar a todos para as trincheiras da guerra incruenta da sabedoria contra a ignorância, da realidade contra a ilusão, da verdade contra a mentira. Sem essa revolução em nossos processos não chegaremos ao mundo melhor que já está batendo, impaciente, às nossas portas.

Não façamos do Espiritismo uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. Ele nos oferece uma concepção realista do mundo e uma visão viril do homem. Arquivemos para sempre as pregações de sacristão, os cursinhos de miniaturas de anjos, à semelhança das miniaturas japonesas de árvores. Enfrentemos os problemas doutrinários na perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais. Reconheçamos a fragilidade humana, mas não nos esqueçamos da força e do poder do espírito encerrado no corpo. Não encaremos a vida cobertos de cinzas medievais. Não façamos da existência um muro de lamentações. Somos artesãos, artistas, operários, construtores do mundo e temos de construi-lo segundo o modelo dos mundos superiores que esplendem nas constelações. Estudemos a doutrina aprofundando-lhe os princípios. Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu Evangelho. Essa é a nossa tarefa.

José Herculano Pires 

Fonte: Jornal “Mensagem”, órgão de divulgação do Grupo Espírita Cairbar Schutel, sob a direção de J. Herculano Pires - setembro de 1975 - ano I, nº 4 - São Paulo-SP.

28 novembro 2013

Sobre o Comportamento - Jaci Regis


SOBRE O COMPORTAMENTO

O ponto central de qualquer discussão sobre o comportamento humano, sob a ótica espírita, é a liberdade. Somente a liberdade pode criar condições para o real crescimento do espírito. Não apenas a liberdade social, externa. Mas a liberdade interna, que é o espaço que cada um realiza em si mesmo, para manipular suas energias. Como se vê, essa liberdade não tem um sentido de inutilidade e anarquia emocional, mas flui dentro de um sentido de apreensão global do ser e de sua relação com os outros, que são, por seu turno, outros tantos espaços de liberdade conquistada.

A questão da oposição entre o livre-arbítrio e o determinismo, exprimindo o conflito da vontade na construção do destino, na verdade reduz-se dialeticamente à contradição, entre a liberdade e a não-liberdade, como a tese da plenitude espontânea e antítese da contenção pelo reconhecimento da plenitude espontânea do outro. A liberdade essencial é, nessa visão, uma questão de relação humana, que a compreensão plurivivencial ou continuum vivencial do Espiritismo esclarece e elucida.

Por outro lado, na visão autenticamente espírita, não há porque nivelar imperfeição com o mal. A imperfeição é a nossa marca natural. Talvez sejamos sempre imperfeitos. Por isso, “a primeira lição comportamental do Espiritismo é que devemos nos livrar da angústia da perfeição, a fim de que possamos equacionar nossa própria imperfeição”.

O Espiritismo valoriza o corpo, a vida presente e incorpora as noções de tempo e espaço, causa e efeito, numa dinâmica capaz de libertar tanto da sombra do passado, quanto do medo do futuro, para exaltar o momento em que se exercita o único bem imperecível, que é a vida imortal que cada um possui, como acervo inalienável.

O moralismo, erguido falsamente como moral e ética, impôs uma visão dolorosa, tenebrosa, sombria à vida terrena, potencializando a condição natural de transitoriedade e insegurança que são apanágios do estágio evolutivo na média da humanidade. Os impulsos, as emoções naturais, foram catalogadas como caminhos da perdição e impôs-se o cerceamento, o recalque, como meta salvacionista, embora a angústia, a não-realização que acarretavam.

Com isso, o sentido estético da vida diluiu-se no medo das tentações demoníacas, sempre afoitas em perder o homem, a arrastá-lo para o umbral, para o inferno, a obsidiá-lo. Para ganhar um céu futuro, exigiu-se um não-viver, como se a vida fosse dividida, compartimentalizada irremediavelmente e não um fluxo ininterrupto englobando tempo e espaço, causa e efeito. O amor, o belo, a poesia, o sentido livre da criatividade foram comprometidos pela visão sombria da natureza pecaminosa que cada um trazia como marca indelével, seja do pecado original ou das dívidas do passado.

Formas de vivência, como o sexo, o amor, a paixão, exprimindo a emoção natural de cada um e convenções sociais, como o casamento, a família, o divórcio, a natalidade, por onde se escoa a emoção humana, precisam ser pensadas sob o enfoque libertador do Espiritismo global, autêntico, questionando o que existe na realidade social, para que surja uma contribuição revolucionária que remodele falsas concepções tidas como verdades e que não apenas se autodestroem, como infelicitam as pessoas, até em nome de Deus.

Reclama-se, porém, contra o que parece um excesso de teorização e pedem-se noções objetivas, claras, determinando o que é e não é compatível com a moral espírita. Todavia, é da essência do próprio Espiritismo deixar que cada um elabore seu código moral, seus valores, para o que o conteúdo da Doutrina oferece subsídios fundamentais.

A questão é encontrar coragem e sentido para romper com as tenazes de um moralismo castrador, colocado como meio de elevação e superação, mas que copia diretrizes que o tempo descartou.

O comportamento espírita baseia-se no sentido libertador, na ruptura que o Espiritismo pode significar se conseguir se desatrelar de imposições culturais superadas e projetar uma nova noção de moralidade que não cerceie, contingencie ou castre o espírito.

Jaci Regis

Fonte: Abertura - Jornal de Cultura Espírita, maio de 1987, ano I, nº 2. Licespe - Santos-SP.


27 novembro 2013

Avaliação - Krishnamurti de Carvalho Dias

  
AVALIAÇÃO

Um pouco de realismo pragmático, de objetivismo ou objetividade, não fazem mal a ninguém, são parte da racionalidade, que só ajuda em toda e qualquer situação.

Puxar pela razão, deixar as emoções de lado e, com a cabeça fria, os pés no chão, bem lucidamente, agir — eis uma receita que serve para tudo. Inclusive para o movimento espírita.

