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31 outubro 2014

Combatendo o Preconceito - Momento Espírita


COMBATENDO O PRECONCEITO

Quando Gandhi trabalhava pela independência da Índia, empenhou-se também em combater uma questão interna: o preconceito de castas.

Tradição milenar que divide a sociedade indiana em religiosos, guerreiros, agricultores, comerciantes e servos, as castas até hoje persistem.

Na base da pirâmide social, uma categoria desprezada: os párias.

Sem casta, os párias são considerados impuros e acredita-se que quem os toca fica impuro também. Por isso são chamados intocáveis.

Mas Gandhi, ao estudar profundamente os ensinos de Krishna, aprendeu que Deus não faz diferença entre Seus filhos.

Ele compreendeu que o sistema de castas havia sido modificado pelos homens, que o usaram para fins de dominação política e social.

E foi assim que Gandhi passou a combater o preconceito contra os párias, que ele chamava harijans, palavra que significa filhos de Deus.

Estava certo Gandhi. Somos todos filhos de Deus. Os preconceitos que carregamos são parte de um contexto social e cultural que devemos combater.

À medida que a Humanidade progride, os preconceitos vão perdendo espaço.

A ciência vai demonstrando que certas teorias não têm validade e aos poucos vamos expurgando práticas vergonhosas.

Vejamos, por exemplo, o preconceito racial. Ele é decorrente de uma visão que data da época da colonização.

Os europeus se achavam superiores aos povos indígenas ou africanos. É uma tese absurda que o tempo se encarregou de derrubar.

Sim, pois quando se ofereceu oportunidade, negros e índios mostraram tanta capacidade intelecto-moral quanto os demais.

Nunca é demais lembrar que - mesmo na época do mais rigoroso preconceito racial no Brasil - houve quem triunfasse.

É o caso do maior escritor brasileiro de todos os tempos: Machado de Assis.

Filho de uma ex-escrava, que trabalhava como lavadeira, ele trabalhava durante o dia e estudava à noite, sob a luz de um lampião.

Demonstrou que o talento e o esforço vencem o preconceito, por mais forte que seja.

Hoje, por mais que se combata o preconceito, muitas vezes ele ainda aparece inesperadamente.

É porque estava apenas oculto, escondido sob o verniz social.

É assim na questão dos homossexuais. Os preconceitos contra eles se manifestam de forma agressiva.

Eles são ridicularizados, alvo de piadas e até de violência. Muitos são espancados e assassinados.

E tem mais: hansenianos, tuberculosos, ex-presidiários, aidéticos, etc.

Será que numa sociedade em que os homens cumprissem as leis de Deus isso ocorreria?

Será que já conseguimos ver todos os demais seres humanos como irmãos que também amam, sofrem e querem ser felizes?

Lembre-se do exemplo notável de Jesus, que tinha como filhos prediletos os desprezados pela sociedade.

O Mestre reergueu a adúltera e a mulher prostituída. Elogiou publicanos.

Não teve medo de hospedar-se na casa de homens de má fama e elegeu como discípulo um coletor de impostos que era mal visto.

Por outro lado, advertiu severamente os orgulhosos e os que se achavam melhores que os demais.

Repreendeu os religiosos sem compaixão e tomou a defesa dos mais frágeis.

Se Jesus - o Ser mais perfeito que já habitou a Terra - agiu assim, por que não imitá-Lo?

Redação do Momento Espírita disponível no livro Momento Espírita, v. 7, ed. Fep.

30 outubro 2014

Esquecimento das Vidas Passadas e Progresso Espiritual - Bezerra de Menezes


ESQUECIMENTO DAS VIDAS PASSADAS E PROGRESSO ESPIRITUAL


Filhos, o esquecimento do passado, nas experiências infelizes que vivenciastes, é que vos torna viável o progresso espiritual.

Quem não olvidasse o mal de que tenha sido vítima ou verdugo, estacionaria indefinidamente na revolta e no ódio, na amargura e na falta de indulgência.

A amnésia temporária, com relação ao que fostes e ao que fizestes no passado, de certa forma vos enseja o crescimento íntimo num tempo relativamente mais curto do que levaríeis para concretizá-lo, caso tivésseis que conviver com as lembranças negativas que a Lei vos manda esquecer.

Assim sendo, não vasculheis os arquivos da mente, com o propósito de trazer ao presente o que deve permanecer sepultado no pretérito. Preocupai-vos com a construção do futuro, estudando as características de vossa personalidade, para melhor avaliação do caminho percorrido, valendo-vos tão somente das tendências e dos hábitos que relevais em vossa existência de agora.

Em contato com os outros, notadamente com aqueles de vossa convivência mais estreita, os vossos reais valores vêm à tona, possibilitando-vos a identificação clara dos pontos vulneráveis da personalidade, sobre as quais devereis concentrar os vossos esforços de corrigenda.

Os companheiros com os quais vos compromissastes mais seriamente acionam em vós os mecanismos psicológicos a fornecer-vos exata noção dos vossos desacertos de antanho, sem que, para tanto, tenhais necessidade de provocar o despertar de vossas reminiscências.

Na vivência espírita do Evangelho, a chamada terapia de vidas passadas acontece naturalmente, sem que se vos torne indispensável a revelação, em detalhes, do que vos precipitou a queda.

Quando um quadro infeccioso se instala no corpo, o médico não espera que se lhe detecte o órgão de origem, para combatê-lo através da prescrição de antibióticos.

A prática cotidiana do Bem se vos assemelha, para a consciência enferma, a antibiótico de última geração e de largo espectro que, embora sem correto diagnóstico do vosso quadro clínico, combate com eficiência a causa de vossos males.

Dr. Adolfo Bezerra de Menezes / Carlos A. Baccelli
Fonte: do livro "A Coragem da Fé", item 39

29 outubro 2014

Na Edificação da Fé -



NA EDIFICAÇÃO DA FÉ


Ninguém edificará o santuário da fé no coração, sem associar-se, com toda alma, naquilo que é belo e de superior dentro da vida.

