A INTOLERÂNCIA QUE EU DESCONHECIA EM MIM
Mais uma vez, percebemos como a vida é sábia.
Somente quando somos testados pelas alegrias e adversidades, somente quando os nossos interesses são glorificados ou colocados em “perigo” é que deixamos emergir para a superfície de nossas ações aquilo que ainda trazemos em nossos corações, aquilo que ainda nos acompanha como parte de nossa essência.
Enquanto vivemos uma existência sem tormentos, enquanto vivenciamos um mar de tranquilidade antes as circunstâncias que nos rodeiam, não temos noção das mazelas que carregamos nas profundezas de nossa alma, tampouco a nossa capacidade de fazer o bem.
Mas, não é para isso que viemos aqui neste planeta escola? Não é para nos conhecermos e nos lapidarmos, para nos conhecermos e nos aprimorarmos?
A espiritualidade há muito tem nos avisado que passaríamos por momentos de aprendizado; que deveríamos nos preparar para enfrentar os nossos temores mais íntimos; que também nos escandalizaríamos com as nossas boas e não tão boas ações e pensamentos, porque as máscaras iriam cair e que nos enxergaríamos por inteiro.
O momento chegou. O momento de turbulência está aí para quem quiser admitir!
O nosso povo está dividido, realmente, dividido. Uns mais exaltados, outros mais comedidos, mas o que conta é o que flagramos em nossos corações.
Pense com honestidade, sem buscar justificativas: o que está acontecendo aí dentro do seu Eu? Quais os sentimentos que estão borbulhando, que estão se fazendo presentes a cada experiência boa e não tão boa que vivencia? Elas o incomodam? Se sim, o que fará a respeito?
Percebo muitas em mim! Me surpreendo com algumas que antes eu mesma afirmava (ou até condenava) ser inconcebível para um ser cristão! Elas estão aqui e o que faço? Tenho de me envergonhar por tê-las? Não.
Como não?
Não tenho de me envergonhar porque elas são aquilo que estou, mas não significa que eu as aceitarei em meu ser. Se eu as estou abominando em mim, posso simplesmente trabalhá-las pacificamente para transmutá-las. Diante de tantas lutas externas que assolam o nosso país, não preciso criar outra batalha dentro de mim para me lapidar. Posso fazer isso no silêncio de minha vontade, na minha vontade de querer mudar.
Mas, além das circunstâncias, o que fez ressurgir e alimentar tais sentimentos em cada um de nós?
Eu acredito que o maior impulsionador de nossos sentimentos exacerbados é o nosso medo!
Estamos com medo! Medo desta instabilidade, medo da violência, medo do nosso presente, medo de vermos que, efetivamente, a nossa vida está na mão de outras pessoas que poderão, através de suas concepções (diferentes das nossas), moldar um futuro que nos parece aterrorizador. O brasileiro tomou consciência de seu papel como cidadão e que a escolha do coletivo fará diferença para a condução de sua vida.
O engraçado é que esse papel nunca fugiu deste contexto. Pela nossa ignorância cívica, não dávamos o devido valor ao nosso voto e, por isso, sempre estivemos à mercê de qualquer decisão mal direcionada de nossos governantes, podendo-nos trazer o caos e a decadência. Somos parte da mesma moeda, onde um for, o outro lado vai também!
No entanto, somente agora, ante as adversidades vivenciadas pela nação, o povo aprendeu que não podemos nos alienar ou nos isentar de nossas responsabilidades.
Percebam que, em nenhum momento, estou apontando quem está certo ou errado. Estou, ao contrário, me referindo a todos os brasileiros, sem exceção, que, em razão de tantas dificuldades, temem por um futuro sombrio e, por isso, usam da intolerância como um escudo de proteção.
O medo nos afasta de quem pode nos ajudar. O medo nos leva a acreditar que o caos impera. O medo nos leva a agir com violência verbal ou física contra aqueles que acreditamos que concretizarão o que mais tememos. O medo nos faz enxergar um inimigo a cada esquina.
Voltemo-nos para o Cristo. Voltemo-nos para quem realmente nos ampara a cada momento e ajamos conforme Ele ensinou[1]:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.”
Nesta passagem bíblica, Ele nos dizia que precisamos fazer a nossa parte. Não podemos cruzar os braços, mas, agirmos sim, seguindo os Seus ensinamentos no império da paz, do consolo e da compreensão.
Voltemo-nos para o nosso Ser. Busquemos compreender o medo que nos assola para que a nossa fé seja mais forte do que ele. Abandonemos a intolerância e façamos as pazes com os que pensam diferentes de nós, porque a intenção deles não é o nosso prejuízo, mas sim concretizar o que entendem ser o certo e impedir que vivenciemos as dificuldades que eles enxergam para o futuro de todos.
Assim, com esse novo entendimento, mataremos de fome o medo que nos inunda e incomoda e fortaleceremos a nossa fé na Providência Divina que nos fará compreender que, se todos estão fazendo a sua parte, não importa quem chegará no Podium, nada fugirá ao que o nosso povo, agora, necessita para o seu aprendizado coletivo.
[1] Matheus, 7:7-8