Estamos diante de um fato consumado, um perfeito “já era”, aquela situação em que nossas avós diziam — “o que não tem remédio, remediado está”. O movimento espírita em sua maioria fez uma decidida opção pela religiosidade, mandando às favas tudo que Kardec disse a respeito. A minoria que não fez isso é muito pequena, não tem como e não pode sequer pretender mudar nada: trata-se de uma manifestação de livre-arbítrio de pessoas conscientes, maiores, vacinadas, que já sabem contar até dez. Por que teríamos nós que perder tempo com quem já se decidiu claramente pelo que quer? “Fi-lo porque qui-lo”.

É a hora de entender que nada mais há a fazer. Tudo que precisava ser dito, ser informado, divulgado, colocado como argumentação e orientação, já foi feito. Vai já para uma década a campanha de revelação feita por confrades sinceros e dedicados, que não fizeram segredo nenhum e em linguagem muito clara puseram ao alcance de todo mundo a informação-bomba: para Kardec, o Espiritismo nunca foi uma religião; essa ideia foi inventada pela Igreja e Kardec combateu-a, repeliu-a.

Não é mais hora de continuar polemizando e batalhando por nada mais: os espíritas estão divididos entre religiosos e não-religiosos e cada facção deve assumir seu próprio destino e prepara-se para seguirem assim, separados, procurando salvar apenas um relacionamento pacífico, harmonioso, solidário, entre si. Afinal, somos civilizados.

O problema só em parte é de informação. A revelação de que Kardec não aceitava a ideia de uma “religião espírita” nunca foi secreta, reservada, sigilosa ou escondida. Esteve sempre onde está: no bojo da “Revista Espírita”, em muitos livros da Codificação. Só não topou com esses textos quem é alienado, não lê ou se lê o faz mal, pela metade, cabeceando de sono, apenas por dever, tropeçando nas palavras, sem analisar.

Kardec foi bem claro, bem explícito: “O Espiritismo não é uma religião. Do contrário, teria culto, templos, ministros. Os fatos protestam contra essa qualificação”. “É uma doutrina filosófica que tem consequências religiosas, mas em absoluto não constituiu uma religião, pois não tem ritos, nem culto, templo e ninguém entre os adeptos tomou ou recebeu o grau de ministro ou grão ministro. A crítica é que inventou isso”.

Então a questão não é tanto de revelar, informar, divulgar: os textos estão aí mesmo, é só acessá-los. A questão é bem outra: é de amadurecimento, é de preferência, de opção.

A maioria esmagadora das pessoas entrou para o Espiritismo, mas não deixou ainda, efetivamente, o Espiritismo entrar na cabeça delas. Ao mesmo tempo, elas saíram das igrejas, mas não saíram ainda da religião.

Com esse quadro, compreendemos que não dá mesmo para acontecer outra coisa senão isso que já ocorreu: quem é religioso por convicção, por limitação, não está a fim de pensar em coisa diferente disso e sente-se no Espiritismo como se estivesse em apenas “uma outra religião”.

Pode chover Kardec na cabeça delas que não adiantará nada: um bloqueio intelectual impedirá fatalmente que pensem algo diferente do que se autolimitaram pensar e só entenderão o movimento por essa ótica autofabricada — como uma religião, a “sua religião”, a religião delas, as pessoas que assumiram isso. Isso, na verdade, bem pouca diferença faz: pensar o Espiritismo assim ou assado, pouco o afeta, realmente; ele continua essencialmente como sempre foi, tal como produzido por Kardec — como ciência e filosofia. A opinião que fazem dele tem muitíssimo pouco efeito real sobre sua natureza: durante milênios acreditou-se que o sol rodava em redor da terra e nem por isso o sol deixou de ser o que é.

Mas há um subproduto indesejável desse fato: a predominância dos religiosos, o predomínio que eles têm, ocupando todos os espaços do movimento, gera um quadro muito claro de afastamento, barramento, impedimento de quem não pensa religiosamente. Quem não afina com a maioria vai para a cerca, numa eterna “regra-três” e desse ostracismo não se volta mais. Pode ser sócio, ser lembrado para soltar dinheiro nas listas, comprar rifas etc; mas aproveitado, considerado, convidado para cargos, chamado para colaborar, ser ouvido e cheirado — isso nunquinha.

O espírito religioso é separatista, é exclusivista, age por banimento de quem é diferente, de quem não pensa igual, é sectarista e isso tem sido demonstrado repetitivamente, monotonamente, ao longo destes anos todos que durou — sim, pois já acabou, tornou-se fato consumado — a escalada de conquista do poder pelos religiosos.

Em lugar de se ficar disputando espaço com quem não está a fim de ceder ou conceder nada, o que se tem de fazer é largar tudo na mão deles e retirar-se: com isso, cada instituição que optou pelo religiosismo ficará homogênea, sem oposições internas, sem dissidentes. Por outro lado, os que se retiram devem agrupar-se formando novas instituições, que nos respectivos estatutos se declararão não-religiosas, ficando homogêneas também, igualmente sem oposições e dissidências internas.


Krishnamurti de Carvalho Dias
 
Fonte: Espiritismo e Unificação, fevereiro/março de 1987, Ano XXXIV, nº 410/411. Periódico publicado pela Divulgação Cultural Espírita Editora (Dicesp) - Santos-SP.


26 novembro 2013

Ética e Progresso - Deolindo Amorim


ÉTICA E PROGRESSO

Assim como o organismo humano e o organismo animal estão sujeitos a doenças, muitas vezes incuráveis e dolorosas, também o organismo social adoece em pequena ou grande escala. Por isso mesmo, há uma disciplina que se ocupa justamente das doenças da sociedade: a Patologia Social. É matéria, principalmente, do interesse dos sociólogos, antropólogos e especialistas em Psicologia Social.

Mas, não se deve estabelecer analogia entre as doenças da sociedade e as doenças do ser humano, individualmente, como já se fez noutros tempos. Sim, noutros tempos, porque havia em determinados círculos intelectuais, a bem dizer no apogeu da concepção positivista, a ideia de que os fenômenos sociais têm correspondência com os fenômenos biológicos. Então, as doenças do indivíduo e as da sociedade poderiam ser consideradas analogicamente. E não faz mal lembrar que, por influência desse pensamento, a Psicologia ficou “enquadrada” na Biologia por muito tempo, tendo-se tornado ciência autônoma à custa de muita discussão e, assim, pela força mesma das coisas.

É certo que a sociedade, com os seus desequilíbrios, concorre muito para que indivíduos e grupos adoeçam. Vive-se, hoje, por exemplo, em constante estado de tensão, porque a maioria está ficando cada vez preocupada com a poluição nos grandes centros urbanos, a “disparada” do custo de vida, a insegurança nas ruas, nos ônibus, no trabalho e até mesmo dentro de casa, onde cada qual deveria ter o seu refúgio tranquilo, depois da luta cotidiana do ganha-pão.

Alguém já disse que estamos sob uma “civilização do medo”. Realmente. Tem-se medo de tudo, hoje em dia, porque os perigos acompanham os passos de todos, homens e mulheres, moços e velhos. É inevitável, pois, que a repercussão da própria inquietação social provoque abalos emocionais muito profundos na vida pessoal e abra caminho para neuroses, distúrbios cardíacos, formação de úlceras etc. E se o elemento humano já está um pouco predisposto, obviamente ainda será mais rápido o efeito da conjuntura social, cujos atritos afetam o sistema nervoso de muita gente. Todavia, pelo que se pode colher através de estudos divulgados atualmente, até certo ponto há uma relação entre a patologia social e a patologia individual.

As “doenças da sociedade”, como dizem alguns observadores, não podem ser equiparadas indiscriminadamente às doenças do homem em si mesmo, uma vez que os mecanismos biológicos são de natureza diferente da natureza dos mecanismos que acionam os processos sociais. Já se cometeu esse engano anteriormente — convém dizer de novo — porém, hoje os estudos sociais têm uma visão muito mais lúcida e desenvolvida a respeito das relações do ser humano com o meio social.

O que existe, entretanto, e é justamente o que nos interessa, é a influência das tensões sociais no psiquismo individual, por causa dos traumas e dos abalos emocionais a cada hora. As notícias de tragédias, roubos, assaltos, suicídios, desfalques vultosos, assim como de perseguições e pressões políticas, muitas vezes exploradas com ênfase na TV ou nas manchetes, sensibilizam imediatamente e causam transtornos profundos em muitas pessoas. É o ônus que se paga ao desenvolvimento tecnológico da comunicação. Por isso mesmo, há pessoas que resolveram desligar-se de tudo e não tomar conhecimento de notícias, justamente para que não sejam emocionalmente envolvidas.

Ainda que seja discutível a designação de patologia social para os que não veem propriedade nessa expressão, verdade é que a sociedade tem aspectos negativos ou doentios. E uma sociedade cujas crônicas se enchem diariamente de crimes, violências e degradação moral não é realmente uma sociedade doente?

O fenômeno, infelizmente, não está configurado entre as fronteiras de um país, pois é de ordem geral. Se existe, de fato, um aspecto doentio na sociedade, e não seria possível fechar os olhos à evidência, pois os tumores e as chagas sociais são ostensivas e deprimentes, precisamos alargar a nossa ótica e observar também o aspecto sadio, isto é, o que vemos de grande e humanitário em todas as latitudes da paisagem social.

Ao lado da miséria material e da miséria moral, tanto quanto do egoísmo e da velhacaria ou da desumanidade e do vício, que corrompe e degrada, estão os belos e edificantes exemplos de amor e renúncia, dedicação e dignidade, contrabalançando a onda de ódio e decadência moral. Há muita gente trabalhando de corpo e alma em benefício do próximo, desinteressadamente; muita gente, afinal, que está curando as feridas da alma nos organismos individuais para curar as feridas do organismo social. Neste particular, a ação espírita está desempenhando um papel dos mais positivos.

Estão aí, à vista de todos, as obras de assistência à infância e à velhice, obra criada e sustentada com amor, acima dos próprios interesses pessoais em muitos casos. O trabalho de reerguimento espiritual e de socorro material realizado por equipes espíritas nos ambientes mais obscuros da sociedade, assim como nas prisões e nos pontos mais afastados dos centros asfaltados, é um esforço persistente e desprendido em benefício da própria coletividade.

Não se trata apenas de dar o pão para o corpo ou vestir os maltrapilhos, que inspiram piedade, pois é preciso, indispensavelmente, esclarecer e educar a criatura humana, ajuda-la a reerguer-se conscientemente pelo conhecimento e pelo amor. Pois é exatamente o que faz o elemento espirita.

Sempre que se consegue retirar o homem do antro do crime e do vicio, reintegrando-o na convivência pacífica e honesta, naturalmente se dá um passo a mais na eliminação das feridas que sangram na sociedade.

Neste grande trabalho, muitas vezes anônimo, se engajam obreiros de diversos credos, como também pessoas vinculadas a vários movimentos, religiosos ou não. Tem, aí, o movimento espírita uma posição relevante, justamente porque vem realizando cada vez mais um trabalho constante de educação, assistência e reerguimento espiritual, sem o que não haverá melhoramento do homem em termos profundos.

Seria difícil firmar um diagnóstico exato dos males sociais. Cada qual encara os problemas por um prisma, de acordo com a sua formação e suas inclinações. Há um ponto, entretanto, em que a inteligência das mais argutas e desapaixonadas pensa de um modo convergente: a sociedade ressente-se profundamente da falta de valores éticos. Daí resulta o acentuado e espantoso descompasso entre o desenvolvimento material e o adiantamento espiritual.

O mundo dos negócios, em grande parte, está mais voltado para o êxito imediato sem a preocupação de saber o que deve e o que não deve ser lícito. A ética fica inteiramente fora de cogitações em muitos casos. É natural que haja o aceleramento econômico, como é natural e necessário que se enriqueça o aparelhamento tecnológico, mas também é necessário, senão indispensável, que não se despreze o lado ético das transações.

Deve haver um ponto de limite moral nas ambições humanas. Por isso mesmo é que alguns pensadores notam a flagrante falta de ética e acham, com razão, que a sociedade está sofrendo graves consequências por causa do contraste entre as realizações materiais, inegavelmente impressionantes, e os padrões de moralidade na vida particular e na vida social.