Para alcançar, porem, a divina construção, não nos bastam os primores intelectuais, a eloquência preciosa, o êxtase contemplativo ou a desenvoltura dos cálculos no campo da inteligência.

Grandes gênios do raciocínio são, por vezes, demônios da miséria e da morte.

Admiráveis doutrinadores, em muitas ocasiões, são vitrines de palavras brilhantes e vazias.

Muitos adoradores da Divindade, frequentemente mergulham-se na preguiça a pretexto de cultuar a Glória Celeste.

Famosos matemáticos, não raro, são símbolos de sagacidade e exploração inferior.

Amemos o trabalho que a Eterna Sabedoria nos conferiu, onde nos situamos, afeiçoando-nos à sua execução sempre mais nobre, cada dia, e seremos premiados pela grande compreensão, matriz abençoada de toda a confiança, de toda a serenidade e de todo o engrandecimento do espírito.

Para penetrar os segredos da estatuária, o escultor repete os golpes do buril milhares de vezes.

Para produzir o vazo de que se orgulhará em missão bem cumprida, o oleiro demora-se infinitamente ao contato da argila.

Para expor as peças com que enriquecerá o conforto humano, o carpinteiro, de mil modos, recapitulará, o aprimoramento do tronco bruto.

Não te queixes se a fé ainda te não coroa a razão.

Consagra-te aos pequeninos sacrifícios, na esfera de tuas diárias obrigações; à frente dos outros, cede de ti mesmo, exercita a bondade, inflama o otimismo por onde passes, planta a gentileza de teus sonhos, movimenta-te no ideal de sublimação que elegeste para alvo de teu destino...

Aprende a repetir para que te aperfeiçoes...

Não vale fixar indefinidamente as estrelas, amaldiçoando as trevas que ainda nos cercam.

Acendamos a vela humilde de nossa boa vontade, no chão de nossa pobreza individual, para que as sombras terrestres diminuam e o esplendor solar sintonizar-te-á com a nossa flama singela.

A tomada insignificante é o refletor da usina, quando ligada aos seus poderosos padrões de força.

Confessemos Jesus em nossos atos de cada hora, renovando-nos com Ele e sofrendo felizes em seu roteiro de renunciação, auxiliando a todos e servindo, cada vez mais, em Seu Nome, e, de inesperado, reconheceremos nossa alma inundada por alegria indizível e por silenciosa luz...

É que o trabalho de comunhão com o Mestre terá realizado em nós a sua obra gloriosa, e a fé perfeita e divina, por tesouro inalienável, brilhará conosco, definitivamente incorporada à nossa vida e ao nosso coração.


Pelo Espírito Emmanuel
Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Servidores No Além. Lição nº 03. Página 29

28 outubro 2014

Liberdade Real - Joanna de Ângelis


LIBERDADE REAL

Clama-se por liberdade de pensamento, de opinião, de movimento, de ação...v A liberdade expressa-se como necessidade política e religiosa, artística e cultural, econômica e ética, para ser vivida, mas, mesmo quando se encontra estabelecida e proclamada, a imaturidade psicológica e o atraso moral de grande parte da sociedade que a anela, geram perturbações e descambam no crime.

Não se pode fruir de liberdade sem a consciência de responsabilidade, que faculta o respeito às leis, aos direitos dos outros, aos compromissos institucionais relevantes com disciplina e consideração.

Quando a Revolução Francesa proclamou os louvores à liberdade, desapeando do poder a velha Casa dos Capetos tradicionais, o clero, a aristocracia e os dominadores momentâneos, logo vieram os direitos humanos e a conquista da cidadania. No entanto, o desequilíbrio de alguns líderes apaixonados e atormentados abriram os lamentáveis períodos para a instalação dos dias do Terror, que mancharam a dignidade humana já ultrajada pelos ódios entre os novos partidos governamentais e desonraram os ideais libertários.

A ânsia pela liberdade, infelizmente, ainda hoje se transforma em terrorismo aparvalhante, em guerras hediondas, quando facções alucinadas atiram-se em lutas cruéis, semeando o horror e a destruição, logo, porém, sucumbindo por sua vez, vencidas por outros grupos mais perversos que as odeiam.

Liberando o fanatismo de qualquer natureza, sempre insano, produz a selvageria de que a civilização já deveria estar liberada, em espetáculos de morbidez que levam ao desespero dezenas, centenas de milhares de pessoas que são obrigadas a abandonar tudo, a fim de fugirem da sanha venenosa, para buscarem amparo em regiões não menos terríveis, como os campos de refugiados nos desertos, nas áreas infectas do mundo...

Vidas estioladas todas essas, que perdem as raízes da sua origem e desenvolvem-se em situações deploráveis de miséria de todo tipo.

As etnias africanas ou europeias, asiáticas ou americanas, permanecem em atos de agressividade, com derramamento de sangue que encharca o solo ressequido, utilizando-se do direito à liberdade que negam aos demais, também seus irmãos, que são acusados de estar do outro lado. E o que eram antes fraternidade, sorrisos, converte-se, rapidamente, em inconcebíveis carnificinas que estarrecem.

A verdadeira liberdade, porém, paira acima dos ideólogos interessados na libertinagem e no desar.

Ei-los, os violentos e sandeus, mascarados de idealistas e sonhadores, repentinamente transformados em hediondos inimigos da Humanidade que desarticulam, ambiciosos e extravagantes, violentos e inescrupulosos.

*

Jesus referiu-se que somente há liberdade quando se conhece a Verdade. E, por isso mesmo, recomendou que se a buscasse com empenho e insistência. A Verdade, porém, é Deus. Na impossibilidade atual de se entendê-lO e mesmo conhecê-lO, na Sua transcendência, a busca do conhecimento espiritual, da finalidade da existência terrestre, liberta da ignorância, que é a responsável por incontáveis males que afligem a sociedade.

Nesse sentido, merece que se reflexione em torno da liberdade interior que se expande para fora, quando se percebe que a verdade se estabelece inicialmente no íntimo, quando se inicia o esforço pela superação do egoísmo, responsável pelos desejos subalternos e pelos vícios sociais, morais e comportamentais.

Essa é a revolução especial, mais difícil, única, porém, que pode proporcionar a conquista do objetivo existencial, que é a plenitude.

Livre, portanto, é todo aquele que compreende a necessidade de contribuir em favor do bem geral, que se esforça pela vivência solidária e transforma os seus desejos, alterando-lhes o direcionamento.

Tudo quanto antes aspirava apenas para si, agora se transforma num esforço comum em benefício de todos.

O vício escraviza, asselvaja, retém a sua vítima nas prisões da dependência tirânica, e por mais se desfrute de liberdade política e social, onde se vai, permanece-se em encarceramento.

Somente através da consciência responsável e digna pelo que opera na mudança do comportamento moral, é que se pode vivenciar a liberdade, mesmo quando as circunstâncias ainda não a concedem.

A criatura que aspira por ser realmente livre deve empenhar-se com denodo para transformar as dependências viciosas em conquistas éticas saudáveis.

O Mestre Galileu, sitiado pelos fariseus e pretorianos impenitentes e pusilânimes, seguidos pelos escravocratas de diferentes denominações, enfrentou a impostura e o poder de mentira com a autoridade moral da Sua pureza, fazendo-se respeitar e temer, por cuja grandeza foi crucificado...

Altivo, na execução do programa renovador da Humanidade, substituiu a Lei antiga pela de amor, intimorato, proclamou a liberdade e viveu-a, atraindo multidões, que abalaram o Império Romano e modificaram-lhe a estrutura. Entretanto, à medida que as criaturas se descuidaram moralmente, perderam a liberdade, por permitir-se os vícios, corrompendo-se e tornando-se vítimas das suas próprias ambições desnaturadas, os desejos mesquinhos e hediondos que as assinalam.

Séculos de trevas e dores sucederam-se até o momento em que a ciência se libertou do totalitarismo da fé cega, preparando a sociedade para a chegada do Consolador.

*

A Revelação Espírita, ao esclarecer as consciências que anseiam pelo infinito, proclama a imortalidade da alma e sua reencarnação, demonstra-as, enquanto proporciona a visão do futuro que a todos aguarda, e rompe os grilhões retentivos dos vícios, à medida que proporciona a liberdade real.

Livre e feliz, segue Jesus, o Libertador, e a Ele entrega-te, a fim de plenificar-te em definitivo.

Joanna de Ângelis

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 11 de junho de 2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

26 outubro 2014

Desperdícios - Joanna de Ângelis

 

DESPERDÍCIOS


Há muito desperdício no mundo, fomentando larga faixa de miséria entre os homens.

O que abunda em tua mesa falta em muitos lares.

O excesso nas tuas mãos é escassez em inúmeras famílias.

O que te sobra e atiras fora, produz ausência em outros lugares.

O desperdício é fator expressivo de ruína na comunidade.

O homem, desejando fugir das realidades transcendentes da vida, afoga-se na fantasia, engendrando as “indústrias da inutilidade, abarrotando-se com os acúmulos, padecendo sob o peso constritor da irresponsabilidade, em que sucumbe por fim.

A vida é simples nas suas exigências quase ascetas.

Muitos cristãos distraídos, porém, ataviam-se, complicam os deveres, sobrecarregam-se do dispensável, desperdiçam valores, tempo e oportunidade edificante para o próprio burilamento.


*


Desperdiçam palavras, amontoando-as em verbalismo inútil a fim de esconderem as verdades;

desperdiçam tempo em repousos e férias demorados, que anestesiam os centros combativos da ação da alma encarnada;

desperdiçam alimentos em banquetes, recepções, festas extravagantes com que disputam vaidades;

desperdiçam medicamentos em prateleiras empoeiradas, aguardando, no lar, doenças que não chegarão, ou, em se apresentando, encontram-nos ultrapassados;

desperdiçam trajes e agasalhos em armários fechados, que não voltarão a usar;

desperdiçam moedas irrecuperáveis em jogos e abusos de todo gênero, sem qualquer recato ou zelo;

desperdiçam a saúde nas volúpias do desejo e nas inquietações da posse com sofreguidão;

desperdiçam a inteligência, a beleza, a cultura, a arte nos espetáculos do absurdo e da incoerência, a fim de fazerem a viagem da recuperação do que estragaram, em alucinada correria para lugar nenhum...

Não se recupera a malbaratada oportunidade.

Ninguém volta ao passado, na busca de refazê-lo, encaminhá-lo noutro rumo.

O desperdício alucina o extravagante e exaure o necessitado que se lhe faz vítima.

Há, sim, muito e incompreensível desperdício na Terra.


*


Reparte a tua fartura com a escassez do teu próximo.

Divide os teus recursos, tuas conquistas e vê-los-ás multiplicados em mil mãos que se erguerão louvando e abençoando as tuas generosas mãos.

Passarás pelo mundo queiras ou não. Os teus feitos ficarão aguardando o teu retorno.

Como semeares, assim recolherás.

O que desperdiçares hoje, faltar-te-á amanhã, não o duvides.

Sê pródigo sem ser perdulário, generoso sem ser desperdiçador e o que conseguires será crédito ou débito na contabilidade da tua vida perene. 

Pelo Espírito Joanna de Ângelis
De “LEIS MORAIS DA VIDA”
De Divaldo Pereira Franco

25 outubro 2014

A imensa alegria de viver - Ricardo Orestes Forni



A IMENSA ALEGRIA DE VIVER

É preciso, ou não, sentir alegria de viver? Claro que sim! A vida é um dom sublime e devemos sentir uma imensa alegria ao vivê-la!

Pois, então, vamos a certas considerações.

Os negócios de uma empresa iam, como se diz “de vento em popa” e os donos sentiam uma imensa alegria de viver.

A saúde inunda nosso corpo físico e sentimos disposição e temos uma imensa alegria de viver.

Nossos pais, nossos filhos, nossos entes queridos, enfim, estão todos bem e sentimos uma imensa alegria de viver.

