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31 julho 2015

Suicídio Inconsciente - Richard simonetti

 

SUICÍDIO INCONSCIENTE


A cortina fúnebre, à porta, anuncia o velório. Sobre a mesa, em sala de regulares proporções, está a urna funerária em que um homem dorme seu último sono. Não terá mais de 45 anos… Ao lado, a viúva, inconsolável, recebe condolências. Muitos repetem, à guisa de conforto, as clássicas palavras: “Chegou sua hora... Deus o levou!...” Piedosa mentira! Aquele homem foi um suicida! Aniquilou-se, lentamente, fazendo uso desse terrível corrosivo que se chama irritação. Incapaz de sofrer impulsos violentos, eterno repetente nos exames de compreensão, favoreceu a evolução de distúrbios circulatórios, culminando com a trombose coronária fulminante que lhe abreviou os dias!

A máquina física possuía vitalidade para mais vinte anos, no mínimo. Duas décadas perdidas na Escola da Reencarnação! Regressa ao plano espiritual enquadrado no suicídio inconsciente, que lhe imporá longo período de perturbação e sofrimento nas regiões umbralinas. Raros, segundo André Luiz, os que atingem a condição de completistas, isto é, que aproveitam, integralmente, experiências humanas, estagiando na carne pelo tempo que lhes fora concedido. E há muitas maneiras de auto aniquilar-se em prestações.

A atualidade terrestre é de pleno domínio das sensações, em que a criatura humana pretende, com a satisfação dos sentidos, compensar suas frustrações ou libertar-se da tensão, males próprios de uma sociedade que atinge culminâncias no campo material, mas permanece subdesenvolvida moralmente. Sob a orientação da propaganda mercenária, multidões buscam a maneira mais agradável de minar as defesas orgânicas com álcool, cigarro, excessos à mesa. Muitos resvalam para as drogas, ante as perspectivas da tranquilidade artificial ou da euforia ilusória, sempre seguidos pelo inferno da dependência e comprometedores desajustes físicos.

E há os vícios mentais: hipocondríacos, que tanto imaginam enfermidades que acabam vitimados por elas; melancólicos, que recusam às células físicas o indispensável suprimento de energias psíquicas; maledicentes, que se envenenam com o mal que julgam identificar nos outros; rebeldes que rompem as próprias entranhas com os ácidos da inconformação e do pessimismo; apegados aos bens terrenos, que sobrecarregam o veículo carnal com preocupações injustificáveis...

Para que o Espírito reencarnado transite em segurança na Terra, movimentam-se, no plano espiritual, familiares, amigos, instrutores, médicos e enfermeiros que o amparam e protegem, orientam e socorrem em todas as circunstâncias. No entanto, apesar de tantos cuidados, seus pupilos, com raras exceções, são expulsos do vaso físico, depois de o haverem destruído de fora para dentro, com a intemperança, e de dentro para fora, com a má direção que imprimem à vida mental. Haverá sempre quem proclame que semelhantes observações estão impregnadas do ranço de puritanismo retrógrado, sem considerar que são inevitáveis conclusões a que não se pode furtar quem estima a lógica.

Se a roupagem carnal é concessão divina que nos permite abençoado aprendizado nas asperezas do mundo, por que não preservá-la, observando disciplinas que a própria Medicina demonstra serem indispensáveis à estabilidade orgânica? Cercado por dezenas de visitantes, após a reunião mediúnica, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, dizia Chico Xavier: – Meus irmãos, quando eu psicografava o livro Nosso Lar, tive, muitas vezes, a visão de milhares de Espíritos que aguardavam, há longo tempo, a oportunidade de reencarnar, ansiosos pelo reajuste.

Respeitemos o corpo que o Senhor nos concedeu, porque não será fácil uma nova oportunidade. Tenhamos cuidado com os enganos do mundo e, sobretudo, estimemos a serenidade. Se alguém nos der uma alfinetada, digamos: Obrigado por me espetar com um alfinete novo! Eu merecia um enferrujado!

A visão do querido médium é um convite a sérias reflexões, e a singela alegoria do alfinete consagra a Humildade. O homem verdadeiramente humilde, que conhece suas fragilidades e reconhece a grandeza de Deus, faz-se, espontaneamente, servo da compreensão e da tolerância, da simplicidade e da fraternidade, sobrepondo-se aos lamentáveis desvios que conduzem multidões desvairadas aos precipícios do suicídio inconsciente.

Richard Simonetti

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