Albert Schweitzer, o homem que, deixando as comodidades da chamada “grande civilização”, foi para a África longínqua, onde realizou verdadeiro apostolado entre populações pobres e atrasadas. Desconfiava muito da cultura exterior, justamente porque, como pensador e humanista, médico e homem de grande coração, sentia que a falta de ética estava ameaçando o destino da civilização. Seria um visionário? Ou seria Schweitzer muito mais realista do que certos homens práticos, para os quais somente os valores utilitários e o poder das técnicas têm significação na vida humana?...

E as doenças da sociedade, em grande parte, não decorrem exatamente da ausência de moralidade ou de respeito ao escrúpulo e ao foro da consciência, sede da Lei Moral, como ensina a Doutrina Espírita? Claro que Schweitzer não era um sonhador, mas um observador da realidade humana.

Pois bem, há mais de um século — é bom que muita gente saiba disto — a Doutrina Espírita já se pronunciava sobre este problema, como que antevendo a situação de hoje. Recorramos apenas à questão 785, de “O Livro dos Espíritos”: Há duas espécies de progresso, que se apoiam mutuamente e que, entretanto, não marcham em paralelo: o progresso intelectual e o progresso moral. O equilíbrio entre as duas ordens de progresso é questão de tempo, ainda segundo o ensino espírita.

Já houve muito progresso, inegavelmente, nas instituições, nas ciências, e assim por diante, o que, aliás, está previsto no mesmo texto espírita, porém os acontecimentos deste meio século se sucedem de tal forma e com tanta agressividade que exigem mais reflexão a respeito dos padrões de ética para evitar, tanto quanto possível, maior descalabro social.

Todos os movimentos preocupados com os problemas espirituais, embora não se descuidem dos problemas terrenos, devem empregar a inteligência, a criatividade e o verdadeiro espírito de serviço na cruzada de educação do homem, mas uma forma de educação capaz de penetrar-lhe o mundo íntimo e despertá-lo ainda em tempo.

Neste campo, sem a menor dúvida, muito mais ainda será pedido ao movimento espírita; pois uma Doutrina que explica a sobrevivência após a morte com o testemunho dos fatos; uma Doutrina que nos fala da justiça divina sem castigos eternos, mas à luz de uma filosofia que infunde esperança e coragem, com apoio da reencarnação; uma Doutrina, enfim, que nos mostra o próprio Evangelho aplicado à vida em todas as circunstâncias tem muito o que oferecer à sociedade como remédio para as feridas que se abrem de alto a baixo, em todos os níveis.

 
Deolindo Amorim

Fonte: Revista “Aurora”, agosto de 1982, págs. 4 e 5, ano IV, nº 9 – Duque de Caxias-RJ.



25 novembro 2013

O Partido Espírita - Eugenio Lara


O PARTIDO ESPÍRITA
   
Toda ideia nova, quando surge, sempre enfrenta contraditores, gratuitos ou não, interessados em destruir no nascedouro aquilo que, supõem, possa interferir em seus interesses. Com o Espiritismo não foi diferente.

Allan Kardec teve de enfrentar muitos seguidores mal-intencionados e os perseguidores de plantão. Teve problemas com a Igreja, com a corporação médica, com a imprensa francesa. A Igreja veio com a novidade de que o Espiritismo era uma religião e, portanto, viria disputar adeptos, fazer prosélitos e dividir o rebanho cristão. Os médicos chamavam o Espiritismo de “fábrica de loucos” e muitos deles imaginavam ser a nova doutrina nascente, uma questão de saúde pública. Kardec, que era médico, mas nunca exerceu a profissão, sabia com qual tipo de máfia estava lidando.

Rejeitou tanto a invenção da Igreja, representada pelo Abade Chesnel, como a pexa de “usina de loucos varridos”. Kardec não alimentava polêmicas, mas também não fugia de nenhuma.

Já as polêmicas que travou com a imprensa da época, notadamente contra os artigos de materialistas e jornalistas levianos e comprometidos, estão bem descritas na Revista Espírita, um depositário de fatos sobre a história do Espiritismo.

Uma das controvérsias mais interessantes foi à acusação estampada em alguns jornais franceses de que estava surgindo na França mais um partido, o Partido Espírita (RE - julho/agosto de 1868).

Kardec aceitou a tese e ridicularizou o temor de que o novo partido pudesse se constituir numa grande força política. O caso foi parar no Senado e vários jornais publicaram a notícia, servindo ainda mais para despertar a curiosidade sobre o Espiritismo.
 
Um partido de bobos foi o que alguns políticos declararam. Ora, mesmo os bobos têm o direito de constituírem um partido, considerou o fundador do Espiritismo, vendo neste fato mais uma alavanca para a divulgação da Doutrina. E foi o que aconteceu.

Interessante mesmo foi a sua análise acerca do duplo sentido que a palavra partido abriga. Se de um lado tem o sentido de facção, de cisão, de luta e agressão, por outro, há o sentido de força física ou moral que tende a se contrabalançar com outras opiniões.

Kardec rejeitou a primeira acepção, mas, aceitou a ideia de que o Espiritismo se constitui, não somente, numa “escola filosófica”, segundo sua própria expressão, mas também numa corrente de opinião sem perder a qualidade essencial de “doutrina FILOSÓFICA moralizadora, que constitui a sua glória e a sua força”.
 
E completa: “A palavra partido, aliás, não implica sempre a ideia de luta, de sentimentos hostis. Não se diz: o partido da paz? O partido das criaturas honestas? O Espiritismo já provou, e provará que pertence a esta categoria.”

Nesse sentido, os espíritas constituem um partido, uma corrente de opinião que não pode ser ignorada, seja no recenseamento ou na análise estratégica de qualquer político que queira ser eleito. Constituímos uma força política, não no sentido partidário, mas em seu sentido mais abrangente, como força moral e ideológica.

A Enciclopédia Britânica estima em cerca de 12 milhões o número de espíritas no mundo. Só no Brasil há cerca de 8 milhões de adeptos e 30 milhões de simpatizantes, segundo ampla matéria sobre o Espiritismo publicada na revista Veja (26/07).

Todavia, temos de considerar que as correntes e facções são tão numerosas quanto as igrejas evangélicas. 

A cada dia surgem “missionários” com ideias exóticas e personalistas. Médiuns que se acham predestinados e criam invencionices, práticas esdrúxulas, tudo em nome do Espiritismo.