Estamos em perfeito equilíbrio emocional, sem a visita da depressão ou coisas semelhantes, e na posse desse estado de alma sentimos uma imensa alegria de viver.

Colocadas essas considerações que nos levam à alegria de viver, vamos compará-las a alguns ensinamentos ditados por Joanna de Ângelis na página psicografada por Divaldo em cinco de junho de 2014, em Vitry-sur-Seine, França.

“Enquanto a barca da reencarnação navegava nas águas tranquilas do prazer, todos os acontecimentos eram enriquecidos pelos sorrisos, pela imensa alegria de viver.

Tinhas a impressão de que te encontravas no verdadeiro paraíso, sem maiores preocupações com o processo de evolução.

Inesperadamente, porém, foste surpreendido por ocorrências imprevistas e te encontras tomado de surpresa e desencanto, acreditando-te desamparado e sem o socorro da divina Providência.

Sucede que a Terra é escola abençoada que faculta o progresso intelecto-moral dos Espíritos que nela reencarnam.

Nesse sentido, o sofrimento se apresenta como benfeitor, por despertar a consciência adormecida e propor-lhe a visão correta para o comportamento durante a existência.

Sempre surgem, em todas as vidas, esses fenômenos inesperados, porque eles fazem parte do programa de iluminação da humanidade.

Ninguém há que se encontre indene à sua ocorrência.

Eles se apresentam e esperam ser bem recebidos, mesmo marchetando a alma e retirando a aparente tranquilidade. O físico é o mundo das ilusões e das fantasias.

O espiritual é aquele de onde se procede e para onde se retorna.”

*

Nessas poucas linhas que reproduzimos da mensagem de Joanna, conseguimos entender a verdadeira imensa alegria de viver de Chico Xavier que, mesmo com todos os problemas que enfrentou no seio familiar, no meio espírita e fora dele, realmente era feliz. A imensa alegria de viver inundava-lhe o interior do ser.

Entendia ele que estava de retorno “de onde se procede e para onde se retorna”. A alegria de viver não se assentava na paz transitória dos dias vividos no uniforme do corpo físico, mas na paz de consciência que o mundo nos permite conquistar quando enfrentamos e vencemos a nós mesmos diante dos obstáculos que se apresentam durante a nossa jornada pela escola da Terra.

Podemos, da mesma forma e pelos mesmos motivos, citar o exemplo de Divaldo, que, enfrentando problemas que só ele mesmo poderia descrever, apresenta-se sempre feliz e agradecido a Deus pelo dom da vida. Como bem frisou Joanna, ninguém há que se encontre imunizado contra os problemas da jornada terrestre.

Não voltamos para viajar placidamente pelo mundo como se estivéssemos nos instalado num hotel cinco estrelas em uma suíte de alto valor. Aliás, os problemas são exatamente os agentes que a Lei coloca em nosso caminho para que encontremos as soluções que nos afligem o Espírito. Não fossem eles e estacionaríamos.

 Estacionados, ficaríamos longe da perfeição. E quanto mais longe da perfeição para a qual fomos criados por Deus, mais longe estaremos da felicidade e da paz que tanto desejamos, mas que procuramos nas águas calmas de uma existência física sem problemas. Quando pequenas ondas agitam o mar de nossa existência, agarramo-nos ao barco frágil do corpo e nos desesperamos, nos desequilibramos, exatamente como fizeram um dia os Apóstolos no mar da Galileia. A grande diferença é que já temos dois mil anos de lições de Cristianismo que deveriam ter instalado dentro de nós a bússola da fé em Deus.

Baseados nos ensinamentos de Joanna, temos sentido uma imensa alegria de viver? Ou ainda nos agarramos desesperados ao barco do corpo físico diante dos problemas da vida, sem compreender que retornamos, a cada dia que passa, para onde viemos?


Ricardo Orestes Forn

24 outubro 2014

O Que o Espiritismo Pensa do Aborto - Elias B. Ibrahim


Memorial para a Criança Não Nascida
Escultor: Martin Hudáček - Eslováquia

O QUE O ESPIRITISMO PENSA DO ABORTO

De conformidade com os ensinamentos espíritas, o aborto é crime dos mais condenáveis. Praticado no silêncio, covardemente, contra um ser indefeso, o aborto é um atentado à vida, dada por Deus e que somente pelo Criador pode ser tirada.

Dizer que a mulher é dona do seu corpo e dele pode dispor como bem entender, não é verdade, porque ninguém é dono do corpo, tanto assim que quando desencarnamos o nosso corpo fica na Terra. Somos apenas usufrutuários do próprio corpo. Portanto, uma das argumentações preferidas, a de que "a mulher é dona do seu corpo", é radicalmente falsa e não pode ser aceita como pretexto para a prática do aborto.
Ainda assim, se pensássemos (erradamente) que a mulher "é dona do seu corpo", ela não teria direito de fazer o aborto, porque o aborto atinge um outro corpo, um ser distinto da mãe. A própria lei dos homens ensina que o nosso direito vai até onde começa o do próximo.

Outra pseudo-justificativa preferida dos abortistas é a de que "não tem condições de criar o filho" ou "o filho não foi desejado". 

Ambas as colocações não são justas, porque se levarmos adiante essa alegação de que "não tem condições de criar" ou "o filho não foi desejado", muitas crianças seriam mortas, muitos velhos seriam eliminados sob o mesmo pretexto, pois a diferença é apenas de idade. O feto é igualmente um ser vivo, a partir da concepção, contando com alguns dias ou meses de vida, quando é assassinado sob as falsas justificativas acima expostas.

A verdade é que devemos fazer a opção antes da concepção, depois é assumir o que está feito. É uma questão de responsabilidade. Não merece crédito quem não assume o que faz. O que diríamos de uma pessoa que assinasse um contrato e depois não o cumprisse sob a desculpa de que "não tem condições" ou "não desejava"? Diríamos, certamente, é um irresponsável, um inconseqüente, não pensa para fazer as coisas, essa pessoa não merece mais confiança para negócios. No caso do aborto o compromisso é entre duas pessoas, homem e mulher e ambos têm responsabilidade pelo crime. As pessoas que aconselham, que divulgam o aborto, o cirurgião que executa, são coniventes com o crime e prestarão contas à justiça divina.
Há somente um caso em que o aborto é aceito pelo Espiritismo: quando está em risco a vida da mãe, comprovadamente. Nessa hipótese devemos salvar a mãe, que tem já sua vida em andamento, outros filhos para criar, muitas vezes. Somente nesse caso. Fora disso devemos aceitar o filho, Pois "não cai uma folha seca de uma árvore sem que Deus queira".

Devemos promover campanhas de orientação às mães, aos pais, para que não cometam o crime que muito pesará em suas consciências.

Elias B. Ibrahim

23 outubro 2014

Gratidão, por que? - Renato Costa



GRATIDÃO, POR QUE?

Agostinho de Hypona discorre, no Item 9 do Capítulo XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo, sobre um tema ao qual Kardec intitulou de “A Ingratidão dos Filhos e os Laços de Família”

Naquele trecho, um dos muitos classificados pelo Codificador como “Instruções dos Espíritos”, Agostinho inicia afirmando ser a ingratidão um dos frutos diretos do egoísmo. De fato, quem não é grato por um favor que recebe é porque se julga merecedor de tal favor, entendendo que aquele que o prestou nada mais fez que sua obrigação. Ora, o que é alguém que se julga merecedor do favor de todos sem a ninguém achar necessário agradecer, senão alguém totalmente centrado em si mesmo, isto é, um egoísta?

A seguir, Agostinho apresenta as três situações básicas em que a sociedade humana entende estar ocorrendo a ingratidão de filhos para com seus pais, a saber: 

- quando os espíritos guardam ódio entre si por força de ocorrências passadas e a sua aproximação, encarnando como membros de uma mesma família, não logra atenuar suficientemente tais ódios;
- quando os pais, por motivos vários, são tolerantes em demasia para com os vícios de seus filhos, faltando ao seu dever de transmitir a eles valores morais e lhes permitindo que façam tudo o que desejam fazer, colhendo, quando idosos, os frutos que eles mesmos plantaram;
- quando uma família constituída de espíritos afins e harmonizados recebe em seu meio um espírito em desequilíbrio e, mesmo tudo fazendo para integrá-lo ao ambiente de paz e harmonia do restante do núcleo familiar, não conseguem desviá-lo totalmente do vício.

Explicando-nos os motivos para cada situação e nos orientando sobre como proceder em cada caso, o ex-bispo de Hipona, uns dos grandes pensadores cristãos e grande colaborador da Codificação, encerra sua mensagem.

Gostaríamos, neste ponto, de fazer uma reflexão junto com o amável leitor. Sabemos que os preceitos morais de Jesus nos foram explicados pelos espíritos que colaboraram na Codificação, sobre a liderança de nosso amado Mestre, com a finalidade de nos consolar quanto às angústias que atormentavam nosso coração e nos esclarecer quanto às dúvidas que intrigavam nossas mentes, apontando-nos, dessa forma, um rumo seguro a tomar. Ora, como não poderia deixar de ser, os esclarecimentos voltados a consolar nossas angústias tiveram que ser direcionados àquelas que atormentavam a sociedade humana no século XIX, muitas das quais ainda o fazem neste século XXI. Tais angústias eram, como ainda são, fruto de nossa percepção das coisas e, como tal, passíveis de atenuação, à medida que tal percepção se torna mais clara e tem melhor correspondência com a realidade.

É nessa linha de raciocínio que nos propomos a refletir sobre a percepção da sociedade humana quanto ao que seja gratidão ou ingratidão de filhos.

Ingratidão é falta de gratidão. O sentimento de gratidão está associado à percepção, por aquele que é grato, de ter recebido um favor daquele a quem ele é agradecido. Ao falamos de gratidão dos filhos, portanto, é mister que saibamos qual o favor que fazemos a nossos filhos para que venhamos a esperar deles gratidão. Vejamos algumas hipóteses.

Talvez nossos filhos nos devam ser gratos porque os trouxemos à vida. No entanto, trazer filhos à vida, todos os animais trazem. O prazer que todos os animais e o ser humano sentem no ato de acasalamento existe como estímulo à reprodução, com finalidade, segundo a ciência, da perpetuação da espécie. Trazer filhos à vida é, portanto, uma simples lei da natureza. Talvez nos devam ser gratos porque os agasalhamos, abrigamos e educamos. Mas, agasalhar, abrigar e educar filhos, os animais superiores também fazem com os seus. Mais uma vez, o ser humano nada faz de especial.

Que fazemos por nossos filhos, então, que mereça a sua gratidão? Antecedendo um pouco essa questão, perguntemos a nós mesmos o que fazem os outros por nós que nos faça sentir agradecidos. 

Quando um pintor faz um serviço perfeito em nossa casa, sem uma falha, somos gratos a ele por isso? Quando deitamos na cama, tranqüilos, à noite, sabendo que há um vigia noturno na portaria cuidando para que estranhos não entrem em nosso prédio e abrindo a porta para os moradores que chegam tarde, somos gratos a ele por isso? Quando saímos na rua e pisamos em uma calçada limpa, somos gratos ao lixeiro que a varreu? Ocorre que esses, poderia nos dizer o leitor amigo, são casos em que pagamos pelos serviços, logo não há porque sermos gratos por eles serem bem executados. Tudo bem, vejamos, então, casos onde não ocorre pagamento.

