FRAGMENTOS DE KARDEC
Data sugere conhecer melhor o Codificador
A ocorrência do bicentenário de nascimento de Allan Kardec, o Codificador do
Espiritismo, em 03 de outubro de 2004 (o nascimento ocorreu em 1804), sugere que,
além dos dados biográficos – amplamente divulgados e conhecidos –, ampliar-se o
conhecimento de seus pensamentos, para identificação de seu perfil psicológico.
Colhemos em Obras Póstumas (1), alguns fragmentos de seus raciocínios,
para homenagear a importante efeméride.
Para conhecer seu perfil moral, a transcrição seguinte traz preciso embasamento:
“Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo
senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência
que o seu saber era limitado ao grau de seu adiantamento, e que a opinião deles
não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde
o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me
de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns. Só o fato
da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência
de um mundo invisível ambiente era já um ponto capital, um imenso campo franqueado
às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. O segundo
ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes,
se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua
posição pessoal e de seus conhecimentos, desvendava-me uma face desse mundo exatamente
como se chega a conhecer o estado de uma país interrogando os habitantes de todas
as classes e condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles
podendo, individualmente, ensinar-nos tudo.”
Para conhecer o método aplicado nos estudos e observações sobre o Espiritismo,
basta analisar esta frase: “(...) apliquei a esta ciência o método experimental,
não aceitando teorias preconcebidas, e observava atentamente, comparava e deduzia
as conseqüências, dos efeitos procurava elevar-me às causas, pela dedução e encadeamento
dos fatos, não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver
todas as dificuldades da questão. Foi assim que procedi sempre em meus anteriores
trabalhos, desde os quinze anos”.
Sobre a responsabilidade que se impunha, expõe Kardec: “compreendi logo
a gravidade da tarefa, que ia empreender, e entrevi naqueles fenômenos a chave do
problema, tão obscuro e tão controvertido, do passado e do futuro da humanidade,
cuja solução vivi sempre a procurar era, enfim, uma revolução completa nas idéias
e nas crenças do mundo. Cumpria, pois, proceder com circunspecção e não levianamente,
ser positivo e não idealista para não me deixar levar por ilusões”.
Comentando sobre o sistema de análise nas comunicações com os Espíritos:
“Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e conferindo,
uns com os outros, documentos que tenham recolhido. Desta forma, procedi com os
Espíritos como teria feito com os homens considerei-os, desde o menor até o maior,
como elementos de instrução e não como reveladores predestinados”.
Estabeleceu duas máximas que se imortalizaram de maneira patente a indicar os
caminhos da Doutrina Espírita: a) Fora da caridade não há salvação, princípio
que ressalta a igualdade entre as criaturas humanas, perante Deus, a tolerância,
a liberdade de consciência e a benevolência mútua; b) Fé inabalável é aquela
que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, ressaltando
que a fé raciocinada se apoia nos fatos e na lógica.
Para concluir, nada melhor que trazer aos leitores Uma Prece de Allan Kardec,
também extraída de Obras Póstumas, onde podemos sentir toda grandeza d’alma
deste nobre espírito: “Senhor! Se vos dignastes lançar os olhos sobre mim, para
satisfazer os vossos desígnios, seja feita a vossa vontade! A minha vida está em
vossas mãos disponde do vosso servo. Para tão alto empenho, eu reconheço a minha
fraqueza. A minha boa vontade não faltará, mas podem trair-me as forças. Supri a
minha insuficiência, dai-me as forças físicas e morais, que me sejam necessárias.
Sustentai-me nos momentos difíceis e com o vosso auxílio e o dos vossos celestes
mensageiros esforçar-me-ei por corresponder às vossas vistas”.
(1) Edicão Lake
Orson Peter Carrara
Nota do autor: esta matéria usou como referência a publicação Hippolyte
Léon Denizard Rivail - O Perfil de um Mestre, elaborado pelo Centro Espírita
“Esperança e Fé”, de Franca-SP, e reeditado pelo Centro Espírita “Caminho de Damasco”,
de Garça-SP, com pequenas alterações do texto original, e utilizando como bibliografia
as seguintes obras:
- Biografia de Allan Kardec, de Henry Sausse, edição LAKE;
- Grandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil, ed. FEB;
- Allan Kardec, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, ed. FEB;
- Vida e Obra de Allan Kardec, de Canuto Abreu, ed. Edicel;
- Obras Postumas, de Allan Kardec, ed. LAKE;
- Revista Reformador, de 1952, ed. FEB;
- Narrações do Infinito, de Camile Flammarion, ed. FEB;
- Herculanun, de J. W. Rochester, ed. FEB.
Matéria publicada originariamente no jornal O Clarim, de outubro de 2004.
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