Há momentos em que falar do pensamento kardecista é como pregar no deserto. Os poucos que dão ouvidos reagem com animosidade e intolerância.

É preciso ter a consciência de que em meio a esse tremendo balaio de gatos que é o Espiritismo brasileiro e mundial, há espíritas que não compactuam com os rumos que o movimento espírita vem tomando desde o desencarne de Kardec, desde que a Doutrina apareceu por aqui no século passado, a partir de 1860.

O projeto de um Espiritismo sem rótulos, verdadeiramente kardecista, sem os prejuízos que o religiosismo cristão vem causando na divulgação doutrinária é uma tarefa que exige uma tomada de consciência. Significa tomar partido, se constituir mesmo num partido, ainda que informal, mas naquele sentido que Kardec admitiu para o próprio movimento espírita. O de força moral, de ideias, sem cisão, sem animosidade, sem faccionismo, com abertura e tolerância para com aqueles que pensam e sentem o Espiritismo de forma diferenciada.

Eugenio Lara

Em: Agosto de 2000 - São Vicente-SP.  Artigo publicado originalmente no jornal de cultura espírita Abertura, em agosto de 2000.

Fonte: PENSE -"Pensamento Social Espírita"


24 novembro 2013

A Morte do Espírito - Wellington Balbo


A MORTE DO ESPIRÍTO

Atualmente discute-se muito sobre segurança, mortes no trânsito, drogas, balas perdidas e tantas outras formas de violência .

São assuntos que, claro, devem ser sempre debatidos pela sociedade em geral para que os números diminuam e possa o Homem peregrinar por este planeta da maneira mais tranqüila possível.

Entretanto, não obstante à violência que elimina o corpo físico do indivíduo, há outro tipo de violência que a meu ver é mais maléfica à criatura: a violência espiritual, a que mata o Espírito, a que arrebenta vidas por séculos e séculos.

Por conta de minha atividade profissional venho percebendo: o que mais mata as pessoas não é a violência física (claro, ela também mata), mas a violência espiritual que pode ser resumida numa palavra: Crueldade.

Sim, se um tiro mata o corpo, se um motorista embriagado ceifa vidas, não se pode esquecer que a crueldade mata o espírito.

A palavra cruel dita à uma criança sucessivas vezes, por exemplo, pode matar seu espírito para muitas existências...

Vocês dirão: O Espírito não morre!

É? Tem certeza que o Espírito não morre? Claro que morre; morre de crueldade.

Não podemos ser matadores de Espíritos!

A questão de número 208 de O livro dos Espíritos afirma que os pais exercem uma influência muito grande sobre a alma infantil, sendo, pois, responsáveis por educá-la nos caminhos do bem.

Ampliando um pouco mais compreende-se que a influência entre os Espíritos não se dá apenas na relação pais e filhos, mas de forma geral e sistêmica.

Estamos todos conectados neste Universo real e virtual!

Ou seja, ao estabelecermos contato com outras pessoas estamos influenciando e sendo influenciados, independentemente da idade biológica.

Gozações e piadas de mau gosto, por exemplo, feitas sucessivas vezes com um amigo adulto pode, obviamente, influenciá-lo a considerar-se um ser a parte na criação.

Muitos suicídios começam por ai. E, não pense que exagero, caro leitor, basta pesquisar o que se encontra por trás do autoextermínio e verificará o que aqui afirmo.

Portanto, jamais joguemos lama nos outros, isto é cruel de nossa parte.

Melhor a palavra que dá vida, que anima o espírito de disposição, que incentiva o outro a prosseguir em sua jornada, se possível feliz...

Porém, voltando às crianças, eu lido com elas diariamente e tenho visto a importância do reforço positivo em seus desenvolvimentos.

É necessário dar vida ao Espírito e não tirar-lhe o brilho nos olhos e a vontade de viver com alegria.

Percebo que, naquelas pequeninas almas velhas, a falta de brilho nos olhos é em decorrência de uma frase absurda ou um comentário maldoso dito sucessivas vezes à elas.

E isto, claro, vem aos poucos matando o seu espírito, a sua vontade de viver.

E, infelizmente, muitos pequenos crescem doentes, enfermos da alma, repletos de traumas, sem brilho nos olhos, sem vontade de viver por conta da violência que ficou impressa em seu espírito.

Por isso digo que o Espírito morre, não no sentido literal da morte, mas morre para a vida ao levar uma existência apática, sem brilho, sem cor.

Ah, se tivéssemos ideia real da força das palavras pensaríamos muito antes de “matar o Espírito”.

E, sejamos sinceros, para o Espírito retomar a vida depois de ser morto pela crueldade humana vai um tempo grande, mas muito grande mesmo, não raro, leva várias existências para tornar a viver...

Pensemos nisto com carinho...

Wellington Balbo 

23 novembro 2013

Deus - Divaldo P. Franco

 

DEUS

Após a necessária separação da fé religiosa com a investigação científica dos fatos a partir do século XVII e com o renascimento do atomismo grego, o materialismo avançou com segurança pelos desconhecidos caminhos da realidade.

Deixando à margem as fantasias e as superstições defluentes da ignorância ancestral, de que se utilizavam algumas doutrinas religiosas, que estabeleceram o período do terror da fé, gerador de crimes hediondos, os cientistas sinceros e os investigadores comprometidos com a consciência livre de dogmatismos e preconceitos penetraram nos arcanos da Natureza e foram interpretando as leis que a constituem, ultrapassando os mitos e estabelecendo novos paradigmas de segurança para o avanço cultural e o progresso em geral.

É compreensível que, após milênios de escravidão e subserviência de qualquer natureza, quando se alcança a liberdade de pensamento e de ação, ocorra o desequilíbrio decorrente da falta de novos conceitos que estabeleçam o que é lícito em relação àquilo que o não é, e o materialismo na sua ampla feição, como era natural, passou a impor-se mediante os métodos absolutistas que condenava nos comportamentos ancestrais.

Filósofos apaixonados e imprevidentes, assinalados alguns por amarguras e conflitos, declararam a morte de Deus, e investigadores entusiasmados proclamaram que a alma é uma sudorese do cérebro, à semelhança da urina, que é uma excrementação dos rins...