Quando vamos ao Centro Espírita e somos beneficiados pela espiritualidade e pelos trabalhadores anônimos que ali trabalham, somos gratos a eles pelas bênçãos recebidas? Ao longo do dia, sempre que nos sentimos bem e inspirados em nossos pensamentos ou ações ou quando nos sentimos confortados em nossas crises emocionais, lembramos de agradecer a nossos guias espirituais, pela paciência com que eles, há séculos ou milênios, nos guiam e orientam, sempre acreditando em nós, mesmo quando nós mesmos não o fazemos mais? Quando contemplamos a natureza e vemos a beleza de suas formas e a sabedoria expressa em cada um de seus seres, somos gratos a Jesus por nos ter oferecido como lar um jóia tão preciosa? Quando acordamos pela manhã, somos gratos a Deus, pelas suas soberanas, sábias e amorosas leis que nos oferecem mais uma oportunidade de corrigir nossos erros, vencer provas e progredir sem cessar até a perfeição?

Se nunca somos gratos pelos benefícios que recebemos diariamente de Deus, de Jesus, de nossos guias espirituais e dos homens, por que razão haveríamos de esperar a gratidão dos filhos pelo simples fato de termos cumprido nosso dever para com eles?

Desconcertados por não encontrarmos nenhum motivo para que nossos filhos nos sejam gratos, lembramos, finalmente, do amor. Sim, nosso filho nos deve ser grato porque o amamos, dizemos, aliviados por termos encontrado um motivo. Mas, como foi que o amamos? Era nosso amor um amor “eros”, o amor egoísta, todo o tempo levando nosso filho a fazer coisas que fizessem bem ao nosso ego e não ao seu progresso espiritual? Era “filis” o nosso amor, um amor possessivo, sufocando nosso filho na infância e adolescência com nossa permanente presença, nada deixando que ele decidisse por si só e, quando adulto, cobrando dele constantes visitas e telefonemas como se a única razão de seu viver fosse estar sempre junto de nós? Ou nosso amor era “ágape”, o amor altruísta e desprendido, tudo fazendo para ajudá-lo em sua caminhada, incentivando-o, orientando-o com paciência e dedicação no caminho do bem, mas nada esperando em troca?

Enfim, chegamos onde queríamos chegar. A única coisa que podemos dar a nossos filhos que, em tese, mereceria gratidão, é justo aquela que nada espera em troca, o amor incondicional. Amemos nossos filhos com desprendimento, nada esperando deles por isso. Nossos filhos são espíritos, filhos de Deus que estão sob nossos cuidados porque nossos guias espirituais julgaram que poderíamos ajudá-los em sua evolução. 

Façamos o que se espera de nós dando o melhor que temos nessa missão. Nossa recompensa pelo amor que dedicarmos a eles será a satisfação de vê-los trilhando o caminho do bem, sinalizando para nós que nossa missão para com eles terá sido cumprida. Quem ama de verdade já está recompensado e não espera gratidão da pessoa amada.

Renato Costa
O Clarim, edição de Setembro de 2006


22 outubro 2014

Da Mulher - André Luiz

 

DA MULHER 

Compenetrar-se do apostolado de guardiã do institudo da família e da sua elevada tarefa na condução das almas trazidas ao renascimento físico. 
Todo compromisso no bem é de suma importância no mundo espiritual. 
*
Afastar-se de aparências e fantasias, consagrando-se às conquistas morais que falam de perto à vida imperecível, sem prender-se ao convencionalismo absorvente. 
O retorno à condição de desencarnado significa retorno à consciência profunda. 
*
Afinar-se com os ensinamentos cristãos que lhe situam a alma nos serviços da maternidade e da educação, nos deveres da assistência e nas bênçãos da mediunidade santificante. Quem foge à oportunidade de ser útil, engana a si mesmo. 
*
Sentir e compreender as obrigações relacionadas com as uniões matrimoniais do ponto de vista da vida multimilenária do Espírito, reconhecendo a necessidade das provações regenerativas que assinalam a maioria dos consórcios terrestres. 
O sacrifício representa o preço da alegria real. 
*
Opor-se a qualquer artificialismo que vise transformar o casamento numa simples ligação sexual, sem as belezas da maternidade. 
Junto aos filhos apagam-se ódios, sublima-se o amor e harmonizam-se as almas para a eternidade. 
*
Reconhecer grave delito no aborto que arroja o coração feminimo à vala do infortúnio. 
Sexo desvirtuado, caminho de expiação.
*
Preservar os valores íntimos, sopesando as próprias deliberações com prudência e realismo, em seus deveres de irmã, filha, companheira e mãe. 
O trabalho da mulher é sempre a missão do amor, estendendo-se ao infinito. 
"E, respondendo, disse-lhe Jesus: - Marta, Marta estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada." (Lucas, 10:41 e 42)
Conduta Espírita - FEB
Médium: Waldo Vieira
Pelo Espírito André Luiz
Livro eletrônico gratuito em http://www.febnet.org.br

 

21 outubro 2014

Pecado - Richard Simonetti



PECADO

A fim de atrair fieis para sua igreja, o pastor das almas colocou um cartaz na porta: Se você está cansado de pecar, entre.

Alguém anotou, embaixo, letra feminina, um número de telefone, observando: Se ainda não estiver cansado de pecar, ligue-me.

A anedota é infame, amigo leitor, mas remete-nos à expressão pecado que costuma ser situada como uma ofensa a Deus. Na verdade, não temos competência para isso. O relativo jamais atingirá o Absoluto.

Não obstante, podemos usa-la para definir um comportamento que compromete nossa filiação divina.

A teologia medieval fala em sete pecados capitais, passíveis de remeter a Alma para as caldeiras de Belzebu: Avareza, Gula, Inveja, Ira, Luxúria, Orgulho e Preguiça.

As religiões situam-se por apelos divinos, convocando-nos a superar o comportamento pecaminoso.

Não obstante, sempre há recadinhos de nossa inferioridade: Passe ao largo, desfrute os prazeres, aproveite a vida.

Não perca tempo com beatices.

Ligue para mim (dê atenção às minhas sugestões)…

A propósito do assunto, o apóstolo Paulo tem ilustrativa observação (Romanos, 7:19): Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.

É o retrato fiel da condição humana, em que prevalecem impulsos primitivos de animalidade, uma espécie de ir ao sabor da correnteza, acompanhando a multidão.

Mais desejável deter do que oferecer.

