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01 maio 2022

Tolerância - Joanna de Ângelis

 
TOLERÂNCIA

CONCEITO

A indulgência, a condescendência em relação a outrem, seja de referência às suas opiniões ou comportamento, ao direito de crer no que lhe aprouver, pautando as suas atitudes nas linhas que lhe pareçam mais compatíveis ao modo de ser, desde que não firam os sentimentos alheios, nem atentem contra as regras da dignidade humana ou do Estado, constitui a tolerância.

Apanágio das almas nobres, medra em clima de elevada cultura e de sentimentos superiores, espraiando-se nas comunidades onde o progresso forja a dignidade e combate o obscurantismo, a tolerância é medida de enobrecimento a revelar valores morais e ascendência espiritual.

Onde quer que um homem ou um povo lute pelas expressões da liberdade e da verdade, logo a tolerância se faz o florete com que esgrime na defesa das suas aspirações.

Enfloresce no estóico e frutesce no santo. Sempre que triunfa, ao seu lado fenecem o fanatismo e a perseguição de qualquer matiz, ensejando campo para o entendimento pacífico, no qual os homens se revelam sem peias coarctadoras, sucumbindo sob os escombros das manobras infelizes que promovem.


Nem sempre compreendida, porque adversária da tirania e opositora da prepotência, é malevolamente confundida com a indiferença ou a cobardia moral.

Supõem-na, os árbitros da arrogância, como acomodação conivente ou submissão servil, contra o que se rebelam, por exigirem subserviência total e desfalecimento das aspirações nobres naqueles que os devem atender.

A tolerância, porém, jamais é conivente; antes oferece-se aos que a estimam e a exercitam com altos critérios de renovação íntima, paciência, humildade e coragem.

Não se impondo, expõe com perseverança e conquista pela lógica da razão, auxiliando no amadurecimento do interlocutor ou do adversário que se lhe opõe, sem azedume ou precipitação. A muitos compraz vencer, esmagar, sobressair, embora os métodos infelizes impetrados e os ódios gerados. E vencer é tarefa de fácil consecução, desde que se pretenda triunfar sobre os outros. Multiplicam-se métodos da hediondez e da pusilanimidade, desde os que destroem o corpo aos que dilaceram a alma.

A urgente tarefa a que todos se devem atirar é a de vencer-se a si mesmo, sublimando as más tendências e mantendo vitória sobre as inclinações negativas e as paixões subalternas do espírito enfermo.

A tolerância, pela argumentação em que se firma, convence quanto à necessidade de respeitar-se e amar-se, concedendo-se ao próximo o direito de fruir e experimentar tudo quanto se deseja para si próprio. Manifesta-se invariavelmente como boa disposição, mesmo em relação às ideias e pessoas que não são gratas.

Acima da conivência, expressa segurança de opinião e firmeza de proceder.

CONSIDERAÇÕES

Raramente a História revela a presença da tolerância nos seus fastos. Sempre dominou a imposição política, filosófica e religiosa, através da qual pequenas minorias tidas como privilegiadas exigiram total subordinação aos seus postulados, raramente salutares ou benéficos para a coletividade.

A seu turno, a intolerância, que se alia à covardia, foi a grande fomentadora de mártires e supliciados, nos múltiplos setores da vida, fazendo que irrigassem com o seu sangue as plântulas dos formosos ideais de que se fizeram apóstolos.

No que se refere ao tolerantismo, a predominância da Igreja Católica, na Europa Meridional, durante toda a Idade Média, se impunha, impedindo qualquer liberdade de culto e exigindo ao poder civil a aplicação de medidas legais aos que considerava heréticos, culminando, normalmente, tais conchavos, na punição capital da vítima.


Com a Reforma surgiram os pródromos de um tolerantismo por parte do Estado, que desapareceria ao irromper das imposições do Protestantismo, repetindo os mesmos erros do Clero romano, no que redundaram a Contra-reforma e as lamentáveis guerras de religião dos séculos XVI e XVII, cujos lampejos infelizes vezes que outras reacendem labaredas destruidoras.

A John Locke, o pai do Empirismo, deve-se a Carta sobre a Tolerância, iniciada em 1689, através da qual muitos pensadores se insurgiram, seguindo-lhe o exemplo, contra a ortodoxia religiosa.

Posteriormente os enciclopedistas se rebelaram, preconizando o tolerantismo a nascer e fomentar a tríade que serviria de base para a Revolução Francesa de 1789, que, no entanto, descambou, igualmente, para a intolerância, a perseguição e os crimes contra os "direitos humanos", apesar de os haver gerado na madre dos ideais eloquentes das horas primeiras.

O século XIX dilatou o conceito da tolerância, embora as lutas de opinião entre liberais e conservadores que, em controvérsias contínuas, pugnavam, os primeiros, pelo respeito às opiniões alheias, e os segundos, pela obediência como respeito às ideias políticas e religiosas predominantes.

A pouco e pouco, à medida que o homem emerge da ignorância e sonha com o Infinito que o abraça, a tolerância atende-lhe a sede de crescimento e a ânsia de evolução.

CONCLUSÃO

Havendo surgido a Codificação do Espiritismo no meado do século XIX, quando a Religião Católica, em França, fazia parte do Estado e se impunha dominadora, os Espíritos Excelsos, pontificando nas leis de amor, fizeram que Allan Kardec estabelecesse como um dos postulados relevantes a tolerância, na qual a caridade haure sua limpidez e grandeza para ser a virtude por excelência.

Tolerância, pois, sempre, porquanto, através dos seus ensinos, a fraternidade distende braços, enlaçando cordialmente toda a família humana.


Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo P. Franco
Livro: Estudos Espíritas - 13


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