Sem os suportes do bom senso e da razão harmonizada com a emoção, a ética-moral entrou em desvario, e muitos descalabros morais e sociais passaram a ser considerados legais, em nome da liberdade individual e coletiva das massas, tais como: a pena de morte, o suicídio, a eutanásia, o aborto provocado, o gozo exaustivo...

O hedonismo substituiu o sentido psicológico profundo da existência humana, e o prazer tornou-se a meta anelada, tendo–se em vista a brevidade da existência carnal e o exíguo tempo para a função de todos os favores do prazer.

O monstro da guerra encontrou suporte para prosseguir na alucinada destruição de vidas e de culturas e nos enganos do poder capaz de esmagar os outros, a fim de dispor de mais recursos para a ociosidade e para a opulência, sem qualquer respeito pelas vidas que passaram a estorcegar nas suas tenazes vigorosas. 

O consumismo substituiu o comportamento saudável do uso correto de todos os recursos; as disputas individuais, coletivas e internacionais tornaram-se perversas e egoístas, demonstrando, porém, que todas as conquistas do conhecimento exterior não lograram tornar mais felizes os indivíduos, nem mais ditosos do que os seus antepassados.

Eliminaram-se, sem dúvida, enfermidades dizimadoras, mas outras surgiram não menos destrutivas; conseguiu-se expulsar da Terra pandemias ultrajantes, enquanto que outras apareceram mais cruéis, ao tempo em que a técnica de diagnóstico mediante tecnologias avançadas descobriu outros fatores de aniquilamento do corpo com caráter degenerativo, ao lado das tremendas perturbações nascidas no vazio existencial, na perda de sentido psicológico, nos tormentos do sexo e nas fugas pelas drogas aditivas e pelos vícios devastadores...

A paisagem humana do materialismo tem sido sombria, atormentada, e os sorrisos que a mascaram, na grande maioria, são mais esgares e extravagâncias do que júbilos...

Para onde caminha a Humanidade? Sem dúvida, apesar de tudo, para Deus!

* * *

Diante das circunstâncias e negativas ostensivas, cheias de agressividade e revolta, Deus existe e vela pelo Universo...

Lenta e seguramente, cientistas de valor moral e coragem incomum erguem suas vozes para afirmar que encontraram Deus nas suas retortas, através dos seus instrumentos avançados, seja nas lentes ópticas dos telescópios fora do planeta, como nos microscópios, dos aparelhos de nanotecnologia, da holografia, das ultrassonografias, dos choques de micropartículas, demonstrando a Sua autoria em relação ao Cosmo e a tudo quanto existe.

Alguns deles confirmaram que existe uma Lei moral no Universo que se encarrega de tudo, de maneira consciente e adequada, estabelecendo os paradigmas da realidade.

Outros deslumbram-se, ao concluírem que existe no ser humano um DNA de Deus, responsável pela crença natural de que todas as criaturas são constituídas. Diversos outros experimentadores audaciosos definem que o rastro de luz, também chamado bóson de Higgs, resultante do choque de prótons que reproduz a grande explosão, é a assinatura de Deus na Criação.

 * * *

Ressoa na astrofísica a afirmativa de um grande sábio, afirmando que o Universo é um Grande Pensamento, tem vida, expande-se, e na sua infinita grandiosidade é uma Unidade pulsante.

Alguns graves investigadores optaram por substituir o verbo crer, relativo às várias mudanças que se permitem, pelo saber, e quando interrogados se acreditavam em Deus, responderam com simplicidade e sem explicações Eu sei!

Mais alguns atentos observadores encontraram no cérebro humano, graças às pesquisas de avançada tecnologia, um ponto de luz, que denominaram como ponto de Deus e vários outros investigam as inúmeras expressões de tudo quanto existe, atribuindo-lhes uma causa única, inteligente, que tudo elaborou de apenas um princípio...

No passado, desde Lord Bacon, passando pelos mais notáveis cientistas e investigadores que promoveram o desenvolvimento das diversas doutrinas em que hoje se baseiam algumas teses materialistas, os seus expoentes eram fervorosos crentes em Deus e o declaravam com o valor moral de que se constituíam.

Inelutavelmente Deus está de volta à cultura hodierna.

Não somente através do encontro com Ele nas Leis Universais, assim como no íntimo dos sentimentos que O necessitam, a fim de serem equacionados os tormentos que infelicitam, atirando as suas vítimas aos abismos da insensatez e do suicídio.

Fundamentado todo o seu contributo libertador na crença em Deus, o Espiritismo afirma que Deus é a inteligência suprema e a Causa primeira de todas as coisas, em sintética definição que deram os Espíritos ao Codificador, quando os interrogou.

Deus, portanto, encontra-se ínsito no ser, aguardando ser descoberto e ampliado, assim como no Universo em todas as suas manifestações.

* * * 

Docemente Jesus chamava-O Pai, numa expressão de infinita doçura e afabilidade, facultando a todos buscá-lO e vivenciá-lO ao longo da experiência evolutiva que mais os aproxima dEle.

Permear-se do Seu amor e auscultá-lO na mente e no coração é o dever que a todos cumpre vivenciar neste grave momento de aflições e dores que domina os indivíduos e a sociedade terrena.

(...) Enquanto isso Deus ama e aguarda!

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na manhã de 5 de junho de 2013, na residência de Armandine e Dominique, em Paris, França. Em 30.10.2013. 


22 novembro 2013

A profunda mensagem de Bezerra de Menezes - Bezerra de Menezes

  

A PROFUNDA MESSAGEM DE BEZERRA DE MENEZES

Meus filhos:

Que Jesus nos abençoe.

A sociedade terrena vive, na atualidade, um grave momento mediúnico no qual, de forma inconsciente, dá-se o intercâmbio entre as duas esferas da vida. Entidades assinaladas pelo ódio, pelo ressentimento, e tomadas de amargura cobram daqueles algozes de ontem o pesado ônus da aflição que lhes tenham proporcionado.

Espíritos nobres, voltados ao ideal de elevação humana sincronizam com as potências espirituais na edificação de um mundo melhor. As obsessões campeiam de forma pandêmica, confundindo-se com os transtornos psicopatológicos que trazem os processos afligentes e degenerativos.

