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25 maio 2022

Renovação e Entendimento - Martins Peralva

 
RENOVAÇÃO E ENTENDIMENTO

LE - Questão 838: Será respeitável toda e qualquer crença, ainda quando notoriamente falsa?
R. - Toda crença é respeitável, quando sincera e conducente à prática do bem. Condenáveis são as crenças que conduzem ao mal.

Importa reconhecer que renovação e entendimento são cultiváveis no solo da alma, como acontece a qualquer vegetal nobre que não prescinde da cuidadosa atenção do agricultor. - Emmanuel

* * *

Em complementação ao que asseveraram os Espíritos no século passado, quando organizavam, com Allan Kardec, a Codificação Espírita, erguendo-lhe a estrutura filosófico-científico-religiosa, lembremos observação de André Luiz, em nossos dias, de que se acham em perigo os irmãos "que pretendem transformar o próximo, de um dia para outro, a golpes verbais".

Realmente, não é fácil a prática, simples e pura, desvestida de qualquer roupagem simbólica, do Espiritismo.

Nem a completa transformação moral do homem de uma hora para outra.

No que toca ao problema da prática espírita, convém recordar que a grande maioria dos que se agregam às fileiras de luz da Doutrina dos Espíritos guarda distorções e vícios acumulados em longa vivência noutras confissões religiosas, mescladas de estranhas fórmulas.

No que diz respeito à transformação moral, de uma noite para o dia, não pode, igualmente, corrigir o homem imperfeições e hábitos sedimentados durante milênios de milênios.

Emmanuel, em harmonia com Allan Kardec e confirmando o pronunciamento de André Luiz, traz-nos, também, sua luminosa e respeitável opinião, advertindo que o ser humano recolhe e retém da verdade uma parcela que corresponde, invariavelmente, ao seu próprio entendimento.

Mente nenhuma renova-se a golpes de força.

Mesmo o sofrimento, moral ou físico, doutrinariamente considerado elemento purificador da alma, trabalha, exaustivamente, na intimidade do ser, operando-lhe, em silêncio, a renovação espiritual.

Eis por que "importa reconhecer que renovação e entendimento são cultiváveis no solo da alma, como acontece a qualquer vegetal nobre que não prescinde da cuidadosa atenção do agricultor".

Aceitando essa tese, sábia e benevolente, tornar-nos-emos mais tolerantes, mais compreensivos, melhor ajudando os que lutam na retaguarda das conquistas edificantes.

Seremos mais caridosos para com aqueles que se não libertaram, ainda, de certas fraquezas, ou não superaram, embora o desejem, determinadas formas de práticas religiosas, uma vez que tal superação depende, essencialmente, do fator tempo, sustentado por uma vontade firme.

Nossos vícios religiosos, nossos hábitos pessoais vêm de longe, da noite fuliginosa dos milênios que se foram, assinalando experiências que se alicerçaram no fanatismo e na crueldade.

Da compreensão superior nasce, obviamente, o sentimento de integral respeito à sinceridade com que tais criaturas abraçam aquilo que lhes parece o caminho certo, aquilo que lhes repleta de esperanças o espírito.

As Entidades codificadoras, no trabalho com Allan Kardec, o incomparável missionário, foram claras a respeito deste assunto, declarando não ser lícito a ninguém escandalizar, com sua crença, um outro "que não pensa como ele", assegurando: "Isso é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento".

É natural que esta ou aquela crença perderá sua respeitabilidade se conducente ao mal, embora se deva descontar, em harmonia com a premissa destas considerações, o atraso mental, a obliteração cultural dos que a ela consagram seu tempo, sua atividade, seu idealismo, suas energias.

Aos espíritas, por conseguinte a todos nós, cabe, especialmente, difundir os princípios doutrinários, os preceitos evangélicos, as normas edificantes, para que, à maneira de abençoada chuva, fertilizem, com a luz do amor e o orvalho do esclarecimento, consciências que dormitam, ou, simplesmente, começam a despertar, atordoadas, para superiores programas de elevação.

Admitem os Espíritos, convém acentuar, possamos reprimir atos que causem perturbações à sociedade. "A crença íntima, no entanto, é inacessível", advertem eles. O gesto de o espírita, ou qualquer outra pessoa simplesmente educada, tolerar, pela compreensão cristã, a crença de quantos viajam pelas estradas terrestres, integrando a numerosa e diversificada, moral e culturalmente, caravana dos Espíritos necessitados, é, além de simpático, profundamente humano.

Pudéssemos computar os benefícios que a difusão espírita, dentro e fora do Brasil, tem proporcionado a milhões de consciências indiferentes ou recalcitrantes, sofridas ou cruéis, verificaríamos, perplexos, o acerto dos Espíritos Superiores no preconizarem a tolerância construtiva, acerto que muitos encarnados já incorporaram à própria vida no plano físico, aceitando-o por norma de ação evangelizadora.

Repletaríamos nossas almas das mais santas alegrias ante a paisagem de almas que se redimiram pela força do amor, que "cobre a multidão de pecados".

Nunca desanimaríamos, por mais reinem a incompreensão e o desajuste, por mais se acendam os estopins da intolerância, no abençoado esforço de tornar claros, pela expansão do bem e pela criteriosa divulgação evangélico-doutrinária, caminhos religiosos ou confusos atalhos trilhados por nossos companheiros de romagem evolutiva.

Aconselham os Espíritos a melhor forma de auxiliarmos os que cristalizaram mentes e consciências no mal: ensiná-los com amor e perseverança, servindo-nos "da brandura e da persuasão e não da força". E preceituam: "A convicção não se impõe".

Temos imenso campo a trabalhar.

Fabulosa lavoura espera a nossa iniciativa.

Há muita coisa a fazer, no que se relaciona com o bem.

O progresso, sob o inelutável impulso da lei, aguarda-nos o concurso.

Os ideais de fraternidade luminosamente exemplificados pelo Mestre dos mestres requisitam definitiva implantação junto à humanidade..

Leiras enormes solicitam-nos adubo e semente.

Amparo à infância e à juventude, afeiçoando-lhes inteligências e corações aos princípios renovadores do Evangelho, revividos pela Doutrina dos Espíritos.

Ajuda aos necessitados do corpo, na administração do remédio, na doação do vestuário e do alimento, a fim de que materializemos, em nome da Terceira Revelação, as normas que assinalaram, nas cercanias de Jerusalém, com Pedro, Jeziel e outros, as santificantes atividades dos "homens do Caminho".

Serviços mediúnicos, em harmonia com a pureza da Codificação, em favor dos desequilibrados dos planos espiritual e material.

Explanações simples e convincentes, nas reuniões normais das nossas Casas de fé espírita, sobre temas doutrinários que se relacionem, sobretudo, com problemas comuns a todos nós, almas encarnadas em busca de redenção.

Culto do Evangelho na intimidade do lar, segundo a interpretação espírita, a fim de que plasme nas mentes infantis, desde cedo, os princípios do amor e da sabedoria, que lhes modelarão o caráter para as dolorosas porfias da existência.

Uma série infinita de tarefas, realizadas com alma e coração, em favor da imensa família humana de que fazemos parte, em trânsito para a luz, no entendimento maior.

Martins Peralva
Livro: O Pensamento de Emmanuel - 31


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