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29 dezembro 2013

As Luzes do Espiritismo - Eugenio Lara


AS LUZES DO ESPIRITISMO

“E Deus disse: Que haja Newton! E tudo se fez luz.”
Alexander Pope (1688-1744), poeta britânico.

Luz e iluminação são palavras muito usadas pelos espíritas. Não somente no discurso, na oratória, mas, sobretudo, em publicações e na denominação das sociedades espíritas. “Mensageiros da Luz”, “Missionários da Luz”, “Vinha de Luz”, “A Caminho da Luz” são alguns dos nomes bem populares de obras do médium mineiro Chico Xavier. Entidades espíritas, influenciadas por essa literatura religiosa de feição cristã, também adotam nomes semelhantes: “Caridade, Luz e Amor”, “Caminheiros da Luz”, “Luz e Verdade”, “Luz Eterna” etc.

E no dia-a-dia, é comum o uso de expressões do tipo: “espíritos de luz”, “luz interior”, “iluminação”, “era de luz” ou comentários e reflexões “à luz do Evangelho”. No entanto, apesar de simpáticas e politicamente corretas, essas expressões passam ao largo do que deveria ser uma verdadeira iluminação sob a ótica da filosofia espírita. Ao invés de serem esclarecedoras, soam como algo místico, esotérico, inatingível, que nada explica, um lance metafísico e transcendental, seguindo assim um caminho contrário a uma concepção mais humanista do Espiritismo.

Para os cristãos, o Fiat Lux (faça-se a luz), também citado pelos espíritos, tem um sentido mágico, criacionista. “Deus disse: faça-se a luz e a luz foi feita.” Luz e Trevas, os dois opostos. Lúcifer, o anjo decaído, que no Cristianismo tornou-se o príncipe das trevas, tem seu nome associado à iluminação, à luminosidade celestial porque significa “portador da luz”, “aquele que leva a luz”, “aquele que brilha”.

Na Kardequiana, além do sentido usual, físico, o fundador do Espiritismo usa a palavra “luz” como sinônimo de esclarecimento, elucidação, a fim de se clarear a compreensão acerca de determinada questão. Curiosamente, o Espiritismo surge em 1857 na chamada Cidade-Luz, Paris, em um momento de grandes mudanças. O século 19, a exemplo do século 18, é também considerado como o Século das Luzes.

Todavia, a expressão Século das Luzes está associada principalmente ao século 18, graças ao Iluminismo, movimento cultural, filosófico, humanista e anticlerical que floresceu na Europa, também denominado de Era da Razão. Nada a ver, portanto, com o sentido religioso que os espíritas costumam dar ao Espiritismo, filosofia delineada e estruturada sob influência muito grande do pensamento iluminista.

Allan Kardec, um dos grandes humanistas de seu tempo, teve seu pensamento formado não somente no positivismo, mas principalmente no Iluminismo, onde as ideias de Rousseau se destacam em sua formação intelecto-moral. Na infância e juventude Kardec foi educado na escola de Pestalozzi, em Yverdun, Suíça, cuja orientação pedagógica era nitidamente rousseauniana. Como pedagogo, sempre permaneceu fiel à educação pestalozziana.

No pensamento kardequiano, que nada tem de irracional, “a luz” mostra-se simplesmente como uma metáfora do esclarecimento, da compreensão, segundo o poder da razão, da observação e experimentação. Para Kardec, o Espiritismo é uma questão de “razão e bom senso”, sem nenhum tipo de acesso ao conhecimento, ao saber, mediante posturas místicas, religiosistas e dogmáticas.

Diante desse irracionalismo exacerbado que invade o mundo, com a proliferação de ideologias fundamentalistas, o revigoramento das religiões monoteístas, amiúde disfarçadas e travestidas de “científicas”, como o Criacionismo Científico e o Design Inteligente, a alternativa é a busca de uma nova racionalidade onde o saber, a ética e a espiritualidade mostrem-se irmanados.

A Filosofia Espírita tem plenas condições de contribuir para a construção dessa nova racionalidade, seja sob o rótulo de pós-moderna ou hipermoderna. Para isso, terá que vislumbrar a luz kardecista no fim do túnel místico e igrejeiro em que os espíritas se meteram, sob pena de ficarem imersos nas trevas da ignorância, como naquela metáfora da caverna de Platão.

O Espiritismo é um dos filhos diletos do Iluminismo e sua vocação humanista necessita ser retomada a fim de que as luzes do saber espírita não fiquem aprisionadas nos porões da irracionalidade e do misticismo.

Eugenio Lara 

 

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