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19 março 2016

Reflexões sobre a Violência - Joanna de Ângelis


REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA

“Sabeis que foi dito aos antigos: Não matareis e quem quer que mate merecerá condenação pelo juízo. – Eu, porém, vos digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá condenação no juízo; [....]”.Jesus (Mateus, 5: 21).

A LOUCURA DA VIOLÊNCIA 

Entre as expressões do primarismo, no mercado das paixões humanas, destaca-se com realce a violência, espalhando angústia e dor. Remanescente dos instintos agressivos, ela estiola as mais formosas florações da vida, estabelecendo o caos.

Em onda volumosa arrasa, deixando destroços por onde passa, alucinada.

Na raiz da violência encontra-se a falta de desenvolvimento do senso moral, que o espírito aprimora através da educação, do exercício dos valores éticos, da amplitude de consciência.

Atavismo cruel, demora de ser transformada em ação edificante, face às suas vinculações com os reflexos instintivos do período animal, que se prolongam, perturbadores.

Não apenas gera aflição, quando desencadeada, como também provoca reações equivalentes em sucessão quase incontrolável, arrebentando tudo quanto se lhe opõe no percurso destrutivo.

Todo o empenho em favor da preservação dos valores morais deve ser colocado a serviço da paz, como antídoto à força devastadora da violência.

Pequenos exercícios de autocontrole terminam por criar hábitos de não-violência.

Disciplinas mentais e silêncios fortalecidos pela confiança em Deus geram a harmonia que impede a instalação desse desequilíbrio. Atividades de amor, visando o bem e o progresso da criatura humana e da sociedade, constituem patamar de resistência às investidas dessa agressividade.

Reflexões em torno dos deveres morais produzem a conscientização do bem, gerando o clima que preserva os sentimentos da fraternidade.

A violência é adversária do processo de evolução, fomentadora da loucura. Quem lhe tomba nas garras exaure-se, e, sem forças, termina no abismo do autoaniquilamento ou do assassínio...

A violência disfarça-se no lar, quando os cônjuges não respeitam os espaços, os direitos que lhes cabem reciprocamente; quando os filhos se sentem preteridos por falsos valores do trabalho, do dinheiro, do poder...

Na sociedade, quando os preços escorcham os necessitados;

quando os interesses pessoais extrapolam os seus limites e perturbam os outros;

quando a comodidade e os prazeres de alguns agridem os compromissos e os comportamentos alheios;

quando as injustiças sociais estiolam os fracos a benefício dos fortes aparentes;

quando os sentimentos inferiores da maledicência, da calúnia, da inveja, da traição, do suborno de qualquer tipo, da hipocrisia, disseminam suas infelizes sementes;

quando os pendores asselvajados não encontram orientação;

quando as ilusões e fugas, os vícios e aliciamentos levam às drogas, ao sexo desvairado, às ambições absurdas, explodindo nas ruas do mundo e invadindo os lares;

quando os governantes perdem a dignidade e estimulam a prevalência da ignorância, provocando guerras nacionais e internacionais...

A violência, de qualquer natureza, é atraso moral, síndrome do primitivismo humano remanescente.

O homem e a mulher estão fadados à paz, à glória estelar.

Assim, liberta-te daqueles remanescentes agressivos que terminam insuflando-te reações infelizes.

Se te compraz ainda mantê-los, tem a coragem de te violentares, superando-os ou domando-os, e contribuirás para o apressar do progresso humano.

Como não te é lícito conivir com o erro, ensina pela retidão os mecanismos da felicidade, evitando a ira, a cólera, o ódio.

A ira é fagulha que ateia o fogo da violência. A cólera é combustível que a mantém, e o ódio é labareda que a amplia.

Pensa em Jesus, e, em qualquer circunstância, interroga-te como Ele agiria, se estivesse no teu lugar. Tentando-o, lograrás imitá-lO, fazendo como Ele, sem nenhuma violência. ”(Joanna de Angelis, Momentos enriquecedores,.1.ed., p.14-18 ).

FATORES QUE GERAM A VIOLÊNCIA 

“A violência vem dominando o mundo e as consciências, quando são impostos regimes políticos, condutas sociais, convicções religiosas, ideologias que se fazem aceitar pela força, o que tem resultado em acúmulo de iras que se convertem em mágoas e ódios, ampliando os ressentimentos e dando lugar às explosões periódicas de rebeliões e crimes ferozes.

Enquanto predominarem a rebeldia e a indisciplina do instinto não submetido à razão, a violência governará o ser humano.

A ambição desmedida de ser o que ainda não conseguiu, possuir de qualquer maneira o que lhe falta, de sobrepor-se ao seu próximo e dominá-lo sob a tirania do orgulho, da presunção ou dos conflitos de inferioridade que o infelicitam, farão o indivíduo violento.” (Joanna de Ângelis, Sendas luminosas, p. 150 )

“A violência urbana, por exemplo, é filha legítima dos que se encontram em gabinetes luxuosos e desviam os valores que pertencem ao povo, que desrespeitam; que elaboram Leis injustas, que apenas os favorecem; que esmagam os menos afortunados, utilizando-se de medidas especiais, de exceção, que os anulam; que exigem submissão das massas, para que consigam o que lhes pertence de direito... produzindo o lixo moral e os desconsertos psicológicos, psíquicos, espirituais.” (Joanna de Ângelis, Amor, imbatível amor, p. 84 ).

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REAÇÃO E CONSEQUÊNCIAS

“Quando alguém reage, revidando contra o agressor, passa a sintonizar com ele, mantendo ambos estreita e perniciosa interdependência psíquica, em desditoso comércio mental de ódio dissolvente, que termina por subjugá-los sem reversão.” (Joanna de Ângelis, Após a tempestade, 5. ed., p. 90).

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AGRESSIVIDADE NO LAR

“O agressor deve ser examinado como alguém perturbado em si mesmo, em lamentável processo de agravamento. Não obstante merece tratamento a agressividade, que procede do espírito cujos germes o contaminam, em decorrência da predominância dos instintos materiais que o governam e dominam.

Problema sério que exige cuidados especiais, a agressividade vem dominando cada vez maior número de vítimas que lhe caem inermes nas malhas constritoras.

Sem dúvida, fatores externos contribuem para distonias nervosas, promotoras de reações perturbantes, que geram, não raro, agressividade naqueles que, potencialmente, são violentos.

Acostumado à “lei da selva”, o espírito atribulado retorna à carne galvanizado pelas paixões que o laceram e de que não se deseja libertar, favorecendo facilmente que as reminiscências assomem ao consciente e se reincorporem à personalidade atual, degenerando nas trágicas manifestações da barbárie que ora aterram todas as criaturas.

A agressividade reponta desde os primeiros dias da vida infantil e deve ser disciplinada pela educação, na sua nobre finalidade de corrigir e criar hábitos salutares.

A pouco e pouco refreada, termina por ceder lugar às expressões superiores que constituem a natureza espiritual de todo homem.

O espírito é constituído pelos feixes de emoções que lhe cabe sublimar ao império dos renascimentos proveitosos.

O que não corrija agora, transforma-se em rude adversário a tocaiá-lo nas esquinas do futuro.

O temperamento irascível, aqui estimulado, ressurge em violência infeliz adiante.

O egoísmo vencido, o orgulho superado cedem lugar ao otimismo e à alegria de viver para sempre.

O agressivo torna-se vítima da própria agressividade, hoje ou posteriormente.

O organismo sobrecarregado pelas toxinas elaboradas arrebenta-se em crise de apoplexia fulminante.

A máquina fisiológica sacudida pelas ondas mentais de cólera, sucumbe, inevitavelmente, quando não desarranja a aparelhagem eletrônica em que se sustenta, dando início aos lances da loucura e das aberrações mentais.

Outrossim, gerando ódio em volta de si, o agressivo atrai outros violentos com os quais entra em choque padecendo, por fim, as conseqüências das arbitrariedades que se permite.

Não foi por outra razão que Jesus aconselhou a Simão, no momento grave da Sua prisão: ‘Embainha a tua espada, porque quem com ferro fere, com ferro será ferido.´

Acautela-te, e vence a agressividade, antes que ela te infelicite e despertes tardiamente. Só o amor vence todo o mal e nunca se deixa vencer.” (Joanna de Ângelis, Leis morais da vida, p. 111-113).

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COMBATE À VIOLÊNCIA

“Com Jesus aprendemos que o amor substituirá, um dia, a agressividade humana, resolvendo todas as questões que possam constituir pontos de divergência entre as criaturas e motivações para as guerras.” (Joanna de Ângelis, Após a tempestade, 3. ed., p. 105).

“ A mansuetude, a pacificação, a humildade, a paciência, a brandura são os métodos mais eficazes para se enfrentar a violência.

Não-violência é amor em elevado grau, que permite considerar o agressor como enfermo, oferecendo-lhe a resistência pacífica, a fim de neutralizar-lhe a fúria desencadeada pelas paixões inferiores.” (Joanna de Ângelis, Sendas luminosas, 2.ed., p. 151 ).

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P.Franco

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