Mais animador o excesso do que a frugalidade.

Mais fácil revidar do que relevar.

Mais envolvente a sensualidade do que a castidade.

Mais convidativa a inércia do que a ação.

Mais atraente o vício do que a virtude.

Mais motivadora a paixão do que a razão.

Todavia, há conseqüências indesejáveis.

Quando nos deixamos levar, fica sempre um gosto amargo de fim de festa, uma inquietação indefinível, como se estivéssemos fora dos ritmos da Vida, distraídos dos objetivos da existência, transviados em relação às metas que nos compete alcançar.

Nesses descaminhos, há um encontro tão infalível quanto indesejável: A Dor, mestra severa e intransigente, a serviço de Deus, a cumprir a missão que lhe foi confiada: corrigir nossos rumos, ajudando-nos a trilhar os caminhos retos, superando as tendências inferiores que nos inspiram. Então, lamentamos o tempo perdido, os comprometimentos, a semeadura de frustrações e angústias.

Imperiosa, portanto, elementar providência, se desejamos aproveitar integralmente as oportunidades de edificação da jornada humana, evitando os penosos encontros com a Dor: Ignoremos os recados mal intencionados dos instintos.

Atendamos aos convites da religiosidade, em favor de nossa própria renovação.

Por Richard Simonetti
Fonte: A Voz do Espiritismo

20 outubro 2014

Carmas Imaginários - Ermance Dufaux


CARMAS IMAGINÁRIOS

Carma = ação.

Tomou a conotação cultural-religiosa de destino traçado e imutável, servindo para designar as coisas ruins que podem acontecer a alguém em ração de erros perpetrados em outras existências carnais.

Costuma estar associado ao sofrimento ou algo que não aceitamos e somos obrigados a tolerar, por tratar-se de um débito que assumimos antes de renascer fisicamente.

Assinala-se que o sentido existencial da reencarnação é pagar dívidas, resgatar crimes, construindo assim um enfoque pessimista e aterrorizante para a filosofia espírita em função de interpretações errôneas ao sabor do desamor e da punição. A pior conseqüência dessa forma de entendimento é o cultivo da dor como mecanismo de evolução e crescimento, gerando um clima de tristeza regado pela cultura do não merecimento. Diz-se que é necessário tolerar com resignação todas as provas e adota-se uma postura de incondicional passividade ante as lutas, usando de tolerância orgulhosa ante as infelicidades da vida.

Entre pessoas que vivem nesse regime, a dor assume a feição de um troféu importante de se exibir, e passa a ser heróico falar da quantidade de dificuldades para dar a impressão do tamanho do carma. É um fenômeno comportamental sui generis, porque, em verdade, é mais uma faceta da vaidade que teima em se manifestar ostentando a elevação espiritual que logrará essa criatura tão logo ao desencarnar, já que se convencionou a idéia de que quanto mais sofre, mais espiritualizado estará.

Essa postura de resignação passiva é atavismo religiosista proveniente da formação dos últimos milênios, na qual estipulou-se o conceito do eu pecador na desvalorização do homem perante Deus e o mundo, inserindo a culpa e a ausência de méritos como os valores a serem cultuados.

Os reflexos desse estado psicológico fazem-se sentir através do perfeccionismo, da autopunição, das cobranças exacerbadas e da inaceitação de si mesmo.

Existem muitos corações respirando nesse regime de dor como fonte de salvação que se encontram revoltados, inconformados, odientos e prestes a cometer um mau ato, alimentando a infeliz concepção de que estão queimando seus débitos esforçando-se para manterem a resignação dentro dessa perspectiva de passividade plena na espera de que Deus e os bons espíritos venham mudar as coisas.

São carmas imaginários, a representação mental distorcida de realidade. Uma situação que amplia o sofrimento do homem por ausência de sensatez e de amor a si mesmo. São imaginários, porque nem sempre correspondem aos verdadeiros lances de aprendizado projetados antes das reencarnações, acumulando dores voluntárias para seus cultores por imaginar que todos os problemas pelos quais passam têm origem em desluzes cometidos em outras existências corporais.

Em uma análise feita daqui para o mundo físico, constatamos que pelo menos 2/3 dos sofrimentos humanos provém da imprudência e de escolhas mal feitas, não sendo real atribuir a outras existências esse uso do livre-arbítrio. O discernimento poderá comprovar essa realidade.

Além da improbabilidade real de muitos fatos estarem submetidos à Lei de Causa e Efeito, devemos considerar que a finalidade do sofrimento é aprender, e se mantivermos uma resignação de fachada sem atingir o homem no seu orgulho, e nos seus interesses materiais, de nada nos valerá a dor, causando ainda muitos problemas na vida imortal.

Se continuarmos ao lado dessa ou daquela pessoa em nome de carmas originados de um passado suspeito e não confirmado, estaremos trabalhando pela nossa infelicidade, apenas suportando – tolerância estática - , quando o propósito Divino das provações é o aprendizado – resignação ativa.

Se nos mantivemos nessa ou naquela posição social por carma, em decidida preguiça de melhorar, estaremos adiando uma provável opção de Deus em nosso favor por não agirmos para sair das situações incômodas.

Isso não nos deverá em hipótese alguma incentivar as decisões de fuga e abandono dos compromissos, porque, em verdade, estaremos assim fugindo de nós próprios, transferindo para os novos relacionamentos ou lugares as mesmas mazelas anteriores.

Resignação sim, mas ativa e otimista. Tolerância construtiva nos relacionamentos para que haja crescimento. Esforço pessoal no campo social para que nos credenciemos a maiores responsabilidades e benefícios.

Agüentar por agüentar, sofrer por sofrer é ausência de consciência nas provas e adiamento de soluções.

Suportar por suportar é perda incalculável. Suportar trabalhando para vencer e aprender é solução a caminho.

Se estamos na dor, precisamos entender seus alvitres, suas indicativas em favor de nosso aprendizado, a fim de sairmos da lamentável condição de vítimas cármicas de dores que poderíamos superar.

Do livro: Mereça Ser Feliz – Superando as ilusões do orgulho -  Wanderley S. de Oliveira – Espírito Ermance Dufaux

19 outubro 2014

Amar é Sofrer - Momento Espírita

 

AMAR É SOFRER?

Quem disse que “amar é sofrer” jamais amou.

O beijo do ar da madrugada desperta a vida que dorme.

O sorriso da lua engrinaldada de estrelas diminui as sombras.

A carícia do sol vitaliza todas as coisas.

E a chuva que lava a terra, e reverdece o chão, e abençoa o mundo, correndo no rio, esvoaçando na nuvem esgarçada, são as tuas expressões de amor, construtor real, demonstrando o teu poder, a tua grandeza e a minha pequenez.

Quem ama, sempre doa, e não sofre, porque ama.

Quem diz que amar é sofrer ainda está esperando pelo amor e jamais amou.

As palavras do poeta Tagore são fortes. Desafiam todos os autores que até hoje cantaram, emocionados, as dores do amor.

E foram tantos... E ainda são.

O amor do mundo sempre esteve vinculado à dor, pois sempre foi um amor apego, um amor posse, um amor desespero.

Agia-se no ímpeto por amor, e lá vinha a dor. Esperava-se indefinidamente por amor, e lá se iam anos de sofrer silencioso.

Nossa arte revela isso de forma magistral: o ser humano tentando sobreviver amando dessa forma.

Chegamos ao ponto de nos autoflagelarmos por ele, ou ainda, de acabar com nossa própria vida, por não suportar tal vil pesar. E o pior, achamos isso belo, romântico...

Imaturos fomos, assim como o que chamamos de amor ao longo das eras também o foi.

Inventamos um tal de amor à primeira vista, para justificar paixões retumbantes, apenas desejos ardentes muitas vezes...

Alguns ainda, aprenderam a chamar o ato da união sexual em si, de fazer amor, como se em toda coabitação ele estivesse obrigatoriamente presente – quem dera...

Entendemos pouco de amor.

E não foi por falta de bons exemplos.

Recebemos na Terra o Espírito que irradiava amor, e que proclamou esta palavra aos quatro ventos, de uma forma inesquecível.

O amor do qual Jesus falava era esse amor doação, o amor ágape.

Pode haver sofrimento em nosso coração ainda por algum tempo, mas não por amar, e sim, apenas por não sabermos amar de forma devida.

São nossos vícios que trazem as dores. O amor só traz alegria e paz, pois é responsável pela consciência pacificada.

A carícia do sol vitaliza todas as coisas e o amor verdadeiro é este sol, que sempre vitaliza e nunca enfraquece.

Nas piores noites o sorriso da lua engrinaldada de estrelas diminui as sombras. É novamente o amor, consolando, dando esperança, e jamais provocando mais escuridão.

É tempo de conhecer melhor o amor, agora que podemos ser mais maduros, que entendemos que não possuímos as coisas nem as pessoas; agora que entendemos que não estamos aqui para ter, mas para ser.

Ainda estamos esperando pelo amor, é certo, porém, cada movimento que fazemos em direção ao outro, deixando de lado o vício do egoísmo e do orgulho, é um passo que damos até ele.

E talvez logo descubramos que não fomos nós que esperamos pelo amor durante todo esse tempo, mas ele que sempre esperou por nós...

Por Redação do Momento Espírita, com base em trecho do cap. XXII, do livro Estesia, de Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.

18 outubro 2014

Relacionamento - Emmanuel




RELACIONAMENTO

Se dificuldades e provações te visitam, no relacionamento com o próximo, não te permitas requentar mágoas no coração.

Deixa que a confiança na Sabedoria Divina te dissipe qualquer sombra do pensamento, lembrando o Sol a desfazer nuvens diariamente para vitalizar e revitalizar os processos da vida.

Para isso, é imperioso que a compreensão te presida os impulsos. E a compreensão te fará saber que os outros são criaturas autônomas, gravitando sempre na direção de objetivos diferentes dos teus.

A certeza disso te livrará da solidão negativa, capaz de induzir-te a desânimo e desespero.

A verdade nos ensina que ninguém realiza o bem e nem caminha para o bem, sem os outros, mas para que isso aconteça, ninguém pode exigir que os outros lhe carreguem a existência, nas sendas a percorrer.

Os outros serão nossos cooperadores, intérpretes, associados e companheiros, enquanto isso se lhes faça possível, ocorrendo o mesmo conosco, em relação a eles.

À vista disso, ama seus amigos sem prendê-los.

Esse terá sido o sustentáculo de tuas esperanças, por muito tempo; entretanto, é possível surja um dia em que não consiga permanecer inteiramente a teu lado, em face de novas tarefas que lhe despontam na senda.

Outro te entendia os propósitos, até ontem; no entanto, experiências, que se lhe fizeram necessárias, alteraram-lhe provisoriamente os raciocínios.

Aceita-os quais se mostram, continuando a agir no exercício do bem e seguindo adiante na construção da vida melhor em ti mesmo.

Ninguém aprende algo de bom e nem melhora a si mesmo, sem os outros, mas ninguém pode depender totalmente dos outros nas realizações que demande nos momentos de mudança e renovação para aqueles que mais amas, afasta de ti a ideia de separação e não te lastimes.

Prossegue trabalhando, porque, pelos Desígnios da Vida Superior, outros virão ao teu encontro para a execução das tarefas que o mundo te conferiu e os que se afastam de ti voltarão depois, com mais força de amor, a fim de te auxiliarem ou serem auxiliados.

A verdade não se deteriora.

Somente perde os seres queridos aquele que possessivamente os procura, quando se fazem distantes, porquanto quem ama, ama sempre, e de tal modo que, ainda mesmo quando os corações amados se distanciam, o coração que ama prossegue amando-os e abençoando-os, sabendo conscientemente que, pelas forças do espírito, jamais deles se afastará.


Pelo Espírito Emmanuel
Do livro “Calma”
De Francisco Cândido Xavier