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15 março 2016

Não carregues ao colo - Cenyra Pinto

 
NÃO CARREGUES AO COLO

Meu irmão,

Muitas vezes você pensa estar fazendo um grande bem a outrem satisfazendo seus caprichos, cedendo sempre, não sabendo dizer “não”, mesmo à custa de sacrifícios. Com essa atitude você centenas de vezes tem prejudicado, principalmente, aqueles a quem mais ama.

Não gosta de ver ninguém triste nem contrariado com você, porque tem receio de perder o amigo.

Mesmo aqueles que você costuma carregar ao colo, quando têm eles pernas para caminhar, nem sempre se lembram de você com a gratidão que você espera. Ao contrário, alguns são contra você porque, inconscientemente, você os prejudicou, anulando-lhes a possibilidade de carregarem seus próprios fardos, de treinarem a experiência, fazendo deles comodistas, indiferentes e preguiçosos. E as criaturas que foram superprotegidas, carregadas ao colo, por assim dizer, sentem-se inseguras, incapazes de tomar qualquer decisão. E se angustiam, revoltando-se contra você que, sem querer, anulou-lhes as possibilidades de agir por conta própria.

Seu dever, meu irmão, é ajudar, apontar o caminho e ensinar a caminhar. Cada um de nós deve levar seu próprio fardo, a bagagem que trouxe de longe, para ser carregada com esforço próprio. Se você tomar o fardo de outro e o colocar sobre seus ombros, no momento, isto lhe parecerá certo e até lhe dará alegria em fazer a tarefa de alguém a quem ama. O futuro dirá o prejuízo que causamos àquele que perdeu a oportunidade de exercitar-se e levar tombos e levantar-se com dignidade.

É um dever nosso carregar ao colo uma criança pequenina, até o momento de colocá-la no chão, quando já pode andar por seus próprios pés; é um dever ensinar-lhe os primeiros passos, auxiliando-a pela mão, até deixá-la livre, aprendendo a levantar-se quando cai, e a recomeçar, enfrentando suas dificuldades, e novos tombos. Isto é certo.

Assim deve proceder moral e espiritualmente. A criatura que se tornou dependente, tendo, embora, condições de fazer tudo sozinha, se acovarda e não desabrocha suas melhores qualidades.

Ajudar ao que necessita é humano e cristão, mas não ao indolente que assim se tornou graças à maneira como foi criado.

Portanto, meu irmão, aprenda a ajudar sempre que puder, não apenas aos entes queridos, mas a qualquer um que necessite de auxílio. Mas cuidado: não impeça outros de aprenderem com a própria experiência. Não carregue fardos alheios nem se torne muletas para ninguém. Colabore com a obra do Mestre, não criando impedimentos que limitem as qualidades e o pleno desabrochar da vida em outros, para que venham a se tornar mestre de si mesmos.

De “A Verdade e a Vida”, de Cenyra Pinto

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