Sucede que a Terra vivencia, neste período, a grande transição de mundo de provas e de expiações para mundo de regeneração.

Nunca houve tanta conquista da ciência e da tecnologia, e tanta hediondez do sentimento e das emoções. As glórias das conquistas do intelecto esmaecem diante do abismo da crueldade, da dissolução dos costumes, da perda da ética e da decadência das conquistas da civilização e da cultura...

Não seja, pois, de estranhar, que a dor, sob vários aspectos, espraia-se no planeta terrestre não apenas como látego mas, sobretudo, como convite à reflexão, como análise à transitoriedade do corpo, com o propósito de convocar as mentes e os corações para o ser espiritual que todos somos.

Fala-se sobre a tragédia do cotidiano com razão. As ameaças de natureza sísmica, a cada momento tornam-se realidade tanto de um lado como de outro do planeta. O crime campeia à solta e a floração da juventude entrega-se, com exceções compreensíveis, ao abastardamento do caráter, às licenças morais e à agressividade.

Sucede, meus filhos, que as regiões de sofrimento profundo estão liberando seus hóspedes que ali ficaram, em cárcere privado, por muitos séculos e agora, na grande transição, recebem a oportunidade de voltarem-se para o bem ou de optar pela loucura a que se têm entregado. E esses, que teimosamente permanecem no mal, a benefício próprio e do planeta, irão ao exílio em orbes inferiores onde lapidarão a alma auxiliando os seus irmãos de natureza primitiva, como nos aconteceu no passado.

Por outro lado, os nobres promotores do progresso de todos os tempos passados também se reencarnam nesta hora para acelerar as conquistas, não só da inteligência e da tecnologia de ponta, mas também dos valores morais e espirituais. Ao lado deles, benfeitores de outra dimensão emboscam-se na matéria para se tornarem os grandes líderes e sensibilizarem esses verdugos da sociedade.

Aos médiuns cabe a grande tarefa de ser ponte entre as dores e as consolações. Aos dialogadores cabe a honrosa tarefa de ser, cada um deles, psicoterapeutas de desencarnados, contribuindo para a saúde geral. Enquanto os médiuns se entregam ao benefício caridoso com os irmãos em agonia, também têm as suas dores diminuídas, o seu fardo de provas amenizadas, as suas aflições contornadas, porque o amor é o grande mensageiro da misericórdia que dilui todos os impedimentos ao progresso – é o sol da vida, meus filhos, que dissolve a névoa da ignorância e que apaga a noite da impiedade.

Reencarnastes para contribuir em favor da Nova Era. As vossas existências não aconteceram ao acaso, foram programadas. Antes de mergulhardes na neblina carnal, lestes o programa que vos dizia respeito e o firmastes, dando o assentimento para as provas e as glórias estelares.

O Espiritismo é Jesus que volta de braços abertos, descrucificado, ressurreto e vivo, cantando a sinfonia gloriosa da solidariedade.

Dai-vos as mãos! Que as diferenças opinativas sejam limadas e os ideais de concordância sejam praticados. Que, quaisquer pontos de objeção tornem-se secundários diante das metas a alcançar.

Sabemos das vossas dores, porque também passamos pela Terra e compreendemos que a névoa da matéria empana o discernimento e, muitas vezes, dificulta a lógica necessária para a ação correta. Mas ficai atentos: tendes compromissos com Jesus...

Não é a primeira vez que vos comprometestes enganando, enganando-vos. Mas esta é a oportunidade final, optativa para a glória da imortalidade ou para a anestesia da ilusão. Ser espírita é encontrar o tesouro da sabedoria.

Reconhecemos que na luta cotidiana, na disputa social e econômica, financeira e humana do ganha-pão, esvai-se o entusiasmo, diminui a alegria do serviço, mas se permanecerdes fiéis, orando com as antenas direcionadas ao Pai Todo-Amor, não vos faltarão a inspiração, o apoio, as forças morais para vos defenderdes das agressões do mal que muitas vezes vos alcança.

Tende coragem, meus filhos, unidos, porque somos os trabalhadores da última hora, e o nosso será o salário igual ao do jornaleiro do primeiro momento.

Cantemos a alegria de servir e, ao sairmos daqui, levemos impresso no relicário da alma tudo aquilo que ocorreu em nossa reunião de santas intenções: as dores mais variadas, os rebeldes, os ignorantes, os aflitos, os infelizes, e também a palavra gentil dos amigos que velam por todos nós.

Confiando em nosso Senhor Jesus Cristo, que nos delegou a honra de falar em Seu nome, e em Seu nome ensinar, curar, levantar o ânimo e construir um mundo novo, rogamos a Ele, nosso Divino Benfeitor, que a todos nos abençoe e nos dê a Sua paz.

São os votos do servidor humílimo e paternal de sempre,

Bezerra

Psicofonia de Divaldo Pereira Franco, em Los Angeles, Estados Unidos, em 13 de novembro de 2010

21 novembro 2013

A Bênção da Esperança - Joanna de Ângelis


A BENÇÃO DA ESPERANÇA

Nietzsche, o amargurado filósofo alemão, ateu e pessimista, assinalou que o perdão egrégio é fraqueza moral, portanto, falta de caráter.

Generalizado o conceito sob expressões diferentes, o mesmo representa a mesquinhez dos sentimentos que aguardam vingança, que trabalham pela devolução do mal que, por acaso, lhe haja sucedido.

Esse comportamento, o do desforço, é muito mais um ato infeliz e vergonhoso, enquanto o perdão expressa a coragem e a grandeza espiritual de todo aquele que o oferta.

Assevera-se em concordância com a tese de que a justiça não pode ser desprezada e que, mediante o perdão, permanece o crime. Quando, porém, o perdão é verdadeiro, não há qualquer impedimento para que a justiça prossiga no seu rumo. O que ocorre é o ato de não ser feita pela vítima, armada de ira e de agitação, com sede de vingança.

Desde quando os latinos criaram a palavra justiça, apresentaram-na como uma dama que carrega uma balança e uma espada, respectivamente em cada mão, tendo os olhos vendados, significando a sua imparcialidade.

Na visão cristã, a simbologia da espada cede lugar à presença da misericórdia da educação do réu, do ensejo que lhe deve ser oferecido para a reabilitação.

A ninguém cabe tomá-la pelas mãos num esforço vingativo pelo sofrimento que lhe foi imposto, deixando às Leis Soberanas, às vezes representadas pelas humanas, o mister de realizarem os procedimentos compatíveis com o nível de elevação moral e intelectual da sociedade.

No Saltério inserto no Velho Testamento, encontramos os denominados salmos imprecatórios, em que os profetas clamavam por vingança, praguejavam e ameaçavam, dirigindo-se ao Deus dos exércitos.

Jesus, porém, veio substituir esse Vingador pelo Deus Todo Amor, rico de compaixão e de ternura, que deseja o desaparecimento do crime sem a extinção daquele que se lhe fez instrumento.

É nesse capítulo que se inserem o perdão e a esperança de felicidade.

A todos está destinada a plenitude, por mais danos as criaturas se façam a si mesmas, durante a trajetória carnal. Sempre encontrará à frente a oportunidade reparadora de renovação íntima e de crescimento espiritual.

Quando ocorre o perdão, não sucede a reconciliação que independe daquele que se oferece para não devolver o mal de que foi vítima.
A reconciliação será resultado do tempo, da anuência do outro, o verdugo que está acostumado à reataliação.

A esperança de que a vida sempre se encarrega de regularizar todos os incidentes e desaires deve constituir motivo de encorajamento para prosseguir-se na ação do bem.

* * *

Não te produzam receio as nuvens carregadas de tempestades, que danificam mas passam.

Tens compromisso com o amor. Desarma-te dos melindres doentios e egoicos que sempre te colocam em posição de vítima, supondo que tudo negativo é dirigido a ti.

Rompe essa fragilidade moral em que te apoias e que utilizas para fugir na direção da tristeza, sempre que te suponhas não atendido, numa atitude psicológica infantil.

O teu próximo não te pode estimar, cuidar dos teus conflitos, que tens o dever de superar porque te pertencem.

O outro, aquele a quem exiges consideração e cuidados para contigo, também tem problemas e dificuldades que não te conta.

Fita o mar proceloso da existência e quando te sentires fragilizado, robustece-te na oração, ancorado na confiança da vitória. A desconfiança é nuvem que oculta a face da vitória.

Renasceste para o triunfo sobre ti mesmo e esse é um trabalho que somente poderá ser realizado por ti. Não transfiras para os outros os teus demônios psicológicos, à espera sempre de mimos e aparências.

Cristão sem testemunhos é linda planta trabalhada em substância plástica, bela mas sem vida. 

A esperança é bênção do céu para toda a existência. Quando tudo esteja escasso e aparente infortúnio, a esperança é o anjo vigoroso e companheiro vigilante ao teu lado, emulando-te ao prosseguimento.
Mesmo que advenham situações penosas e muito aflitivas, considera que a vida física não é uma viagem idílica ao país do prazer, mas se trata de uma experiência iluminativa, que trabalha pela libertação do ser. Quando luz no seu íntimo a bênção da esperança, a vida exulta em plenitude.

Educando os instintos agressivos, desenvolve as emoções dignificadoras, de forma que se sobreponha sempre o sentimento de amor.

Em qualquer circunstância, especialmente naquelas que te parecem infelicitadoras, interroga-te como gostarias de ser tratado ou reconhecido pelo teu próximo, e faze conforme concluas.

A justiça não dilui a esperança, dá-lhe vigor, assim como o perdão também o faz.

O teu destino é construído pelo teu pensamento. Abandona o vício mental negativo, sórdido, vulgar e enriquece-te de beleza e de esperança.

* * *

Jesus, no último instante da Cruz, quando nada mais podia ser feito, suplicou:

Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito!

A sublime esperança das bênçãos transcendentais a que Ele fazia jus ficou na condição de última mensagem.

Entrega-te a Deus, Ele fará o que não esteja ao teu alcance, e mantém sempre a esperança como a segura companheira da tua existência.

Joanna de Ângelis 

Página psicografada por Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 1.9.2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.


20 novembro 2013

Sobre o Assassínio - Klaus


SOBRE O ASSASSÍNIO

O jovem Carlos questiona o Espírito Klaus a respeito dos critérios da justiça divina…

— Com base em suas colocações, gostaria de saber se todos os encarnados que não se comprometem com a transformação interior nem tampouco se preocupam com o sofrimento alheio terão o mesmo grau de culpabilidade. Vou dar um exemplo: todos os dias, muitas pessoas são assassinadas entre os encarnados. Quem matou é culpado e pronto ou existe uma espécie de “critério” Divino para estabelecer quem é mais ou menos culpável no crime que cometeu?
— Caro irmão, não podemos esquecer que todo o erro cometido necessitará de uma corrigenda na mesma proporção de erro. No entanto, necessitamos analisar a questão com calma.

Imaginemos um selvagem em quem há predominância da matéria sobre o espírito e em quem o senso moral ainda não se encontra devidamente desenvolvido; há apenas uma necessidade de preservação da vida. O seu grau de responsabilidade é menor se comparado a um assassino que mata para roubar.

Recordemos os ensinos dos espíritos superiores a Kardec, quando o mesmo indaga: o assassino tem sempre o mesmo grau de culpabilidade?

E as nobres entidades respondem: Como já dissemos, Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato.

Sendo assim, um erro é sempre um erro, um crime é sempre um crime, mas o grau de responsabilidade no erro cometido difere de um indivíduo para outro, de acordo com alguns fatores que por certo farão diferença.

— O senhor poderia dar um exemplo?

— Utilizemos um exemplo simples: alguém que se vê obrigado a matar para defender a própria vida tem um grau de responsabilidade diferente daquele que mata por motivo fútil – Ao meu ver, matar em nome da honra é motivo fútil. A vida é muito valiosa e entendemos que deva ser preservada a todo custo. Mesmo aquele que vê a própria vida em risco, se puder escapar sem tentar contra a vida do outro, mesmo tratando-se de um criminoso, será o melhor a fazer.

Livro Então Virá o Fim…, cap. 7 
Espíritos José Lázaro e Klaus 
Psicografia de Agnaldo Paviani