Total de visualizações de página

24 maio 2022

Desafios Conjugais - Luiz Fernando Lopes

 
DESAFIOS CONJUGAIS

A amizade na vida conjugal

A grande pergunta que norteia qualquer reflexão acerca da experiência conjugai é a forma como poderemos produzir um relacionamento estável e feliz. Primeiro, deveremos realizar um trabalho interior. A proposta da Doutrina Espírita prevê que consigamos o autoconhecimento. Se não nos conhecermos, não saberemos quais serão as nossas reações e não teremos uma ideia de como nos comportar em determinadas situações, o que resultará em atitudes intempestivas desencadeadas por questões familiares muito simples, quando entramos em litígio com o parceiro em nome de verdadeiras banalidades, graças ao capricho de querermos impor a nossa opinião.

Como a união conjugal é uma parceria, é indispensável que cada um dos membros contribua com a sua melhor parte. Que cada um realize um movimento na direção do outro sem esperar que seja sempre a parte que cede.

Muitas vezes, no egoísmo masculino, o homem deseja que a mulher permaneça como sua serva, sem dar-se conta de que essa época histórica já passou. O desejo que o outro exerça o papel subalterno pode existir também por parte da companheira, cabendo-lhe tomar os mesmos cuidados que recomendamos para o indivíduo do gênero masculino.

Vivemos um tempo de direitos iguais na relação a dois, tornando-se imprescindível que ambos se reconheçam como responsáveis por desenvolver a maturidade no relacionamento, numa atitude recíproca de respeito e de compreensão.

Com muita frequência desejamos que o outro seja o que não conseguimos.. A nossa afetividade reproduz uma forma de fuga psicológica. O indivíduo ama na pessoa a imagem do que não consegue ser e ela tem que corresponder a essa expectativa. Este fato é tão comum que a maioria dos casais, quando transcorrem alguns meses após o casamento, enfrenta um processo de insatisfação que leva um dos cônjuges a dizer ao outro: “Eu me decepcionei com você!”.

É óbvio que isso teria que acontecer, pois a pessoa construiu uma imagem do companheiro ou companheiro. Aquele rapaz bonito, gentil e bem cuidado não era exatamente o que ela pensou. A parceira criou uma imagem e desejava obrigar o marido a interpretar aquele papel projetado futuro a fora. Quando ele deixou de ser alguém que queria conquistá-la, porque já o conseguiu e não soube mantê-la, é evidente que a mudança produza um choque.

Os rapazes também se queixam dessa frustração. Certa vez, um amigo me informou:

— Divaldo, eu me casei com uma mulher e agora estou com outra dentro de casa! Você precisa vê-la acordando pela manhã, em jejum!...

Eu lhe indaguei-lhe:

— E como você queria que fosse a aparência da sua mulher pela manhã e em jejum? Se ela ainda não teve tempo de pentear os cabelos, maquiar-se e vestir uma roupa adequada, não poderia ser diferente!

— Eu entendo. Mas confesso que é um pouco frustrante!

— Então vou propor-lhe uma sugestão. Você combina com a sua mulher a ordem em que vocês devem despertar. Ela se levanta meia hora antes, se arruma toda. Quando você acordar ela estará linda como uma bonequinha e sorrirá para você...

O toque de humor é para ver como nos deixemos engolfar pela ilusão!

Rita Hayworth, uma famosa atriz do cinema no século XX, tornou-se um símbolo sexual desejado por homens de todo o planeta. Sua fase de maior sucesso no cinema ocorreu entre 1940 e 1960, aproximadamente. Ela fez um filme que a imortalizou e comoveu o mundo: Gilda (126). A personagem era uma mulher sedutora que arrebatou as plateias e fascinou o publicou masculino. A campanha publicitária do filme utilizava a seguinte frase: “Nunca houve uma mulher como Gilda!”.

Sendo uma mulher como todas as outras, porém, ela procurou o amor e teve diversos relacionamentos: cinco casamentos e outros que não foram formalizados. Todos os relacionamentos resultaram em fracasso e amargura. Oportunamente ela declarou a razão do seu drama afetivo: “Os homens casam-se e deitam-se com Gilda, mas acordam com Rita”.

A frase é de um realismo trágico. Todos os seus maridos queriam estar ao lado de Gilda, aquela mulher sensual que bailava encantadoramente em um vestido negro. Mas ela era uma criatura humana, com sentimentos, carências e dificuldades como qualquer outra. Ela viveu uma personagem que não poderia reproduzir no cotidiano.

Para que uma união seja estável e feliz o casal deverá cultivar o sentimento de amizade e companheirismo, uma parceria afetiva profunda pelo ser que se encontra ao seu lado. Se esta medida for adotada na vida conjugai o êxito será inevitável.

A amizade é o primeiro passo do amor. Quem não é capaz de ser amigo não será capaz de ser amante, no sentido estético e profundo desta palavra. Porque a amizade é este jogo de fraternidade e de confiança.

Se eu suspeito que alguém me está traindo de alguma forma, porque eu ficarei em silêncio mantendo a suspeita que está macerando a minha alma? Tratarei de ir ao cerne da questão para aclará-la, pois assim eliminarei o conflito que paralisa as minhas forças.

Se o marido chega a casa e não anda muito bem consigo mesmo, a esposa pensa, inadvertidamente: “Ele está me subestimando’.. Está fazendo pouco caso de mim!”

Em vez de imaginar hipóteses absurdas, a companheira poderia simplesmente entender que ele não está bem e procurar tratá-lo com mais atenção. Se ele não está bem, dê-lhe o direito de ter uma fase ruim e ame-o mais! Somente porque o divórcio está banalizado temos o direito de declinar das nossas responsabilidades diante da primeira dificuldade?

Ninguém se casou para ter um inimigo dentro de casa, mas para ter um amigo. Se por alguma razão o seu companheiro encontra-se numa fase em que não lhe procura como parceira sexual, receba-o em sua intimidade na condição de um amigo, envolvendo-o em ternura, uma qualidade essencial às relações humanas e que se encontra muito esquecida. Diga-lhe: “Meu bem, não há problema! Eu compreendo você!” Não há homem que resista a uma expressão de carinho da mulher amada! Dê aquele toque de sensibilidade que só as mulheres sabem colocar.

Há esposas que são curiosas em suas atitudes. Busca o espelho e adorna o cabelo com um penteado especial. Quando o marido vai acariciá-la, tocá-la na cabeça, dá um salto de desespero e solicita: “Não desmanche o meu penteado!” Mas ela está se penteando para quem? Não será para o marido? Eu entendo que ela queira embelezar-se para manter a sua autoestima, em primeiro lugar, mas de permitir que o seu marido mereça uma parte dessa história... Faculte ao seu marido despenteá-la um pouquinho! Eu não sei por que, mas o homem adora desmanchar o cabelo da esposa! A companheira pode até fazer melhor: quando o marido chegar do trabalho, sendo sábia, deve deixar o cabelo exposto... (risos)...

Por sua vez, o marido tem obrigação de entender a indisposição momentânea da esposa. Ela passa por ciclos hormonais que apresentam fases de intensa alteração física e emocional. É necessário tratá-la como uma pessoa que merece o seu respeito, e não como um objeto que se usa e se descarta como melhor aprazer.

Converse-se mais com o seu parceiro, sobretudo ao deitar, mesmo que ele esteja cansado. Eu tenho uma amiga que me comunicou certa vez:

— Divaldo, quando eu começo a conversar com o meu marido ele dorme!

— Qual o problema? — respondi. — É uma caridade! Ele precisa de alguém para hipnotizá-lo... Continue conversando. Como a mulher não aguenta ficar calada, prossiga conversando mesmo que ele esteja adormecido. Pelo menos, assim, vocês não discutirão...

Acaricie o seu marido no leito. Não estou falando de sensualidade. Refiro-me à amizade. O que mantém um casamento é a amizade. O sexo salina quando deixa de ser novidade. Mas a amizade é o toque especial que confere outro sabor ao sexo. Essa amizade se desdobra, por exemplo, na certeza que o marido tem de que pode contar com a tolerância da esposa dentro do lar. Apesar das agruras da vida profissional serem muito intensas, ele sabe que não pode destilar os seus aborrecimentos com o chefe, senão perderá o emprego. Não pode também fazer uma catarse na rua porque vai enfrentar a rejeição social. Então ele utiliza o espaço do lar como seu refúgio para desabafar. Isto vale para ambos, pois um dos papeis do cônjuge é acolher o parceiro ou parceira nesses momentos de azedume e de amargura.

Algumas vezes a mulher compra uma comida congelada, mas diz ao marido: “Olhe, meu bem! Eu mesma preparei para você!”. Não tenha receio! Homem adora fingir que acredita na mulher...

Ele sabe que aquela iniciativa significa uma forma da esposa demonstrar carinho e cuidado, pois, de qualquer forma, será uma inovação para quebrar a rotina e conseguir agradá-lo.

O companheiro, por sua vez, não se esqueça de levar flores periodicamente para a esposa. Não se engane: mulher não dispensa receber flores quando possível! Essas formas de afirmação da autossuficiência da mulher são ilusões da modernidade. As mulheres, de vez em quando, gostam de sentir-se fragilizadas (no sentido poético da palavra) e deixarem cair o lenço para que o marido possa pegá-lo romanticamente. Por isso, anote em sua agenda para presentear a companheira com flores... ou joias (Risos). Programe-se para comprar um vaso de violetas e diga-lhe que foi uma vontade súbita que o tomou quando pensou no amor que sente por ela. Basta dizer: “Querida, lembrei-me de você hoje e resolvi, de improviso, trazer-lhe estas flores!”. Ela vai acredita, porque, de alguma forma, é verdade! Não se preocupe...

Aliás, há uma grande vantagem em você oferecer-lhe um vaso de flores. É que a alegria de algumas mulheres é fazer um pouco de pirraça a outra. Lisonjeada pelo presente, ela tomará o vaso que você lhe deu e irá mostrá-lo à vizinha: “Veja o que o meu marido me trouxe!”. E a vizinha, por sua vez, imaginará que ela está mentindo para se exibir e comentará com uma terceira amiga: “Eu não acredito que ele comprou aquele vaso para ela. Vai ver que alguém lhe deu no meio da rua. Sem saber o que fazer com aquilo ele acabou trazendo-o para casa. E ela aproveitou para exibir-se diante de mim!”.

Note-se que com um só gesto fará duas mulheres felizes ao mesmo tempo... E por razões exatamente opostas...

A mediunidade mal conduzida, também é, por sua vez, um dos fatores que contribui para a instabilidade do ambiente psíquico gerando frequentes atritos no lar.

Não pode haver nada pior do que ser casado com médium, masculino ou feminino. Quando eu vejo um marido de médium eu exoro: “Deus te abençoe!”. Porque é o mesmo que ser marido de médica obstetra, que deixa o marido abandonado no leito para fazer o parto das outras. E o engraçado é que criança adora nascer de noite! Não sei por quê!

E mesmo curioso notar como a mediunidade pode transformar-se em verdadeiro drama que se estabelece na vida do casal. O marido não é médium, mas é meio confuso e perturbado. E a esposa-médium está em casa, aturdida e confusa. E quando os dois se encontram é um Deus-nos-acuda! Ela propõe-lhe, irritada:

— Não me perturbe! Você sabe que eu sou médium!

E ele responde:

— E você sabe que eu não sou!

E aí começa uma reunião mediúnica mais para obsessão.... Porém, é muito pior quando ele é médium e ela não. Ele chega a casa carregadinho e ela comenta, com extrema intolerância:

— Lá vem você com seus Espíritos! Por que você me trata assim com tanta grosseria? Eu garanto que na rua você estava alegre e simpático com todo mundo! Seus Espíritos somente o atacam quando você chega a nossa casa! Eu já entendi!

E o desequilíbrio tem início novamente...

Tudo isso são as sutilezas da vida a dois. Se soubermos administrar os pequenos detalhes da vida conjugal, poderemos evitar muitos dissabores e aproveitar melhor a experiência do casamento.

Organizado por Luis Fernando Lopes a partir de palestras de Divaldo P. Franco
Livro: Sexo e Consciência - capítulo 11


Nenhum comentário: