Temos nos evangelhos de Marcos (capítulo III, versículos 20, 21 e 31 a 35) e de Mateus (capítulo XII, versículos 46 a 50) uma passagem de Jesus um tanto curiosa, pois que incompreendida. E até certo modo explicada superficialmente no capítulo XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo.
De acordo com essa passagem, “e, tendo chegado à casa, de novo se formou uma grande multidão, de tal maneira que eles não podiam se alimentar. E quando seus parentes tomaram conhecimento disso, vieram apanhá-lo, pois diziam que tinha perdido o juízo.”.
Dando continuidade, os evangelistas contam que “chegaram então sua mãe e seus irmãos, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada em torno dele. Disseram-lhe: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, e te chamam. Mas ele lhes respondeu: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? E olhando os que estavam sentados ao seu redor, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; pois quem fizer a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”.
Essas palavras supostamente ditas por Jesus parecem realmente estranhas, mostrando-se contraditórias diante de tudo o que ele ensinou, vivenciou e deixou como legado, a lei do amor e da caridade.
A primeira interpretação que se dá vai no sentido de que as palavras atribuídas ao Cristo foram mal reproduzidas, mal compreendidas ou não são do guia e modelo da humanidade. Nos ditos de Allan Kardec no item 7 do citado capítulo XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo, “espanta-se com razão de ver, nessa circunstância, Jesus mostrar tanta indiferença para com seus parentes, e, de certa forma, renegar sua mãe.”.
Mais adiante nesse mesmo item 7, o codificador continua analisando as frases imputadas ao Mestre Divino, dizendo que “no que diz respeito a Jesus, supor que tenha renegado sua mãe seria ignorar seu caráter; tal pensamento não poderia animar quem disse ‘honra teu pai e tua mãe’. É preciso, pois, buscar um outro sentido para suas palavras, quase sempre veladas sob forma alegórica.”.
Terminando o item em análise, Kardec diz que “Jesus não negligenciava nenhuma ocasião de dar um ensinamento. Tomou, pois, a que lhe ofereceu a chegada de sua família, para estabelecer a diferença que existe entre o parentesco material e o parentesco espiritual.”.
Acontece, porém, que é no item 2 do capítulo XVII de A Gênese que o mestre de Lyon – logicamente que com a assistência dos benfeitores espirituais – traça maiores e mais profundas explicações sobre o hipotético comportamento de Jesus na ocasião.
Nas palavras do professor Rivail, “o hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam. Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem.”.
Assim, o fato de terem compartilhado de intimidade na infância, na adolescência, na juventude, dá uma espécie de autorização para as pessoas se arvorarem o direito de não reconhecer a ascensão moral que um companheiro pode ter alcançado. Tal reconhecimento se mostra deveras dolorido, em razão da pequenez espiritual, do orgulho, da inveja e do ciúme que ainda habitam em nós. É preciso muita elevação para agir como João Batista agiu com relação a Jesus, primos carnais que eram…
Tratando especificamente do ocorrido com o Mestre, Allan Kardec explica que “tanto menos podia Jesus escapar às consequências deste princípio, inerente à natureza humana, quanto pouco esclarecido era o meio em que ele vivia, meio esse constituído de criaturas voltadas inteiramente à vida material. Nele, seus compatriotas apenas viam o filho do carpinteiro, o irmão de homens tão ignorantes quanto eles e, assim sendo, não percebiam o que lhe dava superioridade e o investia do direito de os censurar. Verificando então que a sua palavra tinha menos autoridade sobre os seus, que o desprezavam, do que sobre os estranhos, preferiu ir pregar para os que o escutavam e aos quais inspirava simpatia”.
Diante de tudo o que foi apresentado, pode-se aferir que a criatura corpórea, material, por estar amplamente envolta pelos sentidos carnais, praticamente apaga o ser espiritual, percebido somente pelos espíritos. Novamente nas palavras de Allan Kardec, “depois da morte, nenhuma comparação mais sendo possível, unicamente o homem espiritual subsiste e tanto maior parece, quanto mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal. É por isso que aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade, porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos pessoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu”.
Dessa forma, esforcemo-nos por ascender espiritualmente, ainda, mesmo e enquanto encarnados, livrando-nos de julgamentos precipitados com relação às demais criaturas, circunstâncias, fatos ou acontecimentos.
Façamos a nossa reforma íntima também nesse sentido, expurgando de nós os sentimentos inferiores de inveja das conquistas dos outros, de ciúme com relação ao próximo, de orgulho em não reconhecer os méritos e conquistas espirituais alheios, de cegueira quanto aos esforços das outras pessoas.
Tenhamos a humilde elevação de “dar a César o que é de César”, no que se refere aos méritos dos demais, reconhecendo as conquistas morais das pessoas, não importa quem elas sejam, se distantes ou próximas.
Não nos esqueçamos, no entanto, que, em essência, somos todos oriundos do mesmo seio, o do Pai Criador. Quanto mais rápido introjetarmos as virtudes em nós, nas nossas atitudes para conosco e para com as demais criaturas, mais rápido alcançaremos as esferas espirituais superiores.
Voltando à passagem de Jesus, é evidente que um espírito da sua envergadura – pertencente às esferas mais elevadas da Espiritualidade, o plasmador do planeta – jamais agiria de modo a renegar ou menosprezar sua mãe e seus irmãos na carne. O que o Mestre fez foi nos ensinar que há diferença entre parentesco material e espiritual, que há famílias espirituais, nas quais se reúnem os que se afinam em ideias e sentimentos, e que existem as corporais, que são provisórias, embora importantes instrumentos para o desenvolvimento moral do espírito.
De acordo com essa passagem, “e, tendo chegado à casa, de novo se formou uma grande multidão, de tal maneira que eles não podiam se alimentar. E quando seus parentes tomaram conhecimento disso, vieram apanhá-lo, pois diziam que tinha perdido o juízo.”.
Dando continuidade, os evangelistas contam que “chegaram então sua mãe e seus irmãos, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada em torno dele. Disseram-lhe: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, e te chamam. Mas ele lhes respondeu: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? E olhando os que estavam sentados ao seu redor, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; pois quem fizer a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”.
Essas palavras supostamente ditas por Jesus parecem realmente estranhas, mostrando-se contraditórias diante de tudo o que ele ensinou, vivenciou e deixou como legado, a lei do amor e da caridade.
A primeira interpretação que se dá vai no sentido de que as palavras atribuídas ao Cristo foram mal reproduzidas, mal compreendidas ou não são do guia e modelo da humanidade. Nos ditos de Allan Kardec no item 7 do citado capítulo XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo, “espanta-se com razão de ver, nessa circunstância, Jesus mostrar tanta indiferença para com seus parentes, e, de certa forma, renegar sua mãe.”.
Mais adiante nesse mesmo item 7, o codificador continua analisando as frases imputadas ao Mestre Divino, dizendo que “no que diz respeito a Jesus, supor que tenha renegado sua mãe seria ignorar seu caráter; tal pensamento não poderia animar quem disse ‘honra teu pai e tua mãe’. É preciso, pois, buscar um outro sentido para suas palavras, quase sempre veladas sob forma alegórica.”.
Terminando o item em análise, Kardec diz que “Jesus não negligenciava nenhuma ocasião de dar um ensinamento. Tomou, pois, a que lhe ofereceu a chegada de sua família, para estabelecer a diferença que existe entre o parentesco material e o parentesco espiritual.”.
Acontece, porém, que é no item 2 do capítulo XVII de A Gênese que o mestre de Lyon – logicamente que com a assistência dos benfeitores espirituais – traça maiores e mais profundas explicações sobre o hipotético comportamento de Jesus na ocasião.
Nas palavras do professor Rivail, “o hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam. Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem.”.
Assim, o fato de terem compartilhado de intimidade na infância, na adolescência, na juventude, dá uma espécie de autorização para as pessoas se arvorarem o direito de não reconhecer a ascensão moral que um companheiro pode ter alcançado. Tal reconhecimento se mostra deveras dolorido, em razão da pequenez espiritual, do orgulho, da inveja e do ciúme que ainda habitam em nós. É preciso muita elevação para agir como João Batista agiu com relação a Jesus, primos carnais que eram…
Tratando especificamente do ocorrido com o Mestre, Allan Kardec explica que “tanto menos podia Jesus escapar às consequências deste princípio, inerente à natureza humana, quanto pouco esclarecido era o meio em que ele vivia, meio esse constituído de criaturas voltadas inteiramente à vida material. Nele, seus compatriotas apenas viam o filho do carpinteiro, o irmão de homens tão ignorantes quanto eles e, assim sendo, não percebiam o que lhe dava superioridade e o investia do direito de os censurar. Verificando então que a sua palavra tinha menos autoridade sobre os seus, que o desprezavam, do que sobre os estranhos, preferiu ir pregar para os que o escutavam e aos quais inspirava simpatia”.
Diante de tudo o que foi apresentado, pode-se aferir que a criatura corpórea, material, por estar amplamente envolta pelos sentidos carnais, praticamente apaga o ser espiritual, percebido somente pelos espíritos. Novamente nas palavras de Allan Kardec, “depois da morte, nenhuma comparação mais sendo possível, unicamente o homem espiritual subsiste e tanto maior parece, quanto mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal. É por isso que aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade, porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos pessoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu”.
Dessa forma, esforcemo-nos por ascender espiritualmente, ainda, mesmo e enquanto encarnados, livrando-nos de julgamentos precipitados com relação às demais criaturas, circunstâncias, fatos ou acontecimentos.
Façamos a nossa reforma íntima também nesse sentido, expurgando de nós os sentimentos inferiores de inveja das conquistas dos outros, de ciúme com relação ao próximo, de orgulho em não reconhecer os méritos e conquistas espirituais alheios, de cegueira quanto aos esforços das outras pessoas.
Tenhamos a humilde elevação de “dar a César o que é de César”, no que se refere aos méritos dos demais, reconhecendo as conquistas morais das pessoas, não importa quem elas sejam, se distantes ou próximas.
Não nos esqueçamos, no entanto, que, em essência, somos todos oriundos do mesmo seio, o do Pai Criador. Quanto mais rápido introjetarmos as virtudes em nós, nas nossas atitudes para conosco e para com as demais criaturas, mais rápido alcançaremos as esferas espirituais superiores.
Voltando à passagem de Jesus, é evidente que um espírito da sua envergadura – pertencente às esferas mais elevadas da Espiritualidade, o plasmador do planeta – jamais agiria de modo a renegar ou menosprezar sua mãe e seus irmãos na carne. O que o Mestre fez foi nos ensinar que há diferença entre parentesco material e espiritual, que há famílias espirituais, nas quais se reúnem os que se afinam em ideias e sentimentos, e que existem as corporais, que são provisórias, embora importantes instrumentos para o desenvolvimento moral do